domingo, outubro 19, 2025

ANA PAULA TAVARES, ELIF SHAFAK, ALAA MURABIT & CLARICE FALCÃO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns O corpo do som (2002), O seguinte é esse (2005), Corpo de som ao vivo (2010), Tum pá (2012), Ayú (2015) e Só mais um pouquinho (2018), do grupo de percussão corporal, Barbatuques, criado em 1995, pelo músico Fernando Barba e formado por André Hosoi, Marcelo Pretto, André Venegas, Giba Alves, João Simão, Lu Horta, Heloiza Ribeiro, Mairah Rocha, Maurício Maas, Renato Epstein, Charles Raszl e Lu Cestari. O grupo propõe música a partir do batuque com o próprio corpo, como palmas, batidas no peito, estalos com os dedos e a boca, assobios e sapateados, resultando ritmos que vão do samba ao rap, mostrando o resultado da coletividade e da brasilidade como tema. Veja mais aqui.

 

A lebre e o coelho, o amor proibido... - A vida vai, corrente de rio, onda de mar, chuva que cai, nuvem que passa, a Terra gira e um reles sujeito, tipo Rabitt de Updike, segue sua vida vã esvaziada. Em suas andanças sem rumo conheceu o tapiti candimba dos Karitiana, Tupi-Arikém, que trazia uma gaiola com um preá e um porquinho-da-índia. Ali algo de interessante ocorrera. Curioso e atento ouvia sobre o Yùtù - O Coelho de Jade da China, que vivia na Lua esmagando ervas com seu pilão para fabricar um elixir da longa vida, enquanto acompanhava a deusa lunar Chang'e. Ficou maravilhado ao saber de Tsukimi no Japão, que se sacrificava queimando seu próprio corpo para alimentar qualquer um viajante esfomeado e, em recompensa, ter sua imagem impressa na Lua. Empolgou-se com a narrativa de Daltokki na Coreia, celebrado no Festival de Outono, Chuseok, o astuto trapaceador que roubou o fogo do Povo do Céu, no Festival do Milho Verde, para compartilhá-lo com sua gente hitchiti e ser celebrado entre os Hopi e o Shawnee, pelos cerimoniais dos Kiowa – a sociedade dos Kasowe e na dança dos Oneida. Ali mesmo presenciou a dança das máscaras cerimoniais dos Kwakwaka’wakw e dos rituais potlatch - um rito de passagem, no qual empunhavam a pata esquerda traseira do Br’er, um trickster e totem dum clã africano, um amuleto da sorte que curava doenças, um talismã que o hoodoo usava no espaço com terra vinda de túmulos. Não sabia que os astecas lançavam um coelho ao céu para encontrar a Lua. E aí teve um estalo diante do testemunho do Popol-Vuh dos Maia-Quiché: a deusa Lua estava em perigo, teria de ser socorrida e salva por um herói. Quem seria esse herói? Revestiu-se duma empáfia e se fez heroico demiurgo de um ancestral mítico. Era só saltar de um lado e outro para encontrar Menebuch dos algoquinos Ojibwa e dos sioux Winebago – porque ele é o possuidor do segredo da vida elementar e ensina as artes manuais para combater os monstros aquáticos das profundezas. Soube: foi ele que, depois de um dilúvio, recriou a terra e, ao partir, deixou-a no seu estado atual. Mesmo? E mais: É dele que receberia a graça do invisível Grande Manitu, do Sheshajataka, de quem terá Bodhisativa no Kampuchea das chuvas fertilizantes. Assim soube de tudo e passou a almejar a Lua para dar sentido à sua vida. Precisava alcançá-la e, para isso, teve de cruzar as águas das feras ululantes. Viu-se ali nu e só, seguindo pela terra de ninguém. Não havia pontes para a travessia e estava hipnotizado com as profundezas do fosso. Sentia-se proscrito, exaurido, se malograsse não valeria nada. E se quisesse privar da Mulher Estrela não poderia mais voltar atrás, havia de suportar a Noite Negra da Alma na Jornada Noturna do mar, como se estivesse na barriga duma baleia. E tudo suportou na cidade eterna: encarou o escaravelho egípcio e a lagosta de ouro da Costa Rica. Atravessou o inferno védico – o Reino de Yama, guardada por dois mastins; teve de enfrentar Cérbero, o cão tricéfalo, servindo-se apenas da lira de Orfeu. No meio do caminho uma sibila o conduziu pelo inferno até se sentir lunático e subiu a colina, era a serra da Prata e lá, mais do que nunca, o medo de morrer. A Lua então apareceu e se aproximou, nascia a paixão e ele enfeitiçado pela Deusa da Noite: era o seu renascimento. Diante dela sentiu-se desolado e ela fez-se sua estrela guia iluminando o céu. Nem mesmo o lado escuro dela não mais o aterrorizava e ela reuniu todas as lembranças jogadas fora e todos os sonhos esquecidos, guardando-os em sua taça de prata e, ao despontar da aurora, foram todos devolvidos à Terra como seiva dos orvalhos que brotavam de suas lágrimas, a nutrir e retemperar a vida no planeta e nada se perdia. Com as memórias repostas, ele soube do seu passado ignorado. Fez-se grato pela descoberta. Por que não estamos no paraíso? Ela então mostrou-se Luna para enlouquecer os homens; e se fez Circe para transformá-los em porcos; e foi Medusa, para petrificá-los. Aos seus olhos ela parecia Ártemis que aguardava o seu amigo camaleão para seguirem as caravanas. E logo encontraram Jacklope, a cornuda, com Jackrabbit que corria como louca. Deram notícias dos cuspes de Wolpertinger da Baviera e trouxeram a Raurakl austríaca, a rasselbock da Turíngia, a Elwedritsche do Palatinado e o Skvader de Sundsvall. Todas se aproximaram para o trabalho à sombra de uma figueira, moendo ervas medicinais num almofariz. E cantavam: Vi na Lua \ três pequenos coelhos \ que comiam ameixas \ bebendo vinho \ demais. Depois da cantoria estavam prontas para a celebração. Eis que apareceu Nanabozho e sua voz soou como uma maldição despótica: Lebre e coelho não são compatíveis, distinguem-se. Todas as cabeças baixaram misantropas, um balde de água fria no evento: estavam condenados a se amarem com os terrores abissais indestrutíveis da tradição, a fustigar seus corpos com os rumores nefastos da execração geral. E se sufocaram com o mormaço dançante aos voos das borboletas movendo o mundo e as correntes dos rios lavrando a terra com a brisa dos ventos amenos. Fitaram-se melancólicos como se indagassem um ao outro: como olvidar da atração fatal do amor que se eternizava, ah, que revolta, e se flagelaram desconsolados, e se revolveram inquietos, e se amarguraram da sina para, de repente, olhos fixos, se encaram destemidos: Por que não? E se desembaraçaram da convenção, com a cumplicidade dos amantes desgarrados e, diante de todos, ali mesmo contraíram as núpcias no mundo do grande mistério da vida que se refaz por meio da morte: a desobediência mútua e se viram felizes até então. Até mais ver.

