VAMOS APRUMAR A CONVERSA? E
A BRONCA CONTINUA... -
(Imagem: matéria publicada no jornal Gazeta de Alagoas, Opinião, p. A4, Maceió,
sexta-feira, 07 de abril de 2000). Entre os anos de 1996/2000, publiquei quase
que quinzenalmente, alguns artigos na seção Opinião, da Gazeta de Alagoas. Esse
é um deles em que eu dava meu testemunho para a realidade em que nos
encontrávamos então. Foram esses artigos que me fizeram refazer uma pesquisa
iniciada no início dos anos 1980 e que, de forma intermitente, eu retomava no meio
dos meus afazeres. Resultado de leituras em uma tuia de livro acumulada ao
longo desses anos todos e que passavam o Brasil a limpo, e inspirado na
memorável obra do Sérgio Porto – Stanislaw Ponte Preta, o Festival de Besteiras Assolando o País - Febeapá, inventei de
entrar na onda do nada se perde, nada se cria, tudo se copia, e descaradamente
fiz um testemunho geral que denominei de Festival
de Cagadas Melando o País – Fecamepa. Imitação barata mesmo, admito, verdadeiro
pechisbeque da honorável obra imitada. Mas como qualquer gandula que se
aproveita da desleixada do juiz da partida pra empurrar a bola pra dentro do
gol adversário, inicialmente tomei gosto com mais afinco porque a revista Ultra
Portal tinha comprado a briga e me deu uma coluna para publicação desse meu
levantamento bem humorado semanalmente e que passei a chamar de croniquetas. Já
pensou? Pra folgado botar banca, basta surgir a oportunidade. E foi. A primeira
delas Por que Brasil, hem? Não economizei
na dedução e sobre a razão da gente escrever Brasil com “s” e os estrangeiros
com “z”. E pra dar mais corda no meu despropósito, essa croniqueta findou sendo
publicada na antologia Guardados e
Contextos (Guarajás, 2005), organizada por Clarisse Maia-Guedes. Era a
corda que faltava preu ficar mais espaçoso. Aí, depois dessa, eu vou me
ocupando em textos breves e bem humorados - pelo menos pra mim, né? -, na
tentativa de refazer o trajeto histórico desde o equivocado descobrimento até o
ano 2000, quando publico este texto que saiu na Gazeta de Alagoas. Ambição de recruta
essa de querer levantar 500 anos em meia dúzia de páginas. Mas, destá. Prossegui
depois com o registro do apagar das luzes do governo de FHC e da chegada à
presidência do Lulinha-paz-e-amor, em 2002. Aí dei um ponto e voltei a ser
espectador, não deixando em nenhum momento de fazer a minha parte. Pois bem, o
meu objetivo era e continua sendo até hoje, o de demonstrar que a safadeza, a
pinoia, a espórtula e todas as práticas nefastas que a gente vê espoucando nas manchetes
diárias de todos os jornais sobre propinodutos, gatunildos & ladronaldos
desse Brasilzão véio, arrevirado e de porteira escancarada, não é de hoje. Tomei
pé disso, porque desde que eu nasci que ouço falar de crise, roubalheira,
corrupção e o escambau. Será que só deixaram eu nascer para botar as manguinhas
de fora? Vixe! Pra meu alívio e, ao mesmo tempo, pânico brabo, é que depois das
leituras numa leva boa dum bocado de livro sobre a nossa história, aí que
fiquei sabendo que tudo isso vem desde muito antes: desde a chegada dos
portugas, quando nossos nativos adivinhando que eles não traziam só catinga, passou
a chamá-los de perós. Afinal nossos índios sábios já anteviam a tapeação que
vinham na bagagem deles. E deles aprendemos tudo, inclusive a dissimulução e a
possibilidade de qualquer histriônico se tornar celebridade – bastando ter uma
carinha simpática pras meninas e uma bundinha proeminente pros meninos, que a
mídia brazuca será pródiga em promover qualquer badameco em sujeito probo e
acima de qualquer suspeita no ápice da notoriedade. Pode conferir no amiudado
que terá essa constatação. Fazendo isso poderá constatar que o que a gente faz
hoje é usar da criatividade de repetir o que sempre foi feito no Brasil: sermos
uma grande corda de Fabos. O que é isso? Fabricantes de bosta! Fabos. Isso é o
que a gente mais sabe fazer. Aliás, diga-se de passagem, que essa é a faculdade
inata em cada um de nós brasileiros. Uns poucos conseguem, por ética e
educação, superar essa parte genética da nossa índole – mas que
inadvertidamente a reproduz de uma forma ou de outra no cotidiano nem que seja
algumas poucas vezes na vida, provavelmente. Outros mais afoitos, ou assumem a
cara de pau (esses são os mais fáceis de identificar e estão sempre querendo
estar bem na fita), ou se mantém anônimo também inconscientemente – ou não –
vestindo a carapuça, dando nó cego nas instituições públicas e na vida privada
das pessoas a todo instante e todo santo dia - uns aos outros, diga-se de
passagem. Então, repito: que Deus nos acuda! Ou vamos aprumar a conversa &
tataritaritatá! E veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Nu sobre o divã, do artista plástico Gilberto Geraldo.
