sexta-feira, setembro 18, 2015

PINKER, NEILA, BRECHT, GRETA, RUFFATO, ROCIO JURADO, MARQUET, BRUNO GAUDÊNCIO & NASCENTE.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? NASCENTE – A edição nº 15 – colorida, 16 páginas, ano II, nov/dez/1998-jan/1999, do tabloide Nascente – Publicação Lítero Cultural, traz como editorial Missiva aos quatro cantos do mundo. Na seção Bate Papo, entrevista com Jorge Amado. E no Notas Literárias, coluna assinada por Ari Lins Pedrosa: O sonho de Alice, de Maria Lucia Nobre dos Santos; a revista Blau (RS), o folheto Letraviva (RJ) e a última entrevista de José Paulo Paes. As matérias publicadas nesta edição: A arte do espetáculo, não o espetáculo da arte, de Guido Bilharinho (MG); Hermilo de Palmares, de Sônia van Dijck (PB); Ossos, músculos, vermes e flores por José Luiz Dutra de Toledo (SP); Carícia da Felicidade, por Arriete Vilela (AL); Paisagem depois da pintura, por Almandrade (BA); Natal, por Felisbelo da Silva (CE); e na seção Tabuletas, o episódio das Proezas do Biritoaldo: Quando risca fogo, o rabo inflamável sofre que só sovaco de aleijado. Além disso, matérias sobre a Bienal do Livro e da Arte de Alagoas, a III Feira do Livro de Fortaleza, o 4º Maceió Jazz Festival, XIV Bienal de São Paulo, I Seminário Brasileiro da Produção Cultural e o Salão Internacional do Livro de São Paulo. Na seção de Humor tiras de Cedraz & charges de Lupin, Rico e Calafange. Na seção do Premio Nascente de Arte Infanto-Juvenil, trabalhos da garotada: Juliana Sena, 4 anos (Colégio Menino Jesus – Maceió-AL), José Ventura Leite Junior (Ginásio Municipal – Palmares –PE), Nathália Senna, 11 anos (Colégio Menino Jesus – Maceió-AL), Nicola, 09 anos (Escola Monteiro Lobato – Maceió-AL), Larissa Cris Viera da Paixã, 06 anos (Colégio Carlos Drummond – Maceió-AL) e Diogo Palmeira Acioli (Colégio Santa Terezinha – Maceió-AL). Na seção Nascente Poético, poemas de Claudio Feldman (SP), Whisner Fraga (MG), Anand Rao (DF), Arriete Vilela (AL), Almandrade (BA), Mauricio de Macedo (AL), Rogério Salgado (MG), Denise Teixeira Viana (RJ), Milton Dias Fernandes (MG), João Bosco de Castro (MG), Ari Lins Pedrosa (AL), Osael Carvalho (RJ), Francisco Araujo Filho (AL), Felisbelo Silva (CE), Severino Cassiano (PE), Gomes (CE), Cecilia Fideli (SP), Marcos Ramon (MA), Chrys Andrezza (PE), Carlos A S Lopes (VA), Lari Franceschetto (RS), Belinha Ribeiro (PR), Maria de Fátima Dias (MS), Amadeu Thomé (MG), Rosy Arruda (MT), Jorge Luiz (AL), Maria Thereza Carvalheiro (SP), Renato Salatiel, Selmo Vasconcelos (RO), Humberto Del Maestro (ES), Paulo Guggiana (RS), Claudebara Soares (AM). Na seção Registro: a Feira da Habitação, Arquitetura e Decoração – Habite (AL), o lançamento do livro Luta dentro de mim, do poeta Edmauro Gomes; o livro Feminino/Masculino: imaginário de diferentes épocas, de Eloá Jacobina e Maria Helena Kuhner; a coletania Conquistando mais amizades, de Fátima Segatto (RS); o curso História da Arte e Cultura Oriental Arte e Arquitetura Japonesa: influencia e difusão, ministrado por Celia Campos; o I Festival de Poesia na Amazonia; o livro Poemas do lado de dentro, de Adélia Magalhães; a Minha Revistinha, da Turma do Xaxado, de Antonio Cedraz (BA); os livros Miscelânea Literária e Navegando na Literatura, de Aldenor Benevides (CE); a peça teatral A flor e o sol de Cicero Belmar; a I Mostra de Teatro Sesc-Maceió; a estreia da peça teatral Falange, Falanginha, Falangeta, do grupo Ascenarte Produções Artisticas, no Teatro Cinema Apolo, em Palmares –PE, com direção de Gilvan Mota, no projeto Arte+Educação=Teatro, promovido pelo Dere/Mata Sul, gestão Flavio Miranda. Na seção Espaço Aberto recebemos missivas de Salomão Laredo (PA), Tania Francolacci Shambeck (SC), Luiz Fernando da Silva (PB), Jorge Saraiva Anastácio (MG). Zeca Domingosilva (RO), Danilo Sampaio (SE), Fernando Cereja (SP), Silvério Costa (SC), Anchieta Santa (PI), Mara S; J; Silva (PR), Zinei (SP), Leontino Filho (RN), Reginaldo Zoid (SP), Piero lo Tacono (Italia), Marina de Fátima Dias (MS), Rolando Revagliatti (Argentina), Severino Cassiano Ferreira (PE), Sidney Gomes (ES), Maria Tereza Cavalheiro (SO) e Sérgio Junior (RJ). Destaques da edição para o desenho de Ângelo Meyer, do Teatro Cinema Apolo, sede da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba Filho, em Palmares – PE. Também a foto de José Ademir Machado dos Santos, da Praia de Pajuçara, em Maceió, premiada na II Jornada Turística Você escolhe o cartão-postal de Maceió. A Gata do Mês deste número foi dedicado à modelo, estudante e Miss São Miguel dos Campos/1999, Macy Barbosa, 21 anos, fotografada por André Fon. Veja mais aqui e aqui.


