DIÁRIO DE QUARENTENA – UM SENTIMENTO DO CORAÇÃO: Quem à
procura, metade do poema, parece pouco. Para chegar, qualquer lugar, distância
a vencer. Estou no caminho, nunca é tarde. Caos e efeito, ontem e hoje, não seria
um filme, nem sonhos: é vida. Ouço longe a Gota
d’água do Chico Buarque: Deixe em paz meu coração que ele é um pote
até aqui de mágoas e qualquer desatenção, faça não, pode ser a gota d’água! Não
é o fim da linha, nem tão cedo será. Não terminou a sessão, nem dá para
repetir, talvez reiterar muito que andar, muito pra saber. Se noite ou dia, conte
comigo, vamos viver.
DOIS DEDINHOS DE PROSA – Ando meio à toa. Sim, mesmo com a
gravidade do capitalicídio, inseticida na cabeleira, dificuldade de respirar, mãos
postas e olhar sem saber pra onde. O mundo não parou, quase; as pessoas e os
seus em câmara lenta entre ruínas e incertezas. Querem na marra o sorriso
amarelo de que tudo volte à loucura do senso normal; por fim da força que todos
saiam de casa, comprem e se danem na pandemia, façam o dinheiro e os lucros
circularem de qualquer jeito. Não só querem, exigem com as leis dos desgovernos;
e muitos sucumbem, outros para nunca mais. Cato um verso torto quando a poesia
se perdeu. Há que sobrepujar tais agruras, o tempo passa demorado. Salman Rushdie alerta: É a função do poeta: nomear o inominável,
apontar as fraudes, tomar partido, despertar discussões, dar forma ao mundo e
impedir que adormeça. Mesmo a voz rouca, das tripas coração, talhos e remoques,
ensaio o canto sangue de todos não será demais.
TRÊS QUE NÃO VÃO QUATRO – Essa a minha clausura: afastado de todos e
sem querer ver ninguém, não posso, nem deve. Sozinho no meu tugúrio, tolices e
ninharias, juntando os trapos, aos farrapos, e a franzir o cenho com o eco de William Golding: Nós somos todos loucos, toda esta raça maldita. Estamos envolvidos em
ilusões, delírios, confusões, estamos todos loucos e em confinamento solitário.
Não é para menos, aprendi com a solidão recomeçar todo dia. Até segunda. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Confesso que não
foi fácil. Aquilo que se aproximava de Sor Juana, sua
vida, seu tempo, seu desejo de saber acima de tudo e tentar dar a vida dela,
parecia ousado para mim. Mas a ousadia valeu a pena.
Com medo, aproximei-me do cemitério das luzes mexicanas; meu sonho era tocar o inatingível. Eu queria
ficar atrás dos olhos de Juana Inés, em sua pele, em seus ouvidos, para ouvir
sua respiração [...]. Trecho da obra Yo, la peor (Planeta, 2007), da escritora mexicana Mónica Lavín, é uma autora mexicana de seis livros de
contos, entre os quais Ruby Tuesday no ha muerto; Uno no sabe; e sua coleção
mais recente, La corredora de Cuemanco e aficionado por Schubert. Além disso,
recebeu o prêmio ibero-americano de romances Elena Poniatowska por seu trabalho
Yo, la peor.
ALGUÉM FALOU DE AMOR - É
plural, o amor. Só uma visão antiga, antes de se saber que somos construídos
por camadas sucessivas, podia imaginar o amor como um instrumento monolítico.
Essa concepção priva as pessoas da alegria e amarra o amor à idade. De facto,
não existe essa amarra se formos cultos do ponto de vista psicológico. O amor é
um estado de alma que evolui até à morte. Expressão textual da escritora
portuguesa Lídia Jorge.
