VAMOS APRUMAR A CONVERSA? BOM DIA - Bom dia, vida. Estou
pronto pra mais um dia. Pra quem já sucumbiu lambendo as feridas dos trocentos
nãos e zis mortes – quem não sucumbiu? -, estou pronto pro desafio de mais um
dia. Não para brincar de acerto e erro, nem unidunitê pelas múltiplas escolhas
da ocasião, ou chocado e desapontado com as circunstancia ou por me encontrar
na condição de perdido por um, perdido por mil. Nada disso. Estou pronto pro maravilhoso
inferno da natureza mortal com seu constante golpe de estomatópode. Estou
pronto com as portas da alma abertas e cônscio das aprendizagens. E mais
tivesse portas cerradas, sinais fechados, tumultos de brechas ou frestas e fissuras
remendadas, estalidos de ligas rompidas, bombardeios do inopinado ou o que for,
estou pronto e apreendendo no meio disso tudo a lição de Huxley: “os esforços feitos e continuamente repetidos
durante os períodos monótonos entre uma crise e outra”. Estou pronto, sem
que meu rosto esteja vincado e patético pela tribulação pulsante da árdua luta
na evolução silenciosa e imperceptível, e não menos firme e expondo-me ao
ridículo pelas construções de castelos de Blênio. Estou pronto por seguir digitígrado
pisando certo nas contas da ponte do Ábaco, mesmo que melancólico e solitário que,
em última instância, me levam a cambalear entre os sobressaltos do iminente.
Estou pronto com a capacidade de flexível adaptação para reverter o desdém e a
difamação das emoções oriundas das convenções sociais opressoras e que me
forçam a pensar na troca dos dogmas sagrados e na libertação da sociedade das
instituições obsoletas. Estou pronto diante dos revezes que insistem grunhir ao
meu encalço, como cães de guarda que me fazem cama de gato para tropeçar
exausto e completamente extenuado cair em desgraça na furiosa danação que não
me deixa escapar dos efeitos da maldição da humanidade. Em situação
diametralmente oposta, refaço-me numa sóbria conclusão que dissipa os meus
aspirantes tropeços e me fazem seguir com passos persistentes pelas viagens
longas, difíceis e confusas que me deixam os olhos abertos a contemplar dos
sete mares, encostas e vales, na insistente busca por um lampejo de luz com
paciência, resolução, autossacrificio e conscientização do alcance necessário do
equilbrio e da integração. Estou pronto pra viagem com o irmão espitritual e as
irmãs selvagens na nossa imensa escuridão até a redenção. Estou pronto para exultar
no caminho da maturidade que promete a emancipação e comunhão sagrada, abandonando
o herói e completamente humano com criatividade, espontaneidade e autenticidade
para ter acesso ao conhecimento suprassensível e me postar receptivo aos ritmos
e impulsos vibracionais incomuns para iluminação do ser humano. Estou pronto e aprendendo
a usar as leis divinas construtivamente. Estou pronto e alcanço a ubiquidade:
basta um olhar risonho da criança, e estou pronto pra recomeçar. Bom dia. Veja
mais aqui.
Imagem: Nu (1923), da pintora Tarsila do Amaral (1886-1973). Veja mais aqui.
Curtindo
o álbum Daphnis Et Chloé
(Deutsche Grammophom, 1987), do compositor e pianista francês Maurice Ravel (1875-1937), com o
regente de orquestra japonês Seiji Ozawa % Boston Symphony Orchestra.
PARTICIPAÇÃO POPULAR NOS CONSELHOS DE SAÚDE – No
livro Método histórico-social na
psicologia social (Vozes, 2005), organizado por Angelo Antonio Abrantes,
Nilma Renildes da Silva e Sueli Terezinha Ferreira Martins, encontro o estudo O materialismo histórico e a pesquisa-ação
em psicologia social e saúde, de Sueli Terezinha Ferreira Martins, do qual
destaco o trecho: [...] Na perspectiva
que estamos trabalhando, faz-se necessário romper com a ilusão do individuo
livre e independente, senhor inteiramente de suas ações, vontade e representações,
dono único de sua subjetividade e intencionalidade. Tal ilusão sobre o
individuo realizada pelos profetas do século XVIII ainda existe no final do
século XX com forte presença na sociedade, o que por sua vez encobre e mascara
as relações sociais determinando o sujeito. Desse modo, quando falamos em
intencionalidade, consciência e ampliação da autonomia do individuo, é
importante ter claro que estes aparecem na maioria das vezes em sua forma
idealizada, em uma perspectiva liberal que deixa de enfatizar a natureza social
do homem. não podemos perder de vista que a contradição fundamental do regime
capitalista (produção material socializada e apropriação privada) reflete-se
por todas as esferas da sociedade, desenvolvendo relações sociais alienadas e
antagônicas. Desta maneira, os produtos sociais, materiais e espirituais tendem
a tornarem-se estranhos aos seus próprios produtores. Acreditar, portanto, que
o individuo pode exercer suas atividades com liberdade ou independência moral e
intelectual é compartilhar com a ilusão dos profetas do século XVIII, é
desconsiderar a natureza social do homem [...]. Veja mais aqui, aqui e
aqui.
