UMA VEZ, JOAN – Era noite de
sábado, 23 de maio, o ano: 1981. Era o meu presente de aniversário antecipado.
E comemoraria no Tuca da PUC-SP. Sim, a maior festa só para ver ao vivo e em
cores aquela que já era tão viva nos meus sonhos, como no cenário musical e
político. Sonhava com aquela capricorniana que compartilhava sua voz em palcos
e manifestações, aquela que marchara de braços dados com Luther King, a que
fora presa por protestos pacifistas contra a guerra do Vietnã. Sim, a sua
beleza, seu estilo musical
inconfundível, suas opiniões políticas faziam coro dentro de mim e me levava
por devaneios intermináveis. Lá estava como quem leu o A Journey Through Our
Time, como quem delirou ouvindo-a no Woodstock e no álbum duplo Blessed
are. Mais ainda com o Come From The Shadows e o Diamonds &
Rust. Sentia-me presente no meio da multidão do European Tour. E me
deleitava com o seu timbre no Silent Running que revi tantas vezes só para
ter a graça de imaginá-la ali, diante de mim, tantas vezes sem conta. E fantasiava
poses e papos com suas baladas, a sua voz soprano e o seu violão acústico,
interpretando entre as do seu belíssimo repertório, músicas de Villa-Lobos e Zé
do Norte, afora folks, country-rock, pop e canções de protesto. Todas as suas
músicas me embalavam na mais extraordinária quimera. Pois foi. Lá estava eu
fazendo coro com outros mil e oitocentos na plateia a gritar seu nome. Havia
passado da hora de começar e, com certeza, havia problemas com a realização do
show: estava proibida de cantar. Com o anúncio aplaudimos efusiva e
demoradamente. Aqui, era, então, o terceiro país a sustar sua voz, depois da
União Soviética e Argentina – estávamos debaixo do mais tenebroso golpe militar.
Premiou-nos da janela com duas músicas à capella – Gracias a la Vida,
Cálice. Depois no palco, sentada numa poltrona, da mesma forma, foi a
vez de Imagine, Blowin’in the Wind. Estava emocionado e comigo
todos aplaudiram de pé. Sua vida sob vigilância policial e ameaças de morte. Não
queria arredar, jamais renunciar daquele encantamento de vê-la. Por ali fiquei,
virei a noite e quase ao meio dia seguinte a vi tão próxima com um sorriso no hall
do hotel Comodoro. Um aceno me hipnotizou e ali se realizava o momento de
enchê-la de beijos, de murmurar que a amava e dizer quantas vezes quis estar
presente na sua apresentação de Sarajevo e ser abraçado como aquele
violoncelista desolado. Quantas vezes não ousei tocar a campainha de uma daquelas
suntuosas casas de Woodside. Quantas vezes não submergi sonheiro por longas e
intermináveis estadias ao seu lado. Sim, tudo feito de sonhações e ela ali era
mais que real. Veja mais abaixo e mais aqui, aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - Não lhes era
permitido viver em apartamentos ou casas e não lhes era permitido ir à escola... adultos preconceituosos. Depois de
um tempo, ela decidiu escrever livros... Pensamento da escritora e ativista
sueca Katarina Taikon (1932-1995), autora da obra The Day I am Free/Katizi,
de etnia cigana e que nasceu numa tenda, e, devido a ter sido impedida de
frequentar a escola pública, só aprendeu a ler e a escrever na idade adulta.
Nas suas obras "Cigana" (Zigenerska, 1963) e
"Katitzi" (Katitzi, 1969), aborda a situação dos ciganos na
Suécia e tornando-a um ícone da contracultura na Suécia, em que a minoria
cigana era fortemente discriminada, excluídos da habitação, do sistema educacional
e dos direitos de cidadania proporcionados pelo estado de bem-estar social.
ALGUÉM FALOU: Na
verdade, os homens estão mais perto de ter a capacidade de agir de forma
egoísta quando se trata de uma situação de crise. Não gosto que repitamos uma
determinada expressão continuamente porque acho que isso restringe a forma como
olhamos o mundo. Também penso que há uma certa responsabilidade se trabalharmos
com imagens em movimento porque são muito fortes na criação de comportamento; é
tão forte na criação da maneira como olhamos o mundo, então para mim é muito
importante que eu crie imagens das quais tenho uma experiência ou que seja algo
que acho que existe no mundo e não apenas no cinema. O motivo pelo qual estou interessado em fazer filmes é porque uma imagem em
movimento é muito, muito poderosa quando se trata de mudar o comportamento
humano. Quero que meu filme possa ser usado como
referência quando estivermos tentando viver nossas vidas. Eu estava muito
interessado em destacar o comportamento de grupo e queria mostrar que acho que
isso é muito fundamental sobre ser um ser humano... que somos, na verdade,
animais de rebanho. Então, eu estava procurando por diferentes situações que
acontecem em diferentes tipos de grupos. Pensamento do cineasta, produtor
e roteirista Ruben Östlund.
NÃO SOU EU,
QUERIDO – […] Viva livre, ande livre, morra livre […] Você roubou meu coração há quinze anos e ainda não o devolveu. [...] Sempre estivemos fadados a ficar juntos. Ele é meu tudo. Ele é meu mundo inteiro... [...] Ele era o pecado personificado... Um pecado que eu desejava...
mas agora eu estava com muito medo dele. [...] Espero que você seja o
fim da minha história. Espero que você esteja tão longe quanto possível. Espero que vocês sejam as últimas
palavras que proferirei. Nunca é sua hora de ir... [...] Eu me inclinei em sua mão. Vinte e seis anos e um único toque me faria explodir no jeans. [...].
Trechos extraídos da obra It Ain't Me, Babe (CreateSpace, 2014),
da escritora britânica Tillie
Cole.
TRÊS POEMAS – FONTE - Bebi da tua fonte,\ as tuas margens
abriram-se,\ as tuas algas salgadas,\ tinham o gosto a maresia,\ águas
cristalinas,\ afoguei-me,\ esqueci o instante,\ perdi-me por fim,\ na tua
concha menina. SOU ESTRANGEIRA - Estrangeira nesta terra,\ neste país,\ nos
lugares em mim,\ nos olhares perdidos,\ certezas dispersas,\ sou alheia à
nacionalidade,\ sou estrangeira,\ num corpo tatuado,\ com formato de mapa
universo,\ leito de saudades,\ multidão de pensamentos,\ num mundo de sentimentos,\
no cosmos que desconheço. LUGAR DE SILÊNCIOS - Lugar de silêncios,\ as vozes
acontecem,\ as histórias repetem-se,\ o longe\ vem nas malas dos viajantes,\ na
rota das suas almas,\ acontece a vida, a saudade,\ o agora, o amanhã,\ esse é o
lugar onde\ existimos.
Poemas da poeta e artista plástica moçambicana Sónia Sultuane, autora de
Sonhos (2001), Imaginar o Poetizado (2006), No Colo da Lua
(2009) e A Lua de N'weti (2014).
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