VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
NASCENTE – A edição nº
15 – colorida, 16 páginas, ano II, nov/dez/1998-jan/1999, do tabloide Nascente – Publicação Lítero Cultural,
traz como editorial Missiva aos quatro cantos do mundo. Na seção Bate Papo, entrevista com Jorge Amado. E
no Notas Literárias, coluna assinada
por Ari Lins Pedrosa: O sonho de Alice, de Maria Lucia Nobre dos Santos; a
revista Blau (RS), o folheto Letraviva (RJ) e a última entrevista de José Paulo
Paes. As matérias publicadas nesta edição: A arte do espetáculo, não o
espetáculo da arte, de Guido Bilharinho (MG); Hermilo de Palmares, de Sônia van
Dijck (PB); Ossos, músculos, vermes e flores por José Luiz Dutra de Toledo (SP);
Carícia da Felicidade, por Arriete Vilela (AL); Paisagem depois da pintura, por
Almandrade (BA); Natal, por Felisbelo da Silva (CE); e na seção Tabuletas, o episódio das Proezas
do Biritoaldo: Quando risca fogo, o rabo inflamável sofre que
só sovaco de aleijado. Além disso, matérias sobre a Bienal do Livro e
da Arte de Alagoas, a III Feira do Livro de Fortaleza, o 4º Maceió Jazz
Festival, XIV Bienal de São Paulo, I Seminário Brasileiro da Produção Cultural
e o Salão Internacional do Livro de São Paulo. Na seção de Humor tiras de
Cedraz & charges de Lupin, Rico e Calafange. Na seção do Premio Nascente de Arte Infanto-Juvenil,
trabalhos da garotada: Juliana Sena, 4 anos (Colégio Menino Jesus – Maceió-AL),
José Ventura Leite Junior (Ginásio Municipal – Palmares –PE), Nathália Senna,
11 anos (Colégio Menino Jesus – Maceió-AL), Nicola, 09 anos (Escola Monteiro
Lobato – Maceió-AL), Larissa Cris Viera da Paixã, 06 anos (Colégio Carlos
Drummond – Maceió-AL) e Diogo Palmeira Acioli (Colégio Santa Terezinha –
Maceió-AL). Na seção Nascente Poético,
poemas de Claudio Feldman (SP), Whisner Fraga (MG), Anand Rao (DF), Arriete
Vilela (AL), Almandrade (BA), Mauricio de Macedo (AL), Rogério Salgado (MG),
Denise Teixeira Viana (RJ), Milton Dias Fernandes (MG), João Bosco de Castro
(MG), Ari Lins Pedrosa (AL), Osael Carvalho (RJ), Francisco Araujo Filho (AL),
Felisbelo Silva (CE), Severino Cassiano (PE), Gomes (CE), Cecilia Fideli (SP), Marcos
Ramon (MA), Chrys Andrezza (PE), Carlos A S Lopes (VA), Lari Franceschetto
(RS), Belinha Ribeiro (PR), Maria de Fátima Dias (MS), Amadeu Thomé (MG), Rosy
Arruda (MT), Jorge Luiz (AL), Maria Thereza Carvalheiro (SP), Renato Salatiel,
Selmo Vasconcelos (RO), Humberto Del Maestro (ES), Paulo Guggiana (RS),
Claudebara Soares (AM). Na seção Registro:
a Feira da Habitação, Arquitetura e Decoração – Habite (AL), o lançamento do
livro Luta dentro de mim, do poeta Edmauro Gomes; o livro Feminino/Masculino:
imaginário de diferentes épocas, de Eloá Jacobina e Maria Helena Kuhner; a
coletania Conquistando mais amizades, de Fátima Segatto (RS); o curso História
da Arte e Cultura Oriental Arte e Arquitetura Japonesa: influencia e difusão,
ministrado por Celia Campos; o I Festival de Poesia na Amazonia; o livro Poemas
do lado de dentro, de Adélia Magalhães; a Minha Revistinha, da Turma do Xaxado,
