VAMOS APRUMAR A CONVERSA? NASCENTE – A edição nº 16, ano II,
fev/mar/abr, 1999, do tabloide colorido, 24 páginas, Nascente Públicação Lítero
Cultural, traz o editorial As turbulências para um futuro azul,
parece que antevendo a derrocada tanto do tabloide como das Edições Nascente, devido
maxidesvalorização do real promovida pelo governo Fernando Henrique Cardoso. Os
insumos da publicação e da editora foram triplicados, fato que levou toda
estrutura à inviabilidade e insolvência. Não teve salvação. Mas, pelo menos
para mim, valeu a pena. E como valeu. Tanto que nesta edição trazemos uma
entrevista com Ariano Suassuna, a resenha
José Saramago: merecido Prêmio Nobel
de Literatura 1998, do escritor, tradutor e professor Edmar Bernardes da Silva
(USA); Reflexão sobre o ato de escrever, do escritor e jornalista Artur da Távola (RJ); Proyecto Sur: Literatura em Havana, O
olhar, a visão e o pensamento de jovens: pesquisa de vida e sinceridade, da
assistente social Adelaide Consoni (SP); a resenha Contos candentes, de Ronaldo
Cagiano (MG), a matéria sobre quadrinhos Brasil
também tem herói... e heroína, de Emir
Ribeiro (PB), matéria Porque dar seu
pitaco, do jornalista Paulo Augusto (RN), a resenha do filme Baile Perfumado, de Guido Bilharinho
(MG), o destaque com as fotos da Igreja de São Gonçalo, em Penedo (AL) e da
Lagoa Manguaba (AL); e nas Tabuletas,
mais um episódio das Proezas do
Biritoaldo: Quando o banguelo vê esmola grande fica mais assanhado que pinto no
lixo! Na seção Espaço Aberto,
manifestações do escritor José Mendonça Teles (GO), da professora Regina Igel
(USA), do poeta Claudio Feldmann (SP), Erner Marq (ES), Fernando Vasconcelos
(PR), Genrique Freitas (RS), Paulo Augusto (RN), Marcos Franco (BA), Diogo
Henrique (MA), Alex Lemos (PB), Lari Franceschetto (RS), Fabio dos Santos (AL),
Lau Siqueira (PB), Teresa Akil (RJ), Dilson Lages Monteiro (PI) e Marcemiro
Oliveira Silva (MG). Na seção Infantil,
a Ciranda de Criança, da professora da UFPR Lidia Natalia Dobrianskvj Weber
(PR), Mario Benedetti (Associação Internacional pelo Direito da Criança
Brincar), Célia Rangel (SP), a arte de José Centura Leite Junior (PE), Nathália
Sena (AL), Larissa Cristina Vieira da Paixão (AL), Nicola (AL), Juliana Sena
(AL), Diogo Palmeira Acioli (AL), Congresso Internacional Família e Violência e
IV Encontro Nacional de Associações e Grupos de Apoio à Adoção – Projeto Acalanto
Natal (RN). Na seção de Humor, Zé
DaSilva, Rico, Cedraz, Cecilia Fideli Laerçon e Ari Lins Pedrosa. E na seção Nascente Poético, poemas de Cristina
Siqueira (SP), Antonio Adonias (BA), Lau Siqueira (PB), Reynaldo Valinho
Alvarez (RJ), Henrique Freitas (RS), Tânia F. Schambeck (SC), Edmar Bernardes
(USA), Climaco Soto Borda (Colomboa), Aldina Machy (RS), Ronaldo Cagiano (DF),
Ari Lins Pedrosa (AL), Artur da Távola (RJ), Lucila Milanese (SP), Lari
Franceschetto (RS), Fabio dos Santos (AL), Diogo Henrique (MA), Veronica Melo
(AL), J. Palcel (AL), Leontino Filho (RN), Alexis Lemos (PB), Fernando Cereja
(SP), Glenda Maier (RJ), Marcos Sá (AL), Gilson Luiz Siqueira (RJ), Maia Pinto
(RN), Dilson Lages Monteiro (PI), Johnny B. Guimarães (MG), Humberto del
Maestro (ES), Gessy Carisio (MG), Tony Gray Gavalheiro (MG), Diniz Feliz de
Souza (SP), Dinovaldo Giloli (SC), Rosy Feros (SP) e Mario Annuza (RJ). Veja
mais aqui e aqui.
