VIRGINIA & ORLANDO: A
ARTE DE WOOLF – A vida e
a obra da escritora inglesa Virginia
Woolf (1882-1941), são dignos de nota: uma literatura maravilhosa, uma existência
impetuosa: depressões da juventude até o suicídio. No dia 28 de março de 1941,
ela vestiu o casaco, encheu os bolsos com pedras, deixou uma carta e se afogou
no Rio Ouse: “[...] Sinto que com certeza enlouquecerei novamente. [...] E desta vez não devo me recuperar.
Começo a escutar vozes, e não consigo me concentrar. Portanto estou fazendo o
que parece ser a melhor coisa a se fazer. [...] Não consigo mais lutar [...]”.
Quando li o maravilhoso livro Orlando:
uma biografia (1928), foi como se eu tivesse saído de uma experiência tão
ricamente vivida: uma novela com estilo influente, envolvente, fazendo uso de um
método narrativo satírico e bem humorado dos convencionalismos históricos, contando
a história de um jovem inglês que, do inopinado, se vê transformado numa mulher
dotada de imortalidade: a trama dessa ambiguidade identitária do personagem
perpassam as relações da condição humana. Numa parte do livro está inscrito
que: “[...] tem razão o filósofo ao dizer
que entre a felicidade e a melancolia não medeia espessura maior que a de uma
lâmina de faca; e prossegue opinando serem irmãs gêmeas; e daí conclui que
todos os extremos de sentimentos são aparentados com a loucura [...] Ruína e morte, pensou, recobrem tudo. A vida
do homem acaba no túmulo. Somos devorados pelos vermes. [...] bateu a primeira pancada da meia-noite. A fria
brisa do presente afagou-lhe a face com seu breve sopro de medo. Olhou ansiosamente
para o céu. Estava escuro, com nuvens, agora. O vento rugia em seus ouvidos. Mas
no rugido do vento ouvia o rigir de um aeroplano que se aproximava cada vez mais.
– Aqui, Shel, aqui! -, gritou, desnudando seu poeto à lua (que agora brilhava)
de modo que suas pérolas resplandeciam como ovos de uma enorma aranha lunar. O aeroplano
rompeu as nuvens e pairou por sobre a sua cabeça. Revoou um pouco por cima
dela. As pérolas arderam como um relâmpago fosforescente na escuridão. E quando
Shelmerdine, agora um garboso capitão, bronzeado, rosado e ativo, saltou em
terra, por cima de sua cabeça voou um pássaro selvagem. – É o ganso! – gritou Orlado.
– O ganso selvagem... E a duodécima pancada da meia noite soou; a duodécima
pancada da meia noite de quinta feira, onze de outubro de mil novecentos e
vinte e oito”. Esse belíssimo livro foi levado para o cinema 1992, na
direção de Sally Potter, estrelado por Tilda Swinton e Quentin Crisp. No
Brasil, foi encenado sob a direção da Bia Lessa numa temporada em 1989, no Rio
de Janeiro com um timaço de atores, entre eles Fernanda Torres, Julia Lemmertz,
entre outros, no projeto Inventário do Tempo. A escritora tem uma frase contida
no seu ensaio Um teto todo seu (1929) que diz: "Uma mulher deve ter
dinheiro e um teto todo seu se ela quiser escrever ficção". Na verdade
ela quis dizer: Todo aquele que quiser escrever ficção deve ter dinheiro
suficiente e um teto todo seu. Isso sim. Veja mais aqui.
Imagem: Susanna and the Elders, do pintor do Rococó italiano, Pompeu Girolamo Batoni (1708-1787)
Ouvindo: Passarim, do Tom Jobim (1927-1994)
VIVENDO E APRENDENDO A JOGAR - A diferença entre ganhar ou perder, é mera mudança de lado: um ganha, outro perde; o que importa mesmo, é termos a consciência da nossa missão na vida e cumpri-la, não importando quem ganhou ou perdeu, ou se com isso vai ganhar ou perder. Afinal, quem perde, na verdade, ganha uma lição; e quem vence, sem que esteja preparado e só por soberba, torna-se inútil. Veja mais aqui.
SERVIDÃO HUMANA – Para quem na infância se envolveu
tanto com os livros de Monteiro Lobato e Viriato Correia, como também Charles
Dickens, seria inevitável encontrar outro livro para lá de marcante, como a da leitura
que fiz do Servidão humana (Globo, 1944), do escritor britânico William Somerset Maughan
(1874-1965). Para ter uma ideia, leia: [...] Os grandes pintores da Espanha, eram os
pintores da sua alma e o coração lhe batia rápido ao prefigurar-se em êxtase
face a face com aquelas obras que, mais do que quaisquer outras, eram
significativas para o seu coração ingênuo e torturado. Tinha lido os grandes
poetas mais característicos daquela raça do que os poetas de outras terras;
porque eles pareciam ter tirado a sua inspiração não das correntes gerais da
literatura mundial, mas diretamente das planícies ressequidas e perfumadas e
das montanhas geladas do seu país. Mais alguns poucos meses e ele ouviria com
seus próprios ouvidos, a linguagem que lhe parecia mais expressiva da grandezza
da alma e da paixão. Seu bom gosto lhe dera uma intuição de que a Andaluzia
era demasiado mole e sensual, um pouco vulgar mesmo para satisfazer o seu
ardor. Sua imaginação demorava-se com maior boa vontade entre as distancias de
Castela varridas pelo vento e a imponente e áspera magnificência de Aragon e
Leon. Ele não sabia de todo o que lhe haveriam de dar aqueles contatos
desconhecidos, mas sentia que ia tirar deles uma força e um propósito que o
tornariam mais capaz de afrontar e compreender as maravilhas múltiplas dos
lugares mais distante4s e ainda mais estranhos. Porque aquilo era apenas o
começo. Tinha entrando em comunicado com as varias companhias que levavam os
médicos em seus vapores e sabia exatamente quais eram, as suas rotas. [...]
