VAMOS APRUMAR A CONVERSA? O
PAPEL DA ARTE NO DIREITO À SAÚDE
– A Declaração Universal dos Direitos Humanos, de 1948, foi uma resposta às
tragédias promovidas pelas duas grandes guerras que ocorreram na primeira
metade do século XX, - muito embora, ainda hoje, o ser humano utilize o
expediente lamentável da guerra. Esses direitos foram contemplados na condição
de garantia fundamental e direito natural definidos pela escala evolutiva e
histórica da humanidade, e que se tornaram a principal proteção da dignidade
humana e sua integridade física, moral e mental. Assim, o ser humano passou a
ser robustecido por direitos civis, sociais, políticos e difusos nas dimensões
sociais, jurídicas, econômicas, políticas, antropológicas e psicológicas, entre
outras. Esses direitos tornaram-se indispensáveis e necessários para a
existência humana, assegurando a dignidade, a igualdade e a liberdade humanas,
objetivando o combate à violação de direitos e crueldade totalitária. Assim, passou-se
a compreender a dignidade designa o conjunto de condições favoráveis de caráter
moral, física e espiritual à vida do cidadão, sendo, pois, prerrogativa de todo
ser humano. Entre esses direitos está o direito à vida e, por consequência, à
saúde, o mais básico de todos os direitos por ser um pré-requisito da
existência humana, assegurando-se um nível mínimo de vida, compatível com a
dignidade, incluindo, assim, o direito à alimentação adequada, à moradia, ao
vestuário, à educação, ao meio ambiente equilibrado, à informação, ao
conhecimento, à cultura e ao lazer, entre outros indispensáveis à qualidade de
vida do ser humano. Por essa razão, esse direito compreende o bem-estar e a
saúde plena, bem como à prevenção de doenças e ao cuidado e tratamento daqueles
que são vitimados por quaisquer enfermidades ou infortúnios. É no
reconhecimento desse direito que o papel da arte pode e deve ser fundamental, tanto
na prevenção e promoção da saúde por meio da utilização dos mais diversos recursos
e técnicas de expressão disponíveis para interação, relações e difusão do
conhecimento, como no cuidado e tratamento na utilização, por exemplo, do
Psicodrama, Sociodrama e de outras atividades identificadas como terapêuticas,
em conjunto com outras intervenções necessárias ao restabelecimento e ao
bem-estar físico, moral, social, ecológico e espiritual do ser humano. Esta é a
condução adotada pelos Doutores da Alegria e de outras manifestações artísticas
que definiram a sua função artística em prol do outro e do melhor
desenvolvimento das relações humanas. Este foi o pensamento básico que tive ao
desenvolver as atividades acadêmicas de pesquisa no projeto A
contribuição do teatro no desenvolvimento da linguagem da criança, sob a
perspectiva sócio-histórica, procurando agora aprofundar as
intervenções tanto na esfera preventiva e de promoção da saúde, como na
educação, no cuidado e no tratamento de enfermidades. Afinal, levo sempre
comigo o lema proposto por Milton Nascimento/Fernando Brant: Todo artista tem de ir aonde o povo está.
E veja mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: Female nude, da pintora francesa Suzanne Valadon (1867-1938).
Curtindo Laudate Dominum, do compositor austríaco Wolfgang Amadeus Mozart (1756-1791), com a ex-regente e renomada soprano
Claudia Riccitelli, conducts León
Halegua, The Orquestra Sinfônica & Coral da Hebraica, São Paulo.