 

Sylvia Plath: Lembre-se, lembre-se, isso é agora, e agora, e agora. Viva, sinta, apegue-se a isso. Quero me tornar profundamente consciente de tudo o que tomei como certo... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Trudi Canavan: Não só estou conversando comigo mesma, como agora me recuso a falar comigo mesma. Isso deve ser o primeiro sinal de loucura... Os mortais não precisavam de Deus para ordenar que se matassem. Eles eram perfeitamente capazes de encontrar razões para fazê-lo eles mesmos... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Doris Lessing: Só existe uma maneira de ler: folhear bibliotecas e livrarias, escolhendo livros que lhe atraem, lendo apenas aqueles, abandonando-os quando o aborrecem, pulando as partes que o arrastam — e nunca, nunca lendo nada porque você sente que deve, ou porque faz parte de uma tendência ou movimento. Lembre-se de que o livro que o aborrece aos vinte ou trinta anos lhe abrirá portas aos quarenta ou cinquenta — e vice-versa. Não leia um livro fora do seu tempo... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

NOVEMBER WITHOUT WATER

Imagem: Acervo ArtLAM.

Olha-me p’ra estas crianças de vidro \ cheias de água até às lágrimas \ enchendo a cidade de estilhaços \ procurando a vida \ nos caixotes do lixo. \ Olha-me estas crianças \ transporte \ animais de carga sobre os dias \ percorrendo a cidade até os bordos \ carregam a morte sobre os ombros \ despejam-se sobre o espaço \ enchendo a cidade de estilhaços. \ Chegas \ eu digo sede as mãos \ fico \ bebendo do ar que respirar \ a brevidade \ assim as águas \ a espera \ o cansaço.

Poema da poeta, antropóloga e historiadora angolana Ana Paula Ribeiro Tavares, autora das obras: Ritos de Passagem (1985), O Sangue da Buganvília (1998), O Lago da Lua (1999), Dizes-me coisas amargas como os frutos (2001), A cabeça de Salomé (2004), Os olhos do homem que chorava no rio (2005) e Manual para amantes desesperados (2007). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

A ILHA DAS ÁRVORES DESAPARECIDAS[...] Porque na vida real, ao contrário dos livros de história, as histórias não chegam até nós na íntegra, mas em pedaços, segmentos quebrados e ecos parciais, uma frase completa aqui, um fragmento ali, uma pista escondida no meio. Na vida, ao contrário dos livros, temos que tecer nossas histórias com fios tão finos quanto as veias finas que correm pelas asas de uma borboleta. [...] é isso que as migrações e as mudanças de residência fazem conosco: quando você deixa sua casa para terras desconhecidas, você não continua simplesmente como antes; uma parte de você morre por dentro para que outra parte possa começar tudo de novo. [...] Vocês não compartilham uma língua, você pensa, e então percebe que o luto é uma língua. Nós nos entendemos, pessoas com passados conturbados. [...] Algum dia essa dor será útil para você. [...] Cartografia é outro nome para histórias contadas por vencedores. Para histórias contadas por aqueles que perderam, não existe. [...] Gostaria de ter dito a ele que a solidão é uma invenção humana. As árvores nunca estão solitárias. Os humanos acham que sabem com certeza onde termina o ser e começa o do outro. Com suas raízes emaranhadas e presas no subsolo, ligadas a fungos e bactérias, as árvores não abrigam tais ilusões. Para nós, tudo está interligado. [...] As pessoas presumem que a diferença entre otimistas e pessimistas é uma questão de personalidade. Mas eu acredito que tudo se resume à incapacidade de esquecer. Quanto maior a sua capacidade de retenção, menores as suas chances de ser otimista. [...] O amor é a afirmação ousada da esperança. Você não abraça a esperança quando a morte e a destruição estão no comando. Você não veste seu melhor vestido e coloca uma flor no cabelo quando está cercado por ruínas e cacos. Você não perde o coração em um momento em que os corações deveriam permanecer selados, especialmente para aqueles que não são da sua religião, não são da sua língua, não são do seu sangue. Você não se apaixona em Chipre no verão de 1974. Nem aqui, nem agora. E, no entanto, lá estavam eles, os dois. [...]. Trechos extraídos da obra The Island of Missing Trees (Bloomsbury Publishing, 2021), da escritora turca Elif Shafak, autora de obras como Honor (2011), The Bastard of Istanbul (2005), The Forty Rules of Love (2000) e The Gaze (2000). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

SEM AS MULHERES OS OBJETIVOS GLOBAIS NÃO VERÃO A LUZ DO DIA – [...] Os dados comprovam que mulheres e meninas são realmente a chave para que essa agenda se concretize [...] Se falamos de ação contra as mudanças climáticas, a solução mais econômica e prática para as mudanças climáticas é a combinação da educação das meninas com os direitos reprodutivos das mulheres. [...] Temos de perceber que existe um recurso inexplorado e que a única forma de o podermos realmente aproveitar é através da educação e do empoderamento económico. […] Muitas vezes instrumentalizamos as mulheres [...] Raramente empoderamos e permitimos que as mulheres sejam capazes de arquitetar seus próprios projetos. E a única maneira de realmente fazer isso é por meio do empoderamento econômico, porque sabemos que, quando as mulheres são economicamente empoderadas, elas reinvestem 90% em suas comunidades. E a grande maioria desses 90% vai para saúde e educação, então estamos transformando completamente esse cenário para as gerações futuras. [...] Sem mulheres e meninas, essa agenda não verá a luz do dia – nem um pouco. [...]. Trecho de uma entrevista (SDGLive/ United Nations, 2025) concedida pela escritora e médica líbia-canadense Alaa Murabit, co-fundadora do The Omnis Institute, fundadora da The Voice of Libyan Women, co-autora da antologia Feministas não usam rosa (e outras mentiras) e autora de diversos artigos publicados no The Boston Globe, Wired, Carter Center, NewAmerica, Chime for Change, Huffington Post, The Christian Science Monitor e Impakter, contemplada com a Meritorious Service Cross.

