LITERÓTICA:
O BEIJO DANÇA... - Ela ilumina a hora com seus pés dançantes
aos frevos das mulheres que gravitam todos os esgares glamourosos, com suas
pernas luzidias sobre as ousadias festivas da Cabra-cabriola pelos salões multicores
da minha alma aniquilada. Ela chega com o escarcéu do cortejo da princesa de Jericoacoara na festa dos caboclinhos
desregrados com as danaides que se jogam nuas às flechadas de firmes pisadas
jactantes, para sorver meu sangue
com todos os seus tesouros desencantados. E mais rodopiante com zanga
fingida e pudores dissimulados da Cumadre Fulôsinha pelo maracatu de baque
solto virado matadentro com todas as gritarias das abusões mais pavorosas; e se
sacodisse como se fosse a Galega do Queixão embalada num xote para o seu trote
de égua no cio a me servir como se eu fosse Dioniso arrodeado de bacantes
lúbricas e o tagaté não acabasse tão cedo. E mais se insinuasse aliciante e
lavada de suor como se fosse Mãe d’Água enlouquecida num galope à beira-mar
incentivada pelas mulheres vitoriosas do Tejucupapo para saudar a minha volúpia
para lá de estouvada; e mais se achegasse Iara emergindo das profundezas aquáticas
com todos os gozos de sua vagina de mil cheiros só para mim; e mais estrondasse
lasciva Mãe da Lua aos requebros para me fazer Urutau perdido nas noites longas
dos seus lençóis de nuvens e perdições eternas; e surpreendesse como se fosse lúbrica
emparedada da Rua Nova a me fazer desfrutar de todos os seus dotes corporais para
lá de bem aquinhoados; e se deleitasse Mãe do Ouro num baião arretado de trocar
nossas pernas e me perder cintura acimabaixo no rastapé de seu gingado; e se
agigantasse Cobra Grande dançado com as bruxas potiguaras um forró descabelado
às umbigadas do seu ventre incendiário no meu; e se fizesse enfeitiçada Serpente
da Ilha do Fogo para se enroscar inclemente ao meu tronco e sexo; e agarrada em
como se fosse a Galega de Santo Amaro a me inundar com todos os seus beijos na
libação celebrante à minha apoteose fálica, pagando de Mula-sem-cabeça para me
trazer os seios de mel de Manaira, bem mais que Branca Dias abrindo-me suas
ostensivas coxas abundantes e roliças a me ofertar todos os tesouros guardados
no fundo da lagoa, a folgar dentro do vestido colado às saias soltas e longas
levantadas pelo vento despudorado pra me dar de mão beijada sua intimidade mais
secreta. E a me arrastar por seus folguedos libidinosos arrebitando os glúteos
no sacolejo rebolado, toda dissimular com seus olhos refratários como quem adivinha
da minha secura pagã, como se conhecesse de cor e salteado a minha alma levada
pelo contágio misterioso da sua. E mais me arrebata toda folgazã com os ombros
encolhidos pelos braços espremendo os seus seios fartos sobressaindo-se no decote
abissal para que eu sonâmbulo possa mergulhar incólume. E mais estala os dedos
para roubar minha hipnose e aguçar minha atenção, abrindo os cotovelos para se
tornar alada com seus tornozelos levitando na inquietude dos joelhos que
fechabrem ao ritmo dos beijos jogados das suas mãos pra mim, mordiscando os
lábios às lambidas de sua língua provocante, enquanto suas mãos manipuladoras
insinuam tomar-me para si mais que capturado à sua sanha tentadora a se
espalmar sobre minha exiguidade. Ah, ela e o seu beijo com o gosto da escuridão
das matas que não mais existem, com seus esfregões deslizantes em meu corpo e a
se contorcer uivante sedutora Alamoa a mim concedida para que lhe rompa os
lacres, presilhas, botões arrancados das casas, elásticos partidos à força, a
tomar sua pélvis, enquanto brinca com a mão em concha recolher meu pênis aos
mimos, a lamber meu tórax e obstinada beber meu suor até a glande pingando
minha ereção com a coragem de ser fertilizada pela minha ejaculação dentro de
si inteiro náufrago no ritual de suas pernas trepadeiras envolventes; e mais me
apertar contra si na simplicidade dos que amam, encurralada arfante ao meu
abraço concupiscente que guarda o seu elixir de viciada em vida para muitas
noites e ela é toda plena de dentro pra fora e mais que enlevada pela minha
priápica libação. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui e aqui.
