Imagem: Acervo ArtLAM.
Ao som dos concertos Nights
from the Alhambra (2007), A Mediterranean Odyssey (2010), Troubadours
On The Rhine (2012) e os álbuns The Wind That Shakes the Barley
(2010) e Lost Souls (2018), da cantora, compositora, pianista e harpista
canadense Loreena
McKennitt.
MONÓLOGOUTRO: E SE VIU
O RIO & O QUE ALÉM MAIS HAVIA... – Horoutrera: aqui
ninguém escutava e o eco do que nunca dissera trocava a noite pelo dia. Havia qualquer
coisa de perdido à espera da sinistra surpresa. O que mais me aconteceria na
vida... Tirava forças da fraqueza e era quase inútil, mas era uma chance, quem
sabe. Quantos futuros e a fulminação pelas oitavadas dores. Dava de cara com os
abortados vivos zanzando encarcerados em suas bolhas exclusivas. Escapava de quantos
assaltos, até o nocaute previsível a qualquer momento entre vindicações e
platitudes. Havia de aparecer sutil sinal. E do imprevisível dava fé da minha
própria sombra: era uma mulher e não me foi arredia, tal Phoebe Mary Waller-Bridge: Comecei lendo como uma fuga, depois como uma tarefa,
depois como um hábito e depois como um luxo. Só
agora percebi que isso é uma necessidade... Era como ensinasse o inexpresso
visinvisível, a me dar ciência num poema escrito na palma da mão, de que sou
não mais que inominômino, um alcunha para nada mais. A bom termo, não sei:
quem, quando, como, onde agora, aporias, estases e devires. Indagações outras
desfeitas no instante, o primeiro talvez e apenas a perspicácia de ser antes do
já anterior e o depois. Ela era Espido Freire: Se você vive de acordo com a sua consciência, a fé não é tão importante...
Todo livro tem que quebrar o silêncio... E
não estava só porque ela me levou pelos túneis solares de Nancy Holt. Seguia
seus passos e pernas bem torneadas – toda mulher é uma deusa, sabia! Muito
depois ela me disse que fora uma aberração escravizada e fugira de atrações
circenses, coisa escandalosa da população inteira em polvorosa nos poleiros
entupidos das sessões reprisadas três vezes ao dia. Inacreditável! Então, empunhou
um poema sem face e recitou escondendo sua fisionomia. Era como se me desse um
olho de tamburutaca e nele espelhos duplicassem as imagens refletidas e a
promessa do infinito. Era a prova dos nove. E disse-me Nathalie Sarraute: Acho
que é muito doloroso e que é melhor não ter dúvidas. Invejo
quem não tem; eu os invejo muito. Eles são pessoas
felizes... Horaquela
achegou-se como a explosão de Betelgeuse, tão diurna na sua pujante vitalidade,
e refratária ensinou-me o beijo para quem às amarguras; se se perdeu, o abraço;
aos suicidas, o apoio; em desgraça, o afeto. E dei meus olhos ao primeiro cego;
minha esperança, ao suicida; o meu suor, ao emergencial enfermo; e os ossos,
aos tocadores da primeira orquestra. O meu sorriso guardei para ela ali noturna,
com seus olhos bíblicos de vivos faróis. Baixou as pálpebras que depuseram a
terna tristeza de quem já serviu de pajem para histriões. Era como se restasse apenas
o agora e ofertou seus pulsos à hora inadiável e seus mil e um encantos
eclodiram ubíquos. Sorriu-me tímida e abriu as coxas para atravessá-las e nela eu
amanheci, muito chovi e fiz sol, entardeci e, quando findou o dia, anoiteci
pelas paisagens de sua imensidão corpórea. Até mais ver.