 

A ARTE DE CLARICE FALCÃO

Nasci no Recife, com 4 anos vim pra São Paulo. Quando eu tinha 5 anos fomos pro Rio, aí fiquei. Minha mãe era muito paranoica, quer dizer, ela era ótima, mas era meio nervosa com tudo. Isso tem muito a ver com a história dela. Quando eu saía ela fica apreensiva, superpreocupada. Tinha um certo cuidado extremo. Mas ao mesmo tempo eu era muito livre para fazer minhas escolhas. Ela nunca olhou um boletim na vida, não sei se ela sabe como é um boletim... Nasci em uma família em que, se você não brincasse ou entrasse na onda, era engolido... Acho que cantar precisa de um pouco mais de tato, você se equilibra um pouco mais. Atuar é texto e fazer bem; música é atuar, interpretar, fazer bem, ter uma conexão com a plateia, as letras da música, as notas, o tempo. E ainda tem a banda que está junto. Mas adoro fazer os dois, e os dois dão o mesmo tipo de nervoso antes de entrar no palco - além da mesma dinâmica de você entrar mais nervoso do que sai... Ainda fico muito nervosa, mas é uma sensação nova e muito boa... Gosto muito de estar no palco, mas acho que é bom ficar nervosa, quando parar de ter frio na barriga vai ser meio chato...

Palavras da premiada cantora, atriz, compositora, humorista, roteirista e diretora Clarice Falcão (Clarice Franco de Abreu Falcão), que participou de diversos filmes como atriz, entre eles, Fica Comigo Esta Noite (2006), Primeiro Dia de um Ano Qualquer (2012), Eu não Faço a Menor Ideia do que Eu tô Fazendo Com a Minha Vida (2013), Desculpe o Transtorno (2016) e Música para Morrer de Amor (2020). Como diretora, produtora e roteirista trabalhou nos filmes O Segundo Minuto (2006), Dois Menos Dois (2006), Laços (2007) e Chamada em Espera (2008). Atuou também como atriz no Teatro, bem como como roteirista, em espetáculos como Confissões de Adolescente (2009), Inbox (2011) e Especial de Ano Todo (2017). Gravou os álbuns musicais de estúdio Monomania (2013), Problema meu (2016), Tem conserto (2019) e Truque (2023). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

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domingo, outubro 12, 2025

ELIZABETH LOFTUS, CATHERINE JOHNSON, IONE SKYE, POEMA & AGENTE SECRETO

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Viva a vida ao máximo e nunca hesite em perseguir seus sonhos. Realmente vale a pena... Cada dia é um presente, não se esqueça! Agora vamos desligar nossos celulares e aproveitar... Façam coisas incríveis como sempre fizeram. Aproveitem ao máximo. A dor é um poder incrível, não deixe que ela te derrube, use-a...

Pensamento ao som de A song of death, a song of pain (2022), Through Your Eyes (2018) e Unprecedented (2016), da violinista, vocalista e soprano mexicana Marcela Bovio (Marcela Alejandra Bovio García), integrante das bandas Stream of Passion e Elfonia. Veja mais aqui.

 

Banquete suntuoso de gororoba xucra inaugurando Fecamepa... – Toctoc! Quem é? Não ouvi ô de casa, nem disse ô de fora! Quem será que era? Fui ver e de cara: era peró como a praga, alvoroçados com estardalhaço de gansos do Capitólio romano. Pra eles era uma festa portuguesa, com certeza: o Vira vira-homem, vira-bicho e arrebita! Pois, pois! Pois, não! Aí entrou o Galo de Barcelos no Fado, com o Bacalhau à Brás e Pastel de Nata, um fandango trazendo caldo verde, a chula na sardinha assada, o corridinho com o cozido e a Francesinha no Cante alentejano. Tudo só pra eles. E engrossou a presepada, no meio da festança: eu te benzo! Eu te curo! E amanhã estaríamos todos duros aos pés da cruz no altar católico, pagando o pato de infratores de todos os pecados. Como diziam: aqui disso não havia e a Cascais, uma vez e nunca mais! Oxe! Toctoc! De novo? Oh, viva terra de Espanha! E a galegada da União Ibérica invadiu com Flamenco e castanholas; touradas de Madri com Jota a sair de tapas, gaspachos e Pasodoble, churros e Muiñeira galega, Jámon Serrano e Fabada asturiana, catalãos e bascos, tudo se arranchando no maior espalhafato. Só deles. Maior irrupção esborrando o pandemônio nas alicantinas da gandaia. Toctoc! Outra vez? E era: Viva a França! Era a catinga perfumada com a expansão manufatureira calvinista arrombando Tordesilhas, todos à La Page, o barrete frígio e muitos presentes de Paris e dos huguenotes! E os salves à Antártica na Baía de Guanabara, à Equinocial no Maranhão! E gritavam: Liberté! Égalité! Fraternité! E lá foi Cancã e Boeuf Bourguignon com La Marseillaise, carneiros de Panúrgio, Le Coq & Marianne, Bransle e Ratatouille com Manouche, Quadrilha e Cassoulet com Chanson Française, Escargots de Bourgogne, croissant & baguete, Crème Brûlée e Macaron. E se deram por convivas e nem foram convidados. Sobrou balbúrdia e o malho na bigorna! Tudo pra eles. Toctoc! Agora danou-se tudo! Quem será dessa vez! E era: Ó linda Nova Holanda! E o que foi de batavo nassoviano com presentes luteranos de Armsterdã e o boi voando, ah, passou da conta! Aí entornou o caldo e logo apareceu um Leão com tulipas, moinhos de ventos andantes, todos com os dentes de fora e à tripa forra no Hakken com Levenslied e gado Holstein, Boeren Ploeg com o Stamppot, Almelose Kermis nos tamancos com Stroopwafel, Horlepiep e Rozenwals com Kibbeling e Haring, tudo no maior fuzuê! Quanta coisa estranha, Deus meu! Teve até quem emplacasse: Sou Flamengo e a nega Tereza, no maior embalo! E se fartaram do açúcar adoçando o sangue escravo e arrastaram pau-brasil pra desancar nossos nativos, E foram do ovo às maçãs porque um abismo chamava outro, um absurdo respondia a outro. Fizeram a maior farra e nem eram meus comensais. Transbordou escarcéu! Tô entendendo nada, que negócio é esse? Quem era o anfitrião? Lá estava eu no meio de quatro fogos e queriam que entregasse o pescoço à canga, enquanto se tratavam entre apertos de mãos, tapinha nas costas e o meu destino ao Deus dará. Dançaram minha dança, tomaram meu roçado e me deram lã de aço, espelhinhos & brebotes. Pra quê? Das zis utilidades nenhuma era a necessidade minha. Do lado de fora gente estranha escura acorrentada! Não era enfeite nem plateia, era claque mais chué! A casa era minha, hoje não mais. Até o nome que eu tinha, não sobrou nem o de pai. O que eu falava se apagou, me puseram outra língua porque queriam: sim, senhor! Essa é boa! Sai-te! Desde então escorreguei à mingua, de nem mesmo sequer saber mais quem sou. Tanta água desmanchou meu pirão, meu leirão e tudo ao meu redor. E agora, o que a gente faz? Botamos tudo pra correr e a doença ficou: quem era daqui viu nascer outrem e entre eles preferiam os das bandas dos enxotados. Como é que pode? E teve até quem empunhasse bandeira estrangeira por golpes para nos exilar, muitas e tantas vezes! O que é que há? Era o Fecamepa com um monstrengo carnaval só folia e pacutia demais para aprumar! Até mais ver.

