DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: COISAS QUE ACONTECEM, O CORAÇÃO SENTE...
- O que guardei por muito tempo, já nem lembro. O que era para ser feito,
fiz. Não tenho mais aquelas tarde nem noites que possam valer alguma coisa,
nenhum remorso ou regozijo, apenas existo. Tenho apenas de Stravinski o que ficou: Se
tudo fosse permitido, eu me sentiria perdido num abismo de liberdade. E o
melhor quando ele cantou a pedra: Para
criar deve existir uma força dinâmica, e que força é mais potente que o amor? O
silêncio vai salvar-me de estar errado (e de ser idiota), mas que também irá
privar-me da possibilidade de estar certo. Melhor ainda: o silêncio é
revelador, seja como for.
DUAS: O JEITO MAIS É A DISTÂNCIA – Longe o afeto, asas
fechadas e um riso mascarado. Outros tempos estes de conter a emoção, os nós da
racionalidade cada vez mais insistente. Não há como prever o amanhã, muito menos
o que fazer para quem menino esqueceu crescer. Foi Escher quem levantou a lebre: O que eu crio na luz do dia é apenas um por
cento do que eu vi na escuridão. Meu trabalho é um jogo, um jogo muito sério. Eu
não cresço. Dentro de mim está a criança da minha infância. Tomara jamais
precise uma esperança a menos das tantas que me fiz.
TRÊS: CONTANDO O TEMPO EM MIM - É difícil cada vez mais atravessar os dias,
eu me refaço a todo instante, até sou feliz como posso. Sou outro mesmo com a
certidão de que tudo piora e vou incólume, por enquanto, escapando da lâmina
afiada das circunstâncias. Reinvento a mim mesmo e sei que chegará a hora, vou
digerindo as impossibilidades. Ao ouvido a reflexão de Thomas Kuhn: O significado
das crises consiste exatamente no fato de que indicam que é chegada a ocasião
para renovar os instrumentos. Sim, deve haver outra forma melhor para
sobreviver. Até amanhã. © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Quando uma pessoa morre, ela sai do reino da
liberdade e entra no reino da escravidão. Vida é a liberdade e a morte é a
negação gradual da liberdade. A consciência primeiro enfraquece e depois
desaparece. Os processos da vida – respiração, metabolismo, circulação –
continuam por algum tempo, mas foi feito um movimento irrevocável em diração à
escravidão, a consciência e a chama da liberdade se extinguiram. As estrelas
desapareceram do céu noturno. A Via Láctea desvaneceu-se; o Sol apagou; Vênus,
Marte e Júpiter se extinguiram; milhões de folhas morreram; o vento e os
oceanos se dissparam; as flores perderam suas cores e seus perfurmes; o pão
sumiu; a água sumiu/ até o mesmo o propprio ar, o ar às vezes fresco e às vezes
abafado sumiu. O universo dentro da pessoa parou de existir. Esse universo é
surpreendetemente parecido com o universo que existe fora das pessoas viventes.
Mas ainda mais surpreendente é o fato de que esse universo tinha algo em si que
diferenciava o som de seu oceano, o cheiro de suas flores, o farfalhar de suas
folhas, os tons de seu granito e a trsiteza de seus campos no outro tanto
daqueles (sons de oceanos, cheiro de flores, farfalhar de folhas, tons de
granito e trsiteza de campos de outono) do universo que existe externamente
fora das pessoas. O que constitui a liberdade, a alma de uma vida individual, é
o seu carater único. O reflexo do universo na consciencia de alguem é abase de
seu poder, mas a vida só se transofrma em felicidade, só é dotada de liberdade
e sentido, quando alguem existe como um mundo inteiro que nunca foi repetido em
toda eternidade. Só então se pode experimentar o prazer da liberdade e da
bondade, encontrando nos outros aquilo que já foi encontrado em si mesmo.
