quarta-feira, julho 02, 2014

ANNIE FINCH, RASHIDA, ELEANOR FARJEON, CLAUDIA JONES, KATHERINE DUNHAM & LITERÓTICA



LITERÓTICA: O BEIJO DANÇA... - Ela ilumina a hora com seus pés dançantes aos frevos das mulheres que gravitam todos os esgares glamourosos, com suas pernas luzidias sobre as ousadias festivas da Cabra-cabriola pelos salões multicores da minha alma aniquilada. Ela chega com o escarcéu do cortejo da princesa de Jericoacoara na festa dos caboclinhos desregrados com as danaides que se jogam nuas às flechadas de firmes pisadas jactantes, para sorver meu sangue com todos os seus tesouros desencantados. E mais rodopiante com zanga fingida e pudores dissimulados da Cumadre Fulôsinha pelo maracatu de baque solto virado matadentro com todas as gritarias das abusões mais pavorosas; e se sacodisse como se fosse a Galega do Queixão embalada num xote para o seu trote de égua no cio a me servir como se eu fosse Dioniso arrodeado de bacantes lúbricas e o tagaté não acabasse tão cedo. E mais se insinuasse aliciante e lavada de suor como se fosse Mãe d’Água enlouquecida num galope à beira-mar incentivada pelas mulheres vitoriosas do Tejucupapo para saudar a minha volúpia para lá de estouvada; e mais se achegasse Iara emergindo das profundezas aquáticas com todos os gozos de sua vagina de mil cheiros só para mim; e mais estrondasse lasciva Mãe da Lua aos requebros para me fazer Urutau perdido nas noites longas dos seus lençóis de nuvens e perdições eternas; e surpreendesse como se fosse lúbrica emparedada da Rua Nova a me fazer desfrutar de todos os seus dotes corporais para lá de bem aquinhoados; e se deleitasse Mãe do Ouro num baião arretado de trocar nossas pernas e me perder cintura acimabaixo no rastapé de seu gingado; e se agigantasse Cobra Grande dançado com as bruxas potiguaras um forró descabelado às umbigadas do seu ventre incendiário no meu; e se fizesse enfeitiçada Serpente da Ilha do Fogo para se enroscar inclemente ao meu tronco e sexo; e agarrada em como se fosse a Galega de Santo Amaro a me inundar com todos os seus beijos na libação celebrante à minha apoteose fálica, pagando de Mula-sem-cabeça para me trazer os seios de mel de Manaira, bem mais que Branca Dias abrindo-me suas ostensivas coxas abundantes e roliças a me ofertar todos os tesouros guardados no fundo da lagoa, a folgar dentro do vestido colado às saias soltas e longas levantadas pelo vento despudorado pra me dar de mão beijada sua intimidade mais secreta. E a me arrastar por seus folguedos libidinosos arrebitando os glúteos no sacolejo rebolado, toda dissimular com seus olhos refratários como quem adivinha da minha secura pagã, como se conhecesse de cor e salteado a minha alma levada pelo contágio misterioso da sua. E mais me arrebata toda folgazã com os ombros encolhidos pelos braços espremendo os seus seios fartos sobressaindo-se no decote abissal para que eu sonâmbulo possa mergulhar incólume. E mais estala os dedos para roubar minha hipnose e aguçar minha atenção, abrindo os cotovelos para se tornar alada com seus tornozelos levitando na inquietude dos joelhos que fechabrem ao ritmo dos beijos jogados das suas mãos pra mim, mordiscando os lábios às lambidas de sua língua provocante, enquanto suas mãos manipuladoras insinuam tomar-me para si mais que capturado à sua sanha tentadora a se espalmar sobre minha exiguidade. Ah, ela e o seu beijo com o gosto da escuridão das matas que não mais existem, com seus esfregões deslizantes em meu corpo e a se contorcer uivante sedutora Alamoa a mim concedida para que lhe rompa os lacres, presilhas, botões arrancados das casas, elásticos partidos à força, a tomar sua pélvis, enquanto brinca com a mão em concha recolher meu pênis aos mimos, a lamber meu tórax e obstinada beber meu suor até a glande pingando minha ereção com a coragem de ser fertilizada pela minha ejaculação dentro de si inteiro náufrago no ritual de suas pernas trepadeiras envolventes; e mais me apertar contra si na simplicidade dos que amam, encurralada arfante ao meu abraço concupiscente que guarda o seu elixir de viciada em vida para muitas noites e ela é toda plena de dentro pra fora e mais que enlevada pela minha priápica libação. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.

