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quarta-feira, outubro 18, 2023

AKIKO YOSANO, KOSTAS AXELOS, MOLLY CRABAPPLE, HERMILO & FLIARP

 Imagem: Acervo ArtLAM.

A alquimia e a magia tratam de como materiais mundanos, benignos e abundantes podem ter um efeito maior do que a soma de suas partes. Para mim, criatividade é alquimia. Quero ter um efeito benéfico em sua fisiologia, mas não é da minha conta o que acontece depois disso... É meu presente para você.

Ao som do Tribute to Wayne Shorter - ARTE Concert (Festival Bielska Zadymka Jazzowa à Gliwice, Pologne, 2023), da contrabaixista e cantora estadunidense Esperanza Spalding.

 

RENASCINZAS... – Um dia e outro o mesmo: não fosse minha inquietude das estrelas, jamais discerniria entre o dilúculo e o ocaso, incólume pelas conflagrações, como se pisasse sobre os ossos dos que fracassaram. Desconfortável andança, mas seguia em frente. Um tanto de vezes sentia-me imerso às tramas do Replay de Ken Grimwood, como se já tivesse feito não apenas doze ou quinze a mais dos trabalhos de Hércules, com o dobro das mil faces de Campbell n’O Groundhog Day de Harold Ramis: não era o que parecia, mas era o amor fati no meu eterno retorno de Nietzsche – e a cada degrau, deserdado e enlouquecido. Tudo revivia a todo instante: era 31 de março e eu só tinha 4 anos no aniversário do meu pai, ou 8 de janeiro e a minha filha pedia atenção pro futuro enquanto estampava a foto de Herzog pendurado pelo pescoço e o dia D pra sindemia de fogo nas Amazônias e Pantanais, um dia e tantos os mesmos como os que doíam nas Filhas da Dor – e uma delas a heroina de Maureen Murdoc: O segredo do seu futuro está escondido na sua rotina diária... Então embarcava na aventura e me jogava de olhos fechados; ao despertar era como se nada houvesse, nada acontecido – pior: parecia mesmo a porta dos infernos aberta e estragasse tudo, porque Andie MacDowell apontava para a procissão da idiocracia – a pandemia de idiotas cheios de razões folgazãs. Era ela Doris Lessing: Aprendizado é isso: de repente, você compreende alguma coisa que sempre entendeu, mas de uma nova maneira... Não é a inteligência que escasseia, mas a constância... Eram outros fevereiros, nada que desse vontade de frevar ou cair na gandaia, muito menos recorrentes dezembros que me causavam asco de tanta hipocrisia. Louise Gluck ali me avisava: Olhamos para o mundo uma vez, na infância. O resto é memória... Eu te aviso como nunca fui avisada, você nunca vai desistir, você nunca ficará saciado... Resolvi então voltar pra casa... Tudo por consertar, tudo, já sabia. Pode ser tarde, mas agirei, tentarei pelo menos. Era como buscasse onde está você que sou eu e restava o mesmo dia e uma charge de Bob Mankoff: Tudo bem, a vida é sórdida, brutal e curta, mas você sabia disso quando se tornou um homem das cavernas... Caminhei sozinho e senti o pulso de Deus: não espero que ninguém me dê a mão, dou as minhas... Não espero que ninguém me dê abrigo, oferto o meu... Do nada nem nenhuma, renascinzas, o amor assim... Até mais ver.

 

UM POEMA... TRÊS...

Imagem: Acervo ArtLAM.

I – segurando os seios; \ entre as mãos, silenciosamente, \ ele remove o véu do mistério: \ aqui estão flores \ de uma cor escarlate intensa!

II – Seu senso de pecado, \ Este é você compassivo; \ Tudo o que estou dizendo é, \ Isso vai me deixar louca, \ Sua criança inocente.

III – A primavera encurta, \ E para a vida imortal! \ Há poder, para tocar, \ Há sangue em meus seios, \ Um bom lugar para a mão dele.

Poemas da poeta, feminista, pacifista e educadora japonesa Akiko Yosano (Yosano Shiyo – 1878-1942).

 

TIRANDO SANGUE - [...] Os radicais muitas vezes suspeitam da beleza da corrupção. Embora às vezes sejam filhos da puta tensos, eles estão certos em uma coisa: a arte por si só não pode mudar o mundo. As canetas não podem enfrentar espadas, muito menos drones Predadores. Mas à medida que a decepção e a violência se espalham, o antídoto é uma generosidade que a melhor arte ainda pode inspirar. [...] O talento é essencial, mas o dinheiro compra a oportunidade de descobrir esse talento. Fingir o contrário é cuspir na cara de todo gênio falido. [...] Para fazer alguém amar você, veja-o como a pessoa que ele deseja ser. [...] Sob lâmpadas nuas, os artistas pintaram fantasmagorias poderosas o suficiente para ameaçar exércitos.[...] A arte é esperança contra o cinismo, criação contra a entropia. Fazer arte é um ato de amor e desafio. [...] Garotas como eu usavam a Web de todas as maneiras que nossos pais temiam. Lemos manifestos anarquistas e trocamos pornografia chocante com homens adultos. Estragamos garrafas de vodca perfeitamente boas tentando fazer absinto com receitas que aprendemos na gótica Martha Stewart. [...] O globalismo dá menos margem de manobra aos filhos brilhantes de um país pobre. [...] Quando pensei em cada proposta ou ameaça que recebi andando pela rua com meu corpo de menina, decidi que poderia muito bem ser pago pelo problema [...]. Trechos extraídos da obra Drawing Blood (Harper, 2017), da escritora e artista estadunidense Molly Crabapple. Veja mais aqui.

 