Imagem: Gabrielle, do pintor tcheco František Kupka (1871-1957).
Curtindo
a Sinfonia nº 13, Babi Yar, em si bemol
menor, opus 113 (1962/Deutsche Grammophon, 1997), do do compositor russo Dmitri Dmitriyevich Shostakovich (1906-1975), sobre poemas de Evgueni
Evtouchenko e em lembrança às vítimas do massacre de 30 000 judeus ucranianos,
uma crítica ao anti-semitismo na Rússia Soviética. Gothenburg Symphony
Orchestra; National Male Choir of Estonia, conductor Neeme Järvi; Anatoly
Kotscherga. Veja mais aqui e aqui.
A RESPOSTA CORRETA COMO DIREITO FUNDAMENTAL DO CIDADÃO – No
livro Hermeneutica jurídica e(m) crise:
uma exploração hermenêutica da construção do Direito (Livaria do Advogado,
2009), do professor Lenio Luiz Streck,
encontro o trecho da parte A resposta correta (adequada a Constituição) como
direito fundamental do cidadão, com o seguinte teor: Em (duros) tempos de pós-positivismo, estamos condenados a interpretar.
[...] O problema é que a pretensão de
formar um corpo de leis coerente e consistente demanda a elaboração de
princípios constitucionais, com o que corremos o risco de pensar que tal
circunstancia acarreta (ou proporciona) uma maior abertura interpretativa e,
consequentemente, um retorno à discricionariedade do juiz/intérprete (sempre
lembrando que os termos discricionariedade e positivismo estão sendo usados de
acordo com o debate travado entre Dworki e Hart). E, logo, correríamos em busca
de métodos que nos indicassem o caminho para resolver as indeterminabilidades
dos textos jurídicos. [...] Daí o
enigma provocado pela figura de Germes, que já nasce enganando o próprio pai. E
Hermes ficou muito poderoso. Sem ele, não saberíamos os que os deuses disseram.
Na verdade, nunca se soube o que os deuses disseram; soube-se apenas o que
Hermes disse que os deuses disseram! Sabemos, pois, do problema decorrente da
“subjetividade” de Hermes e da complexidade que isso representa (por exemplo,
qual é o limite do nível de abstração da generalidade das sentenças de
Hermes?). Mas também sabemos, na metáfora, que o acesso direto à linguagem dos
deuses é impossível. Daí a pergunta inevitável: se fosse possível esse acesso
direito, que utilidade isso teria para os homens, que, definitivamente não são
deuses? Talvez tenhamos recebido o castigo de Sísifo: rolamos a pedra até o
limite do logos apofântico e imediatamente somos jogados, inexoravelmente, de
volta à nossa condição de possibilidade: o logos hermenêutico. É ele que nos
antecipa as possibilidades da compreensão. E os métodos (ou vários métodos
positivistas ou pós-positivistas) acabam (sempre) chegando tarde. Se pensarmos
que o método é indispensável para a segurança e a racionalidade na atribuição
dos sentidos ou que temos que desonerar o interprete/aplicador dos discursos de
fundamentação/justificação, colocando-lhe à disposição discursos previamente
justificados (porque não confiamos na razão prática), ainda assim – ou
exatamente por isso – teremos que responder a seguinte indagação: o que fazer
com a pré-compreensão? Finalmente, se pensarmos que a destruição do método
(cânones, critérios ponderativos ou postulados) terá como consequência um
relativismo na interpretação, estaremos novamente enganados. Aliás, esse é um
grave equivoco cometido pelos críticos da hermenêutica filosófica. Para
explicar melhor: desde o inicio, sempre ficou claro que a hermenêutica que
serve de base para estas reflexões não abre espaços para arbitrariedades,
relativismos, decisionismos e discricionariedades. [...] Mas, atenção:admitir que cada sujeito possua
preferencias pessoais, intuições, valores, etc – o que é inerente ao modo
próprio do ser-no-mundo de cada pessoa – não quer dizer que não possa haver
condições de verificação sobre a correção ou veracidade acerca de cada decisão
que esse sujeito tomar (principalmente se se tratar de um juiz), isto é, nada
disso quer significar que dependemos apenas dos aspectos linguísticos ou
limites semânticos dos textos (e texto é sempre um evento) que não advém
tã0-somente do próprio texto, mas, sim, de uma análise de decisões anteriores,
da aplicação coerente de tais decisões e da compatibilidade do texto com a
Constituição. O grau de exigência de fundamentação/justificação da interpretação
alcançada aumentará na medida em que essa significação atribuída ao texto se
afasta dos aspectos linguísticos. Trata-se de convencimento e de estabelecer as
amplas possibilidades de controle da decisão. Esse é o espaço para a resposta
correta (adequada a Constituição). Trata-se, pois, de um direito fundamental do
cidadão. [...]. Veja mais aqui.