Imagem: Nude Standing Female, do pintor do Fauvismo francês Albert Marquet (1875-1947).


Curtindo o álbum Yerbabuena & nopal (2003), da cantora e atriz espanhola Rocio Jurado (1946-2006)

PALAVRAS E PENSAMENTOS – No livro Do que é feito o pensamento: a língua como janela para a natureza humana (Companhia das Letras, 2008), do escritor, linguista e psicólogo canadense-americano Steven Pinker, encontro o capítulo denominado Palavras e pensamentos, do qual destaco o trecho: Tomemos o pomo da discórdia do debate semântico mais caro do mundo, a discussão de 3,5 bilhões de dólares sobre o significado de "event". O que, exatamente, é um evento, um fato? Um evento é um período de tempo, e o tempo, segundo os físicos, é uma variável contínua - um fluxo cósmico inexorável, no mundo de Newton, ou uma quarta dimensão no hiperespaço contínuo, no de Einstein. Mas a mente humana esculpe esse tecido em pedaços independentes a que chamamos eventos. Onde a mente coloca as incisões? Às vezes, como ressaltaram os advogados do arrendatário do World Trade Center, o corte engloba a mudança de estado de um objeto, como o desabamento de um prédio. E às vezes, como ressaltaram os advogados das seguradoras, ele engloba o objetivo de um agente humano, como uma trama sendo executada. Na maioria das vezes, os círculos coincidem: um agente pretende fazer com que um objeto mude, a intenção do agente e o destino do objeto são acompanhados numa única linha temporal, e o momento da mudança marca a consumação da intenção. O conteúdo conceitual por trás da linguagem em disputa é, por si só, como uma língua (idéia que ampliarei nos capítulos 2 e 3). Representa uma realidade análoga por unidades digitais, do tamanho de palavras (como "event"), e as combina em organizações com uma estrutura sintática, em vez de misturá-las como trapos dentro de um saco. É essencial para nossa compreensão do 11 de setembro, por exemplo, não apenas que Bin Laden tenha agido para prejudicar os Estados Unidos, e que o World Trade Center tenha sido destruído mais ou menos naquela época, mas que foi o ato de Bin Laden que causou a destruição. É a ligação causal entre a intenção de um homem específico e a mudança em um objeto específico que distingue a compreensão mais disseminada do 11 de setembro das teorias da conspiração. Lingüistas chamam o conjunto de conceitos e os esquemas que os combinam de "semântica conceitual". A semântica conceitual - a linguagem do pensamento - tem de ser diferente da linguagem em si, senão não teríamos para onde ir quando discutíssemos o que nossas palavras significam. O fato de que interpretações rivais de um mesmo episódio possam desencadear um processo judicial extravagante evidencia que a natureza da realidade não dita a forma como a realidade é representada na cabeça das pessoas. A linguagem do pensamento nos permite enquadrar uma situação de maneiras diferentes e incompatíveis entre si. O desenrolar da história da manhã de 11 de setembro em Nova York pode ser pensado como um fato ou dois fatos, dependendo de como o descrevemos mentalmente para nós mesmos, o que por sua vez depende de no que escolhemos nos concentrar e o que escolhemos ignorar. E a capacidade de enquadrar um fato de formas auto-excludentes não é só motivo para ir aos tribunais, mas também é a fonte da riqueza da vida intelectual humana. Como veremos, ela proporciona o material para a criatividade científica e literária, para o humor e os trocadilhos, e para os dramas da vida social. E arma o cenário para inúmeras arenas de disputa humana. As pesquisas com células-tronco destroem uma bola de células ou um ser humano incipiente? A incursão militar norte-americana no Iraque é um caso de invasão de um país ou de libertação de um país? O aborto consiste em encerrar uma gravidez ou em matar uma criança? Impostos altos são uma forma de redistribuir a renda ou de confiscar receita? A medicina socializada é um programa para proteger a saúde dos cidadãos ou para expandir o poder do governo? Em todos esses debates, duas formas de enquadrar um fato são colocadas uma contra a outra, e os contendores lutam para mostrar que seu enquadramento é o mais adequado (critério que exploraremos no capítulo 5). Na última década, lingüistas proeminentes vêm orientando os democratas norte-americanos sobre como o Partido Republicano conseguiu, mais do que eles, fazer esse