de Antonio Cedraz (BA); os livros Miscelânea Literária e Navegando na
Literatura, de Aldenor Benevides (CE); a peça teatral A flor e o sol de Cicero
Belmar; a I Mostra de Teatro Sesc-Maceió; a estreia da peça teatral Falange,
Falanginha, Falangeta, do grupo Ascenarte Produções Artisticas, no
Teatro Cinema Apolo, em Palmares –PE, com direção de Gilvan Mota, no projeto
Arte+Educação=Teatro, promovido pelo Dere/Mata Sul, gestão Flavio Miranda. Na
seção Espaço Aberto recebemos
missivas de Salomão Laredo (PA), Tania Francolacci Shambeck (SC), Luiz Fernando
da Silva (PB), Jorge Saraiva Anastácio (MG). Zeca Domingosilva (RO), Danilo
Sampaio (SE), Fernando Cereja (SP), Silvério Costa (SC), Anchieta Santa (PI),
Mara S; J; Silva (PR), Zinei (SP), Leontino Filho (RN), Reginaldo Zoid (SP),
Piero lo Tacono (Italia), Marina de Fátima Dias (MS), Rolando Revagliatti
(Argentina), Severino Cassiano Ferreira (PE), Sidney Gomes (ES), Maria Tereza
Cavalheiro (SO) e Sérgio Junior (RJ). Destaques da edição para o desenho de
Ângelo Meyer, do Teatro Cinema Apolo, sede da Fundação Casa da Cultura Hermilo
Borba Filho, em Palmares – PE. Também a foto de José Ademir Machado dos Santos,
da Praia de Pajuçara, em Maceió, premiada na II Jornada Turística Você escolhe
o cartão-postal de Maceió. A Gata do Mês
deste número foi dedicado à modelo, estudante e Miss São Miguel dos
Campos/1999, Macy Barbosa, 21 anos, fotografada por André Fon. Veja mais aqui e
aqui.
Imagem: Nude Standing Female, do pintor do Fauvismo francês Albert Marquet (1875-1947).
Curtindo o álbum Yerbabuena & nopal (2003), da cantora e
atriz espanhola Rocio Jurado
(1946-2006)
PALAVRAS
E PENSAMENTOS – No livro Do que é feito o pensamento: a língua como janela
para a natureza humana (Companhia das Letras, 2008), do escritor, linguista e psicólogo
canadense-americano Steven Pinker,
encontro o capítulo denominado Palavras e pensamentos, do qual destaco o
trecho: Tomemos o pomo da discórdia do
debate semântico mais caro do mundo, a discussão de 3,5 bilhões de dólares
sobre o significado de "event". O que, exatamente, é um evento, um
fato? Um evento é um período de tempo, e o tempo, segundo os físicos, é uma
variável contínua - um fluxo cósmico inexorável, no mundo de Newton, ou uma
quarta dimensão no hiperespaço contínuo, no de Einstein. Mas a mente humana
esculpe esse tecido em pedaços independentes a que chamamos eventos. Onde a mente coloca as
incisões? Às vezes, como ressaltaram os advogados do arrendatário do World
Trade Center, o corte engloba a mudança de estado de um objeto, como o
desabamento de um prédio. E às vezes, como ressaltaram os advogados das
seguradoras, ele engloba o objetivo de um agente humano, como uma trama sendo
executada. Na maioria das vezes, os círculos coincidem: um agente pretende
fazer com que um objeto mude, a intenção do agente e o destino do objeto são
acompanhados numa única linha temporal, e o momento da mudança marca a
consumação da intenção. O conteúdo conceitual por trás da linguagem em disputa
é, por si só, como uma língua (idéia que ampliarei nos capítulos 2 e 3).
