A SOLIDÃO DE
CÉCILE, A VESTAL MUSICAL – Era Cécile a terceira
filha de seis irmãos duma familia burguesa parisiense. Suas primeiras aulas de
piano foram ministradas por sua mãe, enquanto que seu pai reprovava que ela
estudasse no conservatório. Mesmo assim, estudos particulares levaram-na, aos 8
anos de idade, a tocar Bizet que era seu vizinho e ficara muito impressionado
com sua habilidade de composição. Com isso, conseguiu convenceu seu pai a ter
aulas no conservatório. Aos 18 anos ela dava seu primeiro concerto, ganhando
reputação de compositora e pianista. Escreveu uma ópera cômica em um ato, La
Sevillane. Depois vieram a Suite d'orchestre op. 20, o Balé Sinfônico Callirhoe
op. 37, o Concertstuck op. 40 para piano
e orquestra, estreando triunfalmente nos Estados
Unidos, ao reger a Orquestra de Filadélfia. Mais vieram: Les Amazons,
que um drama sinfônico, e seu famoso Concertino para flauta e orquestra,
que tornou-se popularíssima e bastante executada. Como também era Louise, ela compôs obras curtas e simples, com
melodias letras
ricas e cativantes aceitas por seus então fiéis e apaixonados
público. E mais: obras para piano, música de câmara e melodias para voz e piano.
Como ainda era também Stephanie foi pioneira com
sucesso na França, Alemanha e Inglaterra. Quando morreu seu pai ela foi uma
das primeiras a fazer uma turnê pelos Estados Unidos e Inglaterra. Tornou-se uma celebridade musical e sendo cultuada por clubes fundados por mulheres
progressistas favoráveis ao movimento sufragista, com suas melodias líricas e
seu talento avassalador. Mesmo se considerando uma vestal da música, ela
casou-se com um editor musical idoso, 20 anos mais velho que ela, tendo de
enfrentar a calúnia de casamento por conveniência. Mas, logo enviuvou: É difícil
conciliar a vida doméstico
com o artístico... Quando uma mulher talentosa se casa com um homem que aprecia
esse lado dela, tal casamento pode ser idealmente feliz para ambos... Ela levantou a
cabeça e enfrentou o mundo, tornando-se bem sucedida na carreira, sucesso de audiência
sem precedentes. Insistiu em ser vestal da criação com mais de 400 composições
musicais, também foi pioneira artista, tendo sido contemplada com a Legião de
Honra Francesa, bem como a Medalha do Jubileu dada
pela Rainha Vitória, e o Chefekat, dado pelo Sultão de Türkiye. Óperas, peças teatrais, obras para orquestra, obras
de câmara, muitas obras para piano e muitas outras melodias para voz e piano.
Sua Sonata para Piano Op. 211, seu Etude symphonique op. 28, a Dança do Lenço (Scenes de Ballet Callirhoë op. 37, no. 3), a Flattery
199 op. 50 e sua Sérénade espagnole op. 150, fazem parte de sua prodigiosa produção musical. Depois da
primeira grande guerra, tanto sua música como ela caíram no esquecimento
repentino. Exilou-se para escapar da segunda grande guerra em Monte Carlo. Além
disso, vieram as críticas do excesso de feminilidade, destrutivas pela definição do círculo social da vida pública destinado aos
homens, a competição entre artistas, além de ser acusada de que suas peças eram
de sala de estar. Nadava
contra a corrente com enormes pressões sociais relativas ao
paradigma que o seu tempo exerceu de excessiva misoginia. Indubitavelmente ela
era uma compositora original, inovadora e talentosa, adaptando poesia e música
como sua assinatura nas melodias encantadoras, demonstrando técnica compositiva
excepcional, um talento
incrivelmente fértil. Mesmo assim foi insultada e desprezada, relegada à obscuridade
e teve, para piorar, o pé esquerdo amputado por conta duma descalcificação de
seus ossos, incapacitando-a. Viu-se sozinha e esquecida, era a sua dura
realidade. Viva Cécile
Louise Stéphanie Chaminade
(1857-1944). Veja mais aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Nascimento, acasalamento, morte. Quanto mais ela pensa nisso,
mais parece que isso é tudo que existe: uma roda girando e girando, movendo-se
tão rápido que às vezes você nem consegue distinguir os raios. É uma maravilha
que haja espaço para poesia. Quando há medo em relação ao futuro, é
reconfortante descontá-lo em pessoas de fora que podem ser responsabilizadas
pelo passado. O que antes era a linguagem do segredo agora é a linguagem do
poder. A falta deixa a alma em carne viva. Pensamento da escritora, jornalista,
radialista e crítica britânica Sarah
Dunant, que no seu livro The Birth of
Venus (Random
House Trade, 2004), expressa que: […] O Diabo pode
levar os imprudentes, mas os bons certamente morrerão de tédio. Tédio e
frustração. [...] Há mais
glória na paz do que na guerra [...] A morte era,
afinal, um ponto de parada temporário numa jornada mais longa
[...].
ALGUÉM FALOU: A primeira
pessoa com quem me importei profunda e sinceramente foi: eu mesmo. A única forma de aliviar a fome é comendo. Pensamento da escritora e jornalista estadunidense Louella Parsons (Louella Rose Oettinger - 1881-1972). Veja
mais aqui.
COBRAS & BRINCOS
- [...] Deus tem que ser sádico para dar vida às
pessoas. [...] Eu caí no
chão e me desmanchei em lágrimas. Dane-se. Vão para o
inferno, seus filhos da puta. Eu queria ter
um vocabulário maior para expressar completamente a extensão da minha dor e
ódio. Mas eu não
tenho. Eu sou
simplesmente patética. É tudo o que
eu sou. [...] Tudo o
que eu podia fazer era escapar da realidade, mas toda vez que eu tentava
escapar da dor, essa mesma dor me dizia que eu provavelmente estava me
apaixonando por ele. [...] O silêncio da sala foi quebrado por um lamento de dor vindo de dentro de
mim. [...]. Trechos extraídos da obra Snakes And
Earrings (Vintage
Books, 2005), da escritora japonesa Hitomi Kanehara,
que no seu livro Autofiction (Vintage Books, 2008),
expressou que: […] Enquanto danço, começo
a me sentir aquecido e desligo o aquecedor. Fico pensando
por que sou uma pessoa tão difícil e olho para o aquecedor e penso na minha
teimosia. Lágrimas
escorrem pelo meu rosto, mas continuo dançando [...]. Sobre a vida ela também expressou que: Tudo o que eu queria era fazer parte de um mundo subterrâneo onde o sol não
brilha, não há canções de amor e o som do riso das crianças nunca, jamais, é
ouvido.
UM EXERCÍCIO DE AMOR - Meu amigo usa meu lenço na cintura\ Eu dou
a ele pedras da lua\ Ele me dá conchas e algas\ Ele vem de uma cidade distante
e eu o conheço\ Plantaremos berinjela e aipo juntos\ Ele me tece pano\ Muitos
trouxeram os presentes\ Eu uso para o prazer dele\ seda e colinas verdes\ &
garça da cor do amanhecer\ Meu amigo anda suave como uma tecelagem ao vento\ Ele
ilumina meus sonhos\ Ele construiu altares ao lado da minha cama\ Acordo com o
cheiro do cabelo dele e não consigo me lembrar\ o nome dele ou o meu. Poema da poeta estadunidense Diane di
Prima (1934-2020). Veja mais aqui e aqui.
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