sábado, setembro 05, 2015

AMAZÔNIA, CAGE, JOSUÉ DE CASTRO, UGARTE, FENELON, KARITA, SONREL & WELSH.

VAMOS APRUMAR A CONVERSA? DIA DA AMAZÔNIA – Encontra-se nas enciclopédias que, no Brasil, chama-se Amazônia, a região amazônica ou simplesmente região Norte, a parte setentrional do país, cujas características são: uma vasta bacia hidrográfica, densa cobertura florestal e extrema rarefação demográfica. Dentro do Brasil, a Amazônia compreende os Estados do Pará, Amazônas, Acre, Rondonia, Roraima e Amapá. Nessa região se encontra a floresta amazônica, a maior selva equatorial do mundo. No livro Amazônia, a Menina dos Olhos do Mundo (Civilização Brasileira, 1992), o poeta Thiago de Mello assim se refere a ela: A questão amazônica pode ser complexa, mas não é complicada. Trata-se do encontro do equilíbrio entre a ocupação, a utilização das riquezas da floresta e a preocupação do que ela tem de melhor e mais precioso para o benefício da vida humana. Quer dizer, o que ela guarda dentro dela, nasce dela e vive dela. Ninguém pretende que a floresta seja intocável e conservada como se fosse um museu. Afinal, desde que o primeiro Índio abateu a primeira árvore para fazer a sua canoa ou o esteio de sua maloca e matou a primeira onça e derrubou o primeiro pavão para adornar-se com as suas penas coloridas – que o homem vem convivendo e usando a floresta. Convivência, entretanto harmoniosa. Como a que ainda hoje mantém com a floresta o caboclo a que habita o coração das matas. O que se pretende é uma utilização racional, respeitosa, que nem degrade nem acabe com ávida do verde. Do jeito que o homem a vem maltratando, sobretudo nos últimos vinte anos, o futuro da floresta pode ser negro, ou vermelho, que é a cor, que segundo os cientistas, terá o deserto que a ela se transformaria. E curtindo as imagens cinematográficas ao som dos acordes de A floresta amazônica de Heitor Villa-Lobos e o Amazonia de Egberto Gismonti, posso entoar a minha crença: Convem lembrar da vida aos olhos de todas as manhãs. Convém lembrar que há a terra dos pés de todas as cores, coisas, raças e crenças. Convém lembrar que há pra vida todos os ventos, do rio de todos os peixes, todas as canoas, brejos, lagos e lagoas. De todos os mares, oceanos e marés. De todas as várzeas, todos os campos, todos os quintais de todas as frutas e infâncias, de todas as selvas dos bichos de todas as feras e mansas, de todas as matas, de todas as flores e folhas, de todas as aves, répteis e batráquios. E de tudo que brilha pra gente um outro sentido de vida. Convém lembrar, acima de tudo, o direito de viver e deixar viver. (Vida verde viva – Canto Verde, Luiz Alberto Machado. Primeira Reunião: Bagaço, 1992). Veja mais aqui, aqui e aqui

 Imagem: The Poetess Sappho, do pintor francês Jacques-Louis David (1748-1825).


Curtindo a peça para solo de piano Music of Changes (1951 – Reissue, 1988), do compositor e escritor estadunidense John Cage (1912-1992), com o pianista alemão Herbert Henck. Veja mais aqui e aqui.

