VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DIA
DA AMAZÔNIA – Encontra-se
nas enciclopédias que, no Brasil, chama-se Amazônia, a região amazônica ou
simplesmente região Norte, a parte setentrional do país, cujas características
são: uma vasta bacia hidrográfica, densa cobertura florestal e extrema
rarefação demográfica. Dentro do Brasil, a Amazônia compreende os Estados do
Pará, Amazônas, Acre, Rondonia, Roraima e Amapá. Nessa região se encontra a
floresta amazônica, a maior selva equatorial do mundo. No livro Amazônia,
a Menina dos Olhos do Mundo (Civilização Brasileira, 1992), o poeta Thiago
de Mello assim se refere a ela: A
questão amazônica pode ser complexa, mas não é complicada. Trata-se do encontro
do equilíbrio entre a ocupação, a utilização das riquezas da floresta e a
preocupação do que ela tem de melhor e mais precioso para o benefício da vida
humana. Quer dizer, o que ela guarda dentro dela, nasce dela e vive dela. Ninguém
pretende que a floresta seja intocável e conservada como se fosse um museu. Afinal,
desde que o primeiro Índio abateu a primeira árvore para fazer a sua canoa ou o
esteio de sua maloca e matou a primeira onça e derrubou o primeiro pavão para
adornar-se com as suas penas coloridas – que o homem vem convivendo e usando a
floresta. Convivência, entretanto harmoniosa. Como a que ainda hoje mantém com
a floresta o caboclo a que habita o coração das matas. O que se pretende é uma
utilização racional, respeitosa, que nem degrade nem acabe com ávida do verde. Do
jeito que o homem a vem maltratando, sobretudo nos últimos vinte anos, o futuro
da floresta pode ser negro, ou vermelho, que é a cor, que segundo os
cientistas, terá o deserto que a ela se transformaria. E
curtindo as imagens cinematográficas ao som dos acordes de A floresta amazônica de Heitor Villa-Lobos e o Amazonia de Egberto Gismonti, posso entoar a minha crença: Convem lembrar da vida aos olhos de todas
as manhãs. Convém lembrar que há a terra dos pés de todas as cores, coisas,
raças e crenças. Convém lembrar que há pra vida todos os ventos, do rio de todos
os peixes, todas as canoas, brejos, lagos e lagoas. De todos os mares, oceanos
e marés. De todas as várzeas, todos os campos, todos os quintais de todas as
frutas e infâncias, de todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas, de
todas as matas, de todas as flores e folhas, de todas as aves, répteis e
batráquios. E de tudo que brilha pra gente um outro sentido de vida. Convém
lembrar, acima de tudo, o direito de viver e deixar viver. (Vida verde
viva – Canto Verde, Luiz Alberto Machado. Primeira Reunião: Bagaço, 1992). Veja
mais aqui, aqui e aqui.
Imagem: The Poetess Sappho, do pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825).
Curtindo a peça para solo de piano Music of Changes (1951 – Reissue, 1988), do compositor e escritor estadunidense John
Cage (1912-1992), com o pianista alemão Herbert Henck. Veja mais aqui e
aqui.
JOSUÉ DE CASTRO E O BRASIL – O livro Josué de Castro e o Brasil (Fundação Perseu Abramo, 2003), escritor
por Manuel Correia de Andrade, José Graziano da Silva, Walter Belik, Maya
Takagi, Humberto Costa, Malaquias Batista Filho, Luciano Vidal Batista, Djalma
Agripino de Melo Filho, José Arlindo Soares, Paulo Santana, Renato Duarte e
Michel Zaidan Filho, trata sobre o trabalho e obra do escritor, nutrólogo,
geógrafo e ativista Josué de Castro (1908-1973), abordando os deconhecimentos e
reconhecimentos no Brasil e no mundo, as políticas de combate à fome, 50 anos
depois de Geografia da fome, quando a fome começa antes do nascimento, uma
hermenêutica do ciclo do caranguejo, releitura crítica, representações sociais
da miséria no Nordeste, a geopolítica da fome: dos tempos de Josué de Castro
aos tempos atuais, as evidências científicas da fome dispensável, entre outros
assuntos. Da obra destaco o trecho: A
fome não poderia continuar sendo um “tema proibido”, ou “bastante delicado e
perigoso”, como à época em que a redescobria, ou revelava cientificamente, o
seu maior estudioso. O livro Geografia da fome completou 56 anos. Mais de meio
século, portanto, desde que o pernambucano Josué de Castro tentou, com ele,
quebrar a “conspiração do silêncio” em torno do assunto. Com êxito parcial. A
pesquisa e seu fruto, o documento contundente e revelador, merecem celebração.
Assim como o seu autor. Respeitado em todo o mundo, reconhecido até hoje nos
círculos acadêmicos, trata-se o ilustre pernambucano de um quase desconhecido
para a imensa maioria da população brasileira [...] O Josué de Castro universal, que transcendeu fronteiras e levou o mundo
a reconhecer feridas, pagou um alto preço pela distância forçada do país natal.
Sua obra ganhou o mundo e ele perdeu a luta contra a violência do desterro.
Impossível ser mais local, sendo global, como o foi Josué, em todos os postos e
lugares pelos quais passou. Entretanto, a notoriedade no exterior não se
traduziu aqui, no seu canto. Não foi ele o Pernambucano do Século na opinião de
seus conterrâneos, mesmo que lá fora, caso existisse um título similar,
estendido aos brasileiros, o seu nome despontasse indiscutivelmente como um dos
mais fortes concorrentes. Josué de Castro era extremamente atuante, corajoso e
desbravador, o que o transforma em autor e pesquisador inesquecível, na magnitude
do papel cumprido, na consistência das obras legadas à humanidade. E já é tempo
de tirá-lo da quase clandestinidade. Chega ao fim o exílio, Josué precisa
ocupar o Brasil. Se esta é a realidade local, vale reconhecer que, mesmo
privado do convívio com o seu país, no seu íntimo Josué de Castro jamais o abandonou.
E foi vivendo de forma intensa, e não poucas vezes tensa, que partiu,
preservando-se da dor imposta pelas portas fechadas – e o consequente
impedimento de promover, no seu locus, a transformação vislumbrada. Josué
construiu-se como um humanista, um articulador, um cientista, reunindo
qualidades que justificavam largamente a condição que ocupou em vida e até
hoje, ainda que o reconhecimento se restrinja a setores da sociedade. “Nós nos
reconhecemos em Josué de Castro”, resume poeticamente Abbé Pierre, no filme de
Sílvio Tendler, Josué de Castro – Cidadão do Mundo , um impressionante encontro
de personalidades nacionais e internacionais sob um único propósito: reverenciá-lo.
Muitos se reconhecem em Josué, embora nem todos o reconheçam, infelizmente
[...]. Veja mais aqui e aqui.
OS CAVALOS SELVAGENS – Nos livros Manuel Ugarte: o sonho da pátria grande (Insular, 2014), de Victor
Ramos, e Maravilhas do conto
hispano-americano (Cultrix, 1968), organizado por Diaulas Riedel, encontro
que o escritor, diplomata e intelectual socialista argentino Manuel Ugarte (1875-1951), era um dos
defensores da unidade latino-americana, relacionando as ideias do
internacionalismo socialista com as do nacionalismo, reivindicando uma retomada
do programa bolivariano de integração e emancipação. Da sua lavra, destaco os
trechos do conto Os cavalos selvagens: [...] Quando nos encontramos ante a primeira estacada da propriedade, Julio
fez correr o fecho, sem descer do cavalo, e continuamos a correria. Daí à casa
havia ainda meia hora. Os animais começaram a fraquejar, mas ferimo-lhes
desesperadamente os flancos e continuaram a galopar com relinchos lamentosos de
pobres animais que ignoram por que são sacrificados. Ao sair de um bosquezinho
de pinheiros, divisamos as primeiras luzes da vivenda. O edifício desaparecia
na sombra e só se viam os retângulos da luz das janelas. Abrimos o fecho de
outro portão, entramos no jardim, e a primeira claridade do dia assomava no
horizonte, quando nos encontramos na porta da casa. A mãe de Julio saiu a
receber-nos, e deixou-se cair nos nossos braços, sem atinar com nada para dizer.