O SOM E A FÚRIA – O romance O som e a fúria (1929/CosacNaify,
2009), do escritor estadunidense e ganhador do prêmio Nobel de Literatura em
1949, William Faulkner, conta a
história de uma família decadente a partir de quatro narradores que enredam
ideais de nobreza pueris e arroubos de ganancia e ódio que beiram o demoníaco,
pondo fim ao que resta de si num clima de delírio e de ruina de um grupo
social. Da obra destaco o trecho: [...]
Levantei-me
e comecei a andar de um lado para o outro a ouvi-lo através da parede. Ouvi-o
na nossa sala comum a dirigir-se para a porta. - Ainda não estás pronto? -
Ainda não. Despacha-te. Eu vou já. Saiu. A porta fechou-se. Ouvi-lhe os passos
no corredor. Nisto, outra vez o relógio. Parei de andar de um lado para o
outro, fui até à janela, afastei as cortinas e fiquei a vê-los correrem para a
capela, os mesmos de sempre, a debaterem-se com aquelas enormes mangas de
sempre, os livros de sempre e os colarinhos de sempre, a esvoaçar, passando
velozes diante dos meus olhos como detritos levados pela torrente, e o Spoade.
Dizer que o Shreve é meu marido. Não lhe ligues, disse o Shreve, se ele não tem
mais que fazer do que andar atrás dessas porcas desavergonhadas, que temos nós
com isso. No Sul é vergonha ser virgem. Os rapazes. Os homens. Até mentem a
esse respeito. Com as mulheres já não é assim, disse o Pai. Disse que foram os
homens que inventaram a virgindade, não as mulheres. O Pai disse que é como a
morte - apenas um estado em que os outros se encontram, e eu disse: Mas não
importa acreditar nisso ou não, e ele disse: É isso que é triste, em relação ao
que quer que seja: não apenas à virgindade, e eu disse: Por que é que não podia
ser eu e não ela a ser desvirginado, e ele disse: É também por isso que é tão
triste; nem sequer vale a pena mudar nada, e o Shreve disse se ele não teria
mais nada que fazer do que andar atrás daquelas porcas desavergonhadas e eu
disse já tiveste uma irmã? já? já? No meio deles, o Spoade parecia um cágado
numa rua coberta de folhas secas arrastadas pelo vento, com o colarinho a
chegar-lhe às orelhas, avançando no seu passo paulatino do costume. Era
finalista e vinha da Carolina do Sul. No clube vangloriava-se de nunca ter tido
de correr para chegar a tempo ao serviço religioso, nem ter chegado mesmo em
cima da hora, nem ter faltado uma só vez em quatro anos, nem ter chegado nunca
à capela ou
à primeira aula da manhã com a camisa vestida ou as meias calçadas. Entrava no
Thompson por volta das dez horas, pedia duas chávenas de café, sentava-se,
tirava as meias do bolso e descalçava os sapatos e calçava as
meias enquanto o café arrefecia. Por volta do meio-dia já andava de camisa e
colarinho como toda a gente. Os outros passavam por ele a correr, mas ele nunca
acelerava o passo. Daí a pouco o pátio ficou deserto. Um pardal cruzou o ar
pela frente do sol, veio pousar no peitoril da janela e pôs-se a olhar para
mim. O olho dele era redondo e brilhante. Primeiro observou-me só com um olho,
depois, zás! e era o outro que me observava, enquanto a garganta palpitava mais
célere que qualquer pulso. Começaram a dar horas. O pardal desistiu de trocar
de olhos e fitou-me intensamente com o mesmo olho até as badaladas se calarem,
como se também ele estivesse a escutá-las. Nisto, saltou do peitoril e
desapareceu. Foi mesmo antes de a última badalada ter deixado de vibrar. Pairou