 

Chiquinha Gonzaga: Ó abre alas que eu quero passar! Eu sou da Lira, não posso negar!... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Fernanda Montenegro: A palavra não é apenas um conjunto de sinais gráficos. Nela há sangue, suor e lágrimas... Tenho um otimismo realista, porque a condição humana é falha. Todos nós somos atores nesse palco que é o mundo... O teatro e a educação devem caminhar juntos; educar não é só ensinar a ler e escrever, é ensinar a pensar e sentir mundo de outras formas... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Elfriede Jelinek: Enquanto os homens forem capazes de aumentar seu valor sexual por meio do trabalho, da fama ou da riqueza, enquanto as mulheres só forem poderosas por meio do corpo, da beleza e da juventude, nada mudará... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

 

A GRANDE CONJUNÇÃO

Imagem: Acervo ArtLAM.

Você ainda não consegue vê-lo – tão pequeno \ poderia ser um quimioton – \ mas afirma ter esperança, afirma \ para saber coisas que você não sabe, \ se você pudesse encontrá-lo apenas \ talvez esta viagem de acampamento valeu a pena depois de tudo \ mesmo a tenda não bem ancorada — \ uma estaca desaparecida \ depois de tantos anos no porão — \ até o seu telescópio desatualizado \ mais pesado do que precisa ser – \ mas você aponta para as estrelas esperando \ para ver a primeira conjunção \ de Saturno e Júpiter em oitocentos \ anos como se para fingir \ você ainda não está em quarentena \ se você puder ver alguma coisa \ que não depende de nada \ você pode fazer mas simplesmente \ é em si, maravilhoso e constante, \ se estás aqui ou não. Por fim, \ aparece – e você acha que pode até \ Veja as quatro luas ao redor de Júpiter \ anéis. Você se parabeniza – \ você é Galileu! E mais tarde, quando você encontrar \ a estaca desonesta alojada por baixo \ uma caixa de discos de vinil que você se pergunta \ se se imagina como uma agulha \ sobre uma terra plana \ jogando tudo de uma vez.

Poema da escritora, roteirista e dramaturga britânica Catherine Johnson.

 

NUNCA CONTENTAR... - Nunca se contente com nada menos que extraordinário, senão a vida será uma droga. ... Pode ser uma droga de qualquer jeito, mas é melhor ser uma droga com integridade, certo?... Pensamento da atriz, escritora e pintora britânica Ione Skye, autora de obras como Say Everything: A Memoir (Gallery, 2025) e My Yiddish Vacation (Henry Holt and Co, 2014). Veja mais aqui.

 

MUNDO DA MEMÓRIA - Muitas pessoas acreditam que a memória funciona como um dispositivo de gravação. Você apenas grava as informações, depois as acessa e as reproduz quando quiser responder a perguntas ou identificar imagens. Mas décadas de trabalho em psicologia mostraram que isso simplesmente não é verdade. Nossas memórias são construtivas. Elas são reconstrutivas. A memória funciona um pouco mais como uma página da Wikipédia: você pode entrar lá e alterá-la, mas outras pessoas também podem... Pensamento da psicóloga estadunidense Elizabeth Loftus, autora de obras como The Myth of Repressed Memory: False Memories and Allegations of Sexual Abuse (1994), Witness for the Defense: The Accused, the Eyewitness, and the Expert Who Puts Memory on Trial (1991) e Human Memory: The Processing of Information (1976). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

O AGENTE SECRETO

O filme O agente secreto (2025), dirigido pelo diretor, produtor, roteirista e crítico de cinema Kleber Mendonça Filho, conta a história de um professor de tecnologia que decide fugir de seu passado violento e misterioso, se mudando de São Paulo para Recife com a intenção de recomeçar sua vida. Ele chega na capital pernambucana em plena semana do Carnaval e percebe que atraiu para si todo o caos do qual ele sempre quis fugir. Para piorar a situação, ele começa a ser espionado pelos vizinhos e, inesperadamente, a cidade que ele acreditou que o acolheria ficou longe de ser o seu refúgio. O cineasta é também autor de filmes como Vinil Verde (2004), Eletrodoméstica (2005), Noite de sexta, manhã de sábado (2006), Recife Frio (2009) e Bacurau (2019). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

&

OS SEGREDOS DO POEMA

O livro Os segredos do poema: uma maneira prática de entender a construção do texto poético (CriaArt, 2025), do poeta, professor e revisor Admmauro Gommes, trata sobre a distinção entre poesia e poema, a imaginação e a técnica, as figuras de linguagem, silabas poéticas e gramaticais, o tradicional e o contemporâneo, entre outros temas. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

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domingo, outubro 05, 2025

MALIKA MOKEDDEM, EWA LIPSKA, ZADIE SMITH, ARTE NA ESCOLA & SUBLIME SEMBLANTE

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som de Vista, para orquestra (2019) e Semafor, para grupo instrumental (2020), da compositora finlandesa Kaija Saariaho (1952-2023). Veja mais aqui.