A TÉCNICA – [...] o Jogo, sem que exista, perpassa toda e qualquer técnica e a técnica mundial em geral em sua totalidade fragmentária e fragmentada. A técnica procura tomar posse do tempo. O Tempo – o jogo do Tempo – é que supera a técnica por inteiro. O futuro da técnica destinado a reger o tempo por vir é ultrapassado pelo Jogo do Tempo que esmaga igualmente a técnica. Se o que está em jogo na técnica é o mundo, a própria técnica constitui uma constelação figurativa e não figurativa do que se joga sob o horizonte do Mundo. Ela é o andaime planetário, a última figura – até agora – do Mundo. Depois da Natureza, Deus e o Homem, é ao Andaime técnico a quem cabe tentar jogar o destino do mundo. Mas o Mundo permanece aberto. [...] Não é a reflexão – ainda que fosse técnico-científica – que pode situar-nos em relação à Abertura do Mundo; é o pensamento. Com a ironia mais penetrante, não se trata somente de apreender as obras visíveis da técnica, mas de encontrar um certo acesso ao Invisível [...]. Trechos extraídos da obra O futuro da técnica - Signos da técnica (Tempo Brasileiro, 1981), do filósofo grego Kostas Axelos (1924-2010), que na obra Horizontes do mundo (Tempo Brasileiro\EdUFC, 1983), expressou que: [...] a luz de cada escrito vem de outros escritos [...] Desde certo tempo, os homens - como indivíduos, como membros da sociedade, como fragmentos da História do mundo - procuram viver e amar, falar e pensar. Eles trabalham, lutam, morrem. Pelo quê? Pelo prazer problemático e pelo bem-estar a ser instalado - para o qual, cada vez mais, tudo se torna muito pouco - pelo reconhecimento - que se faz, de maneira crescente, perspectivista - pela realização da liberdade na terra e pela condição mediada de todos? O que os move e para onde se movem? E para que? O que há com as razões lógicas e mitológicas, com as forças do processo histórico, com os fins humanos? Articulam-se em oscilações ou oscilam articulando-se? Consolidam-se e dissolvem-se na história já jogada, repetem-se continuamente e são constantemente superarticulados. Será que só nos resta - sem saudosismo retroativo, sem desvalorização simplória do presente e sem utopia escaltológica - continuar, aprofundar e alargar o jogo? [...] as perspectivas do pensamento inscrevem nos horizontes do mundo, no horizonte do tempo – com horizontes sempre unitariamente tridimensionais –, porque os horizontes do jogo do Mundo são ao mesmo tempo horizontes do jogo do Tempo. O mundo, o tempo e o Jogo deles obedecem ao mesmo ritmo [...] cada um dos diferentes mundos do Mundo tem seu horizonte específico e só os horizontes do ‘próprio’ Mundo são ilimitados, a saber, podem ultrapassar seus limites. [...]. Já na entrevista Mondialisation without the world (Radical Philosophy, 2005), ele assinalou que: [...] A globalização nomeia um processo que universaliza a tecnologia, economia, política e até civilização e cultura. Mas permanece um pouco vazio. Falta o mundo como abertura. O mundo não é o físico e totalidade histórica, não é o conjunto mais ou menos empírico de conjuntos teóricos e práticos. Ele se implanta. A coisa que é chamada a globalização é uma espécie de mundialização sem mundo [...]. A ele são atribuidos os pensamentos: Perdemos o sagrado da saúde sem termos descoberto o da loucura... Não conheço ninguém que saiba falar do corpo. Apenas se balbuciam banalidades ou coisas enfadonhas.

 

PALMARES & O CORAÇÃO

Ficou o convite, que me lavou o peito, porque afinal de contas neste meu coração despedaçado estão os restos das noitadas no Alto Lenhador, das fritadas de Doroteu, das cachaças de Guará, dos amores de Quiterinha, das fomes periódicas, das humilhações constantes, das revoltas sufocadas, das noites de lua, das líricas namoradas, dos sonhos, das leituras até alta madrugada à luz de candeeiro, das mortes, do que escrevi, do que menti, do que amei, do que me mentiram, que tudo foi Palmares e que Palmares é, na minha obra, mito e realidade...

Trecho extraído da obra Palmares e o coração (FCCHBF, 1997), do advogado, escritor, crítico literário, jornalista, dramaturgo, diretor, teatrólogo e tradutor Hermilo Borba Filho (1917-1976). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

&

FEIRA DE LITERATURA & ARTES DOS PALMARES (FLIARP)

Acontecerá entre os dias 19 e 21 de outubro, em Palmares – PE, com a participação de Murilo Gun & Admmauro Gommes lançando diversos livros do poeta e escritor Vital Corrêa de Araújo. Veja mais aqui.

 



quarta-feira, julho 02, 2014

ANNIE FINCH, RASHIDA, ELEANOR FARJEON, CLAUDIA JONES, KATHERINE DUNHAM & LITERÓTICA



LITERÓTICA: O BEIJO DANÇA... - Ela ilumina a hora com seus pés dançantes aos frevos das mulheres que gravitam todos os esgares glamourosos, com suas pernas luzidias sobre as ousadias festivas da Cabra-cabriola pelos salões multicores da minha alma aniquilada. Ela chega com o escarcéu do cortejo da princesa de Jericoacoara na festa dos caboclinhos desregrados com as danaides que se jogam nuas às flechadas de firmes pisadas jactantes, para sorver meu sangue com todos os seus tesouros desencantados. E mais rodopiante com zanga fingida e pudores dissimulados da Cumadre Fulôsinha pelo maracatu de baque solto virado matadentro com todas as gritarias das abusões mais pavorosas; e se sacodisse como se fosse a Galega do Queixão embalada num xote para o seu trote de égua no cio a me servir como se eu fosse Dioniso arrodeado de bacantes lúbricas e o tagaté não acabasse tão cedo. E mais se insinuasse aliciante e lavada de suor como se fosse Mãe d’Água enlouquecida num galope à beira-mar incentivada pelas mulheres vitoriosas do Tejucupapo para saudar a minha volúpia para lá de estouvada; e mais se achegasse Iara emergindo das profundezas aquáticas com todos os gozos de sua vagina de mil cheiros só para mim; e mais estrondasse lasciva Mãe da Lua aos requebros para me fazer Urutau perdido nas noites longas dos seus lençóis de nuvens e perdições eternas; e surpreendesse como se fosse lúbrica emparedada da Rua Nova a me fazer desfrutar de todos os seus dotes corporais para lá de bem aquinhoados; e se deleitasse Mãe do Ouro num baião arretado de trocar nossas pernas e me perder cintura acimabaixo no rastapé de seu gingado; e se agigantasse Cobra Grande dançado com as bruxas potiguaras um forró descabelado às umbigadas do seu ventre incendiário no meu; e se fizesse enfeitiçada Serpente da Ilha do Fogo para se enroscar inclemente ao meu tronco e sexo; e agarrada em como se fosse a Galega de Santo Amaro a me inundar com todos os seus beijos na libação celebrante à minha apoteose fálica, pagando de Mula-sem-cabeça para me trazer os seios de mel de Manaira, bem mais que Branca Dias abrindo-me suas ostensivas coxas abundantes e roliças a me ofertar todos os tesouros guardados no fundo da lagoa, a folgar dentro do vestido colado às saias soltas e longas levantadas pelo vento despudorado pra me dar de mão beijada sua intimidade mais secreta. E a me arrastar por seus folguedos libidinosos arrebitando os glúteos no sacolejo rebolado, toda dissimular com seus olhos refratários como quem adivinha da minha secura pagã, como se conhecesse de cor e salteado a minha alma levada pelo contágio misterioso da sua. E mais me arrebata toda folgazã com os ombros encolhidos pelos braços espremendo os seus seios fartos sobressaindo-se no decote abissal para que eu sonâmbulo possa mergulhar incólume. E mais estala os dedos para roubar minha hipnose e aguçar minha atenção, abrindo os cotovelos para se tornar alada com seus tornozelos levitando na inquietude dos joelhos que fechabrem ao ritmo dos beijos jogados das suas mãos pra mim, mordiscando os lábios às lambidas de sua língua provocante, enquanto suas mãos manipuladoras insinuam tomar-me para si mais que capturado à sua sanha tentadora a se espalmar sobre minha exiguidade. Ah, ela e o seu beijo com o gosto da escuridão das matas que não mais existem, com seus esfregões deslizantes em meu corpo e a se contorcer uivante sedutora Alamoa a mim concedida para que lhe rompa os lacres, presilhas, botões arrancados das casas, elásticos partidos à força, a tomar sua pélvis, enquanto brinca com a mão em concha recolher meu pênis aos mimos, a lamber meu tórax e obstinada beber meu suor até a glande pingando minha ereção com a coragem de ser fertilizada pela minha ejaculação dentro de si inteiro náufrago no ritual de suas pernas trepadeiras envolventes; e mais me apertar contra si na simplicidade dos que amam, encurralada arfante ao meu abraço concupiscente que guarda o seu elixir de viciada em vida para muitas noites e ela é toda plena de dentro pra fora e mais que enlevada pela minha priápica libação. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Sorrir é definitivamente um dos melhores remédios de beleza . Se você tem um bom senso de humor e uma boa abordagem da vida, isso é lindo... Só porque uma situação é sombria não significa que você não tenha todo o direito de sorrir... Na verdade, só existe uma maneira de realmente exalar beleza: a partir do seu próprio contentamento em sua vida e da sua própria satisfação dentro de si mesmo... Falhe rápido. Fracasse frequentemente… As pessoas mais talentosas do mundo têm ideias ruins. Isso é uma coisa boa para aprender... Pensamento da atriz, cantora, roteirista e escritora estadunidense Rashida Jones.