[...]. Trechos extraídos da obra Vida e Destino (Leya, 2012),
do escritor e jornalista ucraniano Vasily Grossman (1905-1964), tratando
sobre a incidência da Segunda Guerra Mundial na Rússia soviética, numa família
de classe média que se dispersa no destino, retratando o horror e a esperança
diante do genocídio dos judeus.
OUTROS DITOS
Eu
pretendo combater o cinismo intelectual...
Pensamento da socióloga canadense Michèle Lamont,
que na sua obra Money, Morals, & Manners: The Culture of the French and
the American Upper-Middle Class (University of Chicago Press, 1994),
expressa que: [...] Embora o impacto da classe social, etnia
e socialização religiosa na escolha conjugal tenha diminuído, a homogamia
educacional tem aumentado. Em geral, a população com ensino superior (que
abrange a classe média alta, conforme definida no presente estudo) continua a
apresentar um alto grau de similaridade em suas práticas e atitudes culturais
em uma ampla gama de áreas. O fato de um diploma
universitário continuar sendo o melhor preditor de alto status ocupacional
sugere que os limites que essa população constrói entre si e os outros são
particularmente significativos. Esses limites provavelmente serão mais
permanentes, menos transponíveis e menos resistidos do que os limites
existentes entre grupos étnicos, por exemplo. Eles também têm maior
probabilidade de sobreviver em diferentes contextos, ou seja, de serem
transferidos da comunidade para o local de trabalho e vice-versa. Vemos
novamente, portanto, a importância de estudar de forma sistemática os limites
produzidos por pessoas com ensino superior. [...]. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
O HOMEM QUE SE PERDEU DE SI
MESMO, DE PAPINI
[...] Desde
aquele dia, nunca mais tive coragem de despir-me, e permaneço sempre em casa, sozinho,
com o meu dominó branco no corpo, com minha máscara negra no rosto, para ter
certeza de nunca mais perder-me.
[...].
Trecho do conto O
homem que se perdeu de si mesmo, do
escritor italiano Giovanni Papini
(1881-1956), autor do controvertido livro El Diablo
(Epoca, 2017), no qual expressa que: [...] Este livro não é: Uma história das opiniões e crenças do
Diabo; uma incursão mais ou menos erudita ou mais ou menos divertida pelas
lendas antigas e modernas do Diabo; um estudo conceitual árido, seguindo o
tradicional jornal escolar; um manual ascético para proteger as almas dos
ataques e investidas do diabo; uma coleção de invectivas sagradas ou discursos
oratórios sobre o velho adversário; uma história dos representantes terrenos do
Diabo, que explica mágicos, ocultistas e coisas por estilo: uma orgia romântica
de literatura satanista, com seus correspondentes homens negros e outros
imbecis brutais; uma elucubração metafísica sobre o problema do mal, como a
encontrada pelo kantiano Ehrard; e, no final, é exatamente como pode parecer a
qualquer leitor apreciador, uma defesa do Diabo. [...]. Veja mais aqui & aqui.
O AMOR DE UM LADINO, DE CHRISTI
CALDWELL
[...] Temo que se você realmente acredite nisso, você
viverá uma existência muito solitária e triste. [...] Você pode ter esquecido como usá-lo porque ele foi
muito machucado, mas ele está lá e um dia você encontrará a pessoa que ensinará
esse órgão a bater novamente.
[...] Ele deixou de acreditar pelas mãos de seu pai, a pessoa que deveria
amá-lo incondicionalmente, em vez disso lhe ensinou que o amor, na verdade, tem
condições. [...].
Trechos extraídos do livro The
Love of a Rogue (Spencer
Hill Press, 2018), da escritora estadunidense Christi Caldwell.
A FESTA PERNAMBUCANA DE BACO
Bebamos, companheiros, / Bebamos, companheiros, / O suco da uva, O vinho
verdadeiro.