 

Reca de bichos & cabeças de prego... O que Zeca Biu colecionava de bichos, tinha de furúnculos. Tudo começou ainda menino juntando minhocas: era gogo por todo canto do quintal, pois ensaiava pescador no brejo limítrofe. Depois foram as lagartixas, teiús e calangos; uma compilação de formigas e saúvas, acumulação de aranhas e até uma caranguejeira sinistra. Dali pra agrupamentos de cobras, preás, gafanhotos, cururus, lesmas, morcegos, ah, foi um salto. Chegou ao ponto de ter uma banda de grilos amestrados, um balé de borboletas e vagalumes, um aquário de cundundas, um viveiro cantante de passarinhos e não só: coligiu tudo num tomo taxonômico improvisado, no qual reuniu uma variedade de cassacos e ruminantes; um guenzo rouco fedorento que se inquietava com as estripulias dum tatu-bola de estimação; um ganso zarolho assombrando o marreco que dava voltas ao redor da cacimba; uma arara tagarela negociando frutas; uma cigarra com recados das nuvens; um quati mentiroso denunciando catitas foragidas; um leitãozinho fuçando segredos do chão; uma coruja doida rodando a cabeça sem parar; um cabrito gago mangando dum cágado enamorado por uma filhote de jacaré; uma rã esnobe acocorada no lombo dum marreco desajeitado; um burrico anão soltando lorotas com as baratas tontas avexadas; um perdigueiro cheleléu que só abanava o rabo; um bezerro molenga abestalhado com um peru gozador que grugulejava ao final de cada piada caçoando do pavão enrustido; um galo carijó propondo noivado pra uma guiné vitalina; um presepeiro sagui-do-nordeste que vivia enfiando o dedo no cu dos outros; um carcará atrepado na viga arremedando um papagaio pornográfico; um gato maracajá enfezado que namorava uma jaguatirica; um tamanduá amancebado com uma lontra; uma perereca-verde fofoqueira e comadre de uma preguiça enredeira; uma capivara que desfilava com a amiga paca; e um gambá pra enxotar desafetos, tudo embelezando o ambiente fétido das onomatopeias cagadas e mijadas da bicharada. Como era um menino solitário – tudo fez pra se enturmar, sempre desprezado. Crescia e se desapontou com a primeira paixão depois da professora. Daí procurou fazer amizades: foi onanista coletivo com os coleguinhas de classe, trocou cavalo-mago, agradava um e outro, mas era sempre preterido nas escolhas dos pariceiros. Dedicou-se, então, a uma obsessiva paixão pelos animais e os queria a todos, como uma Arca de Noé só sua, parecida com aquela do colecionador do Fowles. Na adolescência ele já se via ufano proprietário de vasto zoológico particular. Todo dia 18 de novembro era ele na maior farra de comemoração e, como tinha do muito, vendia e trocava, envolvendo-se com traficantes, o que deu a maior bronca. Evidente, o seu colecionismo saiu do saudável e começou a dar problemas pra ele e a vizinhança. Uma cascavel picou a filha do vizinho, o papagaio ofendeu a esposa de outro, o sagui dava dedada no furico de todos os passantes, até que um abaixo-assinado rolou no bairro esfregado às suas fuças, num estrondoso escândalo. Não era só a atitude de salvar os bichos das queimadas, ataques ou abandono, o seu colecionismo compulsivo habilitava o sujeito a uma futura profissão, pra ele, alvissareira: alentava o sonho de se tornar bicheiro, já que não levava jeito para veterinário, nem entomólogo ou ictiólogo, muito menos taxidermista ou zootecnista, vez que só era um Animall Collector - acumulador de animais vivos! Isso é um vitupério! Reclamações viraram escarcéu e estouraram a boca do balão. Claro que sua negligência foi coibida por malcriadas acusações de tráfico e de cativeiro clandestino, além de graves problemas com a legislação ambiental, até ser submetido a tratamentos psiquiátricos para dar cabo de sua patologia. Tô ferrado, meu! Pura perda de tempo, mas isso é outro assunto. Pois, desbaratado o seu zoo particular e antes de vê-lo trilhar os passos do Barão de Drummond, durante todo o período, ele foi acometido por excruciantes cabeças de prego. Caramba! A primeira apareceu logo no quadril esquerdo: não aguentava ceroula, cueca ou calças, andava nu pelo meio da casa, balançando os cachos pra cima e pra baixo. Pode? Puxa! Isso é um atentado à moral! Botaram compressa de água benta quente, banha de galinha, folhas de mato, rezas e benzedeiras, tudo para que o dodói dele estourasse logo para acabar com aquela pouca vergonha. Dói, meu! Que é que posso fazer? Teve que sajar. Sofreu dolorosamente com o apertão, de estourar e sair fora o carnegão, melando tudo. Um sofrimento. Eita, esse foi um abscesso macho! Tanto pus num negocinho de nada! Foi o primeiro. Não demorou muito e logo apareceu outro no sovaco direito: vivia sem camisa e de braço estirado. Vai pra onde, traste? Pensavam dele descarado caroneiro pedindo parada para qualquer transporte. Oh! Um atrapalho de vida. Lá se foram 17 dias insuportáveis de ais e uis, desaparecendo sem mais nem menos. Eita, tô bom! Sumiu. Logo deu lugar a outro, no antro nasal, não podia nem espirrar! Dormia de papo pro ar porque tudo que roçasse as ventas magoava. Lá se ia ele com o focinho inchado, 10 dias de deus-me-acode! Danou-se! Quase morre sufocado, só respirando pela boca. Mal melhorou e um terçol gigantesco tapou-lhe as vistas. Temia cegar de vez. Dum olho passou pro outro, pronto! É karma! Só sendo. Quase enxergando achou que estava tudo em ordem e veio o mais doloroso de todos os furúnculos - no ânus e duplo: de um lado e outro entre as pregas do boga. Ih! Peidinho de nada e ele via estrelas em pleno meio dia. Um sufoco! De manhã ficava ciscando dentro de casa esperando o aperto da cagada matinal! Valei-me! Era aos berros no trono, demorava pra se aliviar. E pra sentar? Só de bandinha sem poupar desconforto: Tá acendendo a fluorescente, nego? Já era zambeta e andava de pernas abertas: Isso é uma rotônica desgracenta! Foi ao proctologista e, naquela posição vergonhosa de bunda pra lua, ouviu desolado: É embutido! Como assim? Tapou tudo. Aí tomou todo tipo de cachete, cada um maior que o outro, de ter trabalho pra engolir e, às vezes, enganchando na garganta. Tome copos d’água! Engasgou-se não se sabe quantas vezes. Foram 21 dias de tormento. Quando menos esperava, no meio da maior multidão, só sentiu o ploft! Deu um carreirão com a catinga atrás, desvestiu-se às pressas melando tudo e se atolou numa privada, assoprando que só locomotiva. Mais de hora depois, o alívio. Afora o trabalhão pra lavar tudo empestado com a inhaca desgraçada. Depois saiu-se com a cara mais lisa: Hem, hem... Acabou-se o zoológico, tive tudo isso e nem morri! Ainda vou ser bicheiro! S’assunte, meu! Ah. Até mais ver.