 

ALGUÉM FALOU: A dança é uma parte essencial da vida que sempre esteve comigo. Se você dançar, você dança porque precisa. Toda dançarina dói, você sabe. Vá para dentro todos os dias e encontre a força interior para que o mundo não sopre sua vela para fora. Quando você tem fé em algo, é o seu motivo para estar vivo e para lutar por isso. Em saber como superar pequenas coisas, um centímetro de cada vez, gradualmente quando as coisas maiores vêm, você está preparado... Pensamento da bailarina, coreógrafa, antropóloga, educadora e ativista afro-americana Katherine Dunham (Kaye Dunn – 1909-2006).

 

MULHERES NEGRAS – [...] aceitar a sentença como culpada significaria apenas que eu me considero menos que digna da verdade, que prezo como comunista e como ser humana e também inadequada ao total desprezo com que considero tais atuações sórdidas. [...] eu descubro que somos nós, os réus, que somos moralmente livres e, pelo contrário, são os promotores e a própria Corte que ficam nus diante da Declaração dos Direitos, da Constituição e do povo de nosso país. [...] O processo de reflexão, como Vossa Excelência bem sabe, é um processo que desafia o cárcere. Quando isso tudo ferver, não são as políticas e práticas de nossos promotores – que se assemelham à prática do Estado policial – que virão à tona, mas seu medo desesperado do povo. Nada indica isso mais, Vossa Excelência, do que nossa exposição do júri tendencioso proveniente de um sistema que praticamente exclui Negros, Porto Riquenhos e Trabalhadores Manuais. Esta exclusão não existe por falta de qualificações ou mesmo por dificuldades financeiras, mas por causa da discriminação deliberada baseada no preconceito da classe dominante de supremacia branca cultivada conscientemente, que domina nossa arrogante cultura ocidental [...] Tudo isso não é mais do que uma prova de que também fomos julgados por nossa oposição às ideias racistas, parte integrante do impulso desesperado dos homens de Wall Street para a guerra e o fascismo? Um pensamento atravessou-me ao longo deste julgamento e me permeia ainda, e é o seguinte: Durante os nove meses e meio deste julgamento, milhões de crianças nasceram. Eu falo apenas daqueles que vivem. O futuro dessas crianças, incluindo os de nossos réus e até mesmo os netos de Vossa Excelência, será tornado mais seguro pela prisão de 13 homens e mulheres comunistas cujos crimes não são atos criminosos, mas a defesa de ideias? Não é isto uma violação tirânica do sonho americano de “vida, liberdade e busca da felicidade”? [...] Basta ser negro na América para saber que pelo crime de ser negro somos diariamente condenados por um governo que nos nega direitos democráticos básicos, o direito de votar, de exercer cargos, de ser juiz, de servir em júris, direitos negados à força no Sul e também no Norte. [...] Se, fora desta luta, a história avaliar que eu e meus co-réus fizemos uma pequena contribuição, considerarei meu papel pequeno de fato. As gloriosas façanhas de heróis e heroínas antifascistas, hoje honradas em todas as terras por sua contribuição ao progresso social, serão, assim como o papel de nossos promotores, também medidas pelo povo dos Estados Unidos nos dias que estão por vir. [...]. Trechos da declaração As mulheres negras podem pensar, falar e escrever!... da jornalista e ativista trinitário-britânica Claudia Jones (1915-1964), extraída da obra o Claudia Jones – Beyond Containment (Ayebia Clarke, 2010), organizado por Carole Boyce Davies, declaração esta feita antes de ser condenada a um ano e um dia de prisão pelo Juiz Edward J. Dimock, após um julgamento de nove meses de 13 líderes comunistas na Foley Square, Nova York, 1953. Veja mais aqui.

 

RENOVAÇÃO DO HOMEM -  [...] A verdade mais profunda, só a encontra um indivíduo [...] Cada homem deixa de ser o indivíduo ligado ao dever, à moral, à sociedade, à família. Ele não se torna nessa arte senão o que há de mais elevado e lamentável: ele se torna homem. Eis o novo e o inaudito em relação às épocas anteriores. Enfim não se pensa mais aqui nas idéias burguesas a respeito do mundo. Não há mais aqui nenhuma relação que vele a imagem do humano. Nenhuma história conjugal, nenhuma tragédia que resulte do choque entre a convenções e a carência de liberdade, nenhuma peça sobre o meio, nenhum chefe severo, oficiais prazenteiros, nenhuma marionete que, pendurada pelos fios das visões de mundo psicológicas, jogue, ria e sofra com leis, pontos de vista, erros e vícios dessa existência social construída e feita pelos homens... [...]. Trechos extraídos da peça teatral em duas partes Da aurora à meia-noite (1912), do dramaturgo e literato alemão Georg Kaiser (1878-1945). Veja mais aqui.

 

SAPATINHO DE CRISTAL - [...] Quero ser bom... procuro ser bom, tento sim, e gostar de todo mundo. Mas há algumas pessoas – algumas pessoas de quem não consigo gostar, por mais que tente. Eu os odeio - aí! [...]. Trecho extraído da obra The Glass Slipper (John Goodchild, 1983), das escritora e dramaturga britânica Eleanor Farjeon (1881-1965), que na obra Over the Garden Wall (Frederick A. Stokes Co, 1933), expressa que: [...] E algum jovem país sente falta Dando um beijo no rapaz, Tenho certeza de que os tempos antigos não eram tão bons assim. [...], enquanto na obra The New Book of Days ( RHCP, 2013), expressa que: [...] Fiandeiros ao Sol eles giram para a vida que é a sua necessidade, \ Eles giram para a vida que parece ganância, \ Eles ficam inconscientes enquanto giram \ Das coisas em que trabalham, \ Salvo porque servem para alimentar a querida vida. \ No ar outonal suas redes \ Penduram, e como setembro molha\ A teia com orvalho, \ ou brilha nela \ Até que a película de luz se acenda,\ O olho que a olha esquece \ A razão pela qual o trabalho começou; \ O olhar curioso da criança e do homem \ Vê apenas que as dores dos fiandeiros \ Capturaram a beleza em suas correntes transparentes [...]. Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS - CADEIA DE MULHERES - Estas são as estações que Perséfone prometeu \ enquanto ela girava nos calcanhares -\ aqueles que escurecem, até não ficarem mais verdes\ enfaixa o que sinto.\ Agora toques de ouro pontilham os galhos,\ semanas promissoras de tempo\ desaparecer, encontrando as pegadas\ ela saiu quando se virou para escalar. MEU RAPTOR – Minha mente pairava sobre meu bebê, como \ um raptor e congelou tudo o que viu.\ Eu olhei através da minha própria barriga grávida \ perímetros e encontrou seu coração para atacar\ atento até, indefeso com a libra\ de ainda mais sangue, ele pareceu se acalmar.\ Foi minha perda me sentir como Deus sozinho\ por um novo sempre ouvindo, para alcançar\ dentro para que seus ouvidos compartilhem o discurso voador\ Eu ouvia isso constantemente. Dentro do meu crescido\ silêncio, meu som, meu corpo barulhento onde\ o bebê virou, minha mente aprendeu a não se importar\ se os pensamentos que senti ele percebeu sem medo\ eram só meus - ou se ele podia ouvir. Poemas da dramaturga, poeta, editora, tradutora e artista performer estadunidense Annie Finch.