DITOS & DESDITOS - Sorrir é definitivamente um dos melhores
remédios de beleza . Se você tem um bom senso de humor e uma boa abordagem da
vida, isso é lindo... Só porque uma situação é sombria não significa que você
não tenha todo o direito de sorrir... Na verdade, só existe uma maneira de
realmente exalar beleza: a partir do seu próprio contentamento em sua vida e da
sua própria satisfação dentro de si mesmo... Falhe rápido. Fracasse
frequentemente… As pessoas mais talentosas do mundo têm ideias ruins. Isso é
uma coisa boa para aprender... Pensamento da atriz, cantora,
roteirista e escritora estadunidense Rashida Jones.
ALGUÉM FALOU: A dança é uma parte essencial da vida que sempre esteve comigo. Se você
dançar, você dança porque precisa. Toda dançarina dói, você sabe. Vá para
dentro todos os dias e encontre a força interior para que o mundo não sopre sua
vela para fora. Quando você tem fé em algo, é o seu motivo para estar vivo e para
lutar por isso. Em saber como superar pequenas coisas, um centímetro de cada
vez, gradualmente quando as coisas maiores vêm, você está preparado... Pensamento da bailarina, coreógrafa, antropóloga, educadora e
ativista afro-americana Katherine Dunham (Kaye Dunn – 1909-2006).
MULHERES NEGRAS – [...]
aceitar a sentença como culpada significaria apenas que
eu me considero menos que digna da verdade, que prezo como comunista e como ser
humana e também inadequada ao total desprezo com que considero tais atuações
sórdidas. [...] eu descubro que somos nós, os
réus, que somos moralmente livres e, pelo contrário, são os promotores e a
própria Corte que ficam nus diante da Declaração dos Direitos, da Constituição
e do povo de nosso país. [...] O processo de reflexão, como Vossa
Excelência bem sabe, é um processo que desafia o cárcere. Quando isso tudo
ferver, não são as políticas e práticas de nossos promotores – que se
assemelham à prática do Estado policial – que virão à tona, mas seu medo
desesperado do povo. Nada indica isso mais, Vossa Excelência, do que nossa
exposição do júri tendencioso proveniente de um sistema que praticamente exclui
Negros, Porto Riquenhos e Trabalhadores Manuais. Esta exclusão não existe por
falta de qualificações ou mesmo por dificuldades financeiras, mas por causa da
discriminação deliberada baseada no preconceito da classe dominante de supremacia
branca cultivada conscientemente, que domina nossa arrogante cultura ocidental [...]
Tudo isso não é mais do que uma prova de que também fomos julgados por nossa
oposição às ideias racistas, parte integrante do impulso desesperado dos homens
de Wall Street para a guerra e o fascismo? Um pensamento atravessou-me ao longo
deste julgamento e me permeia ainda, e é o seguinte: Durante os nove meses e
meio deste julgamento, milhões de crianças nasceram. Eu falo apenas daqueles
que vivem. O futuro dessas crianças, incluindo os de nossos réus e até mesmo os
netos de Vossa Excelência, será tornado mais seguro pela prisão de 13 homens e
mulheres comunistas cujos crimes não são atos criminosos, mas a defesa de
ideias? Não é isto uma violação tirânica do sonho americano de “vida, liberdade
e busca da felicidade”? [...] Basta ser negro na América para saber que
pelo crime de ser negro somos diariamente condenados por um governo que nos
nega direitos democráticos básicos, o direito de votar, de exercer cargos, de
ser juiz, de servir em júris, direitos negados à força no Sul e também no Norte. [...] Se, fora desta luta, a história avaliar que eu e meus co-réus
fizemos uma pequena contribuição, considerarei meu papel pequeno de fato. As
gloriosas façanhas de heróis e heroínas antifascistas, hoje honradas em todas
as terras por sua contribuição ao progresso social, serão, assim como o papel
de nossos promotores, também medidas pelo povo dos Estados Unidos nos dias que
estão por vir. [...]. Trechos da declaração As mulheres negras podem
pensar, falar e escrever!... da jornalista e ativista trinitário-britânica Claudia
Jones (1915-1964), extraída da obra o Claudia Jones – Beyond Containment
(Ayebia Clarke, 2010), organizado por Carole
Boyce Davies, declaração esta feita antes de ser condenada a um ano e um
dia de prisão pelo Juiz Edward J. Dimock, após um julgamento de nove meses de
13 líderes comunistas na Foley Square, Nova York, 1953. Veja mais aqui.