Julio separou-se nervosamente... abriu a porta e, mudo, desequilibrado, como se
não se inteirasse das coisas, entrou no salão... No meio do quarto havia dois ataúdes
rodeados de círios e de gente enlutada. Quis atirar-se sobre os cadáveres; mas
precipitamo-nos sobre ele, impedindo-o. Então começou uma luta espantosa durante
a qual lhe contaram com palavras entrecortadas o que tinha acontecido. O cavalo
de Margarida, acometido por uma raiva louca, tinha tomado o freio nos dentros
perto das brenhas que contornavam o arroio e tinha fugido, levando-a pelos
campos para o horizonte. D. Antonio picou as esporas e correu atrás para lhe
prestar ajuda. Da casa seguiram-no com os olhos naquela corrida vertiginosa. D.
Antonio perdeu o equilíbrio e caiu ao inclinar-se para refrear o cavalo da sua
filha. Margarida continuou sozinha... primeiro manteve-se e lutou por conter o
cavalo desbocado... depois saltou da montada... o seu pé ficou prisioneiro no
estribo... e o cavalo continuou... tropeçando o corpo contra as árvores e as
pedras, até que um movimento brusco o libertou da carga que arrastava, deu um
salto mais elástico e perdeu-se, junto com o outro, na planura... Quando
chegaram para socorrê-los, D. Antonio agonizava e Margarida era um montão de
carnes sangrentas cobertas de lodo. Julio não escutou os detalhes. Pelos seus
olhos passou uma chama de loucura e aproximou-se da janela aberta enxugando a
fronte... muito longe, roçando quase os campos, no dintel do dia, o sol
pendurava o seu lampião chinês vermelho. Um bando de cavalos selvagens passou
para o norte, com as crinas ao vento, num desses pânicos que os arrebatam no
pampa. Entre eles iam os dois com freio e sela... Julio fez, ao vê-los, um
gesto brusco; agarrou uma carabina que estava pendurada na parede e apontou. As
detonações soaram uma atrás das outras, com um ruído sinistro, na quietação
daquele quarta onde havia dois cadáveres. Um dos animais caiu e rebolou no
chão, lançando um relincho agudo. Os outros perderam-se na distância... E
Julio, como um colosso vencido pela barbárie da natureza, começou por fim a
chorar e mostrou-lhes os punhos. Veja mais aqui.
CIDADE DE PALMARES,
CONFIDENCIAL & CAIXA DE FÓSFOROS
– No livro Poetas dos Palmares
(Nordeste, 1987), organizada pelo poeta Juareiz Correya, encontro os poemas do
dramaturgo, advogado, professor e poeta Fenelon
Barreto, entre os quais destaco, inicialmente, Cidade de Palmares: Quando quiseres ver os esplendores / da
vida, entesourando um mundo lindo, / terra de Deus, de sonhos e de amores, /
dos canteiros florindo e reflorindo,
quando quiseres, em deleite infindo, / ouvir o canto pelos seus
cantores, / poemas de plumas, de astros refulgindo, / das lindas moças que só
vestem flores, / quando quiseres ver azuis e pretas, / essas bailando em todos
os matrizes, / lindos pana-canás de borboletas, / Palmares te contempla e te
convida! / Vem ver como aqui todos são felizes, / esquecendo o destino e amando
a vida. Também o seu poema Confidencial: ...E agora é a gente vil nos censurando! É o riso / das amantes que
tive e das mulheres feias, / meia dúzia de meus, de cérebros sem juízo, / que
desejam colher aquilo que semeias. / Querem mesmo findar o sonho que idealizo.
/ Gostam também de entrar nas relações alheias, / tão cínicas enfim, que às
vezes é preciso / mostrarmos o rancor que ferve em nossas veias. / Crê em minha
afeição, minha jovem rosada! / E longe dessa turba estúpida e maldita / teremos
algum dia a paz desejada! / E após ouvir-me assim, ei-la a sorrir... repleta /
desse orgulho que tem toda mulher bonita, / convicta de possuir o coração de um
poeta. Por fim, Caixa de Fósforos: Ontem
quando a comprei ao merceeiro, / tão valiosa quanto imprescindível, / achei que
era absurdo indiscutível / pagar por ela apenas um cruzeiro. / Uma caixa de
fósforos-dinheiro / não paga o preço desse combustível; / luz, que é vida, valor
imperecível, / luz, entre os elementos, o primeiro, / Uns fósforos tomei-lhe,
bem poupados, / mais outros, outros mais e em leve assomo, / notei todos os
fósforos queimados. / A vida humana é a mesma fantasia: / poder, orgulho, tudo
acaba. É como / essa caixa de fósforos vazia. Veja mais aqui, aqui, aqui e
aqui.