A PRINCESA MARYA E BLÊNIO - No livro Northern lights: fairy tales of the peoples of the North, de Irina
Zheleznova, encontro a narrativa A
princesa Marya e Blênio, da qual destaco os trechos: Certa vez, numa terra muito distante, vivia uma princesa tão bela que
muitos e muitos príncipes vieram pedir-lhe a mão. Mas seu pai, o car,
recusou-os todos, achando que nenhum era bom o bastante para ela. Certo dia, um velho perguntou-lhe se seu
filho poderia casar-se com a princesa. Quem é seu filho?, perguntou o czar.
Majestade, respondeu o velho, meu filho é um blênio. Mas esse é um peixe que
vive no fundo do rio! – o czar exclamou. O que você está dizendo é ridículo [...]
Naquele momento, detrás de uma cortina
próxima ao czar, ela se manifestou: Pai, por que você não dá uma tarefa ao
Blênio? Se ele obtiver êxito, casar-me-ei com ele, mas se ele fracassar, deverá
ser morto. É assim que os russos fazem [...] O czar, nesse interim, vira o trenó com os três cavalos, e quando o
velho chegou o monarca declarou: Seu filho cumpriu minhas três tarefas, então
manterei minha promessa. Traga-o aqui, e a princesa irá casar-se com ele, hoje
mesmo, não importando o que o povo diga. O velho correu para casa e contou as
novidades ao filho. Bom, pai, disse Blênio, coloque-me num saco e leve-me até o
palácio para a festa do casamento. Ao longo do caminho, os cidadãos se reuniram
e riram porque a princesa estava se casando com um peixe. [...] Certa manhã, a princesa acordou mais cedo
que de costume. Sentou-se sozinha, sentindo-se triste e envergonhada. Todos
riem de mim por ter me casado com um peixe, ela falava consigo, e eu estou
muito cansada disso. De repente, teve uma ideia. Se eu queimar a pele de peixe
do meu marido antes que ele acorde, ele deve permanecer um homem! Ela agarrou o
traje de peixe, lançou-o ao fogo e entrou no quarto; contudo, seu marido havia
desaparecido. Naquele momento, um pequeno pássaro entrou voando pela janela.
Que pena, princesa Marya, disse a ave. Se você tivesse esperado mais três dias,
seu marido teria ficado livre de um feitiço maligno. Teria permanecido humano o
resto da vida, mas agora você o perdeu. Com essas palavras, a ave saiu voando
pela janela [...] Naquele momento,
uma das lágrima de Mary cai sobre o rosto de Blênio, que acorda sobressaltado.
Está chovendo? Gritou. Saia agora!, a filha do Rei Fogo berrou para a princesa
Marya. Blenio viu Marya em pé ao seu lado e imediatamente a reconheceu. Marya!
É você! Finalmente você chegou! Saia!, disse a filha do Rei Fogo a Marya,
tentando puxá-la para fora do quarto. Deixe que ela fique, exclamou Blenio à
segunda esposa. Ela é Marya, minha primeira e verdadeira esposa. [...] Então Blênio reuniu todos os anciãos do
reino, ofereceu-lhes uma grande festa e perguntou-lhes: Qual destas é a minha
verdadeira esposa? A que arriscou a vida para me encontrar, usando três pares
de botas de ferro, três chapéus de ferro e comeu três pães de ferro, ou a que
me trocou por um pente, um anel e um lenço? Os anciãos responderam em uníssono:
Sua verdadeira esposa é Marya, e é com ela que você deve viver. Blenio
concordou e voltando-se para Marya disse: Está na hora de voltarmos para casa [...]