RENOVAÇÃO DO HOMEM - [...] A verdade mais profunda, só a encontra um indivíduo [...] Cada
homem deixa de ser o indivíduo ligado ao dever, à moral, à sociedade, à
família. Ele não se torna nessa arte senão o que há de mais elevado e
lamentável: ele se torna homem. Eis o novo e o inaudito em relação às épocas
anteriores. Enfim não se pensa mais aqui nas idéias burguesas a respeito do
mundo. Não há mais aqui nenhuma relação que vele a imagem do humano. Nenhuma
história conjugal, nenhuma tragédia que resulte do choque entre a convenções e a
carência de liberdade, nenhuma peça sobre o meio, nenhum chefe severo, oficiais
prazenteiros, nenhuma marionete que, pendurada pelos fios das visões de mundo
psicológicas, jogue, ria e sofra com leis, pontos de vista, erros e vícios
dessa existência social construída e feita pelos homens... [...]. Trechos
extraídos da peça teatral em duas partes Da aurora à meia-noite (1912), do dramaturgo e literato alemão Georg Kaiser (1878-1945). Veja mais aqui.
SAPATINHO DE CRISTAL - [...] Quero ser bom... procuro ser bom, tento sim, e gostar de todo mundo. Mas há algumas pessoas –
algumas pessoas de quem não consigo gostar, por mais que tente. Eu os odeio - aí! [...]. Trecho extraído
da obra The Glass Slipper (John Goodchild, 1983), das escritora e
dramaturga britânica Eleanor Farjeon (1881-1965), que na obra Over the Garden Wall (Frederick A. Stokes Co, 1933), expressa que: [...] E algum jovem país sente
falta Dando um beijo no rapaz, Tenho certeza de que os tempos antigos não eram
tão bons assim. [...], enquanto na obra The New Book of Days ( RHCP, 2013), expressa
que: [...] Fiandeiros ao Sol eles giram para a vida que é a sua necessidade, \ Eles
giram para a vida que parece ganância, \ Eles ficam inconscientes enquanto
giram \ Das coisas em que trabalham, \ Salvo porque servem para alimentar a
querida vida. \ No ar outonal suas redes \ Penduram,
e como setembro molha\ A teia com orvalho, \ ou brilha nela \ Até que a
película de luz se acenda,\ O olho que a olha esquece \ A razão pela qual o
trabalho começou; \ O olhar curioso da criança e do
homem \ Vê apenas que as dores dos fiandeiros \ Capturaram a beleza em suas
correntes transparentes [...]. Veja mais aqui.
DOIS POEMAS - CADEIA
DE MULHERES - Estas são as estações que Perséfone prometeu
\ enquanto ela girava nos calcanhares -\ aqueles que escurecem, até não ficarem
mais verdes\ enfaixa o que sinto.\ Agora toques de ouro pontilham os galhos,\ semanas
promissoras de tempo\ desaparecer, encontrando as pegadas\ ela saiu quando se
virou para escalar. MEU RAPTOR – Minha mente pairava sobre meu bebê, como \ um
raptor e congelou tudo o que viu.\ Eu olhei através da minha própria barriga
grávida \ perímetros e encontrou seu coração para atacar\ atento até, indefeso
com a libra\ de ainda mais sangue, ele pareceu se acalmar.\ Foi minha perda me
sentir como Deus sozinho\ por um novo sempre ouvindo, para alcançar\ dentro
para que seus ouvidos compartilhem o discurso voador\ Eu ouvia isso
constantemente. Dentro do meu crescido\ silêncio, meu som, meu corpo barulhento
onde\ o bebê virou, minha mente aprendeu a não se importar\ se os pensamentos
que senti ele percebeu sem medo\ eram só meus - ou se ele podia ouvir. Poemas da dramaturga, poeta, editora, tradutora e artista performer
estadunidense Annie Finch.
OUTRAS SACADAS DA HORA