AS FESTAS MEDIEVAIS – No livro Traité de scénographie (Biblioteca Theatre, 1984), do arquiteto,
designer e teórico de teatro, Pierre
Sonrel (1903-1984), encontro o estudo sobre As festas medievais, o qual
destaco os trechos: O mundo antigo não
legara ao mundo medialval qualquer forma dramática viva. A arte teatral em Roma
perdera-se, por fim, nos jogos grandiosos e bárbaros do circo, onde os primeiros
cristãos desempenharam sobretudo o papel de mártires. É a igreja que, sem o ter
procurado, vai dar ao teatro uma vida nova e um novo sentido. Da mesma maneira,
de fato, que a celebração dos ritos dionisíacos está na origem da tragédia e da
comedia gregas, também o teatro clássico moderno nasce do desenvolvimento da
liturgia da missa, a pouco e pouco dilatada com a representação de cenas
extraídas das sagradas escrituras. [...] Os primeiros dramas litúrgicos desenrolaram-se nas igrejas, onde constituíam
um desenvolvimento mimado e dialogado dos textos do ofício e das cerimônias
rituais. Depois com o nome de mistérios e de milagres, realizaram-se
verdadeiras representações teatrais; mas sempre inspiradas nos textos bíblicos e
evangélicos e traduzindo, em linguagem vulgar e em cenas variadas, os
ensinamentos contidos no latim e nas rubricas da liturgia. [...] Durante séculos, todos estes espetáculos se
multiplicaram e renovaram, sem que surgisse, em toda a cristandade, um único
poeta que, como o construtor das catedrais seu contemporâneo, dominasse e
ordenasse os seus elementos, soubesse criar uma forma típica, um quadro estável
no qual se moldassem os impulsos dramáticos e líricos dos autores e dos
interpretes. Sobre a encenação e a decoração destes espetáculos só temos muito
raros documentos e os eruditos limitam-se a conjeturas. Não chegou até nós
nenhum testemunho gráfico referente às representações religiosas dadas entre os
séculos X e XV. O mistério de Adão e Eva do século XII é, sem dúvida, o mais
antigo texto dramático de língua francesa que existe [...] Alegorias e fábulas mitológicas, música e cantos,
luzes, trajos suntuosos, máquinas e aparições aéreas, tais são os elementos
essenciais que se encontram nestes espetáculos precursores do bailado e da
ópera. Como nos mistérios, toda a cidade colaborava nestas festas sob a direção
dos artistas de maior nomeada na cidade ou na província que, depois de terem
concebido a ideia, vigiavam a execução. Assim, encontra-se na obra destes
pintores a arte que consiste em dispor as personagens, em prever as suas
evoluções, em valoriza-las com fundos apropriados, em coloca-las sobre degraus,
numa palavra, encenando, concebendo cenografia e movimentos das celebrações
tanto religiosas como civis, antepassadas do nosso teatro. Veja mais aqui.
BEDAZZLED – A comédia britânica Bedazzled (O diabo é meu sócio, 1967), dirigido
por Stanley Donem, conta a história de um jovem introvertido e perdedor infeliz
que vende sua alma ao diabo em troca de sete desejos, mas com a dificuldade
para conquistar a garota de seus sonhos, entra em desespero por sua paixão não
correspondida, levando-o ao processo de completa incompetência para a tentativa
de suicídio. Uma releitura cômica da lenda do Fausto, traz não só a
infelicidade do personagem central que representa os sete pecados capitais,
como a disputa do diabo com Deus, na tentativa de reunir bilhões de almas, com
o objetivo de ser, ao conseguir tal reunião, seria admitido no céu. O destaque
do filme é a atriz e cantora estadunidense Raquel
Welsh – a sempre bela Jo Raquel Tejada. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
As diversas poses da soprano finlandesa Karita Mattila.
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Noite Romântica, a partir
das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. E para
conferir online acesse aqui.
VAMOS APRUMAR A CONVERSA?
Dê livros de presente para as crianças & aprume aqui.