 

OUTRAS SACADAS DA HORA

 

 Foto: Arpoador, de Bárbara Angel.
Ouvindo Danse of the Blessed Spirits, do compositor alemão Christoph Willibald Gluck (1714 – 1787), com a English Chamber Orchestra, regente: Raymond Leppard.


HERMANN HESSE – Li o escritor alemão Hermann Hesse (1877 – 1962) pela primeira vez lá por volta de 1977 quando ganhei de presente de uma colegamiga que cursava comigo Letras na faculdade: O lobo da estepe (1927). Fiquei maravilhado! Pouco tempo depois a mesma me presenteou com O jogo das contas de vidro (1943). E pelas mãos do poetamigo e artista plástico Ângelo Meyer, fui agraciado com Sidarta (1922). Não é à toa que este autor ganhou no mesmo ano de 1946 dois prêmios: o Goethe e o Nobel de Literatura. Impressionado com sua obra, dele guardei algumas palavras pinçadas de suas obras: “Não devemos fugir da vita activa para a vita contemplativa, nem vice-versa, mas variando entre as duas, estar sempre a caminho, nas duas ter a nossa morada, participar de ambas”. E mais essa: “Só me interessam os passos que tive de dar na vida para chegar a mim mesmo”. Veja mais aqui, aquiaqui


WISLAWA SZYMBORSKA – A poeta polonesa Wislawa Szymborska (1923 – 2012), que ganhou Prêmio Nobel de Literatura, escreveu esse belíssimo poema: “Por que a palavra corça surge em meio a esse bosque escrito? Para bebericar água da primavera descrita cuja superfície copiará seu focinho mole? Por que ela levanta a cabeça; será que ouve alguma coisa? Debruçada sobre quatro pernas finas emprestadas da verdade, ela pica até as orelhas sob os meus dedos. Silêncio - esta palavra também se agita por toda a página e parte os ramos que surgiram a partir da palavra "bosque". De emboscada, definidas para atacar a página em branco, estão palavras não muito boas, garras de cláusulas tão subordinadas que nunca irão deixá-la ir embora. Cada gota de tinta contém um suprimento justo de caçadores, equipados com olhos apertados por trás de suas vistas, preparados para mergulhar a inclinada caneta a qualquer momento, cercar a corça e lentamente apontar as suas armas. Eles se esquecem de que o que está aqui não é vida. Outras leis, preto no branco, valem. O piscar de olhos vai demorar tanto quanto eu disser, e, se eu quiser, será dividido em pequenas eternidades cheias de balas, paradas em pleno voo. Nada vai acontecer, a menos que eu diga. Sem a minha bênção, nem uma folha cairá, nem uma lâmina de grama irá se dobrar sob aquele pequeno casco. Há então um mundo onde eu governe absolutamente o destino? Um tempo que eu ligue com cadeias de sinais? Uma existência tornada interminável sob meu lance?O prazer da escrita. O poder de preservação. Vingança de uma mão mortal. (O prazer da escrita, tradução de Josette Monzani e Augusto Cesar Cavalcanti). Veja mais aqui e aqui.


EVELYN LAU – Essa é do livro A fugitiva: o diário de uma menina de rua, da escritora canadense Evelyn Lau: Você se tornou aquilo que todos os assistentes sociais que sempre se preocuparam com você temiam. Seu temor mais profundo. Uma prostituta viciada. [...] A verdade dói, não dói? [...] irônico que algumas pessoas a quem fomos ensinados a respeitar, os professores, os homens de negócios e as ‘figuras de autoridade’, são os mesmos homens que cruzam as ruas procurando por garotas novas para afirmar sua masculinidade, para se sentirem desejados [...]”. (LAU, Evelyn. A fugitiva: o diário de uma menina de rua. São Paulo: Scipione, 1997).


DANIELLA ALCARPE – Conheci o trabalho musical da cantora e atriz Daniella Alcarpe no Clube Caiubi de Compositores já há algum tempo. Acompanhei o lançamento do seu primeiro álbum Qué que cê qué?, em 2009, e fiquei na torcida com o lançamento do seu O tempo salta, de 2013. Cantora das melhores e atriz de primeira, Daniella vai se firmando cada vez mais como uma das vozes mais promissoras da música brasileira. Estou na torcida! E como hoje é aniversário dela, desejo todo sucesso do universo! Parabéns, Daniella, feliz aniversário. Veja mais dela aqui.


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sexta-feira, abril 18, 2008

KHAYYAM, ORFEU & EURÍDICE, GLUCK, PINA BAUSCH, LÍNGUA PORTUGUESA, GERT WIEGELT & LÍRIA PORTO

 
Curtindo o álbum (2 CDs) da ópera Orfeo ed Euridice (Grammophon, 1998), do compositor alemão Cristoph Willibald Gluck (1714-1787), com a Münchner Bach-Orchester, regida por Karl Richter. Veja mais aqui e aqui.

DANÇA NUA NO MEU CORAÇÃO – Imagem: arte do fotógrafo alemão Gert Wiegelt. – Dança, Eurídice, dança ninfa nua e linda para se certificar do amor do filho de Calíope por tua formosa cupidez de serva do prazer. Vem líquida como o rio Hebrus onde nasci, porque sou mortal navegante desposado por teus encantos de mar. Vem inteira me hospedar como a Trácia porque quero me servir no teu banquete dionisíaco. Ah, me acode encantada Eurídice com a fome sensual de tua boca voraz felatriz, com o ósculo dos teus lábios acetinados no meu sexo argonauta retesado pela magia de tua dança resvaladiça, e me leve aos teus recantos na gula da garganta, para que eu possa corrompê-la com minhas carícias apaixonadas no nosso covil. Vem bailarina tentadora e côncava com seus glúteos salientes no saracoteado enfeitiçador, que a minha clava é a serpente que se enrosca ao teu tornozelo flutuante para usufruir de tuas prendas e matá-la de gozos. Vem requerente e convexa na dança extravagante desnuda a se achegar rendida, ombros inclinados, pele eriçada e toda suspirosa carne ardente e contagiante, exibida esvoaçante entre meus braços abertos, para que minhas mãos possam na roda-viva dos seus passos, delinear as curvas de tua cintura e quadris a me desvendar o segredo do universo. Vem me ensinar o espírito livre de tua natureza selvagem, que eu vou com firmeza de predador invadir tuas florestas e cavernas, destemido e às arremetidas para conquistar tua vulva contraída, aos arrancos na indomável na ginga do teu corpo que não rechaça minhas investidas ao teu submundo. Vem aos regalos me entreter se esfolando no meu tronco com tuas coxas trêmulas a deslizar macia tua fruta madurinha, cheia, úmida, puta esguia tantalizada no meu sexo vigoroso, para que te salve evanescida do Hades com orgasmos exaltados, noiva nua, toda minha. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

PENSAMENTO DO DIA - Ninguém pode compreender o que é misterioso. Ninguém é capaz de ver o que ocultam as aparências. As nossas moradas são provisórias, exceto a última: a terra. Beba muito vinho, amiga. Basta de palavras supérfluas. Pensamento do poeta, matemático e astrônomo persa Omar Khayyam (1048-1131). Veja mais aqui.