enquadramento nas últimas eleições, e sobre como eles podem retomar o controle da semântica do debate político, reenquadrando, por exemplo, taxes [impostos] como membership fees [anuidades/mensalidades] e activist judges [juízes ativistas] como freedom judges [juízes pela liberdade]. O debate sobre a cardinalidade do 11 de setembro ressalta um outro fato curioso sobre a linguagem do pensamento. Quando reflete sobre como contar os eventos daquele dia, pede que os trate como objetos que podem ser contabilizados, como uma pilha de fichas de pôquer. O debate sobre se houve um fato ou dois em Nova York naquele dia é como uma discussão sobre se há um item ou dois num caixa rápido de supermercado, como um par de tabletes de manteiga tirados de uma caixa de quatro, ou um par de toranjas vendidas a duas por um dólar. A semelhança na ambigüidade entre contabilizar objetos e contabilizar fatos é uma das muitas maneiras pelas quais o espaço e o tempo são tratados de modo equivalente na mente humana, bem antes de Einstein descrevê-los como equivalentes na realidade. Como veremos no capítulo 4, a mente classifica a matéria em coisas individuais (como a sausage [uma lingüiça]) e em matéria contínua (como meat [carne]), e do mesmo jeito classifica o tempo em fatos individuais (como to cross the street [atravessar a rua]) e em atividades contínuas (como to stroll [passear]). Tanto com o espaço como com o tempo, o mesmo zoom mental que nos permite contar objetos ou eventos também nos permite ver ainda mais de perto do que cada um é feito. No espaço, podemos nos concentrar na composição material de um objeto (como quando dizemos I got sausage all over my shirt [Tenho lingüiça na minha blusa inteira]); no tempo, podemos nos concentrar numa atividade que compõe um evento (como quando dizemos She was crossing the street [Ela estava atravessando a rua]). Esse zoom cognitivo também permite que nos afastemos no espaço e vejamos uma coleção de objetos como um conjunto (como na diferença entre a pebble [um seixo] e gravel [cascalho]), e que nos afastemos no tempo e vejamos uma coleção de eventos como uma iteração (como na diferença entre hit the nail [bater num prego] e pound the nail [martelar um prego]). E no tempo, assim como no espaço, mentalmente colocamos uma entidade num certo local e então a movimentamos: podemos move a meeting from 3:00 to 4:00 [transferir uma reunião das 15h para as 16h] da mesma maneira como podemos move a car [mover um carro] do começo até o fim de um quarteirão. Por falar em fim, até algumas das minúcias de nossa geometria mental se transportam do espaço para o tempo. O end of a string [a ponta/o fim de um cordão] é tecnicamente um ponto, mas podemos dizer Herb cut off the end off the string [Herb cortou fora a ponta/o fim do cordão], mostrando que o fim pode ser interpretado incluindo um penduricalho de matéria adjacente a ele. O mesmo acontece com o tempo: o end of a lecture [fim de uma palestra] é tecnicamente um instante, mas podemos dizer I'm going to give the end of my lecture now [Vou fazer agora o fim/a conclusão de minha palestra], interpretando o encerramento de um evento incluindo um pequeno período de tempo adjacente a ele. Como veremos, a língua está repleta de metáforas implícitas como FATOS SÃO OBJETOS e TEMPO É ESPAÇO. O espaço, na verdade, revela-se um veículo conceitual não apenas para o tempo, mas para vários tipos de estados e circunstâncias. Assim como uma reunião pode move from 3:00 to 4:00 [mudar das 15h para as 16h], um semáforo pode go from green to red [ir/passar do verde para o vermelho], uma pessoa pode go from flipping burgers to running a corporation [ir/passar de balconista de lanchonete a diretor de empresa], e a economia pode go from bad to worse [ir de mal a pior]. A metáfora está tão disseminada na língua que é difícil encontrar expressões para idéias abstratas que não sejam metafóricas. O que a concretude da linguagem diz sobre o pensamento humano? Ela implica que mesmo nossos conceitos mais etéreos são representados na mente como pedaços de matéria que mudamos de lugar num palco mental? Ela indica que afirmações rivais sobre o mundo nunca podem ser verdadeiras ou falsas, mas apenas metáforas excludentes entre si que enquadram a situação de modos diferentes? Essas são as obsessões do capítulo 5.[...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

