DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: ENTRE NOTÍCIAS FALSAS &
ESPETACULARIZAÇÃO - Lá vou eu entre as polarizadas encrencas das notícias
falsas e a espetacularização escusa dos meios de comunicação de massa! Ter
discernimento é fundamental! Cá comigo: é muito difícil manter qualquer diálogo
com sectários desinformados ou fanáticos. Maior perda de tempo mesmo. Pense num
revestrés! Aprendi com Madeleine de Scudéry: As ações são muito mais sinceras do que
as palavras. A desconfiança é a mãe da segurança. Por muito boa que seja a
cabeça, quase nada pode contra o coração. Pois é, cair na onda ignorando os interesses subjacentes é
o mesmo que ser enganado noitedia e não admitir o que a língua do boato mande ver
aos berros ululantes ou cochichos sabotadores. O melhor é se ligar na situação.
DUAS: ESCAPANDO DAS FULERAGENS E
BOATARIA – Tem jeito nada. É feito apelido: ou derrete os chifres ou deixa
correr, melhor. Já arrastei muita mala de perder a viagem que só. Cada uma. Foi
quando aprendi checar direitinho a cor da chita, naquela dum olho aberto e
outro fechado, rindo pra não expor o toitiço pro sal pisado, aí é que dava no
que não era nada: não era a reveladora do Israel Pedrosa, só aquela que mais parecia com a do cavalo quando foge ou a que
fica depois da ação dos larápios mais contumazes. Ou seja: nada. A sensação que
eu tinha depois de sacar direitinho, era a mesma do José Lins do Rego: Chego a
esta casa sem arrependimentos pelo que fiz, nem temor de falar como sempre
falei, com a língua solta que Deus me deu. Apois, tá! Só cuspi pra cima e
saí de baixo, estou sempre pronto para outra, naquela de um pé na frente e
outro atrás. Oxente! TRÊS: CALOR NO
SOVACO & A CATINGA COME NO CENTRO – É cada inhaca, vixe! Entre cruzados
de sacanagens e sapateadas para arrumação na teta do erário público, eu mesmo
que não saio mais engalobado, já passei da conta, vacinado. Saco na hora, mesmo
que passem puxando mais de cem. Não me engana mais não. Cuido para não morrer
do coração. Xô pra lá, catingoso! Por isso vou entoando o Libelo da Primavera de Ginsberg:
só a poesia torna a vida suportável!!!!! E vamos aprumar a conversa, gente! Até mais
ver! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e
aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Nas redes da reciprocidade
partilhada, valem a memória e a confiança articulados entre si. É a confiança
que, em última análise, garante o circuito da reciprocidade positiva e afasta o
fantasma da guerra ou do conflito destruidor e letal, mesmo que esporádico.
Como não há garantia de que as dádivas serão retribuídas, ainda que seja uma
palavra de apoio do doador ao receptor, e receber o presente um gesto de
tolerância ou aceitação, é a fidúcia entre parceiros que mantém a aposta na
dádiva, ou seja, a expectativa num tempo que se dilata indefinidamente à espera
de uma ocasião em que o receptor esteja pronto a retribuir. É a confiança ou o
crédito prolongados, portanto, que eliminam a possibilidade de que se instaure
a inimizade e a guerra. [...] O esquecimento vem a
ser, então, um rompimento com esse pacto nunca explicitado do circuito de
trocas. Como não está baseada num conhecimento total, que a tornaria inútil, a
confiança precisa dos mecanismos da memória individual e coletiva para se
estabelecer. [...] Diante desse
quadro complexo de objetividades e subjetividades, do material e do simbólico,
das relações entre a sociedade e o Estado na alta modernidade, o atual jogo
político no Brasil revela toda a sua pequenez, reducionismo, ineficácia e
infelicidade. Os brasileiros, a despeito deles mesmos, estão deprimidos. Tanto
a fazer para conquistar a confiança dos eleitores e dos contribuintes no
Executivo e no Legislativo que pressupõem de alguma forma a sua participação,
infelizmente ainda muito adscrita às eleições que agora sabemos ser manipuladas
e gerenciadas por grandes grupos econômicos! Trechos extraídos do ensaio Confiança
e memória: antídotos da violência (Sociofilo, 2017),
da antropóloga Alba Zaluar (1942-2019),
que atuou na área de
antropologia urbana e antropologia da violência e foi professora titular de
Antropologia do Instituto de Medicina Social e professora de antropologia no
Instituto de Estudos Sociais e Políticos (IESP) da Universidade do Estado do
Rio de Janeiro, fundadora do Núcleo de Pesquisa em Violências (Nupevi), cujos
temas de estudo variam entre violência doméstica, segurança pública e tráfico
de drogas. Foi uma das primeiras a estudar a Cidade de Deus. Ela é autora de
obras tais como: Cidadãos Não Vão ao Paraíso (1994), Condomínio do
Diabo (1996), Da Revolta ao Crime S.A. (1996), Um Século de
Favela (1998), A Máquina e a Revolta (1999), Violência, Cultura,
Poder (2000) e Integração Perversa: Pobreza e Tráfico de Drogas
(2004).
MÁRTIRES DO AMOR
Uma cantora de alaúde começou a cantar: “Cada dia que passa, um
rompimento! O tempo se escoa e nossa cólera não se aplaca; quem me dirá se essa
desgraça só atinge a mim ou é comum a todos aqueles que amam?” [...] Conta-se que Yézid, filho de Abd el-Melik,
presidindo, um dia, a audiência da Justiça, encontrou entre os requerimentos
que lhe foram enviados, um assim concebido: “Queira o príncipe dos crentes (que
Deus o glorifique) fazer vir em minha presença sua escrava tal, para que ela me
cante três canções”. Yézid, enfurecido, ordenou que lhe trouxessem a cabeça do
audacioso culpado; porém, ele preferiu enviar um segundo mensageiro nos traços
do primeiro, com ordem de trazer o autor do pedido. Quando esse homem estava em
sua presença, o príncipe perguntou-lhe o que pôde inspirar-lhe uma ação tão
atrevida. “É – respondeu ele – minha crença em vossa bondade, minha confiança
em vosso perdão”. O califa fê-lo sentar-se, e quando todos os omeíades até o
último entre eles haviam-se afastado, ele fez vir a escrava com seu alaúde à
mão. O jovem pediu-lhe esta canção [...]. A escrava cantou; em seguida, o jovem, com autorização de Yézid,
reclamou esta outra canção [...] Ela
cantou também. Fala, disse o príncipe ao jovem. – “Ordeno que se me traga uma
ânfora de vinho”. Mal esvaziara a ânfora, ele ergueu-se bruscamente, subiu à
cúpula sobre a qual o príncipe estava sentado, precipitou-se e morreu. Yézid
gritou então: “Pertencemos a Deus e voltamos para ele. Eis o tolo, o insensato,
que acredita que após lhe haver mostrado uma de minhas escravas eu a guardaria
em minha posse! Pajens, faze sair esta menina e conduze-a à casa dos seus, se
ela os tiver; senão vende-a e distribui o dinheiro em esmola por intenção o
morto”. Logo ela foi trazida; atravessando a corte do palácio, ela viu um fosso
escavado no meio do palácio de Yézid para receber as águas da chuva; escapou
das mãos dos seus guardas, pronunciando estes versos: “Os que morrem de amor
devem morrer assim; o amor não vale nada sem a morte”. Precipitou-se no
pequenino abismo e morreu.
MÁRTIRES DO AMOR - Trecho da crônica do viajante, geógrafo,
historiador e cronista árabe Al Maçudi (871-956), extraída da obra Contos árabes
(Cultrix, 1967), organizada e traduzida por Jamil Almansur
Haddad e Jose Paulo Paes. Neste conto percebe-se a dedicação do poeta pela
amada, uma verdadeira cantiga em que o amor é sentido ardentemente como uma paixão
profunda e duradoura, própria de um poema de amor. Veja mais aqui.
A ARTE DE TAMARA KARVASINA
A arte da bailarina russa Tamara Karsavina (1885-1978) que integrou o Balé de
Sergei Diaghilev, tendo sido várias vezes par de Vaslav Nijinski. Veja mais
aqui.
PERNAMBUCULTURARTES
Eram mais mulheres, a falta de homem sempre foi complicado. Só tinha o
Fred (Salim) depois entrou o Carlos Santillan, que era um médio que veio fazer
um cruso de medicina aqui em recife e era bailarino, peruano. Ele e o irmão
dele dançavam num grupo profissional de danças no Peru. Aí tivemos que correr atrás de atletas formandos da escola de Educação Física, para fazer teste, para ver as possibilidades de cada um, então, com
esses rapazes completamos o grupo de rapazes que já tínhamos, mais os dois que
não eram da escola de Educação Física, e no fim, ficaram sete rapazes do grupo.
Acho que eram mais moças, sempre mais moças.
Depoimento
da bailarina, coreógrafa e professora Flávia Barros, que integrou o Corpo de Baile do
Theatro Municipal do RJ e fundou o Curso de Danças Clássicas Flávia Barros,
além de fundar o Grupo de Ballet do Recife e criou, juntamente com Ariano
Suassuna, o Balé Armorial do Nordeste. Depoimento ao Projeto RecorDança (2004), extraído da obra Acordes & traçados
historiográficos: a dança no Recife, organizado por Ana Valeria Ramos Vicente e
Roberta Ramos Marques. Noutra entrevista (RibaltaOUTSite - Satedpe, 2009), exla
expressou que: Parti do que já conhecia para um trabalho
difícil de técnica Fábio Coelho, Carlos Santillan, Eduardo José Freire, Edmond básica
para o conhecimento e evolução dos movimentos necessários ao Janiszowsky,
Evandro Paiva e Airton Tenório. Estilo de coreografia que seria mais adequado à
estética armorial reconhecida pelas referências ibéricas e mouras na sua
constituição. Um trabalho básico de balé, ritmo, composição coreográfica espontânea
com grupos de bumba-meu-boi, de personagens como Mateus e Catirina e outros dos
folguedos populares. A música do Quinteto Armorial, executada ao vivo pelo
próprio quinteto foi muito adequada. Assim, trabalhamos o texto que Ariano
Suassuna criou, nascendo o espetáculo Iniciação Armorial aos Mistérios do Boi de
Afogados, com figurinos e cenários de Bernardo Dimenstein. A temporada no
Teatro de Santa Isabel teve lotação esgotada todas as noites.
&
A obra
da escritora e advogada Djanira Silva aqui.
A música
da cantora, compositora,
percussionista, poeta e atriz Karina
Buhr aqui.
Memória
e ficcionalidade em Deus no pasto de Hermilo Borba Filho (UFPE, 2009), apresentada por Virginia Gisele Carvalho aqui.
Contraponto:
poder, política, economia e costumes
(CEPE, 2006), do economista, professor universitário, editor e analista
consultor Carlos Alberto Fernandes
aqui.
A
arte da a artista visual, produtora cultural e
pesquisadora Bruna Rafaella aqui.
&
As abelhas
de Cupira aqui.