AS
ASAS DA IMAGINAÇÃO - Comigo é nove, corra
dentro!... O meu brevê sempre foi
a imaginação, tal como Julio Verne encantado entre os tons do Close to the
edge do Yes, êxtase catártico no epílogo. Ou noutra trilha, o Concierto
de Aranjuez nos teclados de Tomita: agora eu queria sair de mim. E mais
subir. Outra era o Clair de Lune de Debussy que me fazia virar Fernão
Capelo Gaivota ou o piloto das Ilusões de Richard Bach. Acho que esses sonhos
só Jung possa explicar: eu Blériot atravessando o canal da mancha com meu
aeroplano. Como nada é previsível, lá ia eu na maior doidice com a musa
mecânica no aerobanquete futurista de Marinetti. Foi nela que fui da Zona de
Apollinaire e pelos júbilos de Kafka com os aeroplanos em Brescia e o voo de
D´Annunzio com o piloto Curtis e, como dissera o general romano Pompeu, o
Grande, reiterado por Plutarco, Petrarca e Fernando Pessoa: “navegar é
preciso, viver não é preciso”. No meu caso: voar era preciso. E vou só
contar uma hestória de muitas. Vamos. Veja mais aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - Cada
momento traz uma escolha; cada escolha tem um impacto. Você tem que se
responsabilizar por suas ações e é assim que protegeremos a Terra. A questão
não é se você pode fazer a diferença. Você já faz a diferença. É apenas uma
questão de que tipo de diferença você deseja fazer durante sua vida neste
planeta. Todos os dias nós, como espécie, fazemos muito para destruir a
capacidade da Criação de nos dar vida. Mas essa Criação continua a fazer tudo
ao seu alcance para nos dar vida de qualquer maneira. E isso é amor verdadeiro.
Pensamento da escritora, ativista e ambientalista estadunidense Julia
Butterfly Hill. Veja mais aqui e aqui.
ALGUÉM FALOU - Posso
confirmar oficialmente que o caminho para o coração de um homem hoje em dia não
é através da beleza, da comida, do sexo ou do caráter sedutor, mas apenas da
capacidade de parecer pouco interessado nele. Está provado por pesquisas que a
felicidade não vem do amor, da riqueza ou do poder, mas da busca de objetivos
alcançáveis. A corrupção dos bons pela crença em sua própria bondade infalível
é a armadilha mais sangrenta e perigosa do espectro humano. Depois de vencer
todos os seus pecados, o orgulho é quem o conquistará. Um homem começa
decidindo que é um bom homem porque toma boas decisões. Em seguida, ele está
convencido de que qualquer decisão que tome deve ser boa, porque ele é um bom
homem. A maioria das guerras no mundo são causadas por pessoas que pensam que
têm Deus ao seu lado. Sempre fique com pessoas que sabem que são imperfeitas e
ridículas. Pensamento da escritora e roteirista
britânica Helen Fielding. Veja mais aqui.
O DIA QUE DUROU 21 ANOS – O
premiado documentárioO Dia que Durou 21 Anos (2013), dirigido por Camilo
Galli Tavares, trata sobre a preparação do golpe de 1964, quando já em 1962 os
Estados Unidos já se envolviam na trama, em conformidade com relatórios confidenciais
que contam, minuto a minuto, hora a hora, a estratégia estadunidense. O filme
parte da crise provocada com a renúncia de Jânio Quadros, em 1961, prosseguindo
até 1969, com o sequestro do embaixador Charles Burke Elbrick, por grupos armados.
Inicialmente o filme foi concebido para contar a história do jornalista Flávio
Tavares, militante da oposição, porém tendo por base o livro 1964 Visto e
Comentado pela Casa Branca (1977), de Marcos Sá Corrêa, contando,
inclusive, com entrevista do professor de Havard e embaixador estadunidense,
Peter Kornbluh; dos historiadores Carlos Fico e James Green, sobre as questões
ligadas às ligas camponesas, desapropriação de hectares agrícolas e de empresas
estrangeiras nacionalizadas no Rio Grande do Sul, quando o então presidente
Kennedy recebe a sugestão para afastamento de Goulart, autorizando a
conspiração contra o país, escolhendo Castelo Branco para suceder o presidente
deposto, sendo enviada uma força-tarefa naval para o porto de Santos,
denominada de Operação Brother Sam, composta de um porta-aviões, quatro
contratorpedeiros e cruzadores de apoio, além de navios petroleiros. Veja mais
aqui.
PROCESSO CIVILIZATÓRIO – [...]
O indivíduo – ou, mais exatamente, aquilo a que se refere o atual conceito
de indivíduo – reaparece uma vez após outra como algo que existe “fora” da sociedade.
Aquilo a que se refere o conceito de sociedade volta repetidamente como algo
que existe fora e além do indivíduo [...] A fim de superar esse beco sem
saída da sociologia e das ciências sociais em geral, é necessário deixar clara a
inadequação de ambas as concepções, a de indivíduos fora da sociedade e, igualmente,
a de uma sociedade fora de indivíduos [...]. Trechos da obra O processo
civilizador: uma história dos costumes (Jorge Zahar, 1994), do sociólogo
alemão Norbert Elias (1897-1990). Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui
e aqui.
A VELHA FAMILIA - [...] No fundo, até o
homem mais velho do mundo se recusa a aprender com os próprios erros, pensei
[...] Certa vez, minha mãe me explicou que o luto tem cinco estágios e
que ela ajudava seus pacientes a passar por todos eles sem que nenhum deles se
tornasse patológico. Lembro-me que esses
estágios foram de descrença e depois raiva. Não me lembro do
terceiro e do quarto, mas o último foi a aceitação. [...]
A pior coisa da morte são aqueles que ela deixa vivos.
[...] Às vezes nascem dias prometendo beijos e abraços. Às vezes chegam
esses beijos e abraços, e você não pode culpar o dia por nada, mas eles não são
de forma alguma o que você esperava. Só se pode pedir um
pouco mais daqueles dias, e felizmente esse desejo é sempre atendido: que
morram o mais rápido possível e que chegue um novo dia. [...].
Trechos extraídos da obra La vieja familia: La saga de los
longevos (La Esfera de los Libros, 2013), da escritora espanhola Eva
García Sáenz de Urturi.
HOMENAGEM DEVIDA
Deito-me de comprido no seu leito morno.
A claridade do dia está mais de acordo.
Com a ânsia obscena de prolongar, à luz crua,
O noturno festim, pois a luz acentua
O afinco, a fúria do nabo, e vai nisso tudo
Uma estranha vontade de fazer-se galhudo.
Nua em pelo, ela se agacha sobre o meu rosto
Para ser lambida: ontem me portei a gosto
E esta será (boa, ela, alem do que pensa)
A minha paga, a minha real recompensa.
Eu disse real, devia dizer divina:
Nádegas de carne sublime e pele fina,
Branco, puro perfil de azuladas nervuras,
Sulco de intenso perfume, a rosa sombria,
Lenta, gorda, e o poço do amor, as iguarias!
Fim do festim, de sobremesa a cona, a lira
Em cujas pregas, cordas, a língua delira!
E essas nádegas ainda, lua de dois
Quartos, alegre e misteriosa, em que depois
Irei alojar os meus sonhos de poeta,
Meu terno coração e meus sonhos de esteta!
E amante, ou melhor, amo em silêncio obedecido,
Reina ela sobre mim, o seu servo rendido.
(trad. José Paulo Paes)
PER AMICA SILENTIA
O alvo cortinado de musselina
Que o reflexo fraco da luminária
Faz parecer uma vaga opalina
Na sombra lassa e misteriosa,
Os longos cortinados de Adelina
Ouviram, Clara, a tua voz risonha
Tua voz suave, meiga e cristalina
Que uma outra voz enlaça, furiosa.
“Amar, Amar!” diziam essas vozes,
Clara, Adelina, presas adoráveis
Do nobre voto das almas sublimes.
Amai! Amai! Ó caras eremitas,
Pois nesses dias malditos, pelo menos
O glorioso Estigma vos distingue.
(Tradução de Heloisa Jahn)
ARIETA
Chora o meu coração
Como chove na rua;
Que lânguida emoção
Me invade o coração?
Ó frio murmúrio
Nas telhas e no chão!
Para um coração vazio,
Ó aquele murmúrio
Chora não sei que mal
Meu coração cansado.
Um desengano? – Qual!
É sem causa este mal
É a maior dor – dói tanto -
Não se saber por que,
Sem ódio ou amor, no entando,
O coração dói tanto.
(tradução de Guilherme de Almeida)
MORAL ABREVIADA
Uma nuca de loura e de graça inclinada,
Um colo que arrulha, belos, lascivos seios,
Com medalhões escuros na mama afogueada,
Esse busto se assenta em baixas almofadas
Enquanto entre duas pernas para o ar, vibrantes,
Uma mulher se ajoelha - ocupada com quê?
Amor o sabe - expondo aos deuses a epopéia
Singela de seu cu magnífico, um espelho
Límpido da beleza, que ali quer se ver
Pra crer. Cu feminino, que vence o viril
Serenamente - o de efebo e o infantil.
Ao cu feminino, supremo, culto e glória!
(Tradução de José Paulo Paes).
BILHETE PARA LILY
Minha jovem compatriota,
Eu gostaria que viesses
Esta noite, me visitar.
Quero uma farra escandalosa,
Com beijos grandes e pequenos
Para os meus grandes apetites!
E os teus, será que são menores?
Primeiro vou beijar teus lábios,
Todos! É o prato que prefiro
E o jeito como faço a coisa
(E as outras todas de que gosto)
É guloso e compenetrado.
Hás de passar os teus dedinhos
Na minha barba de profeta
Enquanto acaricio a tua.
Depois, em teu colo de lírio
Que meu ardor cobre de rosas,
Hei de pousar a boca ardente;
Meus braços vão entrar no jogo
Tontos, em volta das delícias
Que estão abaixo da cintura.
As mãos, depois de derrotarem
A ira fingida de suas mãos,
Darão palmadas carinhosas
No teu traseiro, onde haverá
Novo embate, depois porei
A gravidade no teu centro…
Sou eu quem bate. Ai, grita: Entra!
(traduzido por Heloisa Jahn)
GOSTOS IMPERIAIS
Assim como Luís XV, não gosto de perfumes.
Só posso suportá-los no justo limite.
Na cama, por favor, nem frascos nem sachês!
Mas ah, que um ar singelo e picante flutue
Ao derredor de um corpo, desde que me excite;
E meu desejo preza e minha ciência aprova
No corpo apetecido, quando se desnuda,
O odor da picardia, o odor da puberdade
E o hálito excelente das belas maduras.
Mais: me fascinam (cala, moral, essa arenga)
Como dizer? Essas exalações secretas
Do sexo e arredores, antes e depois
Do abraço celestial e durante as carícias,
Sejam elas quais forem, devam ou pareçam.
Mais tarde, sonolento, com o olfato lasso,
Saciado de prazer, como os outros sentidos,
Quando meus olhos vão morrendo noutro rosto,
Quase extinto também, lembrança e previsão
Do entrelaçamento das pernas e braços,
Da união dos pés nos lençóis úmidos, vermelhos,
Sobe desse langor de agradável volúpia
Tanta humanidade que dá um certo embaraço
Mas tão bom, tão bom, que dá ganas de comer!
Como é possível desejar, por cima disso,
Uma fragrância estranha, de planta, de besta,
Mudando a percepção, confundindo os sentidos,
Quando disponho, para aumentar a volúpia,
Da quintessência, exatamente, da beleza!
OS DESCUIDOS DA VIDA
Nádegas, alma, mãos, meu ser todo em roldão,
Dorso, memória, pés, peito, nariz, orelha
E a fressura, tudo entoa uma canção
E uma roda viva em mim se destrambelha.
Canção, dança de roda, ambas uma demência
Mais qu'infernal, divina, ou vice-versa, enfim,
Onde voo e mergulho, e numa turbulência,
No bafo e suor seus já me perco em mim.
Meus dois Charles, um, jovem, tigre, olhar de gata,
Rosto quase infantil e corpanzil de hussardo;
O outro, um mocetão, só descarado acata
O meu rego a correr, bem fundo, pró seu dardo.