no ar por largo tempo, mais latente do que audível. Como se todos os sinos
vibrassem ainda nos longos raios de luz que esmoreciam enquanto Jesus falava
com São Francisco sobre a irmã. Se existisse apenas o inferno e nada mais. Se
fosse tão simples como isso. Assunto arrumado. Se as coisas se acabassem em si
próprias. Mais ninguém presente além de ela e de mim. Se ao menos tivéssemos
podido fazer alguma coisa de tão terrível que todos eles tivessem fugido para
os infernos, exceto nós. Cometi incesto disse eu Paifuí eu não foi o Dalton
Ames. E quando ele me pôs Dalton Ames. Dalton Ames. Dalton Ames. Quando ele me
pôs a pistola na mão não fui capaz. Foi por isto que não fui capaz. Ele estaria
lá. E ela. E eu. Dalton Ames. Dai- ton Ames. Dalton Ames. Se ao menos
tivéssemos podido fazer qualquer coisa de tão terrível que o Pai dissesse É
triste que duas pessoas não só não consigam fazer nada de verdadeiramente
terrível, mas que também não consigam sequer fazer nada de terrível, nem se
consigam lembrar amanhã do que hoje lhes parecia tão terrível e eu disse:
Podemos sempre fugir às responsabilidades e ele disse: Ali, podemos? E eu
olharei para baixo e verei os meus ossos a rangerem e a água profunda como o vento,
como um telhado de vento, e ao fim de muito tempo eles não poderão distinguir
sequer os ossos na areia solitária e inviolada. Até que, no Dia em que Ele
disser Levantai-vos, só o ferro
de engomar virá à superfície. Não é quando descobrimos que nada nos pode ajudar
- religião, orgulho, qualquer coisa - é quando percebemos que não
precisamos de ajuda. Dalton Ames. Dalton Ames. Dalton Ames. Se eu pudesse ter
sido a mãe dele, jazendo de corpo aberto soerguido sorridente, agarrando o pai
dele com esta mão, segurando-o, vendo, assistindo à sua morte antes de ele ter
vivido. Ela permaneceu à porta por um minuto. Fui à cômoda e peguei no relógio,
ainda com o mostrador para baixo. Bati com o vidro na esquina da cómoda, juntei
na palma da mão os fragmentos, deitei-os para o cinzeiro, arranquei os
ponteiros e pu-los também no cinzeiro. O relógio continuou a trabalhar.
Voltei-o com o mostrador para cima, agora vazio e com minúsculas rodas dentadas
a baterem por detrás dele sem parar, sem outra alternativa. Jesus a andar pela
Galileia e Washington sem dizer mentiras. O Pai trouxe ao Jason um prenda da
Feira de Saint Louis: um óculo de ópera miniatural por onde se espreitava com
um olho e se via um arranha-céus, uma Roda Gigante toda riscada como uma tela
de aranha e as Cataratas do Niagara na cabeça de um alfinete. Havia uma mancha
vermelha no mostrador. Quando dei por ela, senti o polegar a arder. Pousei o
relógio, fui ao quarto do Shreve buscar a tintura de iodo e pintei o golpe. Com
uma toalha, limpei os vidros que ainda estavam agarrados ao aro exterior. Tirei
dois conjuntos de roupa interior, e também meias, camisas, colarinhos e
gravatas, e fiz a mala. Meti tudo lá dentro exceto o meu fato novo e outro já
muito velho, dois pares de sapatos e dois chapéus, e todos os meus livros.
Levei os livros para a sala e empilhei-os em cima da mesa, tanto os que tinha
trazido de casa como os que O Pai disse que antigamente se conhecia um
cavalheiro pelos livros que tinha; agora conhece-se pelos que não devolveu fechei
a mala e enviei-a. Soou o quarto de hora. Parei e fiquei a ouvi-lo até os sinos
se calarem. [...]. Veja mais aqui.