ORFEU & EURÍDICE – Na mitologia grega, o poeta e cantor Orfeu, filho da musa Calíope e de Apolo, rei da Trácia, era argonauta muito talentoso ao tocar sua lira: os pássaros paravam de voar, os rios mudavam seu curso, os animais selvagens perdiam o medo e as árvores se curvavam para ouvir os sons aos ventos. Ele apaixonou-se pela bela ninfa Eurídice. Depois do casamento, ela foi vítima de assédios do apicultor Aristeu, ao recusá-lo, ela foi perseguida e, ao tentar escapar, tropeçou em uma serpente que a mordeu e a matou. Orfeu ficou transtornado de tristeza e, armado com sua lira a cantar e tocar, foi até o mundo inferior, o Hades, para tentar trazê-la de volta. A sua canção pungente e emocionada convenceu Caronte, o barqueiro do rio Estige. Em seguida, a canção da lira adormeceu Cérbero, o cão de três cabeças que vigiava os portões. Sua música aliviou os tormentos dos condenados e encantou os muitos monstros que surgiram na sua jornada. Ao chegar ao trono de Hades, o rei dos mortos ficou irritado ao ver que um vivo tinha entrado em seu domínio, mas a agonia na música de Orfeu o comoveu, e ele chorou lágrimas de ferro. Sua esposa, a deusa Persféfone, implorou-lhe que atendesse o pedido de Orfeu, e o atendeu. Eurídice poderia voltar com Orfeu ao mundo dos vivos, mas com uma única condição: que ele não olhasse para ela até que ela, outra vez, estivesse à luz do sol. Orfeu partiu pela trilha íngreme que levava para fora do escuro reino da morte, tocando músicas de alegria e celebração, para guiar a sombra de Eurídice de volta à vida. Ele então quase no final do tenebroso túnel olhou para se certificar de que Eurídice o acompanhava e não a viu. Hades e Perséfone os seguiram e como ficou estabelecido que ele não poderia olhar para Eurídice até chegar ao fim do túnel, Hades a tomou novamente. Por um momento ele a viu, perto da saída do túnel escuro, perto da vida outra vez. Mas enquanto ele olhava, ela se tornou de novo um fino fantasma, seu grito final de amor e pena não mais do que um suspiro na brisa que saía do mundo dos mortos. Ele a havia perdido para sempre. Em desespero total, Orfeu se tornou amargo. Recusava-se a olhar para qualquer outra mulher, não querendo lembrar-se da perda de sua amada. Esse mito deu origem ao orfismo, uma espécie de serviço de aconselhamento; ele ajudava muito os outros com seus conselhos, mas não conseguia resolver seus próprios problemas, até que um dia, furiosas por terem sido desprezadas, um grupo de mulheres selvagens chamadas mênades, caíram sobre ele, frenéticas, atirando dardos. Os dardos de nada valiam contra a música do lirista, mas elas, abafando sua música com gritos, conseguiram atingi-lo e o mataram. Depois despedaçaram seu corpo e jogaram sua cabeça cortada no rio Hebro, e ela flutuou, ainda cantando, "Eurídice, Eurídice!". Com o choro dele, as nove musas reuniram seus pedaços e os enterraram no monte Olimpo. Quanto às mênades, que tão cruelmente mataram Orfeu, os deuses não lhes concederam a misericórdia da morte. Quando elas bateram os pés na terra, em triunfo, sentiram seus dedos se espicharem e entrarem no solo. Quanto mais tentavam tirá-los, mais profundamente eles se enraizavam. Suas pernas se tornaram madeira pesada, e também seus corpos, até que elas se transformaram em carvalhos silenciosos. E assim permaneceram pelos anos, batidas pelos ventos furiosos que antes se emocionavam ao som da lira de Orfeu, até que por fim seus troncos mortos e vazios caíram. Recolhida da obra Uma história natural do amor (Bertrand Brasil, 1997), da escritora e naturalista estadunidense Diane Ackerman. Veja aqui.