Representa uma realidade análoga por unidades digitais, do tamanho de palavras
(como "event"), e as combina em organizações com uma estrutura
sintática, em vez de misturá-las como trapos dentro de um saco. É essencial
para nossa compreensão do 11 de setembro, por exemplo, não apenas que Bin Laden
tenha agido para prejudicar os Estados Unidos, e que o World Trade Center tenha
sido destruído mais ou menos naquela época, mas que foi o ato de Bin Laden que causou a destruição. É a ligação
causal entre a intenção de um homem específico e a mudança em um objeto
específico que distingue a compreensão mais disseminada do 11 de setembro das
teorias da conspiração. Lingüistas chamam o conjunto de conceitos e os esquemas
que os combinam de "semântica conceitual". A semântica conceitual - a
linguagem do pensamento - tem de ser diferente da linguagem em si, senão não
teríamos para onde ir quando discutíssemos o que nossas palavras significam. O
fato de que interpretações rivais de um mesmo episódio possam desencadear um
processo judicial extravagante evidencia que a natureza da realidade não dita a
forma como a realidade é representada na cabeça das pessoas. A linguagem do
pensamento nos permite enquadrar uma situação de maneiras diferentes e
incompatíveis entre si. O desenrolar da história da manhã de 11 de setembro em
Nova York pode ser pensado como um fato ou dois fatos, dependendo de como o
descrevemos mentalmente para nós mesmos, o que por sua vez depende de no que
escolhemos nos concentrar e o que escolhemos ignorar. E a capacidade de
enquadrar um fato de formas auto-excludentes não é só motivo para ir aos
tribunais, mas também é a fonte da riqueza da vida intelectual humana. Como
veremos, ela proporciona o material para a criatividade científica e literária,
para o humor e os trocadilhos, e para os dramas da vida social. E arma o
cenário para inúmeras arenas de disputa humana. As pesquisas com células-tronco
destroem uma bola de células ou um ser humano incipiente? A incursão militar
norte-americana no Iraque é um caso de invasão de um país ou de libertação de
um país? O aborto consiste em encerrar uma gravidez ou em matar uma criança?
Impostos altos são uma forma de redistribuir a renda ou de confiscar receita? A
medicina socializada é um programa para proteger a saúde dos cidadãos ou para
expandir o poder do governo? Em todos esses debates, duas formas de enquadrar
um fato são colocadas uma contra a outra, e os contendores lutam para mostrar
que seu enquadramento é o mais adequado (critério que exploraremos no capítulo
5). Na última década, lingüistas proeminentes vêm orientando os democratas
norte-americanos sobre como o Partido Republicano conseguiu, mais do que eles,
fazer esse enquadramento nas últimas eleições, e sobre como eles podem retomar
o controle da semântica do debate político, reenquadrando, por exemplo, taxes
[impostos] como membership fees
[anuidades/mensalidades] e activist
judges [juízes ativistas] como freedom
judges [juízes pela liberdade]. O debate sobre a cardinalidade do 11 de
setembro ressalta um outro fato curioso sobre a linguagem do pensamento. Quando
reflete sobre como contar os eventos daquele dia, pede que os trate como
objetos que podem ser contabilizados, como uma pilha de fichas de pôquer. O
debate sobre se houve um fato ou dois em Nova York naquele dia é como uma
discussão sobre se há um item ou dois num caixa rápido de supermercado, como um
par de tabletes de manteiga tirados de uma caixa de quatro, ou um par de
toranjas vendidas a duas por um dólar. A semelhança na ambigüidade entre
contabilizar objetos e contabilizar fatos é uma das muitas maneiras pelas quais
o espaço e o tempo são tratados de modo equivalente na mente humana, bem antes
de Einstein descrevê-los como equivalentes na realidade. Como veremos no
capítulo 4, a mente classifica a matéria em coisas individuais (como a sausage [uma lingüiça]) e em
matéria contínua (como meat
[carne]), e do mesmo jeito classifica o tempo em fatos individuais (como to cross the street [atravessar a
rua]) e em atividades contínuas (como to