CRÂNIO – CRÂNIO = X
Desconhecido na linguagem dos mortos. \ Poema
nulo. \ Ouvi dizer que você cavalga nas cabeças das Fúrias \ e você foge \ e
mancha os terrenos baldios de leite coalhado \ meu leite coagulado \ e eles
bebem e te dão luz \ uma caveira com canhões prateados apontando para meu peito
\ conjunto de trilhas elétricas e membranas salgadas \ fio-mãe de navalhas \ mãe
abutre cinerário \ Os três lambem as gengivas sob o limiar quente dos teus rins
em flor: \ Eles têm cascos e abrem caminho desde os rios gástricos até os
milharais. \ Eles se espalham pela Via Láctea montando em você. \ Eles urinam
nas orelhas dos dentes que se desprendem para oeste. \ “Mãe e filha é uma
antinomia”, \ a clarividência subaquática do seu trinômio perfeito de cães
canta para você \ e você repete ao sul de sua debandada: \ “Mãe e filha são uma
antinomia \ com pernas e cabelos de tarântula \ em uma gaiola de gelo vazia.” \
Seu cabelo queima como elefantes marciais cruzando os desertos \ babuíno
zibelina \ casca de peixe aéreo. \ Você quer minha carne no seu leite terrível
\ cozinhando na alta temperatura dos furacões \ (Escolas de esperma do deus
morto \ povoar acima das águas galácticas do norte). \ Eu tremo nos abrigos
derrubados pela sua barriga de baleia em histeria \ Esplanada \ Maddrácula dos
mausoléus \ As cabeças das Fúrias sorriem tortuosamente para o sangue, \ rígida
sob as coxas do galgo e a escultura perfeita do tórax; \ Eles querem me
cozinhar no seu néctar de hera vencido, \ forçar o leite dos fígados para
dentro de mim através do sulco celestial de suas primeiras manhãs. \ Espigas de
dentes descascam e mordem meus restos imóveis à medida que passam. \ Eu me
escondo entre as peles dos vertebrados \ e transformo meu corpo em um saco de
penas \ que surge fresco entre os fêmures selvagens. \ Mãe e filha são uma
antinomia. \ Uma caveira desgastada observa meu sinal nu: \ todo tipo de fuga
termina \ nas cavidades profundas \ de um animal morto.
Poema da escritora equatoriana Mónica
Ojeda Franco, autora das obras La
desfiguración Silva (Prêmio Alba Narrativa, 2014), Nefando (Candaya, 2016), e O ciclo das pedras (Rastro de
la Iguana, 2015).
COELHO AMALDIÇOADO
– [...] Depois que você passa por um
trauma terrível e entende o mundo de uma perspectiva extrema, é difícil superar
essa perspectiva. Porque a sua própria sobrevivência depende disso. [...] Se eu pudesse fazer um desejo, quero ser um
pouco mais feliz Se eu ficar muito feliz sentirei falta da tristeza [...] Para
algumas pessoas, suas vidas são governadas por um evento chocante que repercute
em seus instintos de sobrevivência. A vida se reduz a uma
armadilha feita de um momento brilhante do passado, uma armadilha onde repetem
incessantemente aquele momento singular em que tinham mais certeza de estar
vivos. Esse momento é curto, mas muito depois de ter passado, os
bons e os maus momentos escorregam como areia por entre os dedos enquanto se
repetem sem sentido e confirmam a sua sobrevivência. [...] A vida é uma série de problemas. Principalmente
quando se é casado e tem família. Porque mesmo quando
você consegue evitar os problemas do mundo exterior e voltar para casa em
segurança, sua família está lá esperando com um conjunto totalmente diferente
de problemas próprios. [...].
Trechos extraídos da obra Cursed Bunny
(Honford
Star, 2021), da premiada escritora e tradutora sul-coreana Bora
Chung.
ÉTICA, FILOSOFIA,
GÊNERO & RAÇA - Para o sujeito negro, viver é o seu maior ato de
afronta... Eu encho meus filhos de amor para que, quando eu me tornar
ancestral, seja merecedora de seu respeito e reverência e possa, assim, zelar
diretamente por eles e pela minha descendência... Pensamento da filósofa
Aza
Njeri
(Viviane Moraes), que na obra Amor: um Ato Político-Poético - Ética e
filosofia: gênero, raça e diversidade cultural (Fi, 2020), expressa que: [...]
Nosso maior Ato Político-Poético é amar. Como já abordado neste ensaio, não
o Amor alienante ocidental, mas as pluriformas possíveis de Outridade no amar.