DIFICULDADES DE APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA- O presente artigo aborda a questão da dificuldade de aprendizagem da Língua Portuguesa, por ser esta dificuldade um dos problemas que mais incidem nas instituições educacionais. A dificuldade de aprendizagem é um tema que tem apresentado preocupações constantes por incorporar no sistema de ensino e a todos os níveis, novos métodos, com objetivo de desenvolver o próprio sistema.
A APRENDIZAGEM DA LÍNGUA PORTUGUESA: Partindo do entendimento de que a aprendizagem, nas expressões de Nunes et al (2000), Fonseca (1999), Sena e Gomes (2002), Cezar et al (2010), Guerra (1998), Castilho (1998), é um processo pelo qual objetiva a prática pedagógica na produção do conhecimento, participando, portanto, da formação do indivíduo e sua relação com a interpretação e discernimento na vida. O processo de aprendizagem, conforme Calsa (2002), passa pela reorganização do conhecimento anterior do sujeito por meio do estabelecimento de novas relações e inferências desse saber com os objetos de conhecimento que estão em processo assimilação e acomodação. Assim sendo, a aprendizagem, segundo Lores (2010, p. 6), “[...] é um processo de aquisição e assimilação mais ou menos consciente, de novos padrões e novas formas de perceber, ser, pensar e agir”. Já para Freitas (2010, p. 1), a aprendizagem: “[...] é a construção do conhecimento, são processos naturais e espontâneos na nossa espécie”. Há que se entender que, conforme Pozo (1998, p. 32), “[…] embora novas aprendizagens impliquem a reorganização de esquemas conceituais prévios, esses esquemas nem sempre facilitam novas apropriações, pois têm como uma de suas características mais importantes a resistência à mudança”. É nesse aspecto que surgem alguns problemas de aprendizagem que são detectados no processo de ensino. Estes problemas, para Carvalho (2010), são considerados patológicos sob óticas que determinam quatro fatores para os problemas da aprendizagem: os orgânicos, os psicógenos, os específicos e os ambientais. Ou seja, os fatores orgânicos, são aqueles que tratam o indivíduo como um todo e não partes que trabalham isoladas, com integração entre anatomia, bom funcionamento de todos os órgãos, bem como do sistema nervoso central. Os fatores psicógenos são aqueles que são subsidiados pela teoria psicanalítica, que levam em consideração as disposições ambientais e orgânicas do sujeito. Já os fatores específicos, são aqueles que são identificados como desordens específicas ligadas a determinadas áreas também específicas, as quais perpassam questões cognitivas e motoras. Por fim, os fatores ambientais são aqueles que levam em consideração as questões de moradia, bairro, escola e oportunidades de lazer, sendo, pois, mais gerador de problemas escolares como a evasão. Já para Santos et al (2010) e Santos e Marturano (2010), os problemas de aprendizagem não se encontram restritos às causas físicas, psicológicas e sociais. São entendidos como fracassos articulados com fatores de ordem diversa, como de natureza orgânica, cognitiva, afetiva, pedagógica e social, e que são percebidos dentro das interações sociais. É exatamente esta a base do conceito de dificuldades de aprendizagem abrangendo e incluindo problemas decorrentes tanto das características individuais, como das influências ambientais e do sistema educacional. Em vista disso, entende-se que a dificuldade de aprendizagem é vista como a condição que o indivíduo passa pelo desequilíbrio cognitivo a partir do enfrentamento de situações-problemas que são apresentados pela escola. Há também a observação de que a dificuldade de aprendizagem (DA), segundo Nascimento et al (2010), seja uma genérica designação para heterogêneas dedordens identificadas como disfunções do sistema nervoso central, manifestadas na aquisição ou utilização dos recursos auditivos, da fala, da escrita, da leitura e do raciocínio matemático. Assim, a incidência dessas dificuldades de aprendizagem varia de acordo com determinados parâmetros e definição nem sempre concordantes. Essas dificuldades podem ser identificadas a partir de dificuldades emocionais que envolvem desde problemas de integração de natureza auditiva e visual, desinteresse, despedagogia, negativismo, avaliações sub-valorativas, hiperatividade, reforços negativos, programas inadequados, atitudes negligentes, entre outras causas tidas como multinacionais. Encontra-se na literatura que são diversas as causas dessa dificuldade, observando-se que estas são oriundas de explorações psicodinâmicas nas funções cerebrais, bem como causas encontradas nas circunstancias socioeconômicas, de fatores sanitários, complexas privações socioculturais, múltiplos índices, hábitos alimentares e culturais, inclusive, assinalando-se ser a DA o resultado de muitos conflitos e tragédias familiares.Nessas causas, Polity (2010) inclui problemas oriundos de fatores orgânicos, como saúde física deficiente, falta de integridade neurológica, alimentação inadequada; fatores psicológicos, como inibição, ansiedade, angústia; e fatores ambientais, tais como ambientais: educação familiar, grau de estimulação, influência dos meios. Alem disso, elenca os problemas de aprendizagens condicionadas pela situação familiar e pela educação. As primeiras ocorrem pelos distúrbios de aprendizagem condicionados por características da personalidade. As segundas são pelo desempenho escolar e são representadas pelas dificuldades de indivíduos com inteligência normal ou acima da média, apresentadas em reter ou expressar informações recebidas. São divididas em verbais e não-verbais. As verbais são relacionadas às dificuldades para adquirir processos simbólicos de leitura, escrita e matemática, além das dificuldades de aprendizagem escrita, disgrafia e disortografia e a discalculia (matemática). Já as não-verbais são aquelas que apresentam para o autoperceber-se, perceber seu mundo e relacionar-se com outras pessoas, embora tenham inteligência normal ou superior à média e não apresentam nenhum transtorno emocional. Já Lores (2010) amplia esse universo de causas da DA, como a privação psicossocial e a expansão da democratização do ensino que não signifique democratização sociocultural, identificando na etiologia da DA, dois níveis: o endógeno e o exógeno. Nos aspectos endógenos estão os fatores hereditários e a sua influência em termos de desenvolvimento. Já nos níveis exógenos estão as influências das oportunidades e das experiências multi-sensoriais, para além das necessidades de segurança, afeto, interação lúdica e lingüística, responsabilidade e independência pessoal. Fica definido que a etiologia das DA carece de uma observação com tratamento baseado nos fatores patogênicos do envolvimento, requerendo, com isso, partir de um estudo interdisciplinar para a execução de um estudo interdisciplinar integrado. Em razão disso, evidencia-se que só é possível identificar as dificuldades de aprendizagem, quando no contexto não interferirem os fatores socioeconômicos, uma vez que são os fatores de disfunção psico-neurológica do processamento de informação que incidem sobre o problema. Mediante isso, chama-se atenção para a distinção entre dificuldades de aprendizagem que surgem oriundas das razões de desvantagens culturais, do envolvimento socioeconômico e da inadequada aprendizagem, bem como daqueles que são identificados pela deficiência diagnosticada cientificamente ou por inadequada integração pedagógica. Razão esta, pela qual, assinala Lores (2010), passar o problema da DA pela má nutrição, pela privação de estímulos e informação, desencorajamento e desconfiança de reforço, subcultura, hierarquização e diferenciação no critério de homogeneidade cultural incompatível com o social, entre outros. Pelo exposto, entende que a DA tem se tornado amplamente encontrada entre os estudantes e em qualquer indivíduo de nível econômico diverso, e que se sinta ameaçado, confuso ou inseguro diante das exigências escolares. Isso porque, segundo o autor mencionado, é no ambiente escolar que se revelam os problemas emocionais secundários, oriundos de acumulações de ansiedades, depressões, frustrações, agressores e de insucesso dentro de uma cadeia de inadaptações que ocorrem naquele meio. Entretanto, é preciso sempre buscar as causas dos problemas de aprendizagens, tratando-a por meio de uma intervenção especializada e num combate constante e contínuo pela área de atuação da Psicopedagogia. No que concerne ao ensino de Língua Portuguesa, Cezar et al (2010) assinala que resultados publicados pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP/MEC), têm evidenciando a apresentação de resultados insatisfatórios, sinalizando a indicação de que o desempenho dos estudantes nessa disciplina vem se agravando a cada pesquisa. Além do mais, o fato se agrava pela dicotomia existente pelo formato oral e a língua escrita nas aprendizagens, bem como pela ineficácia das metodologias de ensino dessa disciplina, notadamente no campo de referência entre a língua falada e as regras gramaticais. No entendimento de Travaglia (1996), o problema para se compreender e assimilar os conteúdos ministrados em Língua Portuguesa, se deve ao fato da não cessão por parte do professor do espaço importante da atividade de reflexão do estudante, enfatizando uma abordagem metodológica baseada na predominância da abordagem tradicional da regra pela regra. Esta é uma metodologia reducionista e empobrecida que pela repetição fragmentada e ausência da compreensão adequada dos conceitos, funções e relações existentes, dificulta a aprendizagem no ensino da língua. Também Macedo e Pinto (2010) adotam o posicionamento de que: Um dos grandes obstáculos ao processo de aprendizagem é o encaminhamento metodológico usado pelo professor. As complexas relações entre som/grafia, na retenção, na integralização dessas experiências, na compreensão e na interpretação da leitura e da escrita precisam ser bem asseguradas, pois, para que o domínio da linguagem pela criança aconteça, o professor precisa intervir no momento certo, fazendo o aluno