 


Rumiko Takahashi: O puro tornou-se impuro. O impuro agora se tornou puro. O bem agora se tornou mau. O mal tornou-se maligno. Viver é morrer, morrer é viver... Eu sou o vento. Um dia voarei livre... Veja mais aqui.

Jody Williams: Para mim, a diferença entre uma pessoa “comum” e “extraordinária” não é o título que essa pessoa pode ter, mas o que eles fazem para tornar o mundo um lugar melhor para todos nós... Veja mais aqui, aqui & aqui.

Nicole Maines: Espero que minha história possa inspirar as pessoas e tudo mais, mas o mais importante para mim é que as pessoas vejam minha história como ela realmente é: nunca tive problemas com minha identidade como pessoa trans, mas tenho problemas com a forma como outras pessoas me percebem desde que eu era criança... Veja mais aqui.

 

NÚMERO UM

Imagem: Acervo ArtLAM.

E é por isso \ que nosso planeta \ é reservável. \ A lua consta nos registros de propriedade. \ O sol consta em uma escritura autenticada em cartório. \ Cidades numeradas. Ruas hipotecadas. \ Destino multidigital. \ Novas guerras \ garantidas \ pela propriedade do Decálogo. \ Quantias exorbitantes de esperança em leilões públicos. \ E então, \ quando o amor \ é um galho levado pelo vento, \ ele é sempre o Número Um \ e se inclina em nossa direção.

Poema da poeta polonesa Ewa Lipska, integrante da geração da "Nova Onda". Veja mais aqui & aqui.

 

O TRANSE DOS REBELDES - [...] O acesso à solidão e aos livros foram as conquistas inestimáveis ​​daquela época. Eles lançaram as bases para o que mais tarde chamaria de meu primeiro exílio: o conhecimento [...]. Trecho extraído da obra La transe des insoumis (Grasset, 2003), da escritora argelina Malika Mokeddem, que, nascida em uma família nômade lutou ao longo da sua adolescência pelo acesso à educação, conseguindo, com isso, estudar medicina em Orã e depois no exílio em Paris, quando teve que evitar um casamento arranjado entre famílias. Para ela: O conhecimento é o primeiro dos exílios. Minha vida é meu primeiro trabalho. E a escrita, seu sopro constantemente entregue. Veja mais aqui & aqui.

 

SINTA-SE LIVRE – [...] Sou tomada por dois sentimentos contraditórios: há tanta beleza no mundo que é incrível que sejamos infelizes por um momento; há tanta merda no mundo que é incrível que sejamos felizes por um momento. [...] As bibliotecas não estão falhando "porque são bibliotecas". Bibliotecas negligenciadas são negligenciadas, e esse ciclo, com o tempo, fornece a desculpa para fechá-las. Bibliotecas bem administradas estão lotadas porque o que uma boa biblioteca oferece não se encontra facilmente em outro lugar: um espaço público interno onde você não precisa comprar nada para permanecer. [...] A escrita existe (para mim) na intersecção de três elementos precários e incertos: a linguagem, o mundo, o eu. O primeiro nunca é inteiramente meu; o segundo, só posso conhecer em um sentido parcial; o terceiro é uma resposta maleável e improvisada aos dois anteriores. [...] Entre a propriedade e a alegria, escolha a alegria. [...] Se o objetivo é ser apreciado por mais e mais pessoas, tudo o que é incomum em uma pessoa é eliminado. [...] o progresso nunca é permanente, sempre será ameaçado, deve ser redobrado, reafirmado e reimaginado se quiser sobreviver. [...] Se há algo que os romancistas sabem é que os cidadãos são internamente plurais: eles carregam consigo toda a gama de possibilidades comportamentais. São como partituras musicais complexas das quais certas melodias podem ser extraídas e outras ignoradas ou suprimidas, dependendo, pelo menos em parte, de quem as rege. [...]. Trechos extraídos da obra Feel Free: Essays ( Penguin Press, 2018), da escritora inglesa Zadie Smith, autora de obra tais como: Changing My Mind: Occasional Essays (2009), On Beauty (2005), The Autograph Man (2002) e White Teeth (2000).

 

ARTE NA ESCOLA

Os alunos dos  6º anos B, C, D e E do Colégio Municipal Fernando Augusto Pinto Ribeiro, realizaram atividades de Fantoche & Teatro, coordenados pelas professoras de Artes, Hércilia Vasconcelos e Maria José Gomes da Silva. E a aluna do 5º ano A, do Colégio Dimensão, Lunna Sophia, de 11 anos de idade, escreve demonstrando os seus pendores literários. Confira a arte da estudantada palmarense aqui & aqui.

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POEMAS & PROSAS DE TONY ANTUNES

Veja mais aquí, aqui, aqui, aqui & aqui.

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SUBLIME SEMBLANTE DE TCHELLO D’BARROS

O curta Sublime Semblante, do poeta e artista visual Tchello d’Barros, apresenta um poema narrado que se mescla com olhares sugestivos, semblantes fotografados, miradas subjetivas em uma atmosfera onírica que nos remete ao mundo dos sonhos, aquele lugar onde tudo pode ser intenso, surreal e sublime. O curta com direção do próprio Tchello, edição de Jozefo Roza, a modelo & autorretratos da amazônida Lua Miranda, a voz da atriz e dubladora Telma da Costa & música autoral de Delayne Brasil. Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

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quarta-feira, outubro 01, 2025

ASSATA SHAKUR, ANA MARIA MACHADO, TERESA COLOMER & USINA GASTRÔ

 

 Imagem: Acervo ArtLAM.

