VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
PAIXÃO LEGENDÁRIA – Os
poemas do meu livro Paixão Legendária (Bagaço, 1991), compreende aqueles que foram
criados no período compreendido entre 1985-1990, quando eu me encontrava
dedicado ao curso de Direito, acompanhando atento o processo de
redemocratização do país que culminou com a promulgação com a Constituição
Federal de 1988 – a Carta Cidadã. Foi nesse período que integrando o conselho
editorial da revista A Região e das Edições Bagaço, ocorreu a transição da
apresentação do programa e zine HorAgá,
na Rádio Cultura dos Palmares, em
parceria com Gilberto Melo, para assumir o Departamento de Jornalismo e
apresentação do programa Panorama na Rádio Quilombo dos Palmares. Foi o período que depois de realizar a
adaptação e direção da peça João Sem
Terra, de Hermilo Borba Filho, com o Grupo Terra; de produzir o projeto do Circo Itinerante; de ter lançado as
três edições da revista em quadrinhos Aventureiros
do Una, em parceria com Rolandry Silvério; de presidir a Associação Teatral Palmarense (Atep) e
publicado o zine InformAtep; e de ter
realizado três temporadas com o meu show musical Por um novo dia, passava eu a lecionar Literatura e Filosofia no
Colégio Nossa Senhora de Lourdes e no Cepred, ambos de Palmares; Literatura e
Lingua Portuguesa no Colegio Municipal Gomes de Barros, em Novo Lino, e em dois
colégios de Joaquim Nabuco, assumindo a presidência do Conselho Diretor da Fundação Casa da Cultura Hermilo Borba
Filho, na qual, entre outras atividades, criei com o professor João da
Silva, assumindo a coordenação geral da Comissão
de Defesa do Meio Ambiente da Mata Sul; e assumi a Direção Regional do Sindicato dos Radialistas de Pernambuco.
Esse período de engajamento resultou na publicação do livro dividido em duas
partes. A primeira parte toda voltada a uma canção de amor a terra, à liberdade
e ao ser humano, com poemas como A lágrima de Neruda, América (uma letra versão
livre da canção de Simon & Garfunkel), Canto Verde, Carta à minha cidade,
Mãe, Aos que sonham com um mundo melhor, Escritos na areia (dedicado ao
poetamigo Wilmar Antonio Carvalho), Alma de Viola (dedicado ao parceiramigo Zé
Ripe), A maldição de Narciso, Noturno (dedicado à querida professoramiga
Jessiva Sabino de Oliveira), No mote do bentivi – o Manoel poeta, Gitano, entre
outros poemas. Na segunda parte, poemas e canções dedicados à mulher, como
Iangaí, Cantar salomônico, Elba, Convite, Meu sonho de Maria e letras de
canções como Desejo, Armadilha, Cantilena, Fonte, Sanha, entre outras. Veja
mais aqui e aqui.
Imagem: Seated Woman (Female Nude, 1939), do pintor e ilustrador alemão George Grosz (1893-1959).
Curtindo: Alma cigana, do Jerzy Milewski Swing Quartet, comandado pelo
violinista polonês naturalizado brasileiro Jerzy Milewski.
PSICOLOGIA CULTURAL – No livro Fundamentos da psicologia cultural: mundos da mente, mundos da vida (Artmed,
2012), do professor da Clark University e editor-chefe do periódico Culture
& Psychology, Jaan Valsiner,
destaco o trecho: [...] A psicologia
cultural é essencialmente desenvolvimental: estuda a pessoa de qualquer faiza
etária como sistema em desenvolvimento dentro de um contexto social
desenvolvimental. Todo desenvolvimento é um processo redundantemente
controlado: opera pela superabundância (mais do que de economia) na orientação
e nos recursos para transformar a cultura pessoal, aqui e agora, em uma nova
forma. A pessoa construtora de significado opera dentro de uma semiosfera
preenchida por signos de complexidade, hibridização e extensão histórica
variadas. Toda a construção de sentidos, no nível pessoal-cultural, acontece
pela imersão corporal dentro do mundo social. De modo similar ao banho ritual
no Ganges, nós mergulhamentos a nós mesmos, diariamente, no oceano invisível
(embora funcional) de alguns signos que nos cerca em nossos mundos cotidianos.
Além disso, reconstruímos nossos mundos cotidianos de modo que esses mundos nos
guiam na direção de nossos próprios desejos. A vida é, sem dúvida, um palco, e
nós somos atores neste palco, embora constantemente procuremos ser
espectadores. Uma vez que tenhamos um êxito temporário quanto a nos tornarmos
espectadores, somos tomados pelo desejo de ser, novamente, atores. Essa tensão
do estar na fronteira entre o palco e a audiência nos leva a tentar
redesenhá-los ambos, o que gera consequências para nosso próprio desenvolvimento.