elaborar suas hipóteses para que mais tarde possa reelaborar sozinho suas hipóteses. É o que entende Dorziat e Figueiredo (2010) na distinção entre linguagem como expressão do pensamento, como instrumento de comunicação e como forma de interação. No primeiro caso, distinguem como expressão do pensamento se faz necessário o estudo da gramática normativa tradicional, a partir do estudo da morfologia e sintaxe. No segundo caso, observam que como instrumento de comunicação, ou seja, o código, a gramática fica formada de regras a serem memorizadas e seguidas, no sentido de relação entre a língua padrão e a praticada pela fala das classes sociais. No terceiro caso, entendem que a gramática é vista como um feixe de variações e recursos lingüísticos que deve ser usado em função do texto (oral e escrito) que se produz e de seu contexto. Com isso, entendem os autores que esse resultado mostra como a língua portuguesa foi veiculada na grande maioria das escolas: de uma maneira muito desvinculada das reais necessidades da língua e que profissionais estão nas escolas, reproduzindo um ensino também inadequado. O tema atinente à dificuldade de aprendizagem na língua portuguesa, segundo Lores (2010, p. 28) constitui um problema de atualidade mundial. E assinala que: “No respeitante à área em que os alunos têm as dificuldades e estabelecida a relação com a língua materna soube-se que, na leitura e na gramática, as dificuldades são maiores nos alunos de língua materna portuguesa”, detectando as maiores dificuldades nos casos de escrita, leitura e interpretação. Como remédio, a prática do exercício de leitura tem sido eficiente para a superação, seguindo-se um vigilante acompanhamento pedagógico. No entanto, a prática ortográfica tem sido abandonada, quando esta se revela importante e decisiva no tratamento da DA em língua portuguesa. Já entre as dificuldades elencadas por Dorziat e Figueiredo (2010) estão a produção de textos, a ortografia, as regras gramaticais e a interpretação de textos. Tem-se encontrado, ainda, que as DA em língua portuguesa estão elencadas a partir da condição do estudante, carga horária, falta de motivação, da falta de material didático, responsabilidades familiares, relacionamento entre professores e alunos, todas afetando a leitura, a escrita, a gramática e a interpretação. Há observações como a de Olimpio (2010) e Guimarães (2010) que identificam as dificuldades de leitura, escrita e ortografia só serão superadas quando os professores, notadamente os de Língua Portuguesa, se dedicarem ao aprendizado ideal e verdadeiro do aluno, uma vez que a língua exerce um papel de suma importância do desenvolvimento desses alunos, exigindo por isso, o desenvolvimento de um método sólido e eficaz no seu ensino. E mais porque, segundo Silva (2002), a construção de um processo ensino-aprendizagem da língua materna passa necessariamente pela interação do aluno com o professor, com seu meio e com o mundo. Isso em consonância com Olimpio (2010) que se posiciona pela necessudade de condução do trabalho de leitura por meio da interação de diversos métodos, a exemplo das reflexões, compreensões e interpretações promotores de encontros literários, roda de leitura, jogos de adivinhações literárias, paráfrases, entre outras formas que incluam o lúdico.
CONSIDERAÇÕES FINAIS: Ao se observar o problema da aprendizagem em Língua Portuguesa, constatou-se que este problema é flagrado como no contexto de uma situação real que perpassa todas as instituições escolares, carecendo de aprofundamento reflexivo dos profissionais de educação para a matéria. Isso porque essa dificuldade de aprendizagem tem propiciado o insucesso escolar que pode ser oriunda de uma série de fatores, desde problemas disléxicos ou de outras naturezas socioafetiva, orgânica ou psicológica, como também da má preparação do professor ao ministrar os conteúdos. Isso porque o desenvolvimento do estudante depende também das condutas e ações dos adultos e professores. No caso específico da dificuldade de aprendizagem da Língua Portuguesa, recomenda-se, com base na literatura estudada, que no ensino da disciplina não se priorize as questões de errado ou certo, visando, ao contrário disso, estimular a reflexão e a análise sobre a língua. Ao professor de Língua Portuguesa é sugerido que faça uma seleção criteriosa dos conteúdos gramaticais adequados e relevantes, direcionados aos interesses, compreensão e faixa etária dos estudantes, posicionando-se de forma atenta e vigilante para o funcionamento psicológico dos discentes e seu desenvolvimento intelectual. Além do mais, na sua prática diária o professor precisa interagir e conhecer os estudantes, promovendo um acompanhamento individual para ajudar, estimular e compreender o que se passa no resultado da sua prática. Para tanto, se faz necessário estar robustecido de sensibilidade que seja capaz de detectar as mudanças que ocorrem na sala de aula. Nessa condução, é de fundamental importância a interação, especialmente pela condução do professor em fomentar e proporcionar ao discente a promoção da construção do discurso próprio, por meio do destaque de suas próprias experiências vivenciadas culturalmente, na amplitude dialógica que seja capaz de refletir a dinâmica intra-interdiscusiva. Como prática eficiente para reverter esse quadro, há a necessidade de mudança na produção dos conhecimentos articulando-se com a vida cotidiana, propiciando uma identidade entre a realidade do estudante e o conteúdo ministrado na sala de aula. Neste sentido, essa identificação com a realidade dada proporciona o entendimento do aprendizado, evitando-se o aprendizado factual ou mnemônico que possibilita, tão somente, a fixação dos conteúdos para atividades direcionadas. Essa atitude pode facilitar a aprendizagem, dirimindo e propiciando uma identificação com os conhecimentos prévios adquiridos com o indivíduo e a nova propositura efetuada pelo processo de informação. Tal condução leva ao entendimento da necessidade de processos dialéticos na prática pedagógica da Língua Portuguesa, possibilitando uma interação que resulte num desempenho satisfatório pautado na experiência multi-sensorial capaz de desenvolver associações e integridades auditivo-verbais e viso-motoras. É preciso que a escola tome uma atitude preventiva com relação a DA, aparelhando-se de uma orientação psicológica, educacional e pedagógica, detectando o discente com dificuldade de aprendizagem. Também, à escola exige-se a constante orientação aos professores com relação à elaboração de métodos aplicados e a adequação do programa na prática diária, ofertando condições aos profissionais da educação a busca pela compreensão nas situações particulares de aprendizagem e na construção da inteligência. Mais ainda, a escola deve promover o desenvolvimento global de todos os discentes e a integração dos destes no desenvolvimento formativo, incluindo professores e pais na ação preventiva das dificuldades de aprendizagem. É evidente que a escola sozinha não será jamais capaz de superar todos os problemas de aprendizagem, carecendo da intervenção familiar que possui um papel imprescindível no processo formador do indivíduo em todos os níveis.
REFERÊNCIAS
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CARVALHO, Maria. O educador diante da complexidade do processo de ensino aprendizagem. Psicopedagogia, 2008.
CASTILHO, A. T. A língua falada e o ensino de português. São Paulo: Contexto, 1998.
CEZAR, Kelly; FRANÇA, Fabiane; CALSA, Geiva; ROMUALDO, Edson. Alunos com dificuldade de aprendizagem em escrita: um olhar psicopedagógico. Profala, 2008.
DORZIAT, Ana; FIGUEIREDO, Maria Julia. Problematizando o ensino de língua portuguesa na educação de surdos. Ines, 2005.
FONSECA, Victor. Uma introdução às dificuldades de aprendizagem. Lisboa: Editorial Notícias, 1999.
FREITAS, Aparecida. Princípios psicopedagógicos na educação transversal do trânsito: aspectos introdutórios. Psicopedagia, 2008.
GUERRA, Leila Boni. A criança com dificuldades de aprendizagem. São Paulo, 1998.
GUIMARÃES, Ernandes. As dificuldades do ensino da língua portuguesa no Ensino Fundamental da Escola Estadual Coronel Filomeno Ribeiro de Montes Claros – MG, 2008.
LORES, Manuel Frómeta. Dificuldade de aprendizagem em língua portuguesa. 2008.
MACEDO, Adriana; PINTO, Maria das Graças. Problemas de aprendizagem: um olhar psicopedagógico. Revista do Centro de Educação, 2003.
NASCIMENTO, Cláudia; NASCIMENTO, Cléa; SANTOS, Sheila; MORISSO, Matias. As etiologias biológicas dos problemas de aprendizagem: implicações no diagnóstico psicopedagógico. Profala, 2008.
NUNES, Terezinha; BUARQUE, Lair; BRYANT, Peter. Dificuldades na aprendizagem de leitura: teoria e prática. São Paulo, 2000.
OLIMPIO, Luciana. Como diminuir as dificuldades de aprendizagem e em sala de aula. Abec, 2008.
POLITY, Elizabeth. Dificuldade de aprendizagem e família: construindo novas narrativas. Pedago Brasil, 2008.
POZO, J.I. A aprendizagem e o ensino de fatos e conceitos. In: COLL, C. Os conteúdos na reforma: ensino e aprendizagem de conceitos, procedimentos e atitudes. São Paulo: Saraiva, 1998.
SANTOS, Luciana; MARTURANO, Edna. Crianças com dificuldade de aprendizagem: um estudo de seguimento. Portal Educação, 2008.
SANTOS, Carla; SILVA, Maria das Graças; VIRGENS, Maria Lucia; FERNANDES, Nice; SILVA, Valderice; OLIVEIRA, Vera Lucia. Dificuldades de aprendizagem em leitura e escrita nas séries iniciais do Ensino Fundamental. Paidéi@, 2008.
SENA, Maria G. C.; GOMES, Maria F. C. Dificuldades de aprendizagem: na educação. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2002.
SILVA, Cristiane. O ensino de língua portuguesa em debate: problemas e perspectivas. Artigonal, 2008.
SILVA, Maria Cristina. Saberes e dizeres diferentes de crianças que "fracassam" na escola. In: SENA, Maria G. C.; GOMES, Maria F. C. Dificuldades de aprendizagem: na educação. 2ª ed. Belo Horizonte: Autêntica Editora, 2002.p.55-67
TRAVAGLIA, L. C. Gramática e Interação: uma proposta para o ensino de gramática no 1º. e 2º. Graus. São Paulo: Cortez, 1996. Veja mais aqui, aqui e aqui.


