quarta-feira, julho 16, 2014

JIŘINA HAUKOVÁ, JANICE DICKINSON, MARSDEN, COSTA-GAVRAS, BENEDICTSSON & XEXÉU


O AMOR AMANHECIA E ERA A VIDA... “Navegar é preciso, viver não é preciso...”. - O meu sonho nascia na vigília. A minha lucidez já era pura alucinação no meio do meio dia: a metafísica de Pessoa, de nada, o onírico. Desde menino meus olhos entressonhavam como se Galileu investigasse os céus para me projetar feito Archytas. E o passarinho ali parou de cantar para se rir do meu pombo mecânico: alçar voo para sair gritando como Arquimedes a descoberta da flutuação dos objetos: Heureka! E quem era eu voando na pipa chinesa de Roger Bacon, pelo campo atmosférico até chegar à troposfera viajando na carruagem aérea do rei Supama. O passarinho mais se ria... E era porque eu mais devaneava como se alcançasse a estratosfera nos veículos aéreos do Ramayana e me sentia pelas alturas como Ramado do Sri Lanka até Ayodhaya, pousando em Uttakosala. E depois pela mesosfera na viagem espacial de Arjuna para alcançar a cidade de Kuvera. E dali, ao contrário de João de Almeida Torto, com o voo de Mirita até a exosfera para nunca mais voltar. Fiz tudo isso sem sair do lugar. Ao meu lado não era o Passarim de Jobim, mas uma simples ave canora que, ao seu modo, insinuou que a minha cabeça era o vento no ninho das quimeras. Era a minha vez de sorrir, realmente, minhas orelhas são asa-delta, então. Sabia: entre onde eu vivo e a galáxia não há distância. Ansiava por alturas sem nunca ignorar o conselho de Dédado, eis a diferença. Como quem vai pelas nuvens, me fiz Exupéry: “Nós não pedimos para ser eternos, mas apenas para não ver os atos e as coisas perderem subitamente seu sentido. O vazio que nos rodeia faz-se então sentir”. Divagava feito Leonardo da Vinci no seu ornithopter: “depois que alguém voa, passa o resto dos seus dias olhando pra cima querendo voltar pra lá”. Quantas vezes não fui Bartolomeu de Gusmão na passarola, ou na máquina voadora de Swedenborg a repetir: “[...] Temos provas suficientes e exemplos na natureza que voar sem perigo é possível, embora quando as primeiras tentativas sejam feitas, possivelmente teremos que pagar pela experiência com um braço ou uma perna”. Eu sabia, mas quantas vezes eu não esvoacei no balão de ar quente dos irmãos Etiene e Joseph Montgolfier, feito a dupla Jean-François de Rozier e François d´Arlandes, porque me sentia mais que eu e todo mundo em mim mesmo. Quantas vezes não me senti montado no aeróstato dirigível ou no balão motorizado de Henri Giffard rasgando a imensidão para alcançar estrelas. Quantas vezes eu me senti sobrevoando com o planador do Sir George Cayley ou no monoplano do inventor neozelandês Richard Pearse, ou no biplano de Hiram Maxim, porque queria ir o mais longe que pudesse. Quantas vezes eu não flutuei pelo horizonte no aerodrome de Samuel Langley e voltei no 14-Bis de Santos Dumont zoando do Flyer dos irmãos Wright, feliz da vida! Ah! Não conto o tanto de vezes em que dei rasantes no hidroaeroplano de Henri Fabre, aos rodopios no girocóptero de Juan de La Cierva e, quase caindo, reaprumei a direção todo desajeitado no ekranoplano do russo Alexeev Rostislav Evgenievich. E muitas foram aquelas em que subi no helicóptero de Paul Cornu, me danando no supersônico concorde de Chuck Yager, mudando de rota com o foguete R.7 da missão Sputnik, para chegar em qualquer lugar no zênite só pra me sentir Yuri Gagarin na Vostok e, no ápice, sacar que a Terra era azul mesmo. E, depois da constatação do espetáculo azulado, me refiz Alan Shepard no foguete Radstone, quando eu já era Neil Armstrong na Apolo 11 seguindo incólume feito o Hubble rumo sem saber para onde. Só sei que pronde fui e se cheguei ou me perdi de mim, me fiz na imensidão com os pés no chão e a cabeça nos ares, decolando para o Tudo sem precisar me achar e foi o que aprendi porque me ensinou tal passarinho... Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Alguém que já está tão fisicamente destruído e, ainda por cima, tão completamente desprovido de espontaneidade mental, não pode ser salvo por uma vida sexual mais natural. É muito tarde. E a vida da sua imaginação decaiu. Pensamento da escritora sueca Victoria Benedictsson (1850-1888). Veja mais aqui.

 

ALGUÉM FALOU: Fui a rainha da disfunção e cometi todos os erros que alguém pode cometer. Siga as tendências de negócios sólidas, não as tendências da moda. Qual é o meu lema quando se trata de dinheiro? Não coloque tanta ênfase nisso! Eu encontro a luz e trabalho, trabalho, trabalho... Pensamento da supermodelo, fotógrafa, atriz e escritora estadunidense Janice Dickinson.

 

DEFINIÇÃO DA DIVINDADE - […] dedicada a uma resposta das dificuldades históricas que foram colocadas contra a afirmação de que o Tempo é o fluxo do movimento cósmico. Esse feito, seremos livres para propor o seguinte: - A pálida luz que treme nas paredes ornamentadas dos nossos templos cristãos é o sorriso irônico da Esfinge, envergonhada e divertida, ao uma vez, que seu segredo não foi arrancado dela. [...] a espada do mundo (o mistério do mundo: o logos e a cruz) é, portanto, aquele Santo Graal que os Cavaleiros da Cross (um Sir Galahad e um Sir Percivaie) em missão para descobrir, a busca do Graal sendo o antigo empreendimento da mente do homem descobrir novamente o significado (que o homem perdeu) que está por trás da cultura mais antiga da humanidade.[...] Pois o logos é este cálice através do qual brilha o vinho da vida do cosmos encarnado; no qual palpita o sopro do universo sempre vivo; em que brilha o sangue vermelho do corpo do Absoluto. [...]. Trechos extraídos da obra The Definition of the Godhead (Egoist, London, 1928), da filósofa, anarcofeminista, sufragista e editora britânica, Dora Marsden (1882- 1960). Veja mais aqui.

 

SONETO DE VERÃO - A presa está ao alcance, e ainda o pássaro \ O galho dobrado na curva não voa; \ A árvore teme engolir o calor do sol, \ Na calma calma tudo se projeta, possuído pela pressa. \ Quando o pensamento não tem forças para perseguir o seu fim, \ Está tenso como a superfície de um poço, \ Sob as sombras imóveis dos capitães das águas, \ O terror capta o cheiro das palavras presas no vazio. \ A grama trêmula não pode tremer \ A membrana do cogumelo treme de febre, \ Está pronto para explodir, mas em terror mudo \ Mantém-se firme na haste. \ Nenhum movimento se cruza \ O ar preso em horror indolente. \ O poderoso meio-dia se esgueira pela floresta. Poema da escritora e tradutora tcheca Jiřina Hauková (1919- 2005).

 


DESAPARECIDO – o drama Missing (Desaparecido - Um Grande Mistério, 1982), dirigido por Costa-Gavras, baseado no livro The Execution of Charles Horman: An American Sacrifice, de Thomas Hauser, por sua vez inspirado na história verídica de Charles Horman, narra a história dele, um jovem escritor e jornalista estadunidense que vive com a esposa Beth em Santiago do Chile durante o governo da Unidade Popular. Ele vive à custa dos artigos de jornais que traduz para uma publicação considerada subversiva e, assim como todos os membros da redação desta, é levado para interrogatório durante o golpe de estado liderado pelo então comandante das Forças Armadas chilenas, general Pinochet. Mas Charles não retorna para casa. Ed, o pai de Charles, desloca-se para o Chile e, junto com Beth, retoma os passos do filho antes de desaparecer. Ambos buscam o apoio de órgãos governamentais tanto estadunidenses quanto chilenos, mas não o recebem de forma adequada e, pelo contrário, o que deveria ser um ponto de apoio se torna um obstáculo. Assim sendo, Ed, até então alienado sobre a política externa, começa a perceber que existem fortes indícios de que o governo de sua nação contribuiu para o golpe e, consequentemente, para o desaparecimento de seu único filho. Em uma discussão com os membros da embaixada dos EUA no Chile, Ed se lamenta por não ser cidadão de um país cuja embaixada ofereceu asilo aos perseguidos políticos. Por fim, Ed e Beth descobrem que Charles foi assassinado no Estádio Nacional e enterrado numa parede, uma maneira comum da repressão chilena esconder os corpos dos torturados. Revoltado, Ed tenta inutilmente processar Henry Kissinger, o então Secretário de Estado de seu país. Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.

 

Ouvindo Elizeth interpreta Vinícius, a Divina Elizeth Cardoso (1920-1990)



ALEXANDER LURIA – O neuropsicólogo russo e especialista em psicologia do desenvolvimento, Alexander Romanovich Luria (1902-1977), foi um dos fundadores da psicologia cultural-histórica juntamente com Vygotsky e Leontiev, e que possuiu uma produção cientifica que se estende por mais de trezentos trabalhos publicados e trinta livros, entre eles A afasia traumática (1947), Funções corticais superiores do homem (1962) e Questões básicas de neurolinguistica (1975). Na sua obra póstuma Pensamento e linguagem: as últimas conferências de Luria, destacamos: “A atividade vital humana caracteriza-se pelo trabalho social e este, mediante a divisão de suas funções, origina novas formas de comportamento, independentes dos motivos biológicos elementares. A conduta já não está determina por objetivos instintivos diretos. Desde um ponto de vista biológico, não nenhum sentido em atirar sementes na terra em lugar de comê-las,, em espantar a presa ao invés de capturá-la diretamente ou afiar uma pedra se não se tem em conta que essas ações serão incluídas em uma atividade social complexa. O trabalho social e a divisão do trabalho provocam a aparição de motivos sociais de comportamento. É precisamente em relação com todos esses fatores que no homem criam-se novos motivos complexos para a ação e se constituem essas formas de atividadepsicquica especificas do homem. Nestas os motivos iniciais e os objetivos originam determinadas ações e essas ações se levam a cabo por meio de correspondentes operações especiais”. Veja mais aqui, aquiaqui.

