domingo, outubro 31, 2021

PINTANDO NA PRAÇA, ALEJO CARPENTIER, JULIE MEHRETU, BILL MCKIBBEN & MATTHEW HERBERT

 

 

TRÍPTICO DQP – Acerto de contas... - Ao som do álbum Plat du jour (Accidental Records, 2005), do compositor britânico Matthew Herbert. – As incertezas todas e eu insistindo em ser feliz, como se ainda pudesse no meio dessa tragicomédia paradoxal, e se só restava uma esperança minada pelas lápides, arquivos e fotografias desbotadas. Apesar de tudo, persigo coração pulsante e partido porque carrego comigo o inferno dos outros em carne viva, o delírio de desembaraçar as linhas tênues de um passado perdido na memória. Se me dera a sorrir era porque ali estava Djuna Barnes insistentemente: O que é uma ruína senão o tempo diminuindo sua resistência? Corrupção é a Idade do Tempo. O insuportável é o início da curva da alegria. Um homem só é completo quando leva em consideração sua sombra e também a si mesmo - e o que é a sombra de um homem senão seu espanto ereto? O pior era ter de encarar T. S. Eliot me cuspir na cara o sarcasmo: O tempo presente e o tempo passado estão ambos talvez presentes no tempo futuro. O que dissesse ou fizesse depois disso, não adiantava, era como se Arthur Miller me jogasse para protagonizar After the fall (Depois da queda, 1964) e me restasse ecoando: Não posso chorar nem por minha própria mãe... Não sei como sofrer, ao que parece... Deus, por que será a traição a única verdade que se agarra à gente! Tive que acender todas as luzes para não sucumbir inteiro no obscurecimento geral. No meio da minha louca sofreguidão, a surpresa com a emergência radiante de Maria Della Costa, como se fosse a Marilyn Monroe nua de todos os sonhos impossíveis, me trazer de novo, depois da entrega, o que olvidara do escritor cubano Alejo Carpentier (1904-1980): Os mundos novos tem de ser vividos, mais do que explicados. Aqueles que aqui vivem não o fazem por convicção intelectual; acreditam simplesmente que a vida suportável é está e não a outra. Não havia como evitar, era o acerto de contas com todos os meus equívocos edulcorados na incerteza e nada se acabava porque era a verdade que inventei.

 


Todos no mesmo barco... - Imagem: arte da artista etíope Julie Mehretu. - A solidão é o meu refúgio e sei que nunca estarei só, mesmo que tudo se pareça inconsolável. Não sei se ainda posso me salvar da asfixia do tempo, ou se já defuntei e sirvo apenas da lembrança do que vivi. Às vezes duvido, sobretudo ao ouvir o trecho severo do jornalista ambiental estadunidense, Bill McKibben, no The end of nature (Random House, 2014): Embora durante décadas a civilização tenha pilhado e poluído a Terra, no passado esse ataque era relativamente localizados; nos dias atuais, com as mudanças globais causadas pelos gases-estufa e a depleção de ozônio, o homem alterou a maioria dos processos de vida em toda a parte, e o mundo ao ar livre, a natureza em si mesma, tem se tornado o equivalente a uma enorme sala aquecida... Sim, um calor enorme, invencível, irrespirável. A ponto de me pegar a casa incendiada e salvei o fogo de Cocteau. Era o que deveria ter sido feito porque sempre disse sim! Como se conjugasse o verbo de Raymond Queneau: Eu sim, nós gozamos... eles sinzam. E reiterei tal como e.e.cummings: Sim é o mundo. E mesmo que o patético da agonia me mostrasse tantas benemerências escondendo a hipocrisia e que havia mais que um estrondo e tantos suspiros - quanta contrafação nos capítulos teratológicos do presente degenerado, seria preciso dar um basta na cafajestice, tudo é demais em torpezas, sordidez e anestesiados. Sim e assumi o passado porque o presente nunca será impune e o sonho nunca existiu: os testemunhos da solidão. Enfim, estamos todos no mesmo barco.

 


Cant&pintando na praça... - Desta vez não cantamos, mas estávamos lá, eu&Ripe&Linaldo solidários de sempre, como se cochichássemos a nossa Nênia. Desde a minha primeira em 2017, como de costume, o sábado estava lindo! E que ninguém nos ouça mesmo, porque tão lindo estava para a maravilha que não foi pouca, porque coroada pelos alunos da SEMED, inquietos e a postos: traços, tintas & moldes – do papel à tela, mãos à massa! Chega dava vontade de traquinar entre eles! Parecia: ensino, pesquisa & extensão! Tomara, coisa tão boa de ver! Aproveitamos, então, tudo no meio do movimento de curiosos e arteiros, a bela Secretária desfilando um cortejo e enchendo os olhos de uma vontade louca de teimar, o Profeta era a Nalva num sorriso só, enquanto Alexandre Freitas sapecava pinceladas ensinando o que é do talento, Isaac Vieira a cometer belezas na manhã que entardecia mais colorida, Rute Costa com seu tapete de leituras e simpatias para alegria de olhares perdidos, Epifânio trazia recados das suas artesanias, Tylla de Jahfari cantava no meu coração pro Erick Nelson solar tantos tons ao meu ouvido & eu testemunhava ainda ali o Poema vivo de Admmauro Gommes que a Poesia lhe dera. Tudo parecia como se fosse um primeiro passo para a práxis da Ação Cultural para a Liberdade, numa das homenagens tácitas ao saudosíssimo centenário Paulo Freire. Ali eu sabia: na praça central a minha cidade renascia. Até mais ver.

 

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CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...