A psicologia cultural é a ciência da constante recriação de nós mesmos – e de
nossa ciência. Isso a torna infinitamente fascinante e incrivelmente
complicada. Mas é este, precisamente, o fascinio da nova compreensão que a
psicologia cultural pode nos ajudar a criar. Veja mais aqui e aqui.
O PARDAL RECONHECIDO – Nas Narrativas de Uji Shui (Cultrix, 1962), que compreende uma
coletania de estórias populares do Japão, destaco o conto tradicional O pardal
reconhecido, traduzido por Albertino Pinheiro Júnior: Em tempos que lá vão, num dia ensolarado do princípio da primavera, uma
velha mulher, de sessenta e poucos anos, estava sentada em frente de sua casa e
catava piolhos. No pátio, um pardal saltitava. Algumas crianças que brincavam
por ali começaram a atirar pedras no pássaro e uma delas, acertando,
quebrou-lhe as costas. Enquanto este se estorcia no chão, esforçando-se debalde
para erguer voo, um corvo que passava frechou em sua direção. – Oh! Que horror!
O corvo vai pegá-lo -, gritou a velha. E correndo para perto do pardal,
erguendo-o. depois, bafejou-o com seu hálito quente, soprando-o, e deu-lhe de
comer. [...] Todas as manhãs, quando
ia esquadrinhar o quintal, via por lá pardais saltitando perto da porta dos
fundos, debicando quanto grão de arroz houvesse espirrado por ali. Então,
pegava em pedras e atirava-as nos pardais com a esperança de acertar algum.
Como atirasse muitas pedras sobre numerosas aves, naturalmente acabou por
atingir um, ferindo-o de modo que ele não pôde mais voar. Muito satisfeita da
vida, acercou-se do passarinho e, depois de certificar-se de que suas costas
estavam devidamente quebradas, apanhou-o, deu-lhe de comer e administrou-lhe
remédios com imenso cuidado. Depois refletiu: - Se a mulher da casa ao lado
obteve tanto em paga de haver tomado conta de um único pardal, quão mais rica
eu não poderia ser se tivesse vários! Seria superior a ela e meus filhos
haveriam de elogiar-me. [...].
Passados vários meses, quando calculou que as abóboras estivessem no ponto
desejado, dirigiu-se à despensa levando uns vasilhames para recolher o arroz
que fosse despejado. Impava de contente e a sua boca de velha desdentada
expandia-se em um riso que ia de uma orelha a outra, enquanto vertia numa
tigela o conteúdo de uma das aboboras. Mas o que desta saiu, em vez de arroz,
foram vespões, abelhas, centopeias, escorpiões, serpentes, e mais criaturas
desse jaez que, caindo sobre ela, ferretoaram-na nos olhos, no nariz, e no
corpo todo. Contudo, no momento, a mulher velha bnão sentiu dor nenhuma. Pensou
que fossem apenas grãos de arroz que esborrifavam da tigela e lhe batiam no
rosto. – Espere um pouco, meus pardaizinhos! Vou dar um bocadinho para todos -,
disse. Os inúmeros insetos venenosos que surgiam das sete ou oito aboboras
picaram e morderam os seus filhos também, e a própria velha foi picada até
morrer. Parecia que os pardais, que a odiavam por ela lhes ter quebrado as
costas, haviam persuadido todos os insetos a se ocultarem dentro das aboboras e
os auxiliarem em sua vingança. O pardal da casa ao lado ficara reconhecido à
velha que cuidara dele e o restituira à saúde, quando suas costas estavam
quebradas e ele se via em perigo iminente de ser arrebatado por um corvo. Não
devemos ter inveja dos outros. Veja mais aqui e aqui.