A FAMÍLIA, DE JACQUES LACAN - A família surge-nos como um grupo natural de indivíduos unidos por uma dupla relação biológica: por um lado a geração, que dá as componentes do grupo; por outro as condições de meio que postula o desenvolvimento dos jovens e que mantêm o grupo, enquanto os adultos geradores asseguram essa função. Nas espécies animais, esta função dá lugar a comportamentos instintivos, muitas vezes bastante complexos. Foi preciso renunciar a fazer derivar das relações familiares assim definidas os outros fenômenos sociais observados nos animais. Estes últimos aparecem pelo contrário tão distintos dos instintos familiares que os investigadores mais recentes relacionam-nos com um instinto original, dito de interatração. A espécie humana caracteriza-se por um desenvolvimento singular das relações sociais, que sustêm capacidades excepcionais de comunicação mental, e correlativamente por uma economia paradoxal dos instintos que aí se mostram essencialmente susceptíveis de conversão e de inversão não tendo efeito isolável senão de modo esporádico. São assim permitidos comportamentos adaptativos duma variedade infinita. A sua conservação e o seu progresso, por dependerem da sua comunicação, são antes de tudo obra coletiva e constituem a cultura; ela introduz uma nova dimensão na realidade social e na vida psíquica. Esta dimensão especifica a família humana tal como todos os fenômenos sociais no homem. Se, com efeito, a família humana permite observar, nas primeiras fases das funções maternais, por exemplo, alguns traços de comportamento instintivo, identificáveis aos da família biológica, basta refletir no que o sentimento da paternidade deve aos postulados espirituais que marcaram o seu desenvolvimento, para compreender que neste domínio as instâncias culturais dominam as naturais, ao ponto de não se poder ter como paradoxais os casos em Será esta estrutura cultural da família humana inteiramente acessível aos métodos da psicologia concreta: observação e análise? Sem dúvida estes métodos bastam para pôr em evidência alguns traços essenciais, tal como a estrutura hierárquica da família, e bastam para reconhecer nela o órgão privilegiado desta coação do adulto sobre a criança, coação à qual o homem deve uma etapa original e as bases arcaicas da sua formação moral [...]. A FAMÍLIA – O ensaio A família, do psicanalista francês Jacques-Marie Émile Lacan (1901-1981), trata da instituição familiar, a sua estrutura cultural, coação do adulto sobre a criança, hereditariedade psicológica, parentesco biológico, a família primitiva, o complexo como fator concreto da psicologia familiar, definição geral do complexo, o instinto, o complexo freudiano e a imago, complexo do desmame e este como ablactação, o desmame e a crise do psiquismo, a imago do seio materno, a forma exteroceptiva, satisfação proprioceptiva, mal-estar interoceptivo, a imago pré-natal, o desmame e a prematuração específica do nascimento, o apetite da morte, o laço domestico, a nostalgia do todo, o complexo da intrusão, o ciúme como arquétipo dos sentimentos sociais, identificação mental, a imago do semelhante, o sentido da agressividade primordial, o estádio do espelho, potência segunda da imagem especular, estrutura narcísica do eu, o drama do ciúme, o eu e o outrem, condições de fraternidade, complexo de Édipo, esquema e valor objetivo do complexo, a família segundo Freud, o complexo da castração, o mito parricida originário, as funções do complexo, maturação da sexualidade, constituição da realidade e a repressão da sexualidade, os fantasma do desmembramento, origem materna do super-eu arcaico, originalidade da identificação edipiana, a imago do pai, o complexo e a relatividade sociológica, matriarcado e patriarcado, abertura do vínculo social, o homem moderno e a família conjugal, papel de formação familiar, declínio da imago paterna, os complexos familiares em patologia, as psicoses de tema familiar, formas delirantes do conhecimento, funções dos complexos nos delírios, reações e temas familiares, determinismo da psicose, as nevroses familiares, sintoma nevrótico e drama individual, da expressão do recalcado à defesa contra a angustica, deformações específicas da realidade humana, a forma degrada de Édipo, nevroses de Transfert, a histeria, a nevrose obsessiva, incidência individual das causas familiares, neuroses de caráter, a nevrose de autopunição, a introversão da personalidade e esquizonoia, desarmonia do par parental, prevalência do complexo do desmame e a inversão da sexualidade. Veja mais aqui, aquiaqui.

REFERÊNCIA
LACAN, Jacques. A família. Lisboa: Assírio e Alvin, 1981.



CLEVANE LOPES – A escritora, psicóloga, ilustradora, conferencista e consultora Clevane Pessoa de Araújo Lopes é uma das mais adoráveis pessoas humanas que conheci na rede. Há anos ela solidária, amiga, parceira. Hoje quero destacar um de seus belos poemar, Ver dor: “minha mão verde verdolenta verdolenga verdetensa verdoreira verdespera esperança lança sementeira de raízes futuras do que eclodirá. A messe mostrará o resultante do amor pela floresta primeva pelo templo aberto primitivo da deusa tríplice dos deuses temperamentais das dríades e hamadríades a zelar pelos troncos crescentes. Minha mão antes verdíssima, desbota ao sol implacável da modernidade. ressecada com sulcos  quais o da velhíssima Terra, sangra , mas quem quer ver dor? Passo pomadas ao compasso dos trinares de pássaros citadinos. Espero, reinventando a esperança de ver / ter...”. E como hoje é aniversário dela, trago uma homenagenzinha pra ela aqui.



ANIBAL BRAGANÇA – Hoje também é aniversário do professor Aníbal Bragança, do Departamento de Estudos Culturais e Mídia, do Instituto de Arte e Comunicação Social (IACS) da Universidade Federal Fluminense. Ele é graduado em História, mestre e doutor em Ciências da Comunicação pela USP, e foi o ganhador do Prêmio Jabuti (2011) pela obra Impresso no Brasil – Dois séuclos de livros brasileiros EdUnesp/FBN), em parceria com Marcia Abreu, analisando a produção editorial brasileira desde a instalação da Imprensa Régia,m em 1808, até então. É um pesquisador do livro, da leitura e da cultura letrada no Brasil, sendo autor de Livraria Ideal: do cordel à bibliofilia (Edusp, 2009). Daqui os nossos parabéns de feliz aniversário!


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