UMA HISTÓRIA INVEROSSÍMIL – No livro Flores artificiais (Companhia das Letras, 2014), do premiado escritor Luiz Ruffato, encontro a parte denominada Uma história inverossímil, da qual destaco o trecho: Li, certa vez, um ensaio do escritor italiano Luigi Pirandello em que ele afirma que a vida pode ser inverossímil, a arte não. Pois esta história, por ser real, soará talvez fantasiosa. Para comprová-la sequer conseguiria avocar o testemunho do protagonista, que jaz numa cova rasa no alto do Cemitério Municipal de Juiz de Fora, interior de Minas Gerais. Nem mesmo saberia localizar os personagens secundários, há muito encobertos pelo pó do tempo. Portanto, cabe empenhar minha palavra de que o aqui exposto busca recompor, da melhor maneira possível, alguns aspectos da biografia de Robert (Bobby) William Clarke. O resultado é uma envergonhada sombra de sua verdadeira trajetória que possui passagens muito mais insólitas... As noites de inverno costumam ser bastante frias em Juiz de Fora. Podem tornar-se insuportáveis, caso não se esteja bem agasalhado. Eu vinha de Rodeiro, lugar quente, filho de uma família de sitiantes pobres, e, embora há tempos morando na cidade, não me habituava com a mudança de clima. Naquele segundo ano cursando engenharia, tinha me estabelecido numa pensão barata na parte baixa da rua Batista de Oliveira, que, se durante o dia animava-a forte comércio monopolizado por sírios e libaneses, à noite transformava-se em reduto de pequenos traficantes, malandros e meretrizes. Partilhava o quarto, constituído por dois beliches e guarda-roupa, com dois estudantes, um de direito, outro de odontologia, e um sujeito, pouco mais velho que nós, que consumia os dias à janela, fumando cigarros ordinários e falando sobre projetos irrealizáveis. Seguia com rigor uma rotina. Pela manhã, incluso na mensalidade, dona Clarice oferecia-nos pão mirrado, no qual lambuzava uma leve camada de margarina, e uma caneca de ágata cheia de café ralo manchado por um pingo de leite. Saía correndo, pegava um ônibus lotado, assistia aulas até o meio-dia, almoçava uma comida insossa e pesada no restaurante universitário, acompanhava com sono algumas disciplinas à tarde. De regresso, conversava com os colegas, repassava lições, lia um romancista russo, minha obsessão naquela época. Perto das onze e meia me dirigia à avenida dos Andradas, onde aguardava, junto com boêmios, desempregados, prostitutas e desvalidos em geral, Bebel servir, à meia-noite, sua famosa porque baratíssima sopa, elaborada com sobras do dia, com que nos refestelávamos. [...]. Veja mais aqui e aqui.