A ARTE PARA SALVAR O MUNDO – O livro O cuidado com o mundo: diálogo entre Hannah Arendt e alguns de seus
contemporâneos (UFMG, 2004), da professora e pesquisadora Doutora em
Filosofia, Sylvie Courtine-Denamy, trata sobre dizer o mundo e a língua como
pátria, estrangeiro no mundo, um mundo fora dos eixos, responder pelo mundo, a
pol´tica como vir-a-ser-mundo, uma política nova pra um mundo novo, por amor ao
mundo e a arte para salvar o mundo. Da obra destaco a última parte, a arte para
salvar, da qual destaco o trecho: Educar
por amor ao mundo: a permanência do mundo repousa, então, na natalidade, na
renovação incessante das gerações, no nascimento de homens novos que tenham
cuidado com o mundo. Ou seja, que sejam capazes de renová-lo através de sua
ação, suceptiveis assim a dar inicio a algo novo [...] Que é melhor citar os poetas do que escrever sobre eles, tarefa entre
todas a mais complicada, é o que Arendt havia compreendido muito bem. Como já
vimos, a arte, o fenômeno do Belo não se extraem da categoria da verdade e da
faculdade do conhecimento, mas da significação – Bedeutung, a mais goethiana
das palavras [que] retornam sem cessar nos escritos de Benjamim – e da
faculdade de pensar. [...] Tal como
os bardos da Grécia antiga, convencidos de que os deuses só enviavam
infortúnios e males aos mortais para que, dos mesmos, fossem compostas
histórias e cantos, convencidos, enfim, de que a poesia nasce do desespero,
esses grandes poetas compreenderam, então, que cabia a eles salvar o mundo,
fazendo-lhe o seu elogio. Nem tanto para justificar a criação divina, mas para
se opor a tudo que fosse fonte de insatisfação da condição humana, como se o
elogio tirasse sua força das feridas mesmas: O Happy Grief! [...] Para manifestar o cuidado com o mundo,
ocupando-se dele e assim salvando-o da ruina, os homens disporiam, então, de
duas faculdades bem distintas: a ação política e o trabalho com a palavra,
tanto pela forma do testemunho quanto pela forma do poema. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
ESTRANHO CASO DE BENJAMIN
BUTTON – O livro O estranho caso de Benjamin Button
(Presença, 2009), do escritor e roteirista estadunidense Francis Scott
Fitzgerald (1896-1940), conta a historia de um homem que nasce com
aparência envelhecida e por isso, ao pensar que é um monstro, seu pai o
abandona. Ele é criado num lar assistencial de idosos e que ninguém acredita na
sua sobrevivência, ocorrendo um fato curioso, a cada ano que passa ele vai
ficando mais jovem enquanto os outros envelhecem. Da obra destaco o trecho: [...]
Uma imagem grotesca surgiu, com terrível
clareza, diante dos olhos do homem torturado, uma imagem de si mesmo a caminhar
pelas ruas cheias de gente da cidade com aquela pavorosa aparição a andar
silenciosamente ao seu lado. “Não posso. Não posso”, gemeu. O que diria às
pessoas que parassem para lhe falar? Teria de apresentar este... aquele
septuagenário: “Este é o meu filho, nasceu esta manhã, cedo”. Depois o velho
apertaria o cobertor em volta do corpo e seguiriam o seu caminho, passando
pelas lojas movimentadas, pelo mercado de escravos — durante um sombrio
momento, Mr. Button desejou veementemente que o filho fosse preto —, passando
pelas casas luxuosas do bairro residencial, passando pelo lar dos velhos... — Então!
Controle-se! — ordenou a enfermeira. — Ouça — avisou, de súbito, o velho —, se
pensa que vou a pé para casa embrulhado neste cobertor, está redondamente
enganada. — Os bebês sempre usam cobertores. Com uma risadinha maliciosa, o
velho levantou um pequeno cueiro branco. — Olhem! — exclamou a voz de cana
rachada. — Isto é o que tinham para mim. — Os bebês sempre usam isso — sentenciou
a enfermeira, presumidamente. — Pois bem — respondeu o velho —, este bebê não
vai usar nada dentro de cerca de dois minutos. O cobertor dácomichão. Podiam
ter-me dado, ao menos, um lençol. — Não o tire! Não o tire! — apressou-se Mr.
Button a dizer. Depois voltou-se para a enfermeira e perguntou: — O que é que
eu faço? — Vá à baixada e compre algumas roupas para o seu filho. A voz do
rebento de Mr. Button seguiu-o pelo corredor afora: — E uma bengala, pai.
Preciso de uma bengala. Mr. Button bateu brutalmente com a porta de saída...
[...]. A obra foi adaptada para o cinema, pela qual ganhou diversos prêmios com
direção de David Fincher, lançado em 2008. Veja mais aqui.
