DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: DE MENTIRAS, CARA DE PAU & ÓLEO DE
PEROBA - Gentamiga, que coisa! Nesses tempos de pós-verdade, aqui
no Fecamepa todo dia tem uma
novidade e todo mundo na maior razão. Eu que não digo nem faço nada, fico só de
queixo caído com tanto descaramento. Não sabia que era para tanto. Do primeiro morto,
soube que era fantasia. E é? Quando passou dos mil, disseram que era só uma gripezinha.
Será? Depois dos cinco mil, a coisa pegou: Ah, histeria! É? Na marca dos dez
mil: Onde está o coveiro? Vinte mil: E daí? Trinta mil: É o destino. Trinta e
cinco mil: Cadê? Oxe, ninguém mais sabe de nada, enterram em vala comum e
babau! Como é que pode? Só ouço: Parou! Chega! Vixe! No país dos envultamentos ajeitados,
as coisas vão e nada. Ainda tem quem se lembre daquele golpista ex Temeroso
Vampírico com seus ministros tudo boca-de-caieira da picaretagem no foco da PF que
ninguém sabe por onde andam, hem? Pinotaram? Empirulitaram-se! Só sendo. E o ex
juiz que está com o cu na mão por conta dum tal Taclan Durán? Danou-se! Aqui só
acontece e dá em nada, como se fosse, tá! Entre a vontade política e a má
vontade, tudo fica enganchado e prevalecendo no olho da frouxidão e cinismo.
Pois é. DUAS: LOA DE SEXAGENÁRIO – Vou
vivendo e desaprendendo. Como? Só pode, ora, o que se aprende perde valia duma
ora para outra! Adiantou tantos anos nos bancos das faculdades e aboletados
sobre os livros queimando pestana? Está tudo escrito e positivado, mas valer de
mesmo, só pra quem é besta, pros sabidos é só nhenhenhém, quando não revogado
ou não alcançam a suposta imunidade dos graudões e mandonistas. Isso é que é invenção,
como diz Scott Adams: Criatividade é permitir a si mesmo cometer
erros. Arte é saber quais erros manter. Se você quer entender OVNIs,
reencarnação e Deus, não estude OVNIs, reencarnação e Deus. Estude pessoas.
Eita! Tá valendo, de 2015 para cá vale tudo meeeeeesmo! TRÊS: DIVAGAR & ECLODIR, VÊ SÓ! - Se não estou variando nessa
clausura de meses, acho que a coisa está pegando e muito! Fiquei mais ainda de
espreita com o que Robert Schumann
me disse: Enviar luz para às profundezas do coração humano -
este é o chamado do artista! É? Tá. Que ato inglório! Ele baixou hospício
depois dumas e outras, eu que me cuide, porque o Brasil ou endoidou ou está
para endoidar a gente tudinho! Tasco na primeira, fujo da segunda & vamos aprumar a conversa, gente! Até mais ver! © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: A ESCRAVIDÃO
& A DESIGUALDADE [...] A
escravidão persiste no Brasil? Ela persiste de novas formas. Ela persiste no
sentido de que você tem aqui uma multidão, mais de 50% da população brasileira,
exercendo atividade semiqualificada. É trabalho manual, é trabalho sem grande
incorporação de conhecimento, exatamente como o trabalho escravo. Essas classes
populares são odiadas e desprezadas, como os escravos eram. Você pode matar um
pobre no Brasil, que não acontece nada. A polícia mata com requintes de
crueldade e ninguém se comove porque os pobres são percebidos de modo desumanizado,
como os escravos eram. A escravidão perpassa o núcleo da sociedade brasileira.
E boa parte da classe média tem preconceitos de senhor de escravo e da elite
com relação a esse povo. O que eu tento mostrar é como essa escravidão se torna
a base e o centro de tudo que a gente está vivendo hoje. Nós somos filhos da
escravidão, isso nunca foi percebido. É como se fosse uma coisa que aconteceu
há muito tempo e não tenha mais nada a ver hoje. É o contrário. A escravidão
continua. Para mim, essa desigualdade doente de hoje vem da escravidão. [...] A desigualdade é que cria o subcidadão
brasileiro? O Brasil é um país doente, patologicamente doente pelo ódio de
classe. Isso é o mais característico do Brasil: o ódio patológico ao pobre. É a
doença que nós temos. A gente nunca assumiu a autocrítica de que somos filhos
da escravidão, com todas as doenças que a escravidão traz: a desigualdade, a
humilhação, o prazer sádico na humilhação diante dos mais frágeis, o
esquecimento e o abandono da maior parte da população. Esse é o grande problema
brasileiro. O resto é bobagem. [...] Trecho da entrevista A doença do Brasil é o ódio de classe
(Isto é, 2018), concedida pelo sociólogo, professor e pesquisador Jessé Souza, que atua nas áreas de Teoria Social, pensamento social
brasileiros e estudos teórico/empíricos sobre desigualdade e classes sociais.
Ele é autor de obras como A
guerra contra o Brasil: Como os EUA se
uniram a uma organização criminosa para destruir o sonho brasileiro
(Estação Brasil, 2020); Subcidadania brasileira: Para entender o pais além do jeitinho brasileiro (Leya, 2018); A radiografia do golpe: entenda como e por
que você foi enganado (Leya, 2016); A
elite do atraso: da escravidão á Lava Jato (Leya, 2017); A tolice da
inteligência brasileira: ou como o país
se deixa manipular pela elite (Leya, 2015), Os batalhadores brasileiros:
Nova classe média ou nova classe
trabalhadora? (EdUFMG, 2010); A ralé brasileira: quem é e como vive (EdUFMG, 2009); A
Construção Social da Subcidadania (EdUFMG, 2006), entre outros. Veja mais
aqui.
A MÚSICA DE KEKE PALMER
É aí que vocês estão juntos com a comunidade e a
sociedade para parar a opressão governamental. Nós precisamos de você. Sei que
há uma pessoa nesse uniforme e quero saber se as pessoas que estão nessas
poderosas posições de salvar ou tirar uma vida, quero saber se elas estão com
os cidadãos e se comprometeram a se posicionar contra o sistema e as
injustiças, E se estamos unificados, não importa quem você é, o que está
vestindo, podemos criar mudanças. Os edifícios podem ser reconstruídos, mas
depois que vidas são tiradas, elas desaparecem.
KEKE PALMER - A arte da atriz, cantora e compositora
estadunidense Keke Palmer, que
durante os protestos de manifestantes antirracistas protagonizou a cena de
conseguir o apoio da Guarda Nacional sobre a necessidade da polícia ouvir as
comunidades marginalizadas e parar a opressão governamental.
&
A MÚSICA DE GUIDI VIEIRA
É preciso movimento / Falta quebrar o silêncio / Levar aos extremos / Largar
tudo o que temos / É preciso sentir o cheiro / Deixar chegar aos olhos / Se
achar, perder o sono / Ouvir a língua que não controlo / É preciso sentir o
cedo / Dançar, chegar ao intenso / Crescer, deixar o colo / Ouvir a língua que
não controlo / É tanto sol dando sopa / Grão de areia, vento, gota / E por aqui
só chega o eco / Do mar que molha o dia seco / Os dias serão os mesmos apenas
melhores / O tempo é tão fatal / Não se guiar se torna normal / Mas quero
tantas cores / Pressinto outros sabores.
GUIDI VIEIRA - A talentosa cantora, compositora e
instrumentista Guidi Vieira lançou o seu
segundo cd, Outra língua, este o primeiro solo e autoral, produzido pelo
guitarrista Pedro Costa, desfilando sua arte e a performance de suas vivências
por bares e cenário underground. Ouvi uma a uma das faixas deste álbum que
reputo como excelente, agradável de ouvir a sua voz e as ótimas levadas rítmicas.
Gostei tanto que procurei saber a respeito dela: antes ela havia integrado a
banda Pic-Nic e lançou o álbum
independente Temperos, em 2014, com
xotes, choros e sambas. Tudo muito bom e meritória de aplausos & sucesso. Veja
mais aqui.
A ARTE DE MALANGATANA
Há sempre um manancial de temas a abordar. São os acontecimentos do
mundo, às vezes tristes, outras alegres, e eu não fico indiferente. Seja em
Moçambique, ou noutra parte do mundo, a dor humana é a mesma.
MALANGATANA - A arte
do pintor e poeta moçambicano Malangatana Valente Ngwenya (1936-2011), que atuou por uma
diversidade de artes como desenho, pintura, escultura, cerâmica, murais, poesia
e música. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
A arte
da cantora, DJ, compositora e artista antropofágica Catarina Dee Jah, que já lançou o álbum Mulher Cromaqui, uma saborosa salada rítmica com muito
talento e irreverência.
&
A obra
do premiado escritor, crítico, editor e jornalista pernambucano Raimundo Carrero aqui.
A poesia
do poeta, ensaísta e crítico Cicero
Melo aqui.
A arte
da artista visual Maria do Carmo Nino aqui.
A arte
da poeta, cantora,
compositora e artista plástica Airô Barros aqui.