Ao som dos álbuns Anavitória (2016), O tempo é agora (2018), N (2019), Cor (2021) e Esquinas (2024), do duo musical Anavitória, formada em 2014, dupla formada pela cantora, atriz, compositora e multi-instrumentista Ana Caetano (Ana Clara Caetano Costa) e pela cantora e atriz Vitória Falcão (Vitória Fernandes Falcão).

 

Uma vez o amor... ou a maldição de Kalypso!... - Era uma vez e só agora, quantos desastres: o milagre da vida aos solavancos. Sequer cogitava: fui condenado ao naufrágio pelas moiras. Podia ser, talvez a pior coisa do mundo - dilacerado pelos dilemas com os farrapos de tudo que ficou para trás. Havia me perdido das rotas e fiquei à deriva por uma novena. A sobrevivência por calafrios e frêmitos imensuráveis: havia sofrido uma devastação demolidora, maior adversidade. A sorte fora do alcance, ali pereceria inevitavelmente. Inesperadamente, uma bela sílfide sedutora materializou-se; engatinhava nua para me salvar do precipício de Poelenburgh. Confiei nos seus gestos generosos, deram-me a impressão duma sacerdotisa guardiã de sagrados mistérios. Refeito da agonia, ela recepcionou-me descalça, já com as vestes de Westall. Tomou-me pelas mãos e me guiou por uma espetacular paisagem: era o éden terrestre. A entrada da sua morada era cercada por um bosque com uma fonte e, para quem nunca usufruiu de milagres caídos do céu, ali era tudo colossal. Adentramos numa gruta profunda com amplos salões abertos para jardins paradisíacos, um bosque sagrado com grandes árvores e fontes sinuosas entre a relva. Logo fui envolvido pelas fragrâncias do cedro, sândalo e zimbro que dali emanavam. Pude ver ninfas em todas as dependências e cantavam enquanto fiavam e teciam. Fui, enfim, acolhido em sua morada. Acomodou-me, estava exausto. Logo senti seu vulto ao meu redor e lambeu minhas feridas, acariciou minhas contusões, serviu-me ambrosia. Onde estou? Ogígia. Sim? Você naufragou, Odisseu. Quem? Você penou demais, perdeu a memória, relaxe. E quedei inebriado por um sonho enfeitiçante. Despertei com o perfume de suas carícias benfazejas. Quem é você? Sou Kalypso, a ninfa do mar. Sabia: o seu nome escondia a deusa fiandeira e o seu poder sobre a vida e a morte de todos os seres e coisas. Sua beleza encobria a prisioneira da Titanomaquia. Seus olhos ocultavam o banimento das Oceânides e a solidão eterna. Não resisti à sua tentação. Fui impelido aos regalos e em seus braços nus muito apetecia a vida flutuante nas nuvens. Nossos corpos eclipsaram embalados pelo amor na Gruta de Brueghel. Ela espalmada sobre mim, como se eu fosse as águas de Oxer. E em mim mergulhou como na cena de Vecchiato por muitos dias e noites infindas. Repleta de satisfação, ela estirou o braço e alcançou uma estrela de 6 pontas para me presentear: era a promessa de me seguir aonde fosse e por todos os confins. E mais: prometeu a juventude eterna e a imortalidade. Escolheu-me por consorte e ao violino me embalou seminua na pose de Baecker. E me ofertou as costas na pose de Golovin, na Isle de Draper, na verdade seminua com as vestes de Styka. Enquanto tecia e fiava, ela cantava e me seduzia como na Odisseia de Homero. Passados sete anos e, numa tarde mormaçada, me dissera que Poseidon acalmara a sua ira. Nada entendia, nem queria entender. Saímos do meu refúgio na ilha e ela me levou pelo Estreito de Gibraltar, extremo norte marroquino. Ao chegarmos ao monte de Jbel Musa, suas vestes eram pentimentos reveladores, um caleidoscópio de minhas vivências passadas. O que tudo aquilo queria dizer? Disse-me atender o pedido de Athena e, abruptamente, a vi enfurecer-se, afastando-se à beira da loucura, a ponto de tentar se matar. Que foi que houve? Socorri. Fitou-me compenetrada: Sou imortal, só sofro a saudade de amor não correspondido. Não é verdade! Revelou-me sua maldição, o coração partido de divindade abandonada. Como? Não recorreu aos feitiços e obrigou-se a me despedir de nossos filhos: Nausítoo, Nausínoo e Latino. O que é isso? Ofereceu-me jangada e provisões, um retorno em segurança. Por que? Caí na real: eu não era Odisseu nem Telêmaco de Fénelon. Então, depus meu confiteor: Sapere aude e Horácio apareceu para me mostrar o ônfalo: Aqui é o centro da Terra, a ilha de lugar nenhum. E desapareceu imediatamente. Ela então mostrou-me a ponta aguda do infinito: estava condenado à esperança. Obstinei e me perdi pela grandeza do sonho: pensei por ela e todas as coisas. Seja lá o que for, a cada um a sua provação e um grande amor. Até mais ver.

 

Violeta Parra: Não chore quando o sol se for, porque as lágrimas não deixarão você ver as estrelas... Somente o amor com sua ciência nos torna tão inocentes... Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

Anne Rice: Ignore qualquer perda de coragem, ignore qualquer perda de autoconfiança, ignore qualquer dúvida ou confusão. Siga em frente acreditando no amor, na paz, na harmonia e em grandes realizações. Lembre-se de que a alegria não é estranha a você. Você está vencendo e é forte. Ame. Ame primeiro, ame sempre, ame para sempre... Veja mais aqui & aqui.

Heather Thomas: O que a escrita faz é permitir que você crie o mundo inteiro, crie uma história inteira, um ponto de vista, uma mensagem, uma experiência... Criar algo completamente diferente acontecendo... Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS

Imagem: Acervo ArtLAM.