ELA E O DESEJO INDA OUTRA VEZ – No livro Hora aberta – poemas reunidos (Vozes, 2003), do poeta, advogado e professor universitário de Teoria da
Literatura e Literatura Brasileira, Gilberto
Mendonça Telles, destaco, inicialmente, o soneto Inda outra vez: Inda outra vez, beijar-te, como outrora, /
ao sol dos dias flóridos de outono, ; quando a tua alma, tímida e sonora, /
sorria alegre, sem vaidade e entono. / Inda outra vez, possuir-te no abandono /
dos campos, sob o céu em plena flora, / e nos teus olhos pálidos de sono, /
pousar minhalma sonolenta agora. / Inda outra vez, falar-te, com desejo, /
sentindo a tua alma sôfrega e faminta, / entrar-me pela boca por um beijo. / E,
sonhando, outra vez, ter-te nos braços, / tentando reavivar a chama extinta /
do antigo e ardente amor feito em pedaços. Também o soneto Desejo: Alma de Messalina, alma sedenta sois. / Em
vossa artéria, ardente, a lascívia circula / deixando em fogo a carne e indo
lançar, depois, / a sensação na vossa intrínseca medula. / O amor vos encendeia
os olhos (esses dois / reflexos de volúpia) e em vossa alma acumula / a sede do
prazer insaciável, pois / vai despertando em vós libidinosa gula. / Alma de
sensitiva, o vosso corpo explode / em sísmico tremor; uma explosão sacode / o
vosso seio, quando a minha mão o toma. / Quando eu o tomo, assim em minhas
mãos, sacode-o, / em lúbrico delírio, um misto de amor e ódio / e um fluxo de
luxúria ao vosso olhar assoma. Por fim, o soneto Ela: Ela surgiu, qual Vênus, de alva espuma, / da espuma de meu sonho
alcandorado, / do sorriso suavíssimo de alguma / onda inquieta de um mar
esverdeado. / Ela vibrou em mim. Foi como um brado / que se eleva pelo ar,
depois se esfuma, / deixando um som sereno, envolto numa / deliciosa impressão
de ser amado. / E ela é bravia como um mar sem calma, / serena como um
pensamento langue, / alegre e triste como uma saudade; / ela canta e suspira na
minhalma, / ela geme, sorrindo, no meu sangue / num paradoxo de felicidade. Veja
mais aqui e aqui.
BONEQUINHA DE SEDA DO ÉBRIO
- A atriz, cineasta,
cantora, escritora e radialista brasileira nascida na França, Gilda de Abreu (1904-1979), começou sua
trajetória como atriz de teatro na comédia romântica Bonequinha de Seda, em
1933. Neste mesmo ano, casou-se com o cantor e compositor Vicente Celestino,
com quem, em 1946, tornou-se uma das primeiras mulheres no Brasil a dirigir
filmes, obtendo sucesso retumbante com o melodrama O Ébrio, contando a ascensão
e decadência de um cantor de sucesso decepcionado sentimental e tragado pelo
alcoolismo. Em 1934, ela atuou no musical A canção brasileira. A partir de
1936, integra a Companhia dos Irmãos Celestinos. Em 1937, atua na peça teatral
Alegria, de Oduvaldo Vianna. Em 1947, ela dirigiu os dramas Pinguinho de Gente
e Coração Materno, este último atuando como roteirista. Em 1951, realiza o
documentário Chico Viola não morreu, sobre a vida e canções de Francisco Alves.
Além disso, era autora das peças teatrais Aleluia, A mestiça, Arcad de Noé e
Alma de Palhaço, entre outras, afora ser autora de diversos livros e
radionovelas, bem como cantora lírica e de operetas. Veja mais aqui.
DE SALTO ALTO – O filme Tacones lejanos (De salto alto, 1991), do cineasta, ator e
roteirista espanhol Pedro Almodóvar,
conta a história de uma famosa cantora pop que há quinze anos abandonou a filha
para investir na carreira. De volta à sua terra natal, surpreende-se ao
descobrir que a filha é agora uma estrela de TV e que está casada com seu
antigo amante. A mistura de gêneros pós-moderna com a extravagância das cores e
a excentricidade dos objetos de cena, fazem as marcas profundas das
características do cineasta com ampliação por territórios até então
inexplorados, como um drama psicológico com uma narratiza eletrizada,
comicidade melodramática com intriga policial e sobrepondo histórias pela
difícil convivência entre mãe e filha, o destino, as paixões fulminantes, as
irrupções cômicas, tramas e subtramas na maior irreverência. O destaque do
filme vai para a atriz e cantora espanhola Victoria Abril. Veja mais aqui,
aqui, aqui, aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do escultor português Arlindo Rocha (1921-1999)
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa SuperNova, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Na
programação: Em seguida, o
programa Mix MCLAM, com Verney Filho
e na madrugada Hot Night, uma
programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse
aqui.
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