 


DITOS & DESDITOS - Sorrir é definitivamente um dos melhores remédios de beleza . Se você tem um bom senso de humor e uma boa abordagem da vida, isso é lindo... Só porque uma situação é sombria não significa que você não tenha todo o direito de sorrir... Na verdade, só existe uma maneira de realmente exalar beleza: a partir do seu próprio contentamento em sua vida e da sua própria satisfação dentro de si mesmo... Falhe rápido. Fracasse frequentemente… As pessoas mais talentosas do mundo têm ideias ruins. Isso é uma coisa boa para aprender... Pensamento da atriz, cantora, roteirista e escritora estadunidense Rashida Jones.

 

ALGUÉM FALOU: A dança é uma parte essencial da vida que sempre esteve comigo. Se você dançar, você dança porque precisa. Toda dançarina dói, você sabe. Vá para dentro todos os dias e encontre a força interior para que o mundo não sopre sua vela para fora. Quando você tem fé em algo, é o seu motivo para estar vivo e para lutar por isso. Em saber como superar pequenas coisas, um centímetro de cada vez, gradualmente quando as coisas maiores vêm, você está preparado... Pensamento da bailarina, coreógrafa, antropóloga, educadora e ativista afro-americana Katherine Dunham (Kaye Dunn – 1909-2006).

 

MULHERES NEGRAS – [...] aceitar a sentença como culpada significaria apenas que eu me considero menos que digna da verdade, que prezo como comunista e como ser humana e também inadequada ao total desprezo com que considero tais atuações sórdidas. [...] eu descubro que somos nós, os réus, que somos moralmente livres e, pelo contrário, são os promotores e a própria Corte que ficam nus diante da Declaração dos Direitos, da Constituição e do povo de nosso país. [...] O processo de reflexão, como Vossa Excelência bem sabe, é um processo que desafia o cárcere. Quando isso tudo ferver, não são as políticas e práticas de nossos promotores – que se assemelham à prática do Estado policial – que virão à tona, mas seu medo desesperado do povo. Nada indica isso mais, Vossa Excelência, do que nossa exposição do júri tendencioso proveniente de um sistema que praticamente exclui Negros, Porto Riquenhos e Trabalhadores Manuais. Esta exclusão não existe por falta de qualificações ou mesmo por dificuldades financeiras, mas por causa da discriminação deliberada baseada no preconceito da classe dominante de supremacia branca cultivada conscientemente, que domina nossa arrogante cultura ocidental [...] Tudo isso não é mais do que uma prova de que também fomos julgados por nossa oposição às ideias racistas, parte integrante do impulso desesperado dos homens de Wall Street para a guerra e o fascismo? Um pensamento atravessou-me ao longo deste julgamento e me permeia ainda, e é o seguinte: Durante os nove meses e meio deste julgamento, milhões de crianças nasceram. Eu falo apenas daqueles que vivem. O futuro dessas crianças, incluindo os de nossos réus e até mesmo os netos de Vossa Excelência, será tornado mais seguro pela prisão de 13 homens e mulheres comunistas cujos crimes não são atos criminosos, mas a defesa de ideias? Não é isto uma violação tirânica do sonho americano de “vida, liberdade e busca da felicidade”? [...] Basta ser negro na América para saber que pelo crime de ser negro somos diariamente condenados por um governo que nos nega direitos democráticos básicos, o direito de votar, de exercer cargos, de ser juiz, de servir em júris, direitos negados à força no Sul e também no Norte. [...] Se, fora desta luta, a história avaliar que eu e meus co-réus fizemos uma pequena contribuição, considerarei meu papel pequeno de fato. As gloriosas façanhas de heróis e heroínas antifascistas, hoje honradas em todas as terras por sua contribuição ao progresso social, serão, assim como o papel de nossos promotores, também medidas pelo povo dos Estados Unidos nos dias que estão por vir. [...]. Trechos da declaração As mulheres negras podem pensar, falar e escrever!... da jornalista e ativista trinitário-britânica Claudia Jones (1915-1964), extraída da obra o Claudia Jones – Beyond Containment (Ayebia Clarke, 2010), organizado por Carole Boyce Davies, declaração esta feita antes de ser condenada a um ano e um dia de prisão pelo Juiz Edward J. Dimock, após um julgamento de nove meses de 13 líderes comunistas na Foley Square, Nova York, 1953. Veja mais aqui.