TRES FRAGMENTOS DA LÍRICA ANACREONTICA – O poeta lírico grego Anacreonte (563-478aC), é o autor de
uma coleção de 50 ou 60 poesias que, segundo Otto Maria Carpeaux, na sua
História da Literatura Ocidental (Alhambra, 1978), são denominadas de poesias
anacreoticas, compreende a decadência grega, de falsa ingenuidade erótica, de
velhos bon-vivants, cantando o vinho e as prostitutas de nomes mitológicos, com
eufgemismos que excluem a indecência: [...] Com
a bola carmim me golpeia / Novamente o dourado Desejo / E co’ a moça de belas
sandálias / Me convoca a jogar agora. / Lá das firmes paragens de Lesbos / Ela
vem, mas se ri dos cabelos / Que me sobram (pois são todos brancos) / E suspira
por outra moça. [...] Ó divino – com quem, enquanto percorre / os
altos cimos dos montes, folgam / as ninfas dos olhos azuis, / a purpúrea
Afrodite / e o indomável Eros – / rogo-te que benévolo / venhas para escutar / minha
grata prece. / Infunde sábio conselho / em Cleóbulo: que ele aceite, / ó Dionísio, o meu amor. [...]
Novamente
c’uma toga púrpura / provocando-me, Eros dos cabelos louros / convida-me a
brincar junto / d'uma moça de sandálias jaspeadas. / Mas ela – que provém da
florida / Lesbos – despreza minha cabeleira / já branca, enquanto, de boca
aberta, / fica maravilhada diante d'outra. [...]. Veja mais aqui.
CLARO! – A premiada peça teatral Claro, do dramaturgo, roteirista e
escritor estadunidense David Ives,
conta a história de um casal que ensaia tentativas de aproximação amorosa,
enfrentando, cada qual à sua maneira, situações inusitadas diversas e
embaraçosas, em busca de um final feliz. Da obra destaco o trecho inicial: (CENÁRIO: Mesa de um café, com duas
cadeiras. CENA: Betty, lendo à mesa. Uma cadeira vazia em frente a ela. Bill
entra) BILL - Com licença. Esta cadeira está ocupada? BETTY - Desculpe-me? BILL
- Está ocupada? BETTY - Sim, está. BILL - Oh, desculpe. BETTY - Claro. (Pequeno
toque de campainha) BILL - Com licença. Esta cadeira está ocupada? BETTY -
Desculpe-me? BILL - Está ocupada? BETTY - Não, mas espero alguém em um minuto.
BILL - Oh. Obrigado, mesmo assim. BETTY - Claro. (Pequeno toque de campainha)
BILL - Com licença. Esta cadeira está ocupada? BETTY - Não, mas espero alguém
muito em breve. BILL - Você se importaria se eu me sentar aqui até que ele ou
ela ou o que quer que seja chegue? BETTY - (Olha de relance seu relógio) Já
passa bastante da hora... BILL - Você nunca sabe quem você pode estar
recusando. BETTY - Desculpe. Boa tentativa, no entanto. BILL - Claro.
(Campainha) BILL - Este assento está ocupado? BETTY - Não, não está. BILL -
Você se importaria se eu me sentar aqui? BETTY - Sim, me importaria. BILL - Oh.
(Campainha) BILL - Esta cadeira está ocupada? BETTY - Não, não está. BILL -
Você se importaria se eu me sentar aqui? BETTY - Não, vá em frente. BILL -
Obrigado. (Ele senta. Ela continua lendo) Todos os outros lugares parecem estar
ocupados. BETTY - Hum-hum. BILL - Belo lugar. BETTY - Hum-hum. BILL - Que livro
é? BETTY - Eu só gostaria de ler em silêncio, se você não se importa. BILL -
Não. (Campainha) BILL - Todos os outros lugares parecem estar ocupados. BETTY -
Hum-hum. BILL - Belo lugar pra se ler. BETTY - É, eu gosto. BILL - Que livro é?
BETTY - “O Som e a Fúria”. BILL - Oh. Hemingway. (Campainha) BILL - Que livro
é? BETTY - “O Som e a Fúria”. BILL - Oh. Faulkner. BETTY - Você já leu? BILL -
Na verdade... Não. Embora tenha lido sobre ele. Deve ser fantástico. BETTY - É
ótimo. BILL - Ouvi dizer que sim. (Pequena pausa) Garçom? (Campainha) BILL -
Que livro é? BETTY - “O Som e a Fúria”. BILL - Oh. Faulkner. BETTY - Você já
leu? BILL - Eu mesmo sou um fã de Mets. (Campainha) BETTY - Você já leu? BILL -
Sim, eu li na faculdade. BETTY - Qual faculdade? BILL - Fiz letras pelo
Instituto Universal Brasileiro. (Campainha) BETTY - Qual faculdade? BILL - Eu
estava mentindo. Na verdade nunca fiz faculdade. Eu só gosto de brincar.