Curtindo o álbum Nova saudade (2001), do pianista, arranjandor e compositor Cesar Camargo Mariano.
IDENTIDADE CULTURAL E
EDUCAÇÃO – No livro Professora sim, tia não: cartas para quem
ousa ensinar (Olho D’Água, 1993), do educador, pedagogista e filósofo Paulo Freire (1921-1997), encontro o
oitava carta denominada Identidiade cultural e educação, da qual destaco o trecho:
Perguntar-nos em torno das relações entre
a identidade cultural, que tem sempre um corte de classe social, dos sujeitos
da educação e a prática educativa é algo que se nos impõe. É que a identidade
dos sujeitos tem que ver com as questões fundamentais de currículo, tanto o
oculto quanto o explícito e, obviamente, com questões de ensino e aprendizagem.
Discutir, porém, a questão da identidade dos sujeitos da educação, educadores e
educando, me parece que implica desde o começo de tal exercício, salientar que
no fundo a identidade cultural, expressão cada vez mais usada por nós, não pode
pretender exaurir a totalidade da significação do fenômeno cujo conceito é
identidade. O atributo cultural, acrescido do restritivo de classe, não esgota
a compreensão do termo identidade. No fundo, mulheres e homens nos tornamos
seres especiais e singulares. Conseguimos, ao longo de uma longa história,
deslocar da espécie o ponto de decisão de muito do que somos e do que fizemos
para nós mesmos individualmente mas, na engrenagem social sem a qual não
seriamos também o que estamos sendo. No fundo, nem somos só o que herdamos nem
apenas o que adquirimos, mas a relação dinâmica, processual do que herdamos e
do que adquirimos. [...] Em
conclusão, a escola democrática não apenas deve estar permanentemente aberta à
realidade contextual de seus alunos, para melhor compreendê-los, para melhor
exercer sua atividade docente, mas também disposta a aprender de suas relações
com o contexto concreto. Daí a necessidade de, professando-se democrática, ser
realmente humilde para poder reconhecer-se aprendendo muitas vezes com quem
sequer se escolarizou. A escola democrática de que precisamos não é aquela em
que só o professor ensina, em que só o aluno aprende e o diretor é o mandante
todo-poderoso. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
INFÂNCIA DOS MORTOS – O livro Infância dos mortos (Record,
1977), do escritor e roteirista José
Louzeiro, conta a história sobre a infância de milhões de crianças que se
encontram na condição de menores abandonados ou carentes, no Brasil, tendo por
tema a vida e a morte desses pequenos que são considerados marginais. Da obra
destaco o trecho inicial: A manhã estava
clara e leve. Pichote livrou-se das folhas de jornal, olhou o dia que
principiava, os que entravam e saiam apressados na estação de trens. Ergueu-se,
antes que os guardas aparecessem. Surgiram por volta de 6 goras e espancavam os
que podiam pegar. Era a quarta vez que dormia na estação e escapava dos
guardas. Dito não acreditaria. Na primeira madrugada, acordou ainda escuro. Na
verdade, não chegou a dormir direito. Na segunda, despertou com o barulho dos
jornaleiros e do homem do bar, suspendendo as portas de fero. Na outra, sentiu
alguém mexendo nos seus bolsos. Era o crioulo risonho e bêbado, canivete apontado.
Não gritou, não disse nada. O crioulo revistou-lhe os bolsos, até encontrar a
cédula de cinco. Tive vontade de correr atrás, gritar-lhe palavrões, mas sabia
o quanto era arriscado. Por isso, tornou a encolher-se. Chorou baixinho e,
chorando, adormeceu. Despertou com a barulheira dos caminhões descarregando
jornais. Desta vez, o que o levava a acordar tão cedo era o compromisso com
Dito, Manguito e Fumaça. Cristal apareceria, entregaria o bagulho, retornariam
à estação, seguiriam como clandestinos até São Paulo. Pichote nunca fora àquela
cidade. O plano o fascinava. Não se recorda de emoção maior: viajar. [...]