stroll [passear]). Tanto com o espaço como com o tempo, o mesmo zoom
mental que nos permite contar objetos ou eventos também nos permite ver ainda
mais de perto do que cada um é feito. No espaço, podemos nos concentrar na
composição material de um objeto (como quando dizemos I got sausage all over my shirt [Tenho lingüiça na minha blusa
inteira]); no tempo, podemos nos concentrar numa atividade que compõe um evento
(como quando dizemos She was crossing
the street [Ela estava atravessando a rua]). Esse zoom cognitivo também
permite que nos afastemos no espaço e vejamos uma coleção de objetos como um
conjunto (como na diferença entre a pebble
[um seixo] e gravel
[cascalho]), e que nos afastemos no tempo e vejamos uma coleção de eventos como
uma iteração (como na diferença entre hit
the nail [bater num prego] e pound
the nail [martelar um prego]). E no tempo, assim como no espaço,
mentalmente colocamos uma entidade num certo local e então a movimentamos:
podemos move a meeting from 3:00 to
4:00 [transferir uma reunião das 15h para as 16h] da mesma maneira como
podemos move a car [mover um
carro] do começo até o fim de um quarteirão. Por falar em fim, até algumas das minúcias de
nossa geometria mental se transportam do espaço para o tempo. O end of a string [a ponta/o fim de
um cordão] é tecnicamente um ponto, mas podemos dizer Herb cut off the end off the string [Herb cortou fora a ponta/o
fim do cordão], mostrando que o fim pode ser interpretado incluindo um
penduricalho de matéria adjacente a ele. O mesmo acontece com o tempo: o end of a lecture [fim de uma
palestra] é tecnicamente um instante, mas podemos dizer I'm going to give the end of my lecture now [Vou fazer agora o
fim/a conclusão de minha palestra], interpretando o encerramento de um evento
incluindo um pequeno período de tempo adjacente a ele. Como veremos, a língua está
repleta de metáforas implícitas como FATOS SÃO OBJETOS e TEMPO É ESPAÇO. O
espaço, na verdade, revela-se um veículo conceitual não apenas para o tempo,
mas para vários tipos de estados e circunstâncias. Assim como uma reunião pode move from 3:00 to 4:00 [mudar das 15h
para as 16h], um semáforo pode go from
green to red [ir/passar do verde para o vermelho], uma pessoa pode go from flipping burgers to running a
corporation [ir/passar de balconista de lanchonete a diretor de
empresa], e a economia pode go from
bad to worse [ir de mal a pior]. A metáfora está tão disseminada na
língua que é difícil encontrar expressões para idéias abstratas que não sejam metafóricas. O que a
concretude da linguagem diz sobre o pensamento humano? Ela implica que mesmo
nossos conceitos mais etéreos são representados na mente como pedaços de
matéria que mudamos de lugar num palco mental? Ela indica que afirmações rivais
sobre o mundo nunca podem ser verdadeiras ou falsas, mas apenas metáforas
excludentes entre si que enquadram a situação de modos diferentes? Essas são as
obsessões do capítulo 5.[...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
UMA HISTÓRIA INVEROSSÍMIL – No livro Flores artificiais (Companhia das Letras, 2014), do premiado
escritor Luiz Ruffato, encontro a
parte denominada Uma história inverossímil, da qual destaco o trecho: Li, certa vez, um ensaio do escritor
italiano Luigi Pirandello em que ele afirma que a vida pode ser inverossímil, a
arte não. Pois esta história, por ser real, soará talvez fantasiosa. Para
comprová-la sequer conseguiria avocar o testemunho do protagonista, que jaz
numa cova rasa no alto do Cemitério Municipal de Juiz de Fora, interior de
Minas Gerais. Nem mesmo saberia localizar os personagens secundários, há muito
encobertos pelo pó do tempo. Portanto, cabe empenhar minha palavra de que o
aqui exposto busca recompor, da melhor maneira possível, alguns aspectos da
biografia de Robert (Bobby) William Clarke. O resultado é uma envergonhada
sombra de sua verdadeira trajetória —
que
possui passagens muito mais insólitas... As noites de inverno costumam ser
bastante frias em Juiz de Fora. Podem tornar-se insuportáveis, caso não se