A POESIA DE LOUISE GLÜCK
VITA NOVA: Você me salvou, deveria se lembrar de mim. / A primavera do ano; rapazes
comprando passagens para as balsas. / Gargalhadas, porque o ar está repleto de
macieiras floridas. / Quando eu acordei, percebi que era capaz de sentir a
mesma coisa. / Eu me lembro de sons assim na minha infância, / gargalhadas sem
motivo, simplesmente porque o mundo é belo, / ou algo assim. / Lugano. Mesas
sob as macieiras. / Tripulantes subindo e descendo as bandeiras coloridas. / E
na beira do lago, um jovem joga o seu chapéu na água; / quem sabe sua amada o
tenha aceitado. / Sons ou / gestos decisivos como / um trilho assentado diante
dos grandes temas / e não utilizado, sepultado. / Ilhas ao longe. Minha mãe / segurando
um prato com bolinhos — / tanto quanto eu me lembro, em nenhum / detalhe
diferente, o momento / vívido, intacto, jamais tendo sido / exposto à luz,
portanto eu acordei jubilosa, na minha idade / sedenta por vida, absolutamente
confiante — / Junto às mesas, pedaços de grama nova, o verde opaco / espalhado
pelo escuro solo que havia. / É certo que a primavera voltou para mim, desta
vez / não como um amante, mas como uma mensageira da morte, mesmo / que ainda
seja primavera, que ainda signifique doçura.
LOUISE GLÜCK - Poema da premiada poeta e ensaísta
estadunidense Louise Gluck, cultuada
pela limpidez, o intimismo e o lirismo de seus versos. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE JORGE MACCHI
Concordo absolutamente com o fato de que toda arte é
política. Então, por que o termo arte política existe tão florescente hoje em
dia? Eu sou contra essa concepção. Prefiro os menores movimentos, os
deslocamentos mínimos da realidade cotidiana, movimentos que não buscam nenhum
propósito específico além daquele que envolve a criação de uma nova percepção
do que nos rodeia. É isso que busco e, portanto, imagino que haja outras
pessoas que o compartilhem. Há um componente de vaidade na arte supostamente política,
como se o artista se considerasse portador de verdades para o resto dos
mortais. Repito, acredito que um artista pode efetivamente mudar algo na
estrutura política que o contém, desde que não pretenda. Penso que a partir da
individualidade, da satisfação de suas próprias pesquisas, é como você pode
estar presente no resto das pessoas e, talvez, dessa maneira, produzir uma
mudança.
JORGE MACCHI - A arte do artista argentino Jorge Macchi, que atua em diversos suportes, desde aquarelas e situações
surrealistas, como esculturas, colagens e criação de objetos reimaginados e
tridimensionais refletindo diferentes estados psicológicos. Veja mais aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
NÓS(SA): Devíamos ser mais amargos / e continuar andando sem olhar escombros / Devíamos
esperar ansiosos / as paredes de vidro / o verniz / as pedras polidas / e o
alumínio esmaltado / Devíamos esquecer a brisa, / a vista, / o desenho no mapa
/ Devíamos não ter essa fratura exposta / essa tela velha chamada passado / Devíamos
/ Mas temos nos ossos o mesmo metal enferrujado / E na memória e no peito o
galpão de paredes rachadas / Temos na pele o mesmo cheiro das marés e das
baratas / Somos os pontos de fuga desse painel desbotado / A beleza oculta no
vitral empoeirado.
A arte
poética de Ezter Liu, graduada em
Letras e autora do livro Vermelho alcalino (Porta Aberta, 2015) e Das tripas
coração (Cepe, 2018).
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A música do artista e músico Antônio
Nóbrega aqui.
Memórias
e contos de J. Borges, do artista cordelista J. Borges
(José Francisco Borges) aqui.
A arte da coreógrafa, dançarina,
pesquisadora, professora e produtora cultural Maria Paula Costa Rego aqui.
A arte da
atriz Geninha da Rosa Borges aqui.
A arte
de Tereza Costa Rego aqui.
Amarelo
Manga, de Claudio Assis aqui.
Palmarinalidades
poéticas, do escritor Bhasílio
Santtos aqui.
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