Curtindo o DVD com a ópera Orpheus und Eurídike (BelAir, 2009), do compositor alemão Cristoph Willibald Gluck (1714-1787), com coreografia da memorável coreógrafa, dançarina, pedagoga e diretora de balé alemã Pina Bausch (1940-2009) & Ballet de l’Opéra National de Paris. Veja mais aqui.

OS DELICIOSOS VERSOS SENSUAIS DE LÍRIA PORTO

PARELHA

aberta a janela
penetra-se nas trevas
estrelas se fazem
e nus nesse oásis
quedamo-nos

entre as frestas
o caldo da entrega
sal do amor

a morte
hora incerta
deu-nos a deus
corpos inocentes

roupas largadas
montanhas
pegadas
suor

LA BELLA DONNA

seus olhos são noites
seu cheiro manhãs
são tardes seu colo
seu sexo agoras
seus seios auroras
o tempo advoga
a seu favor

O SEMINARISTA

afunda no decote
margeia os mamilos
escorre pelas bordas
desvia pros quadris
desce até as coxas
retorna ao umbigo
enquanto a prima dorme
cheirosa igual canela
biquini cor-de-rosa
virgem por triz

(IN)DE.CISÃO

todos os dias
ao amanhecer
jogo-te ao vento
tomo a decisão
de te esquecer

depois eu me lembro
do teu riso do teu beijo
sinto um arrepio
e me arremesso

ARRASTÃO

teus olhos são rede
o mar é amor
eu - peixe

ÂNGELA

a moça de alma albina
quer ser puta não consegue
fica nua vai pra esquina
quando um homem se aproxima
lua não tem sexo

FLUIDOS

tornei-me assim liquefeita
quando daquela feita
despi-me de nãos e sins

de mim então me perdi
nesta vontade inconclusa
acumulada no rim

ficou a mágoa comigo
fincada dentro do umbigo
um imenso chafariz

minha tristeza de chuva
essa amargura profusa
tem olhos túmidos

sou tal e qual um dilúvio
derramo transbordo enxurro
sangro os pulsos

CÓCEGAS

tuas águas me embalançam
como o mar e o navio

rio

DELTA

entre os joelhos e a virilha
uma ilha de renda a esconder a gruta
de mato dentro

TESÃO

cheiro de arroz cor de leite
salpicado com canela
gosto de cravo pau de canela
um doce manjar dos deuses
para todos os prazeres
para dar água na boca
sentir vontade e voltar

arroz doce com canela
nesta vida passageira
esperarei por cem anos
mais que isso se preciso
retornarás bem cremoso
cheiro de arroz cor de leite
gosto de cravo pau de canela

AL DENTE

saia curtinha
blusinha verde
e o vegetariano
não desgruda os olhos
da sua carne tenra

OBLÍQUA

quando a cama fica imensa
atravesso-a de ponta a ponta
desassossegos pelo meio
insônias no viés

DESMILAGRE

eu te abismo
tu me abismas
e em queda livre
precipitamo-nos

o fundo
era previsível
a superfície
nem santo

DI_AMANTE

eu te quero sol de todo dia
e só vens na lua cheia

a bola de neve do meu medo
(não sou a amada sou o pouso o oásis)
te traz na primavera do ano bissexto

assusta-me à distância
o cometa halley

SEM PÉS NEM CABEÇA

ali
no ponto gê
a tomada elétrica
deixa guiomar
de pernas pro ar

MAGO

alguém que me queira como sou
que me pegue e me esfregue
até que eu veja o gênio
da lâmpada

DE TODAS AS FÓRMULAS

fazes-me falta

em todas as fases
faltas-me

LADAINHA

faço verso rastejante
igual cobra no papel

faço verso flutuante
passarinho lá no céu

faço verso comprimido
fechado dentro do frasco

faço verso assim ridículo
acostumado ao fiasco

faço verso bem florido
nascido em pleno setembro

faço verso esquecido
o jeito dele nem lembro

faço verso galopante
como visita de amante

faço verso des'tamanho
coração de minha mãe

faço verso
faço verso

faço verso

CUNHÃ

parece uma flor de palha
a moça que me atrapalha
sem cheiro e sem encantos
no entanto igual arraia
enreda em sua saia
o dono dos meus quebrantos

O CABAÇO

penso aqui com os borbotões
estou cheia de senões
se fossem abotoados
os pingolins dos meninos
ia ser um desatino
desarrolhar os coitados
acho mesmo houve engano
nas meninas muito pano
os rapazes sem cortina
triste é a nossa sina
um selo de validade
desde a mais tenra idade

LÍDER

peito para frente
bunda para trás
e o batalhão atrás

CONQUISTA

a pele da piscina
arrepia-se
com as tuas braçadas

DIABA

nem mais bonita rica ou inteligente
queria tão somente ser o seu tipo
a mulher que ele escolhesse sem titubeio
sem avaliar os prós os contras
a que tivesse a medida
o exato tanto
entre puta e santa

LIRIA PORTO – A poeta e professora mineira Liria Porto tem vários de seus excelentes poemas publicados em diversas páginas, revistas, sites e portais da web. Veja mais aqui.



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