O OFÍCIO DE ENGORDAR AS SOMBRAS & ACASO CAOS – Durante a realização da Fenelivro este ano, em Olinda, conheci pessoalmente o poeta, jornalista e historiador Bruno Gaudêncio, de quem eu conhecia apenas de livro. Dele eu já havia lido O ofício de engordar as sombras (Sal da Terra, 2009), com apresentação do poeta e professor Sebastião Costa Andrade e do poeta José Inácio Vieira de Melo, que na primeira parte Diário das sombras severas, destaco o poema Versos íntimos: Eu, / cheio de ossos e intenções / perturbo / com meus versos curtos / e dedos longos / o sentido das trevas que me pertencem. Na segunda parte, As cores do invisível, destaco o ótimo poema Submersos sabores: No transparente suspiro dos corpos / sussurram palavras de submersos / sabores. / O prazer, dentro da gente, / se faz e refaz ao longo das horas... / ao longo dos dias. / Prisioneiro do tempo / pergunto ao desejo sobre / a lonjura da solidão, - / essa mão ligeira que embriaga / os espaços perpétuos do coração. / Indago sobre o miolo da angustia sincera / essa prece gratuita que voa / rente as ranhuras do abismo / do corpo e da alma. / Desejo dentro da gente, / se faz e refaz ao longo das horas... / ao longo dos dias. / Há sempre um deus brincando / na forma disforme do amor. Gostei do livro. Agora tenho às mãos, o seu mais recente livro Acaso caos (Ideia, 2013), com apresentação do poeta e tradutor paraibano Luís Avelima e do poeta carioca Sérgio Bernardo, posfácio do poeta e critico literário Weslley Barbosa, e comentários de Lau Siqueira, Linaldo Guedes, Astier Basílio, Hildeberto Barbosa Filho, Sergio Castro Pinto, entre outros. Na primeira parte Ruídos do efêmero destaco, incialmente, Cadernos de Pele: o olho não diz / quantos espelhos / são capazes / de sangrar / a aurora, / mas cala / as pedras / com o / silêncio / da queda / no cântico / sonoro / da solidão. E, também O tamanho de uma cor: não se pesa / um poeta / por palavras, / apenas / não se mede / um poema / por sentidos / (em cenas) / pois um poeta / é o peso / e a medida / do poema / (in)exato. Na segunda parte Elementos do acaso, destaco o belíssimo O delírio das rosas: vermelhas elas gritam / com os seus delírios dialéticos / espinhos que comem abismos / penentram os nossos destinos / (dançando a valsa dos ventos) / e ao murcharem / o fogo dos seus gestos / já não afagam os nossos olhos. Muito bom. O poeta tem demonstrado a firmeza de quem sabe o que faz, meritório, inclusive, de ser reverenciado pelo talento, aplausos. Parabéns, Bruno. Veja mais aqui e aqui.