Um doutor era util em qualquer parte.
Poderia haver uma oportunidade para embrenhar-se na Birmânia e que esplendidas
florestas na Sumatra ou Borneu não visitaria ele! Era ainda moço e o tempo não
lhe dava cuidados. Não tinha laços na Inglaterra, não tinha amigos. Podia ir e
vir pelo mundo durante anos, conhecendo a beleza, a maravilha e a
multiplicidade da vida. E agora tinha acontecido aquilo! Deixou de lado a
possibilidade de que Sally estivesse enganada. Sentiu uma estranha certeza de
que seus temores eram fundados. Afinal de contas, aquilo era tão provável...
qualquer pessoa podia ver que a natureza havia construído aquela rapariga para
ser mãe de filhos. Sabia bem o que devia fazer. Não devia permitir que o
incidente o fizesse desviar um passo sequer do seu caminho. [...] Sally havia confiado nele e sido boa para
ele. simplesmente não podia fazer uma coisa que, não obstante todo o seu
raciocínio, achava horrível. Sabia que não iria ter paz nas suas viagens se
levasse consigo o pensamento constante de que ela estava infelicitada. Ademais,
havia o pai e a mãe; eles sempre o tinham tratado bem. Não era possível
retribuir-lhes com a ingratidão. [...] O
seu presente de nupcias para a esposa seriam todas as suas grandes esperanças.
Renúncia! Phillip estava enlevado pela sua beleza e durante todo o serão pensou
no sacrifício. Estava tão excitado que não pode ler. Teve a impressão de o
arrastavam do quarto para as ruas. Subiu e desceu Bridcage Walk com o coração
pulsando de alegria. Mal podia suportar a sua impaciência. Queria ver a
felicidade de Sally quando ele lhe fizesse a proposta [...]. Veja mais aqui.
ADELAIDE CABETE - A médica obstetra e ginecologista,
professora, republicana convicta e feminista portuguesa Adelaide de Jesus Damas
Brazão Cabete, ou simplesmente Adelaide Cabete
(1867-1935), foi uma ativista pacifista, humanista e abolicionista que, ao seu
formar em 1900, defendeu a tese de Protecção às Mulheres grávidas Pobres
como meio de promover o Desenvolvimento físico das novas gerações. Em 1907
foi iniciada no Rito Escocês Antigo e Aceite e, depois, no Rito Francês, na
Loja Maçônica Feminina Humanidade que, anos depois, passa a ser Loja de Adoção
perdendo os direitos detidos em igualdade com lojas masculinas, o que a levou a
fundar a Jurisdição Portuguesa da Ordem Maçônica Mista Internacional O Direito
Humano, em 1923. Depois disso, passou a integrar a Liga Republicana das
Mulheres e, em seguida, fundou a Liga Portuguesa Abolicionista e presidiu o
Conselho Nacional das Mulheres Portuguesas com campanhas sufragistas e, por consequência,
foi a primeira e única mulher a votar a Constituição Portuguesa, em Luanda, em
1933. Veja mais aqui.
E como todo dia é dia da mulher, hoje a
homenagem vai pra modelo Miss Brasil 1999 e apresentadora de programa esportivo
na televisão brasileira, Renata
Bonfiglio Fan. Veja mais aqui.
Veja mais sobre:
Slavoz Žižek & Jacques Lacan, Modest
Mussorgsky, Peter Brook, Charlotte Dubreuil, Tan Ngiap Heng, Marie-Christine
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Alain Robbe-Grille, Marie Espinosa & Berthe Morisot
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King Jr, Egberto Gismonti & Naná Vasconcelos, Marie Duplessis, Greta
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Jacques Lacan, Paul Cézanne, Magda Tagliaferro, Nara Leão, Janis Joplin & Miguel Paiva aqui.
A cruzeta na volta que a vida dá, Artur Bual & Manuel
Cargaleiro aqui.
Tem hora pra tudo e a vida é outra coisa, Ariano Suassuna & Quinteto
Armorial, Emilia Kallock, Ciro Veras & Alexandra Lacerda aqui.
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Dos revezes que não poupam a amizade e o
amor, Hermeto
Pascoal, Lydia Cabrera, Hiram Powers, Nicola Axe &
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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Recital
Musical Tataritaritatá - Fanpage.