 

RENOVAÇÃO DO HOMEM -  [...] A verdade mais profunda, só a encontra um indivíduo [...] Cada homem deixa de ser o indivíduo ligado ao dever, à moral, à sociedade, à família. Ele não se torna nessa arte senão o que há de mais elevado e lamentável: ele se torna homem. Eis o novo e o inaudito em relação às épocas anteriores. Enfim não se pensa mais aqui nas idéias burguesas a respeito do mundo. Não há mais aqui nenhuma relação que vele a imagem do humano. Nenhuma história conjugal, nenhuma tragédia que resulte do choque entre a convenções e a carência de liberdade, nenhuma peça sobre o meio, nenhum chefe severo, oficiais prazenteiros, nenhuma marionete que, pendurada pelos fios das visões de mundo psicológicas, jogue, ria e sofra com leis, pontos de vista, erros e vícios dessa existência social construída e feita pelos homens... [...]. Trechos extraídos da peça teatral em duas partes Da aurora à meia-noite (1912), do dramaturgo e literato alemão Georg Kaiser (1878-1945). Veja mais aqui.

 

SAPATINHO DE CRISTAL - [...] Quero ser bom... procuro ser bom, tento sim, e gostar de todo mundo. Mas há algumas pessoas – algumas pessoas de quem não consigo gostar, por mais que tente. Eu os odeio - aí! [...]. Trecho extraído da obra The Glass Slipper (John Goodchild, 1983), das escritora e dramaturga britânica Eleanor Farjeon (1881-1965), que na obra Over the Garden Wall (Frederick A. Stokes Co, 1933), expressa que: [...] E algum jovem país sente falta Dando um beijo no rapaz, Tenho certeza de que os tempos antigos não eram tão bons assim. [...], enquanto na obra The New Book of Days ( RHCP, 2013), expressa que: [...] Fiandeiros ao Sol eles giram para a vida que é a sua necessidade, \ Eles giram para a vida que parece ganância, \ Eles ficam inconscientes enquanto giram \ Das coisas em que trabalham, \ Salvo porque servem para alimentar a querida vida. \ No ar outonal suas redes \ Penduram, e como setembro molha\ A teia com orvalho, \ ou brilha nela \ Até que a película de luz se acenda,\ O olho que a olha esquece \ A razão pela qual o trabalho começou; \ O olhar curioso da criança e do homem \ Vê apenas que as dores dos fiandeiros \ Capturaram a beleza em suas correntes transparentes [...]. Veja mais aqui.

 

DOIS POEMAS - CADEIA DE MULHERES - Estas são as estações que Perséfone prometeu \ enquanto ela girava nos calcanhares -\ aqueles que escurecem, até não ficarem mais verdes\ enfaixa o que sinto.\ Agora toques de ouro pontilham os galhos,\ semanas promissoras de tempo\ desaparecer, encontrando as pegadas\ ela saiu quando se virou para escalar. MEU RAPTOR – Minha mente pairava sobre meu bebê, como \ um raptor e congelou tudo o que viu.\ Eu olhei através da minha própria barriga grávida \ perímetros e encontrou seu coração para atacar\ atento até, indefeso com a libra\ de ainda mais sangue, ele pareceu se acalmar.\ Foi minha perda me sentir como Deus sozinho\ por um novo sempre ouvindo, para alcançar\ dentro para que seus ouvidos compartilhem o discurso voador\ Eu ouvia isso constantemente. Dentro do meu crescido\ silêncio, meu som, meu corpo barulhento onde\ o bebê virou, minha mente aprendeu a não se importar\ se os pensamentos que senti ele percebeu sem medo\ eram só meus - ou se ele podia ouvir. Poemas da dramaturga, poeta, editora, tradutora e artista performer estadunidense Annie Finch.