AFIRMAÇÃO - Eu acredito no viver. \ Eu acredito no espectro \ dos dias Beta e do povo Gama.\ Eu acredito no brilho do sol. \ Em moinhos de vento e cachoeiras, \ triciclos e cadeiras de balanço. \ E eu acredito que sementes tornam-se brotos. \ E brotos tornam-se árvores. \ Eu acredito na mágica das mãos. \ E na sabedoria dos olhos. \ Eu acredito na chuva e nas lágrimas. \ E no sangue do infinito. \ Eu acredito na vida. \ E eu vi o desfile da morte \ marchando pelo torso da terra, \ esculpindo corpos de lama em seu caminho. \ Eu vi a destruição da luz do dia, \ e vi vermes sedentos de sangue \ sendo adorados e saudados. \ Eu vi os dóceis tornarem-se cegos \ e os cegos tornarem-se prisioneiros \ num piscar de olhos. \ Eu andei sobre cacos de vidro. \ Eu admiti meus erros e engoli derrotas \ e respirei o fedor da indiferença. \ Eu fui trancafiada pelos injustos. \ Algemada pelos intolerantes. \ Amordaçada pelos gananciosos. \ E, se tem alguma coisa que eu sei, \ é que um muro é apenas um muro \ e nada além disso. \ Ele pode ser posto abaixo. \ Eu acredito no viver. \ Eu acredito no nascimento. \ Eu acredito na doçura do amor \ e no fogo da verdade \ E eu acredito que um navio perdido, \ conduzido por navegantes cansados e mareados, \ ainda pode ser guiado à casa \ para atracar.

AMOR - Amor é contrabando no Inferno, \ porque amor é um ácido \ que corrói grades. \ Mas você, eu e amanhã \ damos as mãos e fazemos promessa \ que a luta irá multiplicar. \ A serra possui duas lâminas. \ A espingarda possui dois canos. \ Nós estamos grávidas da liberdade. \ Nós somos uma conspiração.

Poemas da escritora e ativista estadunidense Assata Olugbala Shakur (JoAnne Deborah Byron – 1947-2025), que foi ex-membro dos Panteras Negras (BPP) e do Exército de Libertação Negra (BLA).

 

O CANTO DA PRAÇA - [...] As palavras podem ser tudo [...] A expedição que resgatou esse material era formada por curiosos, de boa vontade, mas sem qualquer conhecimento arqueológico especializado. Por isso, não chegaram a anotar direito o local de sua descoberta, que permanecerá ignorado para sempre. Outra coisa que também nunca foi devidamente esclarecida a respeito desse achado é a sua época. É claro que tudo foi cuidadosamente estudado. Quando a caixa chegou, os sábios foram chamados a examiná-la e resolveram levar tudo — caixa e conteúdo — para seus gabinetes de trabalho, para que pudessem analisar a descoberta com todos os recursos de que dispõem. Fizeram os testes de carbono, carvão, açúcar e diamante. Mas os resultados foram, no mínimo, desconcertantes. Acabaram chegando à conclusão de que havia objetos de épocas tão distintas que se tornava impossível precisar a ocasião exata em que tinham sido enterrados. Na caixa havia recortes de jornal, velhos pergaminhos, máscaras de carnaval, um filme de Carlitos, uma flauta de madeira, uma caixa de lápis de cor, sapatilhas de balé, um lenço bordado, um violino, um sintetizador, um cavalo de carrossel, um cocar de índio, uma máquina fotográfica, uma caixinha de música, revistas em quadrinhos, uma pombinha de barro. Na tentativa de compreender o significado de todos esses objetos, os sábios consumiram semanas em ininterruptas discussões e especulações. Como não chegaram a nenhuma conclusão, decidiram introduzir todo o conteúdo da caixa, além da própria embalagem, numa engenhoca fantástica que estão desenvolvendo, uma espécie de aparelho mágico, máquina mirabolante, instrumento maravilhoso, algo assim. Mesmo com o risco de destruir tudo na experiência. Só que não se destruiu. Construiu. Quando a engenhoca foi ligada, nela se acenderam luzes belíssimas, dela saíram vapores de perfumes deliciosos, em volta dela se ouviram sons que só podem ser as tais harmonias celestiais de que tanto se fala. E, de repente, por uma abertura da máquina, como se ela fosse uma mulher parindo, saiu um livro. [...]. Trechos extraídos da obra O canto da praça (Salamandra, 1993), da escritora, jornalista, professora e pintora Ana Maria Machado (Ana Maria Martins Machado), autora de obras como Alice e Ulisses (1984), Aos quatro ventos (1993), A audácia dessa mulher (1999), Canteiros de Saturno (1991), Contra corrente (1999), Democracia (1983), O mar nunca transborda (1995), Para sempre (2001), Recado do nome (1976), Tropical sol da liberdade (1988), Um mapa todo seu (2015) e Vestígios (2021), entre outros. Veja mais aquí.

 

ANDAR ENTRE LIVROS - [...] não deixei de confiar nos livros como os melhores colaboradores dos professores na educação leitora e literária de seus alunos. A leitura de livros é o ponto de intersecção entre leitura, literatura infantil e juvenil e ensino de literatura [...] esclarecer as discussões, as interrogações e os critérios que influenciaram a presença, a seleção e a leitura de livros nas aulas [...] Interessa-nos a escola como instituição que outorga um sentido específico à leitura de obras [...] Também nos interessam os leitores como pessoas, que desenvolvem suas capacidades e competências literárias [...] nos interessam os livros da perspectiva de seu apoio a esse percurso [...]. Estimular a leitura e planejar o desenvolvimento das competências infantis são os dois eixos da tarefa escolar no acesso à literatura. [...] deve responder à conexão entre a capacidade de recepção e de produção literária, entre a recepção do texto e a elaboração de um discurso analítico e valorativo sobre ele, entre a interpretação do leitora e os conhecimentos que a tornam possível, entre a educação linguística e a educação literária, entre os aspectos linguísticos e os aspectos culturais que configuram o fenômeno literário ou entre a literatura e os restantes sistemas artísticos e funcionais que existem nas sociedades atuais. A leitura de obras literárias integrais é uma atividade que se situa no centro da tarefa de alcançar esses objetivos do modo mais amplo possível, tanto em profundidade quanto em extensão social. E o desejo de todos é que os ivros e os professores trabalhem juntos para consegui-lo. [...]. Trechos extraídos da obra Andar entre livros: a leitura literária na escola (Global, 2007), da premiada professora espanhola Teresa Colomer, coautora da obra Ensinar a ler, ensinar a compreender (Penso, 2003). Veja mais aqui, aqui & aqui.

 

FESTIVAL USINA GASTRÔ

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ANA PAULA TAVARES, ELIF SHAFAK, ALAA MURABIT & CLARICE FALCÃO

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns O corpo do som (2002), O seguinte é esse (2005), Corpo de som ao vivo (2010), Tum pá (2012)...