CÉU CAETÉ DE TUPÃ –
INTRODUÇÃO DE VOO: O SOL NASCE PARATODOS! - “Lá se foi tudo quanto a ave fiou”... - Amanhecia e todo dia um pássaro de mil cantos pousava à minha janela. Quando
era janeiro os seus zis cantos ensinavam a mim o que são todas as manhãs e o
maior exemplo de justiça que se podia imaginar. Foi assim que eu vi o alvorecer
no seu gorjeio, a me ensinar os oito minutos e meio que levava o Sol para tocar
minha pele. O toque solar aquecedor representava a reluzência indiscriminada
para todos e tudo. É que o fulgir do Disco Alado sempre me deu o privilégio de
constatar a maior e mais verdadeira liberdade, mesmo que eu tivesse o prisma de
Newton ou as citações da Cidade de Campanela. Aí a primeira lição: "o amor à coisa pública aumenta na
medida em que se renuncia ao interesse particular... ninguém deve apropriar-se
das partes que cabe aos outros". O Etéreo Brilhante dissipava todas as mais esdrúxulas e
tempestuosas vicissitudes inopinadas em mim, porque dava vida para serviço dos
homens e tudo o mais que estivesse sobre a crosta terrestre. Sem saber aprendia
dos maias o que pouco se apreende: que tudo que se nasce durante a noite, só
se realiza ao amanhecer. A segunda lição, a modéstia que o Vigoroso Iluminador
me dava: o ser humano, um ser subalterno e acidental. Pois, irradiante me
ensinava que os deuses são matinais para honrar a alma, seguindo com sua
majestade do oriente ao ocidente a caminho da constelação de Lira. Ali eu sentia o dever de ter a
mesma atitude de Manco Capac, o inca primeiro: olhos abertos a me inquirir
sobre as criaturas da ignomínia e sua vileza. Curaca silente tirava as sandálias
e sentia o chão, voltado para o Leste. E aplaudia o espetáculo dos clarões da
aurora dourando a vida de todos e de tudo. E beijava os primeiros raios na
catarse do momento e os guardava no meu relicário para entregá-los às mãos
puras, como aqueles que "contemplam-no
como a imagem de Deus, chamam-no de excelso rosto do Onipotente, estátua viva,
fonte de toda luz, calor, vida e felicidade de todas as coisas". Era a comunhão para seguir todos os dias e o dia todo fiel contrito pelas
supremas hierofanias solares e aprendendo do Livro dos Mortos: "o ontem me criou. Eis hoje. Eu crio
amanhãs".
Veja mais aqui, aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - O passado sempre é novo. Ele se altera constantemente, assim como
a vida segue em frente. Partes da vida que parecem ter afundado no esquecimento
reaparecem, enquanto, por outro lado, outras afundam por serem menos
importantes. O presente conduz o passado como se este fosse membro de uma
orquestra. Ele precisa desses tons somente e de nenhum outro. Assim, o passado
parece às vezes curto, às vezes longo; às vezes soa, às vezes cala. Só
influenciam no presente aquelas partes do passado que tenham a capacidade de
esclarecê-lo ou obscurecê-lo. Pensamento do escritor e dramaturgo italiano Italo
Svevo - pseudônimo de Aron Hector Schmitz, depois italianizado para Ettore
Schmitz (1861-1928). Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU:
Num mundo onde os conceitos são tantas vezes implementados de forma ad hoc,
parcialmente explorados antes de serem substituídos por outros, é imensamente
revigorante encontrar uma atenção tão séria e sustentada aos blocos de
construção da investigação – e às responsabilidades assim incorridas. Designs
on the Contemporary é uma obra de profunda importância para a filosofia da
antropologia. Em conjunto com outras obras de Rabinow, cria uma configuração
incomparável, uma configuração de pensamento sem igual. Pensamento da
antropóloga e acadêmica britânica Marilyn Strathern. Veja mais aqui.
COMO FUNCIONA A FICÇÃO - […] A literatura difere da vida
porque a vida é amorfa e cheia de detalhes e raramente nos direciona para eles,
enquanto a literatura nos ensina a perceber. A
literatura nos torna melhores observadores da vida; podemos
praticar na própria vida; o
que, por sua vez, nos torna melhores leitores dos detalhes da literatura e vida.
