domingo, janeiro 18, 2015

HITOMI KANEHARA, SARAH DUNANT, DIANE DI PRIMA, CÉCILE CHAMINADE & LOUELLA PARSONS

 


A SOLIDÃO DE CÉCILE, A VESTAL MUSICAL – Era Cécile a terceira filha de seis irmãos duma familia burguesa parisiense. Suas primeiras aulas de piano foram ministradas por sua mãe, enquanto que seu pai reprovava que ela estudasse no conservatório. Mesmo assim, estudos particulares levaram-na, aos 8 anos de idade, a tocar Bizet que era seu vizinho e ficara muito impressionado com sua habilidade de composição. Com isso, conseguiu convenceu seu pai a ter aulas no conservatório. Aos 18 anos ela dava seu primeiro concerto, ganhando reputação de compositora e pianista. Escreveu uma ópera cômica em um ato, La Sevillane. Depois vieram a Suite d'orchestre op. 20, o Balé Sinfônico Callirhoe op. 37, o Concertstuck op. 40 para piano e orquestra, estreando triunfalmente nos Estados Unidos, ao reger a Orquestra de Filadélfia. Mais vieram: Les Amazons, que um drama sinfônico, e seu famoso Concertino para flauta e orquestra, que tornou-se popularíssima e bastante executada. Como também era Louise, ela compôs obras curtas e simples, com melodias letras ricas e cativantes aceitas por seus então fiéis e apaixonados público. E mais: obras para piano, música de câmara e melodias para voz e piano. Como ainda era também Stephanie foi pioneira com sucesso na França, Alemanha e Inglaterra. Quando morreu seu pai ela foi uma das primeiras a fazer uma turnê pelos Estados Unidos e Inglaterra. Tornou-se uma celebridade musical e sendo cultuada por clubes fundados por mulheres progressistas favoráveis ao movimento sufragista, com suas melodias líricas e seu talento avassalador. Mesmo se considerando uma vestal da música, ela casou-se com um editor musical idoso, 20 anos mais velho que ela, tendo de enfrentar a calúnia de casamento por conveniência. Mas, logo enviuvou: É difícil conciliar a vida doméstico com o artístico... Quando uma mulher talentosa se casa com um homem que aprecia esse lado dela, tal casamento pode ser idealmente feliz para ambos... Ela levantou a cabeça e enfrentou o mundo, tornando-se bem sucedida na carreira, sucesso de audiência sem precedentes. Insistiu em ser vestal da criação com mais de 400 composições musicais, também foi pioneira artista, tendo sido contemplada com a Legião de Honra Francesa, bem como a Medalha do Jubileu dada pela Rainha Vitória, e o Chefekat, dado pelo Sultão de Türkiye. Óperas, peças teatrais, obras para orquestra, obras de câmara, muitas obras para piano e muitas outras melodias para voz e piano. Sua Sonata para Piano Op. 211, seu Etude symphonique op. 28, a Dança do Lenço (Scenes de Ballet Callirhoë op. 37, no. 3), a Flattery 199 op. 50 e sua Sérénade espagnole op. 150, fazem parte de sua prodigiosa produção musical. Depois da primeira grande guerra, tanto sua música como ela caíram no esquecimento repentino. Exilou-se para escapar da segunda grande guerra em Monte Carlo. Além disso, vieram as críticas do excesso de feminilidade, destrutivas pela definição do círculo social da vida pública destinado aos homens, a competição entre artistas, além de ser acusada de que suas peças eram de sala de estar. Nadava contra a corrente com enormes pressões sociais relativas ao paradigma que o seu tempo exerceu de excessiva misoginia. Indubitavelmente ela era uma compositora original, inovadora e talentosa, adaptando poesia e música como sua assinatura nas melodias encantadoras, demonstrando técnica compositiva excepcional, um talento incrivelmente fértil. Mesmo assim foi insultada e desprezada, relegada à obscuridade e teve, para piorar, o pé esquerdo amputado por conta duma descalcificação de seus ossos, incapacitando-a. Viu-se sozinha e esquecida, era a sua dura realidade. Viva Cécile Louise Stéphanie Chaminade (1857-1944). Veja mais aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Nascimento, acasalamento, morte. Quanto mais ela pensa nisso, mais parece que isso é tudo que existe: uma roda girando e girando, movendo-se tão rápido que às vezes você nem consegue distinguir os raios. É uma maravilha que haja espaço para poesia. Quando há medo em relação ao futuro, é reconfortante descontá-lo em pessoas de fora que podem ser responsabilizadas pelo passado. O que antes era a linguagem do segredo agora é a linguagem do poder. A falta deixa a alma em carne viva. Pensamento da escritora, jornalista, radialista e crítica britânica Sarah Dunant, que no seu livro The Birth of Venus (Random House Trade, 2004), expressa que: […] O Diabo pode levar os imprudentes, mas os bons certamente morrerão de tédio. Tédio e frustração. [...] Há mais glória na paz do que na guerra [...] A morte era, afinal, um ponto de parada temporário numa jornada mais longa [...].