LETRILHA SATÍRICA &
DOIS SONETOS – Na Antologia Poética (Edaf, 2004), do
escritor espanhol Francisco Quevedo
(1580-1645), destaco os poemas traduzidos por Renato Suttana, o primeiro deles
Letrilha Satírica: Poderoso
cavaleiro / É Don Dinheiro. / Ai mãe, ao ouro me atrelo: / Meu amante e meu
amado; / Pois, de puro enamorado, / Anda sempre de amarelo; / Que, pois, ou
gordo ou magrelo, / Faz tudo aquilo que quero, / Poderoso cavaleiro / É Don
Dinheiro. / Nasce nas Índias, honrado, / E de lá o mundo o acompanha, / E vem
cá, morrer na Espanha, / Sendo em Gênova enterrado; / E, pois, quem o traz ao
lado, / Não é feio, mas faceiro, / Poderoso cavaleiro / É Don Dinheiro. / É
galante, é como um ouro, / E tem matizada a cor; / Pessoa de alto valor, / Tanto
cristão quanto mouro, / Pois dá e toma o decoro, / E derruba um foro inteiro, /
Poderoso cavaleiro / É Don Dinheiro. / São seus pais os principais, / E é de
nobres descendente, / Porque nas veias do Oriente / Todos os sangues são reais;
/ E, pois, é quem faz iguais / O grão duque e o pegureiro, / Poderoso cavaleiro
/ É Don Dinheiro. / Mas quem não se espanta e pela / De ver, glorioso e sem
tacha, / Que em seu círculo se encaixa / Dona Blanca de Castela? / Porém, que
ao baixo dá sela, / E o covarde faz guerreiro, / Poderoso cavaleiro / É Don
Dinheiro. / Seus escudos e armas nobres / São sempre tão principais / Que sem
seus escudos reais / Só há escudos de armas pobres, / E, pois, que juntando
cobres / Dá cobiça ao próprio ferro, / Poderoso cavaleiro / É Don Dinheiro. / Por
contar tanto nos tratos / E dar tão sérios conselhos, / Até nas casas dos
velhos / Gatos o guardam de gatos. / E, porque rompe recatos / E abranda o juiz
mais severo, / Poderoso cavaleiro / É Don Dinheiro. / E tem tanta majestade / (Mesmo
entre desgostos fartos), / Que, se o transformas em quartos, / Não depõe a
autoridade: / Antes, pois dá qualidade / Ao mais grandioso e ao rasteiro, / Poderoso
cavaleiro / É Don Dinheiro. / Nunca vi damas ingratas / Aos seus gostos e
afeições, / Que ante as caras dos dobrões / As suas fazem baratas; / E,
porquanto faz bravatas / Com sua bolsa, matreiro, / Poderoso cavaleiro / É Don
Dinheiro. / Mais valem em qualquer terra / (Observa o quanto é sagaz!) / Os
seus escudos na paz / Do que mil broquéis na guerra, / E que, se ao pobre ele
enterra, / E faz próprio o forasteiro, / Poderoso cavaleiro / É Don Dinheiro. Também o
soneto Amante agradecido com as lisonjas mentirosas de um sonho: Ai, Floralva, este sonho me ocorreu. – / Digo-o?
Sim, pois foi sonho: eu te gozava. / E quem, senão o amante que sonhava, / Juntara
tanto inferno a tanto céu? / Meu fogo à tua neve e ao gelo teu, / Como flechas
opostas numa aljava, / Mesclava o amor, e honesto é que os mesclava, / Mais meu
espanto, no desvelo seu. / E eu disse: “Queira amor, ou queira a sorte, / Que
eu não durma jamais, se estou desperto, / Ou durma, e não desperte – não me
importo” / Mas despertei do doce desconcerto, / E vi que estava vivo com a
morte, / E vi que com a vida estava morto. Por fim, o soneto Prossegue e no
mesmo estado de seus afetos: Meu senso
ocupa amor e os meus sentidos: / Absorto estou em êxtase amoroso, / Não me
concede trégua nem repouso / Esta civil peleja dos nascidos. / Espraiou-se o
caudal dos meus gemidos / Pelo grande distrito, e doloroso / Do coração, em seu
penar ditoso, / E afogou-me as lembranças em olvidos; / Ruínas sou todo, e todo
padecer, / escândalo funesto dos amantes / que de lástima fazem seu prazer. / Os
que hão de ser e os que já foram antes / Comparem sua saúde ao meu gemer / E
invejem minha dor, se são constantes. Veja mais aqui.
O
MISANTROPO – A peça O misantropo (ou O
díscolo, 318aC), do grego Menandro
(342-291aC), trata sobre um
homem que vive sozinho com sua filha, abandonado pela esposa por causa da
personalidade intratável dele. Um jovem rico se apaixona por sua filha e tenta
casar-se com ela, recebendo oposição do pai. Mas depois de um acidente, o
misantropo cede ao casamento. Da obra destaco o trecho inicial: (Cenário: A peça desenrola-se em File,
povoado na encosta do monte Parnes, nos confins da Ática e da Beócia. O cenário
representa, ao centro, a entrada de uma gruta dedicada a Pã, habitada por
Ninfas; perto da entrada, uma estátua de Pã; de cada lado uma casa; à esquerda
a de Cnêmon, à direita a de seu enteado Górgias) Primeiro Ato Prólogo PÃ -
(saindo da gruta a ele dedicada) Imaginem que o lugar da cena é File, na Ática;
a gruta das Ninfas, de onde estou saindo, é exatamente o santuário bem visível,
pertencente aos filásios, gente capaz de fazer crescer plantas nos rochedos
desta região. Na propriedade ali à minha direita mora Cnêmon, homem cheio de
rancor para com todo o mundo e inimigo da sociedade. Digo sociedade? Ele já é
um bocado velho; pois bem, durante toda a sua existência ele nunca iniciou
conversa alguma, nunca dirigiu a palavra primeiro a ninguém, a não ser para me
reverenciar (constrangido por nossa vizinhança) quando passa diante de mim, Pã;
e ainda assim de má vontade, eu bem sei. Com um temperamento assim ele casou
com uma viúva, cujo marido morrera, deixando-lhe um filho de tenra idade. Não
se contentando com discutir com ela o dia todo, ele ainda consumia assim a
maior parte da noite; viviam pessimamente. E tiveram uma filha; foi ainda pior.
