INVENÇÃO DE ASA... “Assim
é o mundo! Uns selados e outros cacundos”... - Trocando em miúdos: Levantava
o dedo com os pés pelas mãos, não valia um xenxem... Vamos lá! A vida toda saí
pinotando pra tudo quanto é canto, como se fosse um repentista correndo atrás
da sorte, só que de poesia não sabia nada, feito gente que se mete a fazer as
coisas sem entender do riscado. Por causa disso não vivi em branca nuvem e vi o
fio da desgraça pra todo lado que aprumei as ventas. Para
quem a pedra se Sísifo sou e muitos para tantas que rolaram ribanceira abaixo,
trajetos interrompidos, errâncias no desiderato. Para quem o chão, abrigo e
punição, se Anteu sou na imensidão do ermo, desvalido e só, nada mais. Para
quem o ar se Ícaro sou entre tempestades e asteroides, voos abissais e em queda
livre. Para quem as cinzas se Fênix sou entre ciclones, furacões, tornados e
tufões, à deriva pelas correntezas. Tantos redemoinhos nenhuma paragem trouxe
assim por guarida. Digo sempre vida e meia pra quem me diz meia vida e
quando brinquei de querer versejar dei um pontapé no destino: honrei o
estandarte dos oito pés de quadrão, mesmo que nada disso valesse a pena.
Trovando como entendo vou levando e quem vem de quadrão trocado eu voo com
aquele galope à beira-mar do violeiro Zé Pretinho, cantando na décima de versos
compridos e soltos, enquanto você fica com dez pés de queixo caído. Honrei não
sei quantas musas! E se poetei fui eu nas marés e movimento das esferas no
infinito do riso, o beijo e as ideias sem rima ao desenharem espírito: cantigas
de amor para não maldizer – quem faz do amor ser coisa de graça; cantigas de
amigo sem escárnio - de quem nunca fez mal a ninguém. Falo como quem aprendeu
sextilha para não ser desentoado, um mourão em cada aceno quando não de sete
pés, quem de graça fez o riso e do riso fez a graça. Para onde fui uma chegada,
em cada beco outros passos, em cada esquina a solidão. Do
que sou, apenas invenção de asa. Nada demais, trago apenas hestórias que me
ensinou passarinho... Tenho na alma as marcas da sina caeté. Veja mais
aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
DITOS & DESDITOS - Lutamos e definimos
nossas próprias formas de luta, legalizadas por nós mesmos. Resistimos como
povos indígenas, como comunidades, independentemente das fronteiras que foram
traçadas entre nós. Temos o desafio de continuar a tornar real esta rebeldia...
Pensamento da ativista hondurenha Berta Cáceres (1971-2016), que foi uma
líder indígena assassinada em sua residência por homens armados, depois de anos
de ameaças. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: Dado que a criação artística é um processo mental, a ciência da arte deve ser psicologia. Será também outras coisas, mas
a psicologia faz isso sem falhar... Pensamento do historiador alemão Max Friedländer (1867-1958).
SINCERIDADE & HONESTIDADE – [...] O
homem da classe média não é nem sincero nem honesto nem leal – ele tem que
possuir dinheiro. Seu espírito ama ocultar situações; tudo o que é encoberto o
impressiona, visto que o seu mundo é segurança e conforto. Ele conhece a auto
reprovação e a auto humilhação. […] A era do
industrialismo e do capitalismo arrebatou as mentes, corações e almas das pessoas,
mas, para alcançá-la, elas renunciaram ao outro lado de si mesmas. [...].
Trechos extraídos da obra Técnica da representação
teatral (Civilização
Brasileira, 2014), da
atriz e professora Stella
Adler (1901-1992),
fundadora do Conservatório Stella Adler na cidade de Nova Iorque, em
1949. Veja mais aqui.
UMA TRAGÉDIA ESTADUNIDENSE – […] que importa se um homem ganha o mundo inteiro e perde a
sua alma? [...] Quem eram
essas pessoas com dinheiro e o que fizeram para desfrutar de tanto luxo, onde
outros aparentemente tão bons quanto eles não tinham nada? E
onde é que estes últimos diferiam tanto dos bem sucedidos? [...] Outros livros dependiam menos de contatos pessoais
do que de certas preocupações permanentes. No início da sua carreira, Dreiser
interessou-se por um crime que considerava uma versão sombria do motivo do
sucesso americano: o assassinato de uma mulher que impedia os sonhos do seu
amante de progresso social e material através de um casamento mais vantajoso.
Para An American Tragedy (1925), ele investigou vários históricos de casos,
muitos deles assassinatos sensacionais envolvendo figuras conhecidas como
Roland Molineux e Harry Thaw. Ele finalmente decidiu pelo julgamento de Chester
Gillette em 1906 pelo assassinato de Grace Brown, ocorrido no distrito dos
lagos, no interior do estado de Nova York. O romance se beneficiou do interesse
popular pela biografia criminal, uma forma à qual a obra-prima de Dreiser deu
nova vida como progenitora de romances documentais sobre crimes, como Native
Son, de Richard Wright, In Cold Blood, de Truman Capote, e The Executioner’s
Song, de Norman Mailer. [...] E
eles estavam sempre testemunhando como Deus ou Cristo ou a Graça Divina os
resgataram desta ou daquela situação – nunca como eles haviam resgatado
qualquer outra pessoa. [...]
Enquanto cantavam, este público de rua indefinido e indiferente olhava,
preso pela peculiaridade de uma família de aspecto tão sem importância erguendo
publicamente a sua voz coletiva contra o vasto cepticismo e apatia da vida.
[...] Que coisa miserável era nascer pobre e não ter ninguém que fizesse
nada por você e não poder fazer tanto por si mesmo! [...] As pessoas
gostam de dinheiro ainda mais do que de aparência [...] Os dias estavam
indo – indo. Mas a vida - a vida - como poderíamos viver sem isso - a
beleza dos dias - do sol e da chuva - do trabalho, do amor, da energia, do
desejo. Por que dizer-lhe tão constantemente agora para resolver
todos os seus cuidados na misericórdia divina e pensar apenas em Deus, quando
agora, agora, era tudo [...].
Trechos extraídos da obra An American Tragedy (Signet,
2010), do escritor e ativista estadunidense Theodore Dreiser (1871-1945),
obra que embasou a inspiração livre do filme Sunrise
– A song of two humans (1927), do cineasta
alemão F. W. Murnau.
DOIS POEMAS – A ARTE DE PARTIR - O calor está saindo \ da sua camisa, pendurada \ nas
costas da cadeira. Aos poucos \ ele está devolvendo tudo \ o que tinha de seu. O SONHO NO PRÓXIMO CORPO -
Da ponta da cama, coloco \ os
lençóis de volta no lugar. \ Um velho pinta um grande sol listrado \ por nuvens
de sete azuis. \ Através do centro amarelo, cada \ azul é precisamente ele
mesmo e, no entanto, \ no ponto em que encontra outro, \ o olho não consegue detectar
uma mudança. \ O ar muda, diz ele, \ e as cores. \ Quando você me tocou em um
sonho, \ sua pele há uma hora não terminava \ onde se juntava à minha. Meu
corpo continuou \ o movimento do seu. Algo fluía \ entre nós como pássaros em
bando. \ Numa solidão maior que nossos dois corpos, \ a luz cada vez mais forte
nos separou novamente. \ Mas sob a cobertura a impressão \ de nossos corpos é
uma cavidade única e quente. Poemas da escritora
sul-africana Gabeba Baderoon. Veja mais aqui.
OUTRAS DIC’ARTES MAIS