Veja mais aqui.
EU VI – No livro Poesia
em viagem (Assírio & Alvim, 2005), do escritor suíço Blaise Cendrars (1887-1961), destaco o
poema Eu vi, a seguir transcrito: Eu vi / Vi os comboios silenciosos os
comboios negros que / vinham do Extremo-Oriente e que passavam como / fantasmas
/ E o meu olhar, como a lanterna da retaguarda, corre / ainda atrás desses
comboios / Em Talga 100 000 feridos agonizavam por falta / de cuidados / Visitei
os hospitais de Krasnõiarsk / E em Khi!ok cruzámos com um longo comboio de / soldados
loucos / Vi nos lazaretos chagas abertas feridas que / sangravam a jorros. / E
os membros amputados dançavam em volta / ou levantavam voo no ar roufenho / O
incêndio estava em todos os rostos em todos / os corações / Dedos idiotas
tamborilavam em todos os vidros / E sob a pressão do medo os olhares rebentavam
/ como abcessos / Em todas as estações deitavam fogo aos vagões / E vi / Vi
comboios de 60 locomotivas que se escapavam / a todo o vapor perseguidas pelos
horizontes / com cio e bandos de corvos que voavam / desesperadamente atrás, / Desaparecer
/ Na direcção de Porto-Artur. / Em Tchita tivemos alguns dias de descanso / Paragem
de cinco dias devido a obstáculos da linha / Passámo-los em casa do Senhor
lankéléwitch, que / queria dar-me em casamento a sua filha única. / Depois o
comboio tornou a partir. / Agora era eu que me sentara ao piano e tinha dores /
de dentes / Revejo quando quero esse interior calmo a loja do pai / e os olhos
da filha que vinha à noite para a minha cama / Moussorgsky / E os lieder de
Hugo Wolf / E as areias do Gobi / E em Khaïlar uma caravana de camelos brancos
/ Creio bem que estive bêbedo durante mais de / 500 quilômetros / Mas eu estava
ao piano e foi tudo quanto vi / Quando se viaja deviam-se fechar os olhos / Dormir
/ Gostaria tanto de dormir / Reconheço todos os países de olhos fechados pelo /
seu odor / E reconheço todos os comboios pelo barulho que / fazem / Os comboios
da Europa são a quatro tempos enquanto / os da Ásia são a cinco ou a sete / Outros
seguem em surdina são canções de embalar / E há os que no ruído monótono das
rodas me lembram / a prosa pesada de Maeterlinck / Decifrei todos os textos
confusos das rodas e reuni / os elementos dispersos duma violenta beleza / Que
eu possuo / E me força. / Tsitsika e Kharbine / Não vou mais longe / É a última
estação / Desembarquei em Kharbine quando acabavam / de deitar fogo às
instalações da Cruz Vermelha. / Ó Paris / Grande lareira ardente com os tições
entrecruzados / das tuas ruas e velhas casas que se debruçam / por cima e se
aquecem / Como os avós / E eis os anúncios, vermelho, verde, multicolores como
/ o meu passado em resumo amarelo / Amarela a cor altiva dos romances da França
/ no estrangeiro. / Nas grandes cidades gosto de me meter nos / autocarros em
andamento / Os da linha Saint-Germain-Montmartre levam-me / ao assalto da Butte
/ Os motores mugem como touros de ouro / As vacas do crepúsculo pastam o
Sacré-Coeur / Ó Paris / Estação central cais das vontades cruzamento das / inquietações
/ Só os droguistas têm ainda um pouco de luz por cima / das portas / A
Companhia Internacional das Carruagem-Camas / e dos Grandes Expressos Europeus
enviou-me / um prospecto / É a mais bela igreja do mundo / Tenho amigos que me
rodeiam como barreiras / Têm medo quando eu parto que nunca mais volte / Todas
as mulheres que conheci erguem-se / nos horizontes / Com gestos lastimosos e
olhares tristes de semáforos / à chuva / Bela, Inês, Catarina e a mãe ‘do meu
filho na Itália / E ainda a mãe do meu amor na América / Há gritos de sirene
que me rasgam a alma / Na Manchúria um ventre estremece ainda como num / parto
/ Gostaria / Gostaria de nunca ter feito as minhas viagens / Esta noite um
grande amor atormenta-me / E contra a minha vontade penso na jovem Joana / de
França. / Foi numa noite de tristeza que escrevi este poema / em sua honra / Joana
/ A jovem prostituta / Estou triste estou triste / Irei ao Lapin Agile
recordar-me da minha juventude / perdida / E beber copinhos / Depois voltarei
sozinho para casa. Veja
mais aqui e aqui.
