sexta-feira, janeiro 09, 2015

JOAN BÁEZ, SÓNIA SULTUANE, TILLIE COLE, TAIKON & RUBEN ÖSTLUND

 


UMA VEZ, JOAN – Era noite de sábado, 23 de maio, o ano: 1981. Era o meu presente de aniversário antecipado. E comemoraria no Tuca da PUC-SP. Sim, a maior festa só para ver ao vivo e em cores aquela que já era tão viva nos meus sonhos, como no cenário musical e político. Sonhava com aquela capricorniana que compartilhava sua voz em palcos e manifestações, aquela que marchara de braços dados com Luther King, a que fora presa por protestos pacifistas contra a guerra do Vietnã. Sim, a sua beleza, seu estilo musical inconfundível, suas opiniões políticas faziam coro dentro de mim e me levava por devaneios intermináveis. Lá estava como quem leu o A Journey Through Our Time, como quem delirou ouvindo-a no Woodstock e no álbum duplo Blessed are. Mais ainda com o Come From The Shadows e o Diamonds & Rust. Sentia-me presente no meio da multidão do European Tour. E me deleitava com o seu timbre no Silent Running que revi tantas vezes só para ter a graça de imaginá-la ali, diante de mim, tantas vezes sem conta. E fantasiava poses e papos com suas baladas, a sua voz soprano e o seu violão acústico, interpretando entre as do seu belíssimo repertório, músicas de Villa-Lobos e Zé do Norte, afora folks, country-rock, pop e canções de protesto. Todas as suas músicas me embalavam na mais extraordinária quimera. Pois foi. Lá estava eu fazendo coro com outros mil e oitocentos na plateia a gritar seu nome. Havia passado da hora de começar e, com certeza, havia problemas com a realização do show: estava proibida de cantar. Com o anúncio aplaudimos efusiva e demoradamente. Aqui, era, então, o terceiro país a sustar sua voz, depois da União Soviética e Argentina – estávamos debaixo do mais tenebroso golpe militar. Premiou-nos da janela com duas músicas à capellaGracias a la Vida, Cálice. Depois no palco, sentada numa poltrona, da mesma forma, foi a vez de Imagine, Blowin’in the Wind. Estava emocionado e comigo todos aplaudiram de pé. Sua vida sob vigilância policial e ameaças de morte. Não queria arredar, jamais renunciar daquele encantamento de vê-la. Por ali fiquei, virei a noite e quase ao meio dia seguinte a vi tão próxima com um sorriso no hall do hotel Comodoro. Um aceno me hipnotizou e ali se realizava o momento de enchê-la de beijos, de murmurar que a amava e dizer quantas vezes quis estar presente na sua apresentação de Sarajevo e ser abraçado como aquele violoncelista desolado. Quantas vezes não ousei tocar a campainha de uma daquelas suntuosas casas de Woodside. Quantas vezes não submergi sonheiro por longas e intermináveis estadias ao seu lado. Sim, tudo feito de sonhações e ela ali era mais que real. Veja mais abaixo e mais aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Não lhes era permitido viver em apartamentos ou casas e não lhes era permitido ir à escola... adultos preconceituosos. Depois de um tempo, ela decidiu escrever livros... Pensamento da escritora e ativista sueca Katarina Taikon (1932-1995), autora da obra The Day I am Free/Katizi, de etnia cigana e que nasceu numa tenda, e, devido a ter sido impedida de frequentar a escola pública, só aprendeu a ler e a escrever na idade adulta. Nas suas obras "Cigana" (Zigenerska, 1963) e "Katitzi" (Katitzi, 1969), aborda a situação dos ciganos na Suécia e tornando-a um ícone da contracultura na Suécia, em que a minoria cigana era fortemente discriminada, excluídos da habitação, do sistema educacional e dos direitos de cidadania proporcionados pelo estado de bem-estar social.

 

ALGUÉM FALOU: Na verdade, os homens estão mais perto de ter a capacidade de agir de forma egoísta quando se trata de uma situação de crise. Não gosto que repitamos uma determinada expressão continuamente porque acho que isso restringe a forma como olhamos o mundo. Também penso que há uma certa responsabilidade se trabalharmos com imagens em movimento porque são muito fortes na criação de comportamento; é tão forte na criação da maneira como olhamos o mundo, então para mim é muito importante que eu crie imagens das quais tenho uma experiência ou que seja algo que acho que existe no mundo e não apenas no cinema. O motivo pelo qual estou interessado em fazer filmes é porque uma imagem em movimento é muito, muito poderosa quando se trata de mudar o comportamento humano. Quero que meu filme possa ser usado como referência quando estivermos tentando viver nossas vidas. Eu estava muito interessado em destacar o comportamento de grupo e queria mostrar que acho que isso é muito fundamental sobre ser um ser humano... que somos, na verdade, animais de rebanho. Então, eu estava procurando por diferentes situações que acontecem em diferentes tipos de grupos. Pensamento do cineasta, produtor e roteirista Ruben Östlund.