É libertador, para nós, o “Outro”, perceber que Amor não é o conto de fadas das
adormecidas e abobalhadas princesas europeias à procura de um patife que passou
a vida inteira sendo servido por mulheres como eu; nem volúpia sexual, que faz
com que se fique três dias e três noites entregues aos “desejos da carne”; não
tem coraçõezinhos pulsando, nem canção, muito menos loucura insana e mortal.
[...] Compreender que não existe verdade única que determina uma experiência
universal una dentro de um mosaico plural que é a Humanidade. O Amor, portanto,
pode ser entendido a partir de uma pluriversalidade de cosmovisões, e neste
artigo, busquei sulear minhas reflexões, para pensar o Amor enquanto energia
fundante de movimento, necessária para a luta dos oprimidos no Ocidente. Longe
de querer destituir o Ocidente para impor uma verdade afroperspectivada universal,
ao contrário, almejei nessa discussão o diálogo que aponta para a necessidade
do Outro falar e experienciar diversas formas de amar que estejam mais em
sintonia com sua experiência no mundo que é atravessada pelo Presságio do
Abismo, Monstro do Genocídio e pela fratura banzística de insílio. [...].
Já no seu texto Imprevisibilidade da Vida (Coletivo Indra, 2021), ela
expressa que: [...] uma das minhas piores características é ser
controladora. Gosto de ser organizada e ter controle sobre minhas pesquisas,
aulas, vídeos, família, casa, Vida. Tenho consciência dessa amarra e trabalho
diariamente para me desapegar e entender que viver é uma experiência radical e
imprevisível. Nesses 36 anos
recém-completados, aprendi a necessidade dos três S: Solaridade, Sabedoria e
Silêncio. Com eles, exercito a minha vitalidade atenta diante das peripécias do
viver. Setembro foi um
mês de muitas reviravoltas. Cíclico e potente, me chacoalhou dizendo: você não
tem controle. Então sigo repetindo, sem controle da Vida, que Viver é um ato de
afronta fundamental para resistir à desgraça coletiva do Brasil. Vou
vivendo-sendo. Organizada, mas ainda impotente. Atenta e resiliente. Saúdo a
Primavera, plantando girassóis solares no peito de cada um. [...].
ENQUANTO DEUS NÃO ESTÁ OLHANDO...
[...] Eu era incapaz de chegar a
um lugar e dizer o que queria. Sempre envolvida pelas possibilidades de estar querendo—ou
acreditando querer—a coisa errada. Sempre que eu ia a uma lanchonete com meu
pai, eu precisava ver o cardápio inteiro, todas as vitrines de bolos,
ponderando, desesperadamente, sobre as opções. Ele sempre se impacientava com
isso. Em lanchonetes, ele caminhava decidido ao balcão e, sem perguntar o que
serviam, sem ter em mãos o cardápio, pedia: Um misto quente e um café. Ele não
se preocupava com as opções. E por que deveria? Eu é que tive opções demais na
vida. Ele, não. Ele sabia o que queria. Adaptou-se ao fato de que qualquer
birosca ofereceria misto quente e café. Ele teve uma só possibilidade. [...] Pessoas assim
nunca vão crescer, de fato. Pensei, desanimada, sobre minha própria
incompetência para uma vida adulta [...].
Trecho extraído da
obra Enquanto deus não está olhando (Record, 2014), da
escritora e jornalista, Débora Laís Ferraz, autora de obras como Os
anjos (2003) e o conto O filhote de terremoto (Prêmio SESC de Contos
Machado de Assis em 2012), adaptado para o cinema pelo curta-metragem Catástrofe
(2012), dirigido por Gian Orsini. Veja mais aqui.
UM OFERECIMENTO:
NNILUP CROCHETERIA
Veja mais aqui.
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SANTOS MELO LICITAÇÕES
Veja detalhes aqui.
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Tem mais:
Poemagens & outras
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Diário TTTTT aqui.
Cantarau
Tataritaritatá aqui.
Teatro Infantil: O
lobisomem Zonzo aqui.
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VALUNA – Vale
do Rio Una aqui.
&
Crônica de
amor por ela aqui.