esteja bem agasalhado. Eu vinha de Rodeiro, lugar quente, filho de uma família
de sitiantes pobres, e, embora há tempos morando na cidade, não me habituava
com a mudança de clima. Naquele segundo ano cursando engenharia, tinha me
estabelecido numa pensão barata na parte baixa da rua Batista de Oliveira, que,
se durante o dia animava-a forte comércio monopolizado por sírios e libaneses,
à noite transformava-se em reduto de pequenos traficantes, malandros e
meretrizes. Partilhava o quarto, constituído por dois beliches e guarda-roupa,
com dois estudantes, um de direito, outro de odontologia, e um sujeito, pouco
mais velho que nós, que consumia os dias à janela, fumando cigarros ordinários
e falando sobre projetos irrealizáveis. Seguia com rigor uma rotina. Pela
manhã, incluso na mensalidade, dona Clarice oferecia-nos pão mirrado, no qual
lambuzava uma leve camada de margarina, e uma caneca de ágata cheia de café
ralo manchado por um pingo de leite. Saía correndo, pegava um ônibus lotado,
assistia aulas até o meio-dia, almoçava uma comida insossa e pesada no
restaurante universitário, acompanhava com sono algumas disciplinas à tarde. De
regresso, conversava com os colegas, repassava lições, lia um romancista russo,
minha obsessão naquela época. Perto das onze e meia me dirigia à avenida dos
Andradas, onde aguardava, junto com boêmios, desempregados, prostitutas e
desvalidos em geral, Bebel servir, à meia-noite, sua famosa porque baratíssima
sopa, elaborada com sobras do dia, com que nos refestelávamos. [...]. Veja mais aqui e aqui.
O OFÍCIO DE ENGORDAR AS
SOMBRAS & ACASO CAOS
– Durante a realização da Fenelivro este ano, em Olinda, conheci pessoalmente o
poeta, jornalista e historiador Bruno
Gaudêncio, de quem eu conhecia apenas de livro. Dele eu já havia lido O ofício de engordar as sombras (Sal da
Terra, 2009), com apresentação do poeta e professor Sebastião Costa Andrade e
do poeta José Inácio Vieira de Melo, que na primeira parte Diário das sombras
severas, destaco o poema Versos íntimos: Eu,
/ cheio de ossos e intenções / perturbo / com meus versos curtos / e dedos
longos / o sentido das trevas que me pertencem. Na segunda parte, As cores
do invisível, destaco o ótimo poema Submersos sabores: No transparente suspiro dos corpos / sussurram palavras de submersos /
sabores. / O prazer, dentro da gente, / se faz e refaz ao longo das horas... /
ao longo dos dias. / Prisioneiro do tempo / pergunto ao desejo sobre / a
lonjura da solidão, - / essa mão ligeira que embriaga / os espaços perpétuos do
coração. / Indago sobre o miolo da angustia sincera / essa prece gratuita que
voa / rente as ranhuras do abismo / do corpo e da alma. / Desejo dentro da
gente, / se faz e refaz ao longo das horas... / ao longo dos dias. / Há sempre
um deus brincando / na forma disforme do amor. Gostei do livro. Agora tenho
às mãos, o seu mais recente livro Acaso
caos (Ideia, 2013), com apresentação do poeta e tradutor paraibano Luís
Avelima e do poeta carioca Sérgio Bernardo, posfácio do poeta e critico
literário Weslley Barbosa, e comentários de Lau Siqueira, Linaldo Guedes,
Astier Basílio, Hildeberto Barbosa Filho, Sergio Castro Pinto, entre outros. Na
primeira parte Ruídos do efêmero destaco, incialmente, Cadernos de Pele: o olho não diz / quantos espelhos / são
capazes / de sangrar / a aurora, / mas cala / as pedras / com o / silêncio / da
queda / no cântico / sonoro / da solidão. E, também O tamanho de uma cor: não
se pesa / um poeta / por palavras, / apenas / não se mede / um poema / por
sentidos / (em cenas) / pois um poeta / é o peso / e a medida / do poema /
(in)exato. Na segunda parte Elementos do acaso, destaco o belíssimo O
delírio das rosas: vermelhas elas gritam
/ com os seus delírios dialéticos / espinhos que comem abismos / penentram os
nossos destinos / (dançando a valsa dos ventos) / e ao murcharem / o fogo dos
seus gestos / já não afagam os nossos olhos. Muito bom. O poeta tem
demonstrado a firmeza de quem sabe o que faz, meritório, inclusive, de ser
reverenciado pelo talento, aplausos. Parabéns, Bruno. Veja mais aqui e aqui.