JOSUÉ DE CASTRO E O BRASIL – O livro Josué de Castro e o Brasil (Fundação Perseu Abramo, 2003), escritor por Manuel Correia de Andrade, José Graziano da Silva, Walter Belik, Maya Takagi, Humberto Costa, Malaquias Batista Filho, Luciano Vidal Batista, Djalma Agripino de Melo Filho, José Arlindo Soares, Paulo Santana, Renato Duarte e Michel Zaidan Filho, trata sobre o trabalho e obra do escritor, nutrólogo, geógrafo e ativista Josué de Castro (1908-1973), abordando os deconhecimentos e reconhecimentos no Brasil e no mundo, as políticas de combate à fome, 50 anos depois de Geografia da fome, quando a fome começa antes do nascimento, uma hermenêutica do ciclo do caranguejo, releitura crítica, representações sociais da miséria no Nordeste, a geopolítica da fome: dos tempos de Josué de Castro aos tempos atuais, as evidências científicas da fome dispensável, entre outros assuntos. Da obra destaco o trecho: A fome não poderia continuar sendo um “tema proibido”, ou “bastante delicado e perigoso”, como à época em que a redescobria, ou revelava cientificamente, o seu maior estudioso. O livro Geografia da fome completou 56 anos. Mais de meio século, portanto, desde que o pernambucano Josué de Castro tentou, com ele, quebrar a “conspiração do silêncio” em torno do assunto. Com êxito parcial. A pesquisa e seu fruto, o documento contundente e revelador, merecem celebração. Assim como o seu autor. Respeitado em todo o mundo, reconhecido até hoje nos círculos acadêmicos, trata-se o ilustre pernambucano de um quase desconhecido para a imensa maioria da população brasileira [...] O Josué de Castro universal, que transcendeu fronteiras e levou o mundo a reconhecer feridas, pagou um alto preço pela distância forçada do país natal. Sua obra ganhou o mundo e ele perdeu a luta contra a violência do desterro. Impossível ser mais local, sendo global, como o foi Josué, em todos os postos e lugares pelos quais passou. Entretanto, a notoriedade no exterior não se traduziu aqui, no seu canto. Não foi ele o Pernambucano do Século na opinião de seus conterrâneos, mesmo que lá fora, caso existisse um título similar, estendido aos brasileiros, o seu nome despontasse indiscutivelmente como um dos mais fortes concorrentes. Josué de Castro era extremamente atuante, corajoso e desbravador, o que o transforma em autor e pesquisador inesquecível, na magnitude do papel cumprido, na consistência das obras legadas à humanidade. E já é tempo de tirá-lo da quase clandestinidade. Chega ao fim o exílio, Josué precisa ocupar o Brasil. Se esta é a realidade local, vale reconhecer que, mesmo privado do convívio com o seu país, no seu íntimo Josué de Castro jamais o abandonou. E foi vivendo de forma intensa, e não poucas vezes tensa, que partiu, preservando-se da dor imposta pelas portas fechadas – e o consequente impedimento de promover, no seu locus, a transformação vislumbrada. Josué construiu-se como um humanista, um articulador, um cientista, reunindo qualidades que justificavam largamente a condição que ocupou em vida e até hoje, ainda que o reconhecimento se restrinja a setores da sociedade. “Nós nos reconhecemos em Josué de Castro”, resume poeticamente Abbé Pierre, no filme de Sílvio Tendler, Josué de Castro – Cidadão do Mundo , um impressionante encontro de personalidades nacionais e internacionais sob um único propósito: reverenciá-lo. Muitos se reconhecem em Josué, embora nem todos o reconheçam, infelizmente [...]. Veja mais aqui e aqui.