 

ALGUÉM FALOU: A primeira pessoa com quem me importei profunda e sinceramente foi: eu mesmo. A única forma de aliviar a fome é comendo. Pensamento da escritora e jornalista estadunidense Louella Parsons (Louella Rose Oettinger - 1881-1972). Veja mais aqui.

 

COBRAS & BRINCOS - [...] Deus tem que ser sádico para dar vida às pessoas. [...] Eu caí no chão e me desmanchei em lágrimas. Dane-se. Vão para o inferno, seus filhos da puta. Eu queria ter um vocabulário maior para expressar completamente a extensão da minha dor e ódio. Mas eu não tenho. Eu sou simplesmente patética. É tudo o que eu sou. [...] Tudo o que eu podia fazer era escapar da realidade, mas toda vez que eu tentava escapar da dor, essa mesma dor me dizia que eu provavelmente estava me apaixonando por ele. [...] O silêncio da sala foi quebrado por um lamento de dor vindo de dentro de mim. [...]. Trechos extraídos da obra Snakes And Earrings (Vintage Books, 2005), da escritora japonesa Hitomi Kanehara, que no seu livro Autofiction (Vintage Books, 2008), expressou que: […] Enquanto danço, começo a me sentir aquecido e desligo o aquecedor. Fico pensando por que sou uma pessoa tão difícil e olho para o aquecedor e penso na minha teimosia. Lágrimas escorrem pelo meu rosto, mas continuo dançando [...]. Sobre a vida ela também expressou que: Tudo o que eu queria era fazer parte de um mundo subterrâneo onde o sol não brilha, não há canções de amor e o som do riso das crianças nunca, jamais, é ouvido.

 

UM EXERCÍCIO DE AMOR - Meu amigo usa meu lenço na cintura\ Eu dou a ele pedras da lua\ Ele me dá conchas e algas\ Ele vem de uma cidade distante e eu o conheço\ Plantaremos berinjela e aipo juntos\ Ele me tece pano\ Muitos trouxeram os presentes\ Eu uso para o prazer dele\ seda e colinas verdes\ & garça da cor do amanhecer\ Meu amigo anda suave como uma tecelagem ao vento\ Ele ilumina meus sonhos\ Ele construiu altares ao lado da minha cama\ Acordo com o cheiro do cabelo dele e não consigo me lembrar\ o nome dele ou o meu. Poema da poeta estadunidense Diane di Prima (1934-2020). Veja mais aqui e aqui.

 

SACADOUTRAS

 

NOVELAS DE APRENDIZADO – Explorando os aspectos psicológicos da vida humana, o escritor, advogado e jornalista Autran Dourado (1926-2012) traz na apresentação do livro o texto Começo de aprendizado, reunindo as obras A teia (1947) e Sombra e Exílio (1950), expressando que: “Não sei precisar direito quando foi que primeiro me deu a sapituca de escrever, que viria a me seguir a vida inteira e espero venha a me abandonar afinal, para que eu possa me entregar ao puro gozo da leitura, o vicio impune de que falava Valéry Larbaud se valendo duns versos ingleses. Do que gosto mesmo é de ler, escrever é mais uma questão de querer. Acrtedito que tenha sido quando peguei um lápis e um caderino para livremente escrever, sem ordem ou obrigação, a não ser a minha vontade, um texto qualquer, produto do puro gosto e da imaginação. O que era, não me lembro; sei que não se tratava de exercício escolar. [...] Se na frente veio Herculano me inseminar o germe narrativo, então estarei certo de que escrever é um ato mimético de preservação e astúcia, de desejo e apropriação. Ou como queria a minha saudosa amiga e grande escritora Clarice Lispector: A gente escreve pelo mesmo motivo com que um menino, diante de um objeto de outro, diz “eu também quero um”. [...] Se algum apressado psicanalista de galinheiro atribuir a paixão da leitura e o gosto de escrever à libido, estará cometendo despudorado atrevimento. [...] Às vezes, em dia de pessimismo, acho que devia ter continuado um aprendiz, matéria que deixo aos meus leitores de caderno e ao possível leitor novo”. Veja mais aqui, aquiaqui.

Imagem: Silence, da artista plástica Irina Vitalievna Karkabi. Veja mais aqui

Ouvindo: Obertura Festiva (1919), op. 21, do compositor, musicólogo, professor e arquiteto chileno Juan Orrego-Salas, com a Indianapolis Symphony Orchestra, Izler Solomon, conductor.