 

OUTRAS SACADAS DA HORA

 

 Foto: Arpoador, de Bárbara Angel.
Ouvindo Danse of the Blessed Spirits, do compositor alemão Christoph Willibald Gluck (1714 – 1787), com a English Chamber Orchestra, regente: Raymond Leppard.


HERMANN HESSE – Li o escritor alemão Hermann Hesse (1877 – 1962) pela primeira vez lá por volta de 1977 quando ganhei de presente de uma colegamiga que cursava comigo Letras na faculdade: O lobo da estepe (1927). Fiquei maravilhado! Pouco tempo depois a mesma me presenteou com O jogo das contas de vidro (1943). E pelas mãos do poetamigo e artista plástico Ângelo Meyer, fui agraciado com Sidarta (1922). Não é à toa que este autor ganhou no mesmo ano de 1946 dois prêmios: o Goethe e o Nobel de Literatura. Impressionado com sua obra, dele guardei algumas palavras pinçadas de suas obras: “Não devemos fugir da vita activa para a vita contemplativa, nem vice-versa, mas variando entre as duas, estar sempre a caminho, nas duas ter a nossa morada, participar de ambas”. E mais essa: “Só me interessam os passos que tive de dar na vida para chegar a mim mesmo”. Veja mais aqui, aquiaqui


WISLAWA SZYMBORSKA – A poeta polonesa Wislawa Szymborska (1923 – 2012), que ganhou Prêmio Nobel de Literatura, escreveu esse belíssimo poema: “Por que a palavra corça surge em meio a esse bosque escrito? Para bebericar água da primavera descrita cuja superfície copiará seu focinho mole? Por que ela levanta a cabeça; será que ouve alguma coisa? Debruçada sobre quatro pernas finas emprestadas da verdade, ela pica até as orelhas sob os meus dedos. Silêncio - esta palavra também se agita por toda a página e parte os ramos que surgiram a partir da palavra "bosque". De emboscada, definidas para atacar a página em branco, estão palavras não muito boas, garras de cláusulas tão subordinadas que nunca irão deixá-la ir embora. Cada gota de tinta contém um suprimento justo de caçadores, equipados com olhos apertados por trás de suas vistas, preparados para mergulhar a inclinada caneta a qualquer momento, cercar a corça e lentamente apontar as suas armas. Eles se esquecem de que o que está aqui não é vida. Outras leis, preto no branco, valem. O piscar de olhos vai demorar tanto quanto eu disser, e, se eu quiser, será dividido em pequenas eternidades cheias de balas, paradas em pleno voo. Nada vai acontecer, a menos que eu diga. Sem a minha bênção, nem uma folha cairá, nem uma lâmina de grama irá se dobrar sob aquele pequeno casco. Há então um mundo onde eu governe absolutamente o destino? Um tempo que eu ligue com cadeias de sinais? Uma existência tornada interminável sob meu lance?O prazer da escrita. O poder de preservação. Vingança de uma mão mortal. (O prazer da escrita, tradução de Josette Monzani e Augusto Cesar Cavalcanti). Veja mais aqui e aqui.


EVELYN LAU – Essa é do livro A fugitiva: o diário de uma menina de rua, da escritora canadense Evelyn Lau: Você se tornou aquilo que todos os assistentes sociais que sempre se preocuparam com você temiam. Seu temor mais profundo. Uma prostituta viciada. [...] A verdade dói, não dói? [...] irônico que algumas pessoas a quem fomos ensinados a respeitar, os professores, os homens de negócios e as ‘figuras de autoridade’, são os mesmos homens que cruzam as ruas procurando por garotas novas para afirmar sua masculinidade, para se sentirem desejados [...]”. (LAU, Evelyn. A fugitiva: o diário de uma menina de rua. São Paulo: Scipione, 1997).


DANIELLA ALCARPE – Conheci o trabalho musical da cantora e atriz Daniella Alcarpe no Clube Caiubi de Compositores já há algum tempo. Acompanhei o lançamento do seu primeiro álbum Qué que cê qué?, em 2009, e fiquei na torcida com o lançamento do seu O tempo salta, de 2013. Cantora das melhores e atriz de primeira, Daniella vai se firmando cada vez mais como uma das vozes mais promissoras da música brasileira. Estou na torcida! E como hoje é aniversário dela, desejo todo sucesso do universo! Parabéns, Daniella, feliz aniversário. Veja mais dela aqui.


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