Veja mais aqui, aqui e aqui.
A RESPOSTA DA TERRA E DOIS
POEMAS – No livro Canções da inocência e da experiência
(Bagaço, 1987), do poeta, tipógrafo e pintor inglês William Blake (1757-1827), destaco os poemas que foram traduzidos
por Antonio de Campos. O primeiro deles, O torrão de barro e o seixo: O amor não busca o seu próprio bem, / nem
cuida um instante de si mesmo. / Antes, pelo outro chega a dar a vida, / e
ainda no inferno, o paraiso faz. / Cantarra um torrão de barro, / no meio do
caminho, pisado. / Enquanto um seixo entoava, / na beira do rio, sua canção. /
O amor só busca o seu próprio bem, / pra acorrentar o outro em seu gozo, /
alegra-se quando só ele tem prazer, / e faz um inferno apesar do paraíso. Também
o poema A resposta da terra: Da triste
escuridão: luz / fugidia, a Terra ergueu / a fonte, e seus cabelos / de aflição
se tingiram. / Prisioneiro de meu próprio / corpo, queixoso e envelhecido, /
com as paixões já refreadas, / moderado, cuido eu de meu retiro. / Egoismo, pai
dos homens! Ciumento às trevas preso, / podes, desumano, alegrar / a radiância
do coração? / Guarda sua alegria a primavera, / com flores e botões a crescer?
/ O agricultor sem luz semeia, / ou colhe à noite o ceifeiro? / Egoismo
estéril! / Veneno eterno! / Corta as amarras / e livra o Amor. Por fim o
belíssimo A aflição do próximo: Posso ver
a aflição do próximo, / e ver de meu irmão o desespero / sem me sentir aflito
também, / nem ao que sofre buscar alívio? / Posso uma gota de lágrima ver, / e
ficarem enxutos meus olhos? / Pode um pai ver seu filho chorar / e não sentir
dor alguma ao peito? / Pode uma mãe ficar sentada a ouvir / o temor e o gemido
de sua criança? / Não, isso não acontece jamais! / Isso a luz do sol nunca
verá. / Pode, sem se condoer, aquele que / deseja paz e paz sobre a Terra, /
ouvir dum pássaro o canto amargo, / ver tristes os olhos duma criança, / e não
sentar-se à cabeceira, / vertendo pena em seu coração? / Não permanecer ao pé
do berço, / lágrima na lágrima da inocência, /ou não se quedar dia e noite, /
varrendo pra longe o pranto? / Não, isso não acontece jamais! / Isso a luz do
sol nunca verá. / Ele com todos reparte alegria, / ele se torna uma criacinha,
/ ele se faz um homem dolorido, / ele também sente o luto alheio. / Não penses
que dás um gemido, / e não está perto o teu Criador, / não penses que deitas
lágrimas, / e o teu Criador fica ausente. / A todos nós, ele nos dá sua alegria
/ destruidora de nossas atribulações; / até ao largo nossa aflição se fazer, /
está junto a nós e sofre nossa dor. Veja mais aqui, aqui e aqui.
MITODRAMA – O livro Mitodrama: o universo mítico e seu poder de cura (Ágora, 2000), da
escritora, ensaísta e professora universitária Contintha Maciel, trata sobre a historia da construção do
mitoderama, teogonia e o mito da origem do universo e do homem, o
circum-ambulatio, mapas dos caminhos para o universo mítico, entre outros
assuntos. Da obra destaco os trechos: [...] A
ideia de me tornar uma contadora de histórias vem me segundo/perseguindo nos
últimos anos e, mais recentemente, pelo princípio da sincronicidade essa
proposta tem caído em minhas mãos como frutas maduras. Um mitólogo é
considerado um contador de histórias, no sendo em que Hesíodo o foi para os
gregos. O adjetivo arcaico, em seu sentido historiográfico, aponta sempre para
uma época anterior ao pensamento racional. Em seu étimo, envolve a ideia de
arkhé, o princípio inaugural que dá origem a toda a experiência. [...] J. L. Moreno quando fala na Revolução
Criadora, embora não enfatizando a ideia de alma, está o tempo todo tornando-a
como o locus, onde o processo criador se desenvolve. Em Dramaturgia e
criaturgia, refere-se à alma como o palco onde o drama humano é encenado [...]