CASAMENTO DO PEQUENO BURGUÊS – A peça teatral O casamento do pequeno burguês (1919-1926/Deriva, 2012), do dramaturgo, encenador e poeta alemão Bertolt Brecht (1898-1956), conta a história de um casamento caracterizado pelo conflito, em que todos os membros familiares envolvidos adotam posições antagônicas, instigando a reflexão sobre a moral, os valores, tradições e conveniências burguesas. Da obra destaco o trecho inicial da peça: (Uma sala pintada de branco com uma grande mesa retangular no centro. Acima da mesa, um lampião de papel vermelho. Nove cadeiras de madeira, simples e com braços. Na parede: à direita uma “chaise longue”, à esquerda uma cristaleira. Entre elas, uma porta. No fundo, ao lado esquerdo, uma mesinha baixa com duas poltronas. Na frente, à esquerda, uma porta e à direita uma janela. A mesa, as cadeiras e a cristaleira são de madeira bruta, não polida. É noite. O lampião vermelho está aceso. Os convidados do casamento estão sentados ao redor da mesa comendo). A MÃE (trazendo um prato) – Aqui está o bacalhau! (Murmúrios de elogios). O PAI – Isso me faz lembrar de uma história! A NOIVA – Come papai! O senhor sempre perde a vez! O PAI – Primeiro a história. No dia da minha confirmação o seu falecido tio estava... Não, essa já é uma outra história... Bem, todos nós estávamos comendo peixe, todos juntos, quando de repente, ele se engasgou com uma espinha. Vocês devem tomar muito cuidado com estas malditas espinhas! Bem, então ele engasgou e começou a sacudir os braços e as pernas, como se estivesse remando... A MÃE – Jakob, o rabo é seu! O PAI – ... Como se estivesse remando e a ficar azul como uma carpa e derrubou um copo de vinho! Nos pregou um susto o desgraçado! Aí bateram nas costas dele como se ele fosse um tambor e ele vomitou tudo por cima da mesa. Não se podia comer mais ali. Nós ficamos contentes porque fomos comer tudo lá fora, sozinhos, afinal era a minha confirmação, então vomitou tudo por cima da mesa e quando nós conseguimos deixar ele em forma de novo, ele disse com uma voz bem profunda e feliz, ele era ótimo baixo e cantava no coral, sobre isso também tem uma história ótima, então ele disse... A MÃE – Meu peixe está bom? Por que ninguém diz nada? O PAI – Hum, delicioso! Então ele disse... A MÃE – Mas você ainda nem provou! O PAI – Eu vou comer agora! Então ele disse... A MÃE – Jakob, come mais um pedaço. O NOIVO – Mamãe, meu sogro está contando uma história! O PAI – Muito obrigado, Jakob. Então, o bacalhau... Ah, sim, ele disse: “Crianças, eu quase me engasguei!” E a comida ficou toda estragada. (Risos). [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.


OS SENSUAIS – O drama Os sensuais – crônica de uma família pequeno-burguesa (1978), dirigido pelo cineasta Gilvan Pereira, conta a história de uma misteriosa fotografia abala a estabilidade de um clã de classe média formado por um casal que se encontra vivendo junto há quarenta anos, com seus filhos e netos. O destaque do filme vai para a atriz Neila Tavares que representa o papel da fotógrafa. Ela também é atriz de teatro e televisão, além de escritora, jornalista e apresentadora de televisão, bem como edita o ótimo blog Geleia Geral. Hoje é aniversário, mas como sempre digo: todo dia é dia de Neila Tavares! E veja mais dela aqui e aqui.

IMAGEM DO DIA
Fotos da atriz sueca Greta Garbo (1905-1990).

Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Some Moments, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na madrugada Hot Night, uma programação toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.

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HIRONDINA JOSHUA, NNEDI OKORAFOR, ELLIOT ARONSON & MARACATU

  Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Refúgio (2000), Duas Madrugadas (2005), Eyin Okan (2011), Andata e Ritorno (2014), Retalho...