UMA REVOLUÇÃO
COPERNICANA AO CONTRÁRIO – No livro Técnicas
latino-americanas de teatro popular: uma revolução copernicana ao contrário
(Hucitec, 1979), do dramaturgo e
ensaísta Augusto Boal (1931-2009), destaco o Apendice nº 1 – Uma revolução
copernicana ao contrário, do qual destaco o trecho: Algo muito importante está sucedendo na América Latina. A ideia
bolivariana da Pátria Grande parece depender agora da nossa geração, dos nossos
esforços, da nossa solidariedade e disposição para a luta. A ideis da unidade
dos nossos povos, sem a participação da Sociedade Anônima Estados Unidos da
América do Norte, já se aproxima da realidade. Cuba foi a primeira vitória concreta
contra o imperialismo. Foi o primeiro país a conseguir a segunda e definitiva
libertação. Por outros caminhso e em distintas velocidades de transito, Peru,
Panamá, Argentina, e outros inevitavelmente se levantarão. Algo muito
importante está sucedendo na América Latina: os povos descobrem que são o
sujeito da história, o motor da sociedade, o centro do nosso universo: não mais
satélites. A conscientização dos povos não é um fenômeno exclusivamente
político, visto que tem também os seus reflexos em outras esferas da atividade
do homem. Assim também a exploração imperialista não é só econômica, mas
alcança todas as atividades humanas. A nossa revolução latino-americana faz-se
contra a exploração econômica, mas deve igualmente fazer-se contra todas as
outras formas de dominação. Para melhor exercer a sua exploração
infraestrutural, o imperialismo utiliza as superestruturas morais, estéticas,
etc., também redutos da batalha da libertação. [...] Estamos realizando uma revolução copernicana ao contrário. Sempre fomos
satélites de arte metropolitana. Agora estamos proclamando que somos o centro
do nosso universo artístico. O teatro verdadeiro é o teatro latino-americano. Isto
é, este é o nosso teatro, portanto, é o teatro. [...] Veja mais aqui e
aqui.
ESTADO DE SÍTIO – O filme Estado de sítio (1972) dirigido pelo cineasta grego Costa-Gavras, com roteiro do diretor baseado
no livro de Franco Molinas, e música de Míkis Theororákis, é baseado em fatos
reais e conta o sequestro no Uruguai do agente americano Dan Mitrione e do
consul brasileiro Aloysio Gomide pelos Tupamaros, em 1970. A trama acontece em
Montividéu, quando um funcionário da entidade AID é raptado por um grupo de
guerrilha urbana de extrema-esquerda, juntamente com duas outras autoridades, sendo
que, entre eles, o funcionário da embaixada norte-americana consegue escapar. Durante
o interrogatório, os raptados deixam evidenciar que a missão real deles é
instruir policiais de vários países sil-americanos para a prática com métodos
de tortura, intimidação e assassinatos sem julgamento, levando a formação de
Esquadrões da Morte, acobertados pelas autoridades. Enquanto estão cativos, os
sequestradores negociam com o governo a troca dos reféns por prisioneiros
políticos, causando uma grave crise institucional e a quase renúncia do
presidente do país. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
No dia dos bailarinos a nossa homenagem à
companhia Ballet Stagium, fundada em
1971 e dirigida por Marika Gidali e Décio Otero.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Tataritaritatá, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a
apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Na programação Elis Regina, Chico Buarque, Simone, Adriana
Calcanhoto, Ana Carolina, Lenine, Maria Rita, Milton Nascimento & Lô Borges,
Fator IV, Elisa Lemos, Banda Oficina 137, Banda Vibrações, Embracanto, Nó na
Garganta & Orquestra de Cordas Caetés, Gama Júnior & Jaques Setton, Ricardo
Machado, Johann Pachelbel, Zendaya Coleman, Conway Twitty, Bianca Ryan, Barry
Gibb, Gloria Stefan, Engelbert Humperdinck, Art Pepper & um especial com
Cikó Macedo. E para conferir online acesse aqui.
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