CULTURA DA DOENÇA: ONDE A SAÚDE? – Em 1900, registra do antropólogo Darcy Ribeiro, no seu livro Aos trancos e barrancos: como o Brasil deu no que deu, que: “É lançado o Biotônico Fontoura, prometendo vigor incomparavel em seus reclamantes. Com ele, cresce a industria farmacêutica nacional, produzindo o Elixir de Inhame, a Saúde da Mulher, o Regulador Gesteira, o Xarope Bromil, que davam fortunas antes da invasão da Emulsão de Scott, do Bristol Pills, da Cafiaspirina. Mais tarde, vieram as multinacionais farmacêuticas que tomaram tudo. Hoje, doentes, doemos em dólares”. Pois é, desde então, essa política da medicalização requer de forma premente uma humanização da medicina no Brasil. Afinal, onde a saúde, hem? Veja mais aqui, aquiaqui e aqui.



O FILÓSOFO DESCONHECIDO - O filósofo, advogado, pensador e místico francês Loius Claude de Saint-Martin (1743-1803), publicou diversos livros sob o pseudônimo de Filósofo Desconhecido, influenciado por Martinez de Pasqually e Jacob Boehme, e criou a sociedade iniciática Sociedade dos Filósofos Desconhecidos, trabalhando a sua ideia teosófica do “homem de desejo”, significando esse desejo a miséria e a grandeza humana, um sentimento doloroso daquilo que separa a existência da essência e a necessidade de as unir. O seu livro O Homem de Desejo foi publicado pela primeira vez em 1790, composto por litânias no estilo do salmista, nas quais a alma humana evolui para o seu primeiro estágio, num caminho que o Espírito pode ajudá-la a percorrer, tendo por objeto mostrar que o homem deve confiar na Regeneração, chamando sua atenção para a necessidade de retorno ao Mundo Divino de onde saiu e ao trabalho que deverá realizar para alcançar esse objetivo, isto é, concentrando suas forças pelo desejo ardente de aperfeiçoar-se e tornar-se um homem de vontade forte. O seu livro Ecce Homo, traz a advertência acerca do perigo de buscar a excitação das emoções das experiências mágicas de baixo nível, das premonições, dos diversos fenômenos que não passam de expressões de estado psicofísicos anormais do ser-humano. No livro O Novo Homem, o autor traz o pensamento como um órgão de renascimento que permite penetrar no mais profundo do ser humano e descobrir a verdade eterna de sua natureza: a alma do homem é um pensamento de Deus. No livro Do Espírito das Coisas, ele declara que o homem, criado à semelhança de Deus, pode penetrar no seio do Ser que está oculto por toda a Criação e que, graças a sua clara visão interior, ele é capaz de ver e reconhecer as verdades de Deus depositadas na Natureza. No livro O Ministério do Homem Espírito, ele complementa todas as indicações precedentes, apresentando um objetivo que não é diferente, qual seja, o da ascensão de uma alta montanha: o homem escala impelido por uma necessidade interior e no antegozo da vitória, que traz a liberdade após tribulações e sofrimentos. Outros dos seus livros são a inacabada Dos Números, o poema épico O Crocodilo e importante Nova Revelação. Outras obras póstumas foram publicadas na confirmação de que toda a sua existência foi dedicada à ideia de um grande renascimento da humanidade e ele desencadeou um eco profundo, não somente na França mas também no Oeste e no Leste da Europa. Veja mais aquiaqui.

UMA FILÓSOFA NO ILUMINISMO - A filósofa inglesa Damaris Cudworth Masham (1659-1708) defendia a educação das mulheres. Apesar dos problemas com sua visão e falta de acesso a recursos educacionais mais elevados, ela publicou duas obras filosóficas, o Discurso sobre o amor de Deus (1696) e Pensamentos para uma virtuosa vida cristã (1705), que foram publicados de forma anônima para evitar críticas por ser escritos por uma mulher e baseados nos pensamentos de Locke e enfatizando a importancia da moralidade prática e da educação. Ele teve intensa correspondência com o filósofo alemão Gottfried Wilhelm Leibniz e, também, com seu futuro mentor, o filósofo inglês John Locke de quem recebeu rasgados elogios, além de muitos outros filósofos do Iluminismo. Na sua visão: “o catolicismo romano, com sua ênfase sobre os externos da religião é, em grande parte superstição”, defendendo, como Locke, que uma vida virtuosa é mais importante do que um cerimonial religioso e argumentando que a conduta moral é fundamental para a prática religiosa. Para ela a educação é a chave certa para inculcar a virtude, que é a de ser aprendido não através de preceito, mas através do desenvolvimento de uma compreensão racional de princípios morais. Com relação à educação inferior dada às mulheres, ela argumenta que deixa-os impróprios para ser capaz de dar a seus filhos uma educação adequada, como a maioria das crianças durante este período de tempo quando são dadas educação infantil por suas mães e porque a educação ainda é muito reservada a aqueles nas classes de elite, defendendo o acesso das mulheres ao ensino superior, uma vez que lhes teria permitido para melhor educar seus filhos e filhas, e em razão do avanço na sociedade. Além disso, as mulheres devem ter acesso à educação para o bem-estar espiritual, não apenas de seus filhos, mas para o seu próprio bem. Veja mais aqui.


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CRÔNICA DE AMOR POR ELA
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CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
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