 

NÃO SOU EU, QUERIDO – […] Viva livre, ande livre, morra livre […] Você roubou meu coração há quinze anos e ainda não o devolveu. [...] Sempre estivemos fadados a ficar juntos. Ele é meu tudo. Ele é meu mundo inteiro... [...] Ele era o pecado personificado... Um pecado que eu desejava... mas agora eu estava com muito medo dele. [...] Espero que você seja o fim da minha história. Espero que você esteja tão longe quanto possível. Espero que vocês sejam as últimas palavras que proferirei. Nunca é sua hora de ir... [...] Eu me inclinei em sua mão. Vinte e seis anos e um único toque me faria explodir no jeans. [...]. Trechos extraídos da obra It Ain't Me, Babe (CreateSpace, 2014), da escritora britânica Tillie Cole.

 

TRÊS POEMASFONTE - Bebi da tua fonte,\ as tuas margens abriram-se,\ as tuas algas salgadas,\ tinham o gosto a maresia,\ águas cristalinas,\ afoguei-me,\ esqueci o instante,\ perdi-me por fim,\ na tua concha menina. SOU ESTRANGEIRA - Estrangeira nesta terra,\ neste país,\ nos lugares em mim,\ nos olhares perdidos,\ certezas dispersas,\ sou alheia à nacionalidade,\ sou estrangeira,\ num corpo tatuado,\ com formato de mapa universo,\ leito de saudades,\ multidão de pensamentos,\ num mundo de sentimentos,\ no cosmos que desconheço. LUGAR DE SILÊNCIOS - Lugar de silêncios,\ as vozes acontecem,\ as histórias repetem-se,\ o longe\ vem nas malas dos viajantes,\ na rota das suas almas,\ acontece a vida, a saudade,\ o agora, o amanhã,\ esse é o lugar onde\ existimos. Poemas da poeta e artista plástica moçambicana Sónia Sultuane, autora de Sonhos (2001), Imaginar o Poetizado (2006), No Colo da Lua (2009) e A Lua de N'weti (2014).

 

SACADOUTRAS

 


O ÁUTÓGRAFO DE JOÃO CABRAL – No livro Museu de Tudo, o poeta e diplomata pernambucano, João Cabral de Melo Neto (1920-1999), deixa pra gente o seu autógrafo: Calma ao copiar estes versos / antigos: a mão já não treme /nem se inquieta; não é mais a asa / no voo interrogante do poema./ A mão já não devora / tanto papel; nem se refreia / na letra miúda e desenhada / com que canalizar sua explosão. / O tempo do poema não há mais; / há seu espaço, esta pedra / indestrutível, imóvel, mesma: / e ao alcance da memória / até o desespero, o tédio. (João Cabral de Melo Neto, O autógrafo. In: Museu de tudo. Rio de Janeiro: José Olympio, 1975).  Veja mais aqui e aqui.

Imagem: Nu, óleo sobre tela, 1925, do pintor do modernismo português Eduardo Viana (1881-1967)

Ouvindo o Full Show, ao vivo no Brasil, em 2014, da legendária cantora estadunidense Joan Baez.

 A VOZ DELA: A ação é o antídoto para o desespero. Você não pode escolher como você vai morrer. Ou quando. Você só pode decidir como você vai viver. Agora. Se é natural matar, por que os homens têm que treinar para aprender como? Pensamento da legendária cantora Joan Báez, que no seu livro And A Voice to Sing With: A Memoir (Simon & Schuster, 2009) destaco: [...] devido à minha profunda opinião de que a guerra em si é um crime; que a morte de uma criança, o incêndio de uma aldeia, o lançamento de uma bomba nos afunda em tais profundezas de depravação que não adianta discutir sobre os detalhes. [...]. Veja mais aqui.

 


TODO DIA É DIA DA MULHER: RIGOBERTA MENCHÚ – A indígena guatemalteca do grupo Quiché-Maia, Rigoberta Menchú Tum, participou da Guerra Civil da Guatemala, ocorrida entre os anos de 1962-1996, pela qual foi exilada no México, em 1981 – ano em que se pai foi assassinado. Em 1991, ela participou da elaboração da Declaração dos Direitos dos Povos Indígenas. Em seguida, foi contemplada com o Prêmio Nobel da Paz, 1992, por sua campanha pelos direitos humanos,pela desmilitarização e justiça social, respeito pela natureza, igualdade para as mulheres e reconciliação étnico-cultural no respeito aos povos indígenas. Foi vencedora do Prêmio Príncipe das Astúrias de Cooperação Internacional e tornou-se Embaixadora da Boa Vontade, da Unesco. Sua vida e luta estão na sua autobiografia Me llamo Rigoberta Menchú y así me nació la conciencia, escrito por Elisabeth Burgos com entrevistas da militante. Veja mais aqui.