OS CAVALOS SELVAGENS – Nos livros Manuel Ugarte: o sonho da pátria grande (Insular, 2014), de Victor Ramos, e Maravilhas do conto hispano-americano (Cultrix, 1968), organizado por Diaulas Riedel, encontro que o escritor, diplomata e intelectual socialista argentino Manuel Ugarte (1875-1951), era um dos defensores da unidade latino-americana, relacionando as ideias do internacionalismo socialista com as do nacionalismo, reivindicando uma retomada do programa bolivariano de integração e emancipação. Da sua lavra, destaco os trechos do conto Os cavalos selvagens: [...] Quando nos encontramos ante a primeira estacada da propriedade, Julio fez correr o fecho, sem descer do cavalo, e continuamos a correria. Daí à casa havia ainda meia hora. Os animais começaram a fraquejar, mas ferimo-lhes desesperadamente os flancos e continuaram a galopar com relinchos lamentosos de pobres animais que ignoram por que são sacrificados. Ao sair de um bosquezinho de pinheiros, divisamos as primeiras luzes da vivenda. O edifício desaparecia na sombra e só se viam os retângulos da luz das janelas. Abrimos o fecho de outro portão, entramos no jardim, e a primeira claridade do dia assomava no horizonte, quando nos encontramos na porta da casa. A mãe de Julio saiu a receber-nos, e deixou-se cair nos nossos braços, sem atinar com nada para dizer. Julio separou-se nervosamente... abriu a porta e, mudo, desequilibrado, como se não se inteirasse das coisas, entrou no salão... No meio do quarto havia dois ataúdes rodeados de círios e de gente enlutada. Quis atirar-se sobre os cadáveres; mas precipitamo-nos sobre ele, impedindo-o. Então começou uma luta espantosa durante a qual lhe contaram com palavras entrecortadas o que tinha acontecido. O cavalo de Margarida, acometido por uma raiva louca, tinha tomado o freio nos dentros perto das brenhas que contornavam o arroio e tinha fugido, levando-a pelos campos para o horizonte. D. Antonio picou as esporas e correu atrás para lhe prestar ajuda. Da casa seguiram-no com os olhos naquela corrida vertiginosa. D. Antonio perdeu o equilíbrio e caiu ao inclinar-se para refrear o cavalo da sua filha. Margarida continuou sozinha... primeiro manteve-se e lutou por conter o cavalo desbocado... depois saltou da montada... o seu pé ficou prisioneiro no estribo... e o cavalo continuou... tropeçando o corpo contra as árvores e as pedras, até que um movimento brusco o libertou da carga que arrastava, deu um salto mais elástico e perdeu-se, junto com o outro, na planura... Quando chegaram para socorrê-los, D. Antonio agonizava e Margarida era um montão de carnes sangrentas cobertas de lodo. Julio não escutou os detalhes. Pelos seus olhos passou uma chama de loucura e aproximou-se da janela aberta enxugando a fronte... muito longe, roçando quase os campos, no dintel do dia, o sol pendurava o seu lampião chinês vermelho. Um bando de cavalos selvagens passou para o norte, com as crinas ao vento, num desses pânicos que os arrebatam no pampa. Entre eles iam os dois com freio e sela... Julio fez, ao vê-los, um gesto brusco; agarrou uma carabina que estava pendurada na parede e apontou. As detonações soaram uma atrás das outras, com um ruído sinistro, na quietação daquele quarta onde havia dois cadáveres. Um dos animais caiu e rebolou no chão, lançando um relincho agudo. Os outros perderam-se na distância... E Julio, como um colosso vencido pela barbárie da natureza, começou por fim a chorar e mostrou-lhes os punhos. Veja mais aqui.

CIDADE DE PALMARES, CONFIDENCIAL & CAIXA DE FÓSFOROS – No livro Poetas dos Palmares (Nordeste, 1987), organizada pelo poeta Juareiz Correya, encontro os poemas do dramaturgo, advogado, professor e poeta Fenelon Barreto, entre os quais destaco, inicialmente, Cidade de Palmares: Quando quiseres ver os esplendores / da vida, entesourando um mundo lindo, / terra de Deus, de sonhos e de amores, / dos canteiros florindo e reflorindo,  quando quiseres, em deleite infindo, / ouvir o canto pelos seus cantores, / poemas de plumas, de astros refulgindo, / das lindas moças que só vestem flores, / quando quiseres ver azuis e pretas, / essas bailando em todos os matrizes, / lindos pana-canás de borboletas, / Palmares te contempla e te convida! / Vem ver como aqui todos são felizes, / esquecendo o destino e amando a vida. Também o seu poema Confidencial: ...E agora é a gente vil nos censurando! É o riso / das amantes que tive e das mulheres feias, / meia dúzia de meus, de cérebros sem juízo, / que desejam colher aquilo que semeias. / Querem mesmo findar o sonho que idealizo. / Gostam também de entrar nas relações alheias, / tão cínicas enfim, que às vezes é preciso / mostrarmos o rancor que ferve em nossas veias. / Crê em minha afeição, minha jovem rosada! / E longe dessa turba estúpida e maldita / teremos algum dia a paz desejada! / E após ouvir-me assim, ei-la a sorrir... repleta / desse orgulho que tem toda mulher bonita, / convicta de possuir o coração de um poeta. Por fim, Caixa de Fósforos: Ontem quando a comprei ao merceeiro, / tão valiosa quanto imprescindível, / achei que era absurdo indiscutível / pagar por ela apenas um cruzeiro. / Uma caixa de fósforos-dinheiro / não paga o preço desse combustível; / luz, que é vida, valor imperecível, / luz, entre os elementos, o primeiro, / Uns fósforos tomei-lhe, bem poupados, / mais outros, outros mais e em leve assomo, / notei todos os fósforos queimados. / A vida humana é a mesma fantasia: / poder, orgulho, tudo acaba. É como / essa caixa de fósforos vazia. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

AS FESTAS MEDIEVAIS – No livro Traité de scénographie (Biblioteca Theatre, 1984), do arquiteto, designer e teórico de teatro, Pierre Sonrel (1903-1984), encontro o estudo sobre As festas medievais, o qual destaco os trechos: O mundo antigo não legara ao mundo medialval qualquer forma dramática viva. A arte teatral em Roma perdera-se, por fim, nos jogos grandiosos e bárbaros do circo, onde os primeiros cristãos desempenharam sobretudo o papel de mártires. É a igreja que, sem o ter procurado, vai dar ao teatro uma vida nova e um novo sentido. Da mesma maneira, de fato, que a celebração dos ritos dionisíacos está na origem da tragédia e da comedia gregas, também o teatro clássico moderno nasce do desenvolvimento da liturgia da missa, a pouco e pouco dilatada com a representação de cenas extraídas das sagradas escrituras. [...] Os primeiros dramas litúrgicos desenrolaram-se nas igrejas, onde constituíam um desenvolvimento mimado e dialogado dos textos do ofício e das cerimônias rituais. Depois com o nome de mistérios e de milagres, realizaram-se verdadeiras representações teatrais; mas sempre inspiradas nos textos bíblicos e evangélicos e traduzindo, em linguagem vulgar e em cenas variadas, os ensinamentos contidos no latim e nas rubricas da liturgia. [...] Durante séculos, todos estes espetáculos se multiplicaram e renovaram, sem que surgisse, em toda a cristandade, um único poeta que, como o construtor das catedrais seu contemporâneo, dominasse e ordenasse os seus elementos, soubesse criar uma forma típica, um quadro estável no qual se moldassem os impulsos dramáticos e líricos dos autores e dos interpretes. Sobre a encenação e a decoração destes espetáculos só temos muito raros documentos e os eruditos limitam-se a conjeturas. Não chegou até nós nenhum testemunho gráfico referente às representações religiosas dadas entre os séculos X e XV. O mistério de Adão e Eva do século XII é, sem dúvida, o mais antigo texto dramático de língua francesa que existe [...] Alegorias e fábulas mitológicas, música e cantos, luzes, trajos suntuosos, máquinas e aparições aéreas, tais são os elementos essenciais que se encontram nestes espetáculos precursores do bailado e da ópera. Como nos mistérios, toda a cidade colaborava nestas festas sob a direção dos artistas de maior nomeada na cidade ou na província que, depois de terem concebido a ideia, vigiavam a execução. Assim, encontra-se na obra destes pintores a arte que consiste em dispor as personagens, em prever as suas evoluções, em valoriza-las com fundos apropriados, em coloca-las sobre degraus, numa palavra, encenando, concebendo cenografia e movimentos das celebrações tanto religiosas como civis, antepassadas do nosso teatro. Veja mais aqui

BEDAZZLED – A comédia britânica Bedazzled (O diabo é meu sócio, 1967), dirigido por Stanley Donem, conta a história de um jovem introvertido e perdedor infeliz que vende sua alma ao diabo em troca de sete desejos, mas com a dificuldade para conquistar a garota de seus sonhos, entra em desespero por sua paixão não correspondida, levando-o ao processo de completa incompetência para a tentativa de suicídio. Uma releitura cômica da lenda do Fausto, traz não só a infelicidade do personagem central que representa os sete pecados capitais, como a disputa do diabo com Deus, na tentativa de reunir bilhões de almas, com o objetivo de ser, ao conseguir tal reunião, seria admitido no céu. O destaque do filme é a atriz e cantora estadunidense Raquel Welsh – a sempre bela Jo Raquel Tejada. Veja mais aqui.

IMAGEM DO DIA
As diversas poses da soprano finlandesa Karita Mattila.


Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do programa Noite Romântica, a partir das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e apaixonante de Meimei Corrêa. E para conferir online acesse aqui.

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