[...] A vida, então, conterá sempre um excedente inevitável, uma margem do
gratuito, um reino em que há sempre mais do que necessitamos: mais coisas, mais
impressões, mais memórias, mais hábitos, mais palavras, mais felicidade, mais
infelicidade. [...] A frase pulsa, entra e sai, em
direção à personagem e afastando-se dela - quando chegamos a “amontoados”,
somos lembrados de que um autor nos permitiu fundir-nos com sua personagem, que
o estilo magniloquente do autor é o envelope dentro do qual este contrato
generoso é
carregado. [...] A casa da ficção tem
muitas janelas, mas apenas duas ou três portas. [...] a
ficção é ao mesmo tempo artifício e verossimilhança, e que não há nada difícil
em manter unidas essas duas possibilidades [...]. Trechos extraídos da obra How Fiction Works
(Vintage, 2009), do crítico literário, ensaísta e
escritor inglês James Wood.
NANA - [...]
mesmo quando a lua parece estar minguando... na verdade ela nunca muda de
forma. Nunca
se esqueça disso. [...]
As pessoas dizem que o amor pode ser desenvolvido, mas no
final a única pessoa que você ama são elas mesmas. é
por isso que você escolhe amar alguém que pode lhe agradar mais.
[...]. Trechos extraídos de Nana
(Cokie – 21 vols, 2006), da escritora e ilustradora japonesa Ai Yazawa.
ESTERILIDADE FINAL
- Às vezes \ O céu
não fecha suas cortinas\ À medida que a primeira noite longa e desolada desce\ Somos
pacientes de terceira classe\ Ou, os menos vulneráveis\ Somos vítimas da
sabedoria\ No momento em que a janela se abre\ E o ar abre caminho\ Sem
expiração apropriada\ Nós sabemos agora\ O que os anos fizeram conosco\ A cama
que está vazia há anos\ De todos os cadáveres e mártires\ Deve finalmente ficar
estéril\ Então pode ficar alto\ E observe sua alma cair infinitamente\ Sobre
braços estranhos.\ Tudo que eu cheiro\ É o fedor de um ferro\ Abandonado em
roupas gastas\ Até que pegaram fogo\ E um círculo molhado\ E dentes brancos\ Sem
dúvida sem sorrir\ E sonhos que morrem\ Quando não há mais varandas para sair\ E
eu tenho escrito poemas há algum tempo\ eu não sei exatamente\ Se esta é a
minha dor, ou a deles. MAS EU SEMPRE PERCO - Através de uma das portas
de fuga\ Foi onde eu me encontrei\ Uma fada está me arrastando de uma luz para
outra\ E nada me acompanha\ Mas risos\ Somos fragmentos incompletos\ Gestos
escondidos um atrás do outro\ Os fragmentos da incerteza\ Brilho\ Na ausência\ Eu
trouxe os olhos para casa\ Os olhares para a privação\ Não avistei ninguém\ Estou
cheio de fraturas\ O que me assusta é que estou tremendo\ Super-heróis sozinhos\
Realize tudo\ A maneira normal\ Todas as mulheres que cometem suicídio são
parecidas\ Todas as mulheres que não cometeram suicídio são parecidas \ Alguém
abriu uma janela\ Para trazer uma grande pilha de papel colorido para dentro de
casa\ O circo está na minha carteira\ Os animais dançam à noite\ Ria sem fazer
barulho\ Eles não têm ideia de como se esconder em um circo\ A luta na minha
cabeça é interminável\Um telefone está tocando\ As novas descobertas do mundo\ Dor,
solidão e desespero\ Você vai dormir em meus braços\ E você sairá do meu corpo
como um pardal\ Existe uma maneira de entrar em contato com o céu?\ Eu travo
guerras contra mim mesmo\ E eu sempre perco. SOLIDÃO - Há outros que habitam
este coração assim como eu;\ Eu os amo eternamente.\ E há loucos em bicicletas
que confundi com mágicas\ a quem esta viagem não capturou;\ minha sorte não
conseguiu me colocar entre eles.\ E aí está você,\ empoleirado nos mapas do
mundo\ acendendo um fogo\ falando comigo sobre a solidão\ em uma costa que
parte e retorna\ como alguém sem vontade de sair de casa.\ Para meu único
amigo:\ Queria que você estivesse aqui,\ para que pudéssemos dar uma longa
caminhada\ junto. Poemas da escritora egípcia Rana al-Tonsi,
autora das obras A Rose for the Last Days (Merit House, 2002), A Homeland Called Desire
(Merit House, 2005), Short History (Arab Renaissance House, 2006), Kisses
(Merit House, 2010), Happiness (Prut, 2012) e When I'm Not in the Air, Poetry
(Jamal, 2014).
OUTRAS D’ARTES MAIS…