CASAMENTO DO PEQUENO
BURGUÊS – A peça teatral
O casamento do pequeno burguês
(1919-1926/Deriva, 2012), do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt
Brecht (1898-1956), conta a história de um casamento caracterizado pelo
conflito, em que todos os membros familiares envolvidos adotam posições
antagônicas, instigando a reflexão sobre a moral, os valores, tradições e
conveniências burguesas. Da obra destaco o trecho inicial da peça: (Uma sala pintada de branco com uma grande
mesa retangular no centro. Acima da mesa, um lampião de papel vermelho. Nove
cadeiras de madeira, simples e com braços. Na parede: à direita uma “chaise
longue”, à esquerda uma cristaleira. Entre elas, uma porta. No fundo, ao lado
esquerdo, uma mesinha baixa com duas poltronas. Na frente, à esquerda, uma
porta e à direita uma janela. A mesa, as cadeiras e a cristaleira são de
madeira bruta, não polida. É noite. O lampião vermelho está aceso. Os
convidados do casamento estão sentados ao redor da mesa comendo). A MÃE
(trazendo um prato) – Aqui está o bacalhau! (Murmúrios de elogios). O PAI –
Isso me faz lembrar de uma história! A NOIVA – Come papai! O senhor sempre
perde a vez! O PAI – Primeiro a história. No dia da minha confirmação o seu
falecido tio estava... Não, essa já é uma outra história... Bem, todos nós
estávamos comendo peixe, todos juntos, quando de repente, ele se engasgou com
uma espinha. Vocês devem tomar muito cuidado com estas malditas espinhas! Bem,
então ele engasgou e começou a sacudir os braços e as pernas, como se estivesse
remando... A MÃE – Jakob, o rabo é seu! O PAI – ... Como se estivesse remando e
a ficar azul como uma carpa e derrubou um copo de vinho! Nos pregou um susto o
desgraçado! Aí bateram nas costas dele como se ele fosse um tambor e ele
vomitou tudo por cima da mesa. Não se podia comer mais ali. Nós ficamos
contentes porque fomos comer tudo lá fora, sozinhos, afinal era a minha
confirmação, então vomitou tudo por cima da mesa e quando nós conseguimos
deixar ele em forma de novo, ele disse com uma voz bem profunda e feliz, ele
era ótimo baixo e cantava no coral, sobre isso também tem uma história ótima,
então ele disse... A MÃE – Meu peixe está bom? Por que ninguém diz nada? O PAI
– Hum, delicioso! Então ele disse... A MÃE – Mas você ainda nem provou! O PAI –
Eu vou comer agora! Então ele disse... A MÃE – Jakob, come mais um pedaço. O
NOIVO – Mamãe, meu sogro está contando uma história! O PAI – Muito obrigado,
Jakob. Então, o bacalhau... Ah, sim, ele disse: “Crianças, eu quase me
engasguei!” E a comida ficou toda estragada. (Risos). [...]. Veja mais
aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
OS SENSUAIS – O drama Os sensuais – crônica de uma família pequeno-burguesa (1978),
dirigido pelo cineasta Gilvan Pereira, conta a história de uma misteriosa
fotografia abala a estabilidade de um clã de classe média formado por um casal que
se encontra vivendo junto há quarenta anos, com seus filhos e netos. O destaque
do filme vai para a atriz Neila Tavares
que representa o papel da fotógrafa. Ela também é atriz de teatro e televisão,
além de escritora, jornalista e apresentadora de televisão, bem como edita o
ótimo blog Geleia Geral. Hoje é aniversário, mas como sempre digo: todo dia é
dia de Neila Tavares! E veja mais dela aqui e aqui.
IMAGEM DO DIA
Fotos da atriz sueca Greta Garbo (1905-1990).
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Some Moments, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.
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Dê livros de presente para as crianças.