Para todo evento humano há sempre um mito
correspondente, e quando podemos trazer para a consciência o roteiro mítico em
que se estrutura determinado conflito, podemos resolvê-lo pelo principio símile
similibus curantur. Segundo Jung, se os mitos permanecerem no inconsciente,
eles poderão monitorar nossas vidas, dominando a consciência de forma
compulsiva, e às vezes destrutiva, pois, quando um mito é constelado, a pessoa
fica possuída por ele e forçada a cumprir sua meta fatal. Observa-se isto nas
neuroses e psicoses, em termos pessoais, e nas grandes mudanças no nível
coletivo, pois as correntes profundas se movimentam em meio a assuntos
aparentemente comuns da vida cotidiana. Dizer, portanto, que não é o homem quem
cria os mitos, mas é criado por eles, não é um mero jogo de palavras, mas a
constatação de uma verdade que toca as profundezas do sofrimento humano. Hoje,
os deuses tornaram-se doenças, de modo que se quisermos encontra-los, deveremos
olhar para nossas patologias. Tal afirmativa de Jung nos reforça a necessidade
de conhecer as narrativas mitológicas a fim de que possamos avaliar as
profundezas dos sofrimentos da psique. Tomamos, pois, como referencia, os doze
deuses olímpicos, em suas representações mais consagradas. Como cada enredo
mítico possui muitas variáveis, não nos preocupamos em correlacionar cada
figura mitológica a este ou àquele quadro clinico, pois, se assim o fizéssemos,
estaríamos reduzindo-as a um único viés. Além disso, muitos já fizeram e com
magistral conhecimento. O que nos interessou no mitodrama foi conhecer o enredo
mítico para podermos detectá-lo nas entrelinhas da queixa e, dessa forma,
estando com nosso cliente, facilitar a ele a experiência de viver o mito de
forma consciente e voluntária, para que assim possa livrar-se de sua compulsão
à repetição e tornar-se livre e senhor de sua história. Começamos nossos
estudos pelas origens, não pelo princípio, pois que o princípio é histórico,
pressupondo tempo e espaço delimitados. A origem mítica, é a fonte de onde
emana o impulso e provém do espanto, da dívida e da comoção diante de uma
situação-limite. Começamos, pois, com a Teogonia, a origem do universo e da
vida. Veja mais aqui.
DIETA MEDITERRÂNEA – A comédia Dieta mediterrânea (mediterránea Diet, 2008), dirigida pelo cineasta espanhol Joaquin Oristrell, conta a história de uma
mulher que é jeitosa, atrevida, mandona e a melhor cozinheira do mundo – com
seu corpo esguio e belos seios -, envolvida com dois homens que tentam criar
uma lenda no mundo da culinária, envolvendo-se num triângulo amoroso: ela ama
seu marido, do qual é esposa, amante e cheg de cozinha, e se apaixona pelo
homem com quem ela aprende os segredos da culinária, formando um acordo
profissional e sexual. Desse acordo, a mulher se torna uma sacerdotisa no
ritual de preparar comida para ser servida e apreciada, tornando o filme bem ao
gosto de qualquer paladar. O destaque vai para a bela e sensual atriz espanhola
Olivia Molina. Veja mais aqui.
FLIMAR – Acontecerá entre os dias 11 e 15 de novembro
de 2015, na cidade de Marechal Deodoro (AL), a VI Feira Literária de Marechal Deodoro (VI FLIMAR), que este ano
homenageia o escritor alagoano Jorge de Lima. Segundo informações do secretário
de cultura do município, o escritor Carlito Lima, já estão confirmadas as
presenças de Ignácio Loyola Brandão, Maurício Melo Junior, Larissa Normande,
Pedro Cabral, Mácleim, Leticia Elena Silveira, Ovidio Poli, Monica Montone,
Norma Duarte, José Inacio Vieira de Melo, entre outros. Além disso, no evento
acontecerá palestras, concertos, shows noturnos, serestas, mesa de debates,
exposições, folclore, saraus poéticos, livrarias, feiras de arte e cultura, e
para a criançada a Flimarzinha. Trata-se de um dos mais importantes eventos literários realizados no Estado de Alagoas, consagrando-se pela sua amplitude de resgatar a cultural e a arte da cidade de Marechal Deodoro, como também levar aos munícipes a convivência com personalidades artísticas do Brasil e do exterior em cada uma das suas edições. Veja mais aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Projeto de Extensão Infância, imagem e Literatura na
comunidade de Jacaré/Recanto da Ilha – Marechal Deodoro – AL. Da
esquerda pra direita: Franciele Miranda, Luiz Alberto Machado, Prof. Claudio
Jorge Morais, Gustavo Kresc & Williane Sotero. Veja mais detalhes aqui.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Noite Romântica, a partir das 21hs, no
blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix
MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot
Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para
conferir online acesse aqui.
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