[...] Depois da festividade de Nossa Senhora dos
Prazeres, celebrada na dominga de pascoela, na sua linda igreja dos montes
Guararapes, erguida em memoria dos dois grandes feitos de armas ali feridos em
1648 e 1649, contra o batavo invasor, seguia-se uma série de festas até o
domingo imediato e no qual tinha lugar a festa do deus Baco. Para o lugar
denominado Batalha, onde passa o riacho Jordão, cujas águas são vermelhas do
sangue que ali correra – num combate travado em uma das batalhas dos
Guararapes, como reza a tradição popular -, afluía pela manhã imensa multidão e
guardadas as solenidades das festas pagãs, tinha lugar o batismo de Baco nas
águas do Jordão. Terminado o ato, dispunha-se toda gente em ordem de marcha
para os Prazeres, formando pelotões, conduzindo cada individuo um galho de árvore,
e no fim, vinha Baco, com uma coroa de folhas na cabeça, montado sobre uma pipa
que, disposta em forma de charola, era conduzida nos ombros dos circunstantes,
revezadamente. Baco trazia uma garrafa com vinho na mão direita e um copo na
esquerda, de cujo liquido vinha fazendo libações, e a representação do seu
papel, na solenidade, cabia privativamente ao juiz da festa, anualmente eleito
pelos foliões. Desfilava então o préstito, entoando um cântico tirado por uns
tantos e respondido em coro por toda a gente cujos versos tinham por estribilho
[...] Essa usança, que vinha aliás de
longínquas eras, não podia continuar a ser tolerada em um pais católico;
compenetrada dos seus deveres, por fim, as autoridades eclesiásticas reclamaram
dos poderes públicos a sua interferência, no intuito de obstar a continuação de
semelhante prática. Houve tentativas pacificas, mas infrutíferas, até que em
1869 expediu o governo uma numerosa força de infantaria e cavalaria, que obstou
a execução da tradicional festividade e desde então nunca mais se tentou a sua
celebração. [...].
A FESTA PERNAMBUCANA DE BACO - Trechos extraídos da obra Folclore pernambucano (Imprensa
Nacional, 1908), do historiador, jornalista e advogado Francisco Augusto
Pereira da Costa (1851-1923). No Dicionário
do folclore brasileiro (Global, 2001), do historiador, antropólogo,
advogado e jornalista Luís da Câmara Cascudo (1898-1986), está
registrado que: [...] Realizava-se há
muito tempo na província de Pernambuco uma festa dedicada ao deus do vinho, com
procissão, banquete, cânticos, etc., reminiscência da grande dionisíaca, que
ocorria no mês de elafebolion (março) na Grécia e depois em Roma, durante o
outono. A festa de Baco terminou em 1869 e era ligada à celebração da páscoa.
[...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE MAYA PLISETSKAYA
A arte da bailarina, coreógrafa, atriz
e diretora de ballet russa Maya Plisetskaya (1925-2015),
prima ballerina assoluta do Teatro
Bolshoi. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
O artista precisa do reconhecimento do seu povo, porque ele vive disso.
É muito importante o trabalho que vimos desenvolvendo esse tempo todo, fazendo
a cidade dançar, fazendo com que a cidade reconheça seus valores artísticos
mais profundos, e estamos hoje sendo coroados por este valor. Esse
reconhecimento vem abrir portas, consolida nosso trabalho, e nos posiciona como
um legítimo representante da cidade do Recife. Isso nos inventiva e dá mais
vontade de lutar, de continuar a levar nossa cultura e nossa arte para a
sociedade.
A arte
do Balé Popular do Recife, um Patrimônio Cultural
Imaterial do Recife, criado em 1977, há mais de 40 anos e com linguagem própria
denominada Brasílica, metodologia implantada pelo fundador e diretor André
Madureira.
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Tetralogia
Primeira – Terminologia, Quartzo e Temporal: lapsos -, de Gentil Porto Filho
aqui.
A obra
da a filósofa, pintora, poeta e historiadora Rita Joana de Souza aqui.
A música
de Spok Frevo aqui.
A arte
do pintor Elmar
Castelo Branco aqui.
O
documentário O migrante, direção de Beto Novaes, Francisco Alves e
Cleisson Vidal aqui.
Teatro
nosso de cada dia, de Fernando Peltier (1948-2014)
aqui.
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