OS MANDARINS DE BEAUVOIR - O livro Os mandarins, da escritora Simone de Beauvoir é um romance-ensaio do movimento existencialista, onde ela descreve o ambiente na França entre os anos 1944-1948, com as repercussões da guerra, da ocupação e da Resistência, a simultaneidade da corrupção moral e da vigorosa agitação intelectual, tonando-se um documento histórico que mereceu o prêmio Goncourt, em 1954. No final do livro está expresso pela autora: “Estou aqui. Eles vivem, falam comigo, estou viva. De novo, saltei na vida de pés juntos. As palavras me entram nos ouvidos, ganham pouco a pouco uma significação. [...] Será que eu não tenho uma ideia para o nome? Nenhum daqueles em que pensaram até agora agrada. Procuro um nome. Digo a mim mesma que, uma vez que eles foram fortes o bastante para arrancar-me à morte, talvez saibam ajudar-me a viver de novo. Com certeza saberão. Ou a gente soçobra na indiferença, ou a terra se repovoa. Não soçobrei. Já que meu coração continua batendo, será preciso que bata por alguma coisa, por alguém. Já que não sou surda, ouvirei chamarem-me de novo. Quem sabe? Talvez um dia eu seja novamente feliz. Quem sabe? (Simone de Beauvoir, Os mandarins. Rio de Janeiro: Nova Fronteira, 1983). Veja mais aqui e aqui.


Veja mais sobre:
O pensamento de Erich Fromm aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

E mais:
A poesia de Cruz e Souza aqui, aqui e aqui.
Amém e amem, Naná Vasconcelos & Lucélia D’ Roquet aqui.
O coração de Iaravi, Manifesto Appellatio, Edgar Degas, Ewa Kienko Gawlik & J. Lanzellotti aqui.
Stéphane Mallarmé, John Updike, César Guerra-Peixe, Luc Besson, Frank Frazetta, Ingrid Koudela, Scarlett Johansson & Brincarte do Nitolino aqui.
Pesquisa & Cia, Fernando Sabino, Eliane Elias, Marcelo Gleiser, Minna Canth, Juno/Hera, Bigas Luna, Alonso Cano & Francesca Neri aqui.
Papa Highirte de Oduvaldo Vianna Filho aqui.
Alexander Scriabin, Cássia Kiss, Denise Georg, Gustave Doré, Mr. Bean, Zé Edu Camargo, Gabi Alves, Márcia Poesia de Sá & Programa Tataritaritatá aqui.
A arte de Darel Valença Lins, A árvore do conhecimento de Humberto Maturana & Francisco Varela, A terra oca de Raymond Bernard, Luiz Melodia & Lady Francisco aqui.
Holística, Claude Debussy & Laurindo Almeida, Carl Rogers, Emily Greene Balch & Pierre Bonnard aqui.
Cassandra, Horácio, Christa Wolf, Woody Allen, Cassandra Wilson, Milena Moraes. Cassandra Peterson, Doro & Fidelia Cassandra aqui.
Sou da terra alma Caeté, a lenda indígena do Sol & Lua Ofaié de Darcy Ribeiro, Yasushi Akutagawa, Kent Williams & Renate Dartois aqui.
Dos desmantelos que deixam qualquer um de cangalha pro ar, John Ross Macduff, Salvador Dali, Stan Getz & Despina Stokou aqui.
A dança tangará festeja a pletora do amor, Robert Gibson, Kleiton & Kledir, Lenda do Itararé & Luciah Lopez aqui.
No reino do Fecamepa nada pode dar certo, Betty Friedan, Celia Mara, Peter Klashorst & OsGêmeos aqui.
Como as coisas são e como podem ser, Lou Andreas-Salomé, Enrica Cavallo, Antoni Tàpies & Misty Copeland aqui.
Marquinhos Cabral, Sandra Fayad, Paulo Profeta, Gisele Lemos/Diana Balis, Carlos Gildemar Pontes, Rita Shimada Coelho, Luís Inácio Araújo & Helena Cristina Buarque aqui.
Wilson Monteiro & Cantarolando pé-de-serra, Legislação & Ambiental Virtual, Acidentes de Trânsito & Psicologia da Saúde aqui.
Zé Linaldo & a pernambucanidade renovada, Apropriação indébita previdenciária, Abuso Sexual, Psicologia & Sociologia aqui.
A Educação Superior aqui.
Os crimes de sonegação aqui.
Entrevista com uma estudante de Cacoal-Rondônia aqui.
Aprumando a conversa que o negócio não está pra brincadeira, João Guimarães Rosa, Poetas dos Palmares, Vera Indignada & Ascenso Ferreira, Antuerpio Pettersen Filho, Fecamepa & Vapapu aqui.
As trelas do Doro: no fuzuê da munheca aqui.
História da mulher: da antiguidade ao século XXI aqui.
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A croniqueta de antemão aqui.
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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