Como a desventura deles ultrapassasse tudo que se pode imaginar, e sua vida
fosse apenas sofrimento e amargura, a mulher voltou para junto do filho nascido
do primeiro casamento. Este possuía pequena propriedade, aqui nos arredores; é
lá que ele hoje proporciona uma vida apertada à sua mãe, a si mesmo e a um
único escravo, criado fiel deixado por seu pai. Esse rapaz já é um homenzinho e
tem o espírito mais maduro que a idade. Nada como a experiência da vida para
formar as pessoas. Quanto ao velhote, vive sozinho com a filha e uma velha
criada, carregando lenha, cavando a terra com a enxada, para cima e para baixo
o tempo todo e detestando todo o mundo, por atacado, a começar aqui por seus
vizinhos e sua mulher até o pessoal de Colarges, lá embaixo. A moça tornou-se o
que seria de esperar de sua educação: ignora tudo que é ruim. O zelo com que ela
se dedica à sua devoção e às homenagens às Ninfas companheiras, levou-nos a
pensar em fazer alguma coisa por ela. Um rapaz cujo pai, muito rico, cultiva
nesta região terras que valem milhões mas vive na cidade, veio caçar por aqui
com um companheiro; chegou a esta paragens por acaso e fiz com que ele
começasse a perder a cabeça por ela. Aí estão as linhas gerais da ação. Os
detalhes vocês verão, se quiserem. Mas é tempo de querer, pois parece que estou
vendo aproximar-se o apaixonado com seu companheiro de caça; eles estão
conversando sobre o assunto. (Pã torna a entrar no santuário) [...]. Veja
mais aqui.
LILITH- A deusa Lilith faz parte da mitologia grega,
hebraica, suméria, da Babilônia e da Mesopotâmia, associada aos ventos e tempestades e que se imaginava
ser um portador de doenças,
enfermidade e morte. Também aparece como um demônio noturno na crença
tradicional judaica e islâmica como a primeira mulher do bíblico Adão, sendo acusada
de ser a serpente que levou Eva a comer o fruto proibido. Há, também, o
registro que ela foi a predecessora de Eva, no caso, sendo Lilith a primeira
mulher de Adão e que não se tornou submissa dele. Registros dão conta de que
seu nume surge no Alfabeto de Ben-Sira composto por volta do Século VII. Mais
recentemente, esta história tem sido cada vez mais adotada sendo até discutida
se é ou não contada na Bíblia, tornando-se em um ser que é cultuada dentro da
alta magia desde então, como a deusa que rege a ponta da pirâmide. Inspirado
nela, muitos artistas dedicaram seus talentos, como também virou filme, em
1964, sob a direção de Robert Rossen, em um drama que conta a história de um
veterano de guerra da Coréia que trabalha em um sanatório de luxo, na
terapia ocupacional de sua rica e esquizofrênica clientela, até o dia que ele
começa a se apaixonar por uma paciente que está mentalmente presa em seu mundo
particular. Veja mais aqui e aqui.
QUEM TEM MEDO DE LOBO MAU – Havia algum tempo que eu não tinha notícias da minha amiga Cida, só reencontrada em eventos como a Bienal do Livro de Alagoas. Agora tenho notícias dela: lançará no próximo dia 26 de
setembro, a partir das 19hs, no Memorial à República, em Maceió (AL), o livro Quem tem medo de lobo mau, da
escritoramiga alagoana Cida Lima,
que é autora de diversos livros recheados de ação, ficção, suspense, romance e
toques de terror, além de ser a editora do portal Escritores Alagoanos. O
evento terá entrada gratuita e parte da renda será destinada para o Lar Santo
Antonio de Pádua. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
Desenho do artista plástico e mestre em
Literatura pela Universidade Federal do Ceará, Fernando França.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa SuperNova, a partir das
21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças.