VAMOS APRUMAR A CONVERSA? TEATRO: UM
CAMINHO PARA LIBERTAÇÃO (Imagem:
Revista A Região, ano II, nº 07, 1985) – O ato teatral sempre foi uma
manifestação popular. Na Grécia antiga rememoravam-se através de uma procissão
cantando em coro ditirambos ao culto de Dioniso ou Baco, culto este que
estabeleceu o inicio da expressão teatral. O axioma platônico “a arte é a
imitação da natureza”, muito bem especifica a tradição teatral que sempre se
manteve espelhando, reproduzindo e transformando as contradições sociais, desde
a tragédia grega de Ésquilo, Sófocles e Eurípedes, passando por Shakespeare,
Calderon, Gil Vicente, Moliére e a Commedia dell’arte, Brecht e a dialética
teatral, Stanislavsky e o teatro teatral de Craig Appia e Meyerhold, até o
teatro do Oprimido de Augusto Boal, o absurdo de Artaud e Ionesco, e o
anarco-comunismo de Dario Fo. No Brasil, a princípio, o teatro foi o veiculo e
instrumento de catequese, método utilizado pelos jesuítas com o fim de
“civilizar” os índios existentes na nossa pátria, mas logo foi declinando desse
intuito para “posteriormente passar a ser usado como instrumento de maior
profundidade, constituindo-se em elemento de pujança na formação intelectual e
moral do nosso povo, glorificando seus valores ao mesmo tempo que anulava as
falsase imerecidas auréolas”, segundo Felinto Rodrigues. E o espetáculo teatral
subordinado ao texto, coreografia, iluminação, figurino, elementos cênicos e
interpretação tem por objetivo além de reproduzir a realidade e as vicissitudes
de cada incongruência social, o de instruir divertindo, possibilitando
dialeticamente restaurar em cada individuo o valor da conscientização. A
atividade artística como função alternativa para o progresso do município tem
no teatro a principal força motriz para eventulizar o processo de transformação
nos estágios da revolução copernicana ao contrário e resultar no dinamismo
conclusivo que ao certo brotarão ao longo do seu desenvolvimento. O dramaturgo
alemão Bertolt Brecht nos informa: “Somos todos personagens de um drama social”
e isso nos habilita a utilizar a arte não como um fim, mas como um meio. A
reprodução da vida do espirito humano se faz necessário à medida em qye temos
que ir de encontro ao mito da Esfinge existente no seio da nossa sociedade
antropofágica, com seus rótulos e alienação abstratizante, conseguindo o
ninamismo ao invés da estaticidade, algo sintomático, porque o teatro do século
XX tem o poder da metamorfose e nós vivemos ainda sob a persistência de uma
estrutura semifeudal. E para ir de encontro a isso temos que realizar uma arte
popular, um teatro mambembe, de rua, de feira, fórum, teatro-jornal e as
diversas formas se fazer teatro, encetando todo indicio, vestígio e ruina da
nossa raiz como aquisição de uma consciência histórica. A isso se propõe o
Grupo Terra, grupo teatral amador que nasceu sob a força da boa vontade e da
necessidade do que fazer, com o compromisso de restaurar e redimir nossa
identidade. O Grupo terra é formado por jovens como Leonilda Silva, Roberto
Quental, Valter Portela, Kária, Eri Guerra e outros jovens que bnuscam na arte
teatral a revitalização do teatro de Hermilo Borba Filho, Aristoteles Soares,
Fenelon Barreto, Lelé Correia e Miguel Jassely, tão esquecidos. O Grupo Terra
já se apresentou com um espetáculo infantil, Valente Galozé, adaptação do livro
de Elita Afonso Ferreira, com José de Augusto Boal e atualmente estão montando
João sem Terra, de Hermilo Borba Filho. A exemplo do Grupo Terra, temos notícia
de mais outros grupos teatrais espalhados por todo lugar: Grupo Zumbi, Estrela
5, Força Jovem, bem como grupos originados em Água Preta, Catende e Barreiros.
E essas vozes, vozes pálidas, mas resistentes e conscientes de que não devemos
esperar que o mundo se sensibilize por nossa incompetência, mas nós é que temos
que nos sensibilizar, são as verdadeiras expressões de não se limitar a ser
espelho de uma época, mas modificá-la. E veja mais aqui.
Imagem: Sob a verdura, do
pintor português José Júlio Sousa Pinto (1856-1939)
Curtindo o álbum da trilha sonora da comédia Ed Mort (1997), do músico,
compositor e ator Arrigo Barnabé para o filme homônimo dirigido pelo
cineasta Alain Fresnot, com roteiro de José Rubens Chachá baseado no personagem
criado em 1989 por Luís Fernando Veríssimo como paródia das histórias
norte-americanas de detetives, adaptado para os quadrinhos por Miguel Paiva. Veja mais aqui.
COMO ENSINAR – No livro Ostra feliz não faz
pérola (Planeta, 2008), do psicanalista, educador, teólogo e escritor Rubem
Alves (1933-2014), encontrei crônicas do autor sobre amor, beleza,
crianças, educação, natureza, política, saúde mental, religião, velhice e
morte. Na obra destaco o trecho Se eu fosse ensinar: Se eu fosse ensinar a uma criança a arte da jardinagem,
não começaria com as lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Eu a levaria a
passear por parques e jardins, mostraria flores e árvores, falaria sobre suas maravilhosas
simetrias e perfumes; a levaria a uma livraria para que ela visse, nos livros de
arte, jardins de outras partes do mundo. Aí, seduzida pela beleza dos jardins, ela
me pediria para ensinar-lhe as lições das pás, enxadas e tesouras de podar. Se fosse
ensinar a uma criança a beleza da música, não começaria com partituras, notas e
pautas. Ouviríamos juntos as melodias mais gostosas e lhe falaria sobre os instrumentos
que fazem a música. Aí, encantada com a beleza da música, ela mesma me pediria que
lhe ensinasse o mistério daquelas bolinhas pretas escritas sobre cinco linhas. Porque
as bolinhas pretas e as cinco linhas são apenas ferramentas para a produção da beleza
musical. A experiência da beleza tem devirantes. Se fosse ensinar a uma criança
a arte da leitura, não começaria com as letras e as sílabas. Simplesmente leria
as estórias mais fascinantes que a fariam entrar no mundo encantado da fantasia.
Aí então, com inveja dos meus poderes mágicos, ela desejaria que eu lhe ensinasse
o segredo que transforma letras e sílabas em estórias. É muito simples. O mundo
de cada pessoa é muito pequeno. Os livros são a porta para um mundo grande. Pela
leitura vivemos experiências que não foram nossas e então elas passam a ser nossas.
Lemos a estória de um grande amor e experimentamos as alegrias e dores de um grande
amor. Lemos estórias de batalhas e nos tornamos guerreiros de espada na mão, sem
os perigos das batalhas de verdade. Viajamos para o passado e nos tornamos contemporâneos
dos dinossauros. Viajamos para o futuro e nos transportamos para mundos que não
existem ainda. Lemos as biografias de pessoas extraordinárias que lutaram por causas
bonitas e nos tornamos seus companheiros de lutas. Lendo, fazemos turismo sem sair
do lugar. E isso é muito bom. Veja mais aqui, aqui e aqui.
TEORIAS
DA ALMA – No livro Perdas e Ganhos
(Record, 2003), da escritora e tradutora Lya
Luft, encontro Teorias da alma, da qual destaco os trechos: Quanto
mais recursos temos no campo da psicologia e dos novos conhecimentos sobre as
relações humanas, mais inseguros estamos. Quanto mais civilizados, menos
naturais somos. Na época em que mais se fala em natureza estamos mais distantes
dela. Ser natural passou a não ser natural. Assim é com criar filho. Perplexos
diante das mil teorias que nos batem à porta em toda a mídia, e a proliferação de
consultórios com todo tipo de terapias (pelas
razões mais singulares),
estamos nos convencendo de que
ter e criar filho nâo é lá muito natural.
Passamos do extremo antigo de achar que
criança não pensa
ao outro extremo: criança é complicação. Mil
receitas de como
tratar do bebê
ao adolescente atormentam
gerações de pais aflitos. A aflição
não é boa conselheira. Afobado, aliás, a gente ama bem mal... Esquecemos o melhor
mestre: o bom-senso. A escuta do que temos no
nosso interior, aquela coisa antiquada chamada intuição, lembram?
Claro que para isso precisamos
ter bom-senso e ter algo dentro de nós
para ser escutado. Ou cada vez
que o bebê chorar desafinado,
a criança ficar menos ativa (ela em geral
está simplesmente pensando,
querendo que finalmente a
deixem um pouco
quieta), vamos correndo
procurar um especialista. Para
que ele nos ensine a segurar o bebê, dar a mamadeira, olhar no olho, aconchegar
ao peito a criança nossa de cada
dia. É que somos, além de aflitos, desorientados.
Falta-nos o hábito de observar e de refletir. Preferimos evitar o espelho que
faz olhar para dentro
de nós. Cada vez mais amadurecemos
tarde ou mal.
Somos crianças tendo crianças. Não gostamos de refletir e decidir: se
a gente parar
para pensar, tudo desmorona, me disse alguém. Temos receio
de encontrar a ponta do fio dissimulada na confusão do
novelo, e, puxando por ela, ver tudo se
desmontar. Mas pode ser positivo: poderíamos recolher os cacos e recomeçar.
Quem sabe criar uma estrutura interior mais natural e boa do que essa em que nos fundamos, e baseados
nela dar aos filhos um legado - e um recado - tranqüilo e positivo, que não
está em
livros e nem em
consultórios. Ser natural está em crise grave. Quando a sofisticação de usos e
ferramentas se torna quase
cotidiana, tendemos a usar de estratégias complexas também quando bastaria
apelar para a simplicidade e sensatez. [...] Muito
vai depender do quanto esperamos e acreditamos. De modo geral acho que nos
contentamos com muito pouco. Não falo em dinheiro, carro, casa, roupa, jóias, viagens, que esses
cobiçamos cada vez mais. Refiro-me aos tesouros humanos: ética, lealdade, amizade,
amor, sensualidade boa. Nossas asas não são tão precárias que
tenhamos de voar junto ao chão ou apenas
arrastar nosso peso. Nem somos tão
covardes que não possamos
botar a cabeça fora do casulo e espiar:
quem sabe no
tempo do qual fugimos nos aguarde,
querendo ser colhido,
algo chamado futuro, confiança, projeto, vida. Ainda que
a gente nem perceba, tudo é avanço e transformação, acúmulo de experiência, dores do parto de
nós mesmos, cada dia refeito.
Somos melhores do que imaginamos ser. Que
no espelho posto à nossa frente
na hora de nascer a gente ao fim tenha
projetado mais do que um vazio, um nada, uma frustração: um rosto
pleno, talvez toda uma
paisagem vista das varandas da nossa
alma. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
TRES
SONETOS ERÓTICOS– No livro Poesias
eróticas, burlescas e satíricas (Escriba, 1969), do poeta português Manuel Maria Du Bocage (1765-1805),
destaco três sonetos selecionados por Glauco Mattoso, o primeiro deles Soneto
de todas as putas: Não
lamentes, ó Nize, o teu estado; / Puta tem sido muita gente boa; / Putissimas
fidalgas tem Lisboa, / Milhões de vezes putas teem reinado: / Dido foi puta, e
puta d'um soldado; / Cleopatra por puta alcança a c'roa;/ Tu, Lucrecia, com
toda a tua proa, / O teu conno não passa por honrado: / Essa da Russia
imperatriz famosa, / Que inda ha pouco morreu (diz a Gazeta) / Entre mil porras
expirou vaidosa: / Todas no mundo dão a sua greta: / Não fiques pois, ó Nize,
duvidosa / Que isso de virgo e honra é tudo peta.
Também o Soneto da donzela ansiosa: Arreitada
donzella em fofo leito, / Deixando erguer a virginal camisa, / Sobre as roliças
coxas se divisa / Entre sombras subtis pachacho estreito: / De louro pello um
circulo imperfeito / Os pappudos beicinhos lhe matiza; / E a branca crica,
nacarada e lisa, / Em pingos verte alvo licor desfeito: / A voraz porra as
guelras encrespando / Arruma a focinheira, e entre gemidos / A moça treme, os
olhos requebrados: / Como é inda boçal, perde os sentidos: / Porem vae com tal
ansia trabalhando, / Que os homens é que veem a ser fodidos. Por fim o
Soneto da copula esculpida: Nesta, cuja
memoria esquece à Fama, / Feira, que de Sanct'rem vem de anno em anno, / Jazia
co'uma freira um franciscano; / Eram de barro os dois, de barro a cama: / Co'a
mão, que à virgindade injurias trama, / Pretendia o cabrão ferrar-lhe o panno;
/ Eis que um negro barrasco, um Frei Tutano / O espectaculo vê, que os rins lhe
inflamma: / "Irra! Vens me attiçar, gente damnada! / Não basta a felpa dos
bureis opacos, / Com que a carne rebelde anda rallada?" / "Fora, vis
temptações, fora, velhacos!..." / Disse, e ao rispido som de atroz pattada
/ O escandaloso par converte em cacos. Veja mais aqui, aqui e aqui.
A
FILHA DOS PAIS - A premiada atriz e escritora Fernanda Torres, não bastando ser filha do casal de atores Fernando
Torres e Fernanda Montenegro, teve seu primeiro contato com o teatro aos 13 anos
de idade, quando entrou para o Tablado, atuando já, em 1978, na peça Um tango
argentino, de Maria Clara Machado. A partir disso, atuou nas peças A casa dos
Budas ditosos, Da gaivota, The flash and crash days, Orlando, Duas mulheres e
um cadáver e 5 x comédia. Mas foi no cinema que o seu talento esbanjou com
atuação nos filmes Inocência (1983), Amenic – entre o discurso e a prática
(1984), A marvada carne (1985), Madame Cartô (1985), Sonho sem fim (1985), Eu
sei que vou te amar (1986), Com licença, eu vou à luta (1986), Mulher do
próximo (1988), Fogo e paixão (1988), Kuarup (1989), Beijo 2348/72 (1990),
Capitalismo selvagem (1993), O judeu (1996), Terra estrangeira (1996), Miramar
(1997), O que é isso, companheiro? (1997), O primeiro dia (1998), Gêmeas
(1999), Os normais (2003), Redentor (2004), Casa de areia (2005), Saneamento
básico (2007), Jogo de cena (2007), A mulher invisível (2009) e Os normais 2 –
A noite mais maluca de todas (2009). Vale aplausos e de muitos! Veja mais aqui.
SAVAGES – O
policial Savages (2012), dirigido
pela cineasta e roteirista estadunidense Oliver Stone, é baseado no romance
homônimo de Don Winslow, contando a história de dois amigos plantadores e contrabandeadores
de cannabis, produzindo uma variante forte do produto que o tornam muito ricos.
A partir de então se envolvem com o cartel mexicano, mas recusam a parceria,
ocorrendo a partir de então começa uma trama recheada de golpes, subornos,
violência, revides, prisões e muita ação. O destaque do filme é para a
belíssma atriz estadunidense Blake
Liverly. Veja mais aqui.
IMAGEM DO DIA
A arte do fotógrafo francês Henri Cartier-Brersson (1908-2004)
Veja mais no MCLAM: Hoje é dia do
programa Tataritaritatá, a partir
das 21hs, no blog do Projeto MCLAM, com a apresentação sempre especial e
apaixonante de Meimei Corrêa. Na
programação: Beethoven, Gilberto Gil, Orquestra
Brasileira de Música Jamaicana, Quarteto em Cy, Quinteto Violado, Banda de Pau
e Corda, MPB 4, Sonia Mello, Ozi dos Palmares, Jussanam, Ricardo Machado, Jan
Cláudio & Eduardo Proffa, Wilson Monteiro, Mazinho, Walter Pepê, Elisete
Retter, Marquinhos Cabral & Genésio Cavalcanti, Santana o Cantador, Trio
Ambisi, The Skatalites, Conjunto Água Azul, Alexandre Machado & Grupo Um Só
Sentimento, Tirso Florence de Biasi, Fernando Rios, Marisa Serrano, Paulynho
Duarte, Franco do Valle, Coral São Vicente a Capella, Sorriso Maroto, Fábio Jr,
Exaltasamba, Fernando Iglesias & muito mais. Em seguida, o programa Mix MCLAM, com Verney Filho e na
madrugada Hot Night, uma programação
toda especial para os ouvintes amantes. Para conferir online acesse aqui.
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