(Campainha) BETTY - Qual faculdade? BILL - USP. BETTY - Você gosta de Faulkner?
BILL - Eu amo Faulkner. Uma vez passei um inverno inteiro lendo-o. BETTY - Eu
apenas comecei. BILL - Fiquei tão empolgado após as dez primeiras páginas que
saí e comprei tudo o mais que ele tinha escrito. Uma das maiores experiências
literárias da minha vida. Quer dizer, toda aquela incrível compreensão
psicológica. Páginas e páginas de prosa maravilhosa. Seu profundo alcance do
mistério do tempo e da existência humana. Os cheiros da terra... O que você
acha? BETTY - Eu acho muito chato. (Campainha) BILL - Que livro é? BETTY - “O
Som e a Fúria”. BILL - Oh. Faulkner. BETTY - Você gosta de Faulkner? BILL - Eu
amo Faulkner. BETTY - Ele é incrível. BILL - Uma vez passei um inverno inteiro
lendo-o. BETTY - Fiquei tão empolgada após as dez primeiras páginas que saí e
comprei tudo o mais que ele tinha escrito. BILL - Toda aquela incrível
compreensão psicológica. BETTY - E a prosa é tão maravilhosa. BILL - E a
maneira como ele alcança o mistério do tempo... BETTY - ...E da existência
humana. Eu não acredito que esperei tanto para lê-lo. BILL - Nunca se sabe.
Você poderia não ter gostado dele antes. BETTY - É verdade. BILL - Você podia
não estar preparada para ele. Essas coisas têm que acontecer no momento certo,
senão não é bom. BETTY - Isso aconteceu comigo. BILL - Está tudo no timing.
(Pequena pausa) Meu nome é Bill, aliás. BETTY - Sou Betty. BILL - Oi. BETTY -
Oi. (Pequena pausa) BILL - Sim, pensei que ler Faulkner seria... Uma grande
experiência. BETTY - Sim. (Pequena pausa) BILL - “O Som e a Fúria” (Outra
pequena pausa) BETTY - Bem. Pra frente e pra cima, não? (Ela volta ao seu
livro) BILL - Garçom? (Campainha) BILL - Você podia não estar preparada para
ele. Essas coisas têm que acontecer no momento certo, senão não é bom. BETTY -
Isso aconteceu comigo. BILL - Está tudo no timing. Meu nome é Bill, aliás.
BETTY - Sou Betty. BILL - Oi. BETTY - Oi. BILL - Você vem muito aqui? BETTY -
Na verdade, só estou na cidade por dois ou três dias, depois volto pro
Paquistão. BILL - Oh. Paquistão. (Campainha) BILL - Meu nome é Bill, aliás.
BETTY - Sou Betty. BILL - Oi. BETTY - Oi. BILL - Você vem muito aqui? BETTY -
De vez em quando. E você? BILL - Já não muito. Não tanto quanto eu costumava.
Antes do meu colapso nervoso. (Campainha) [...]. Veja mais aqui.
UNE FEMME DOUCE – O drama francês Une
femme douce (Uma mulher
delicada, 1969), dirigido pelo cineasta e mestre do movimento minimalista
francês Robert Bresson (1901-1999),
tem seu roteiro baseado em romance do escritor russo Fiódor Dostoiévski
(1821-1881), conta a historia de uma mulher infeliz em flashbacks por não
conseguir se adaptar ao comportamento e caráter do marido, levando-a ao
suicídio. O destaque do filme é para a premiada atriz e modelo francesa Dominique
Sanda, que depois de descoberta por Bresson, foi destacada para participar
de filmes de Vittorio De Sica, Bernardo Bertolucci, Johm Huston, Mauro
Bolognini, Liliana Cavani e Jacques Demy, até ganhar o prêmio de Melhor Atriz
no Festival de Cannes de 1976. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte da desenhista, ilustradora e
autora italiana de histórias em quadrinhos Giovanna
Casotto.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante
de Meimei Corrêa. Na programação: Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.