A
alquimia e a magia tratam de como materiais mundanos, benignos e abundantes
podem ter um efeito maior do que a soma de suas partes. Para
mim, criatividade é alquimia. Quero ter um efeito benéfico em sua fisiologia,
mas não é da minha conta o que acontece depois disso... É meu presente para
você.
Ao som do Tribute to
Wayne Shorter - ARTE Concert (Festival Bielska Zadymka Jazzowa à
Gliwice, Pologne, 2023), da contrabaixista e cantora estadunidense Esperanza Spalding.
RENASCINZAS... – Um dia e outro o mesmo: não fosse minha inquietude das estrelas,
jamais discerniria entre o dilúculo e o ocaso, incólume pelas conflagrações,
como se pisasse sobre os ossos dos que fracassaram. Desconfortável andança, mas
seguia em frente. Um tanto de vezes sentia-me imerso às tramas do Replay de Ken Grimwood, como se já tivesse feito
não apenas doze ou quinze a mais dos trabalhos de Hércules, com o dobro das mil faces de Campbell n’O Groundhog
Day de Harold Ramis: não era o que
parecia, mas era o amor fati no meu eterno retorno de Nietzsche
– e a cada degrau, deserdado e enlouquecido. Tudo revivia a todo instante: era
31 de março e eu só tinha 4 anos no aniversário do meu pai, ou 8 de janeiro e a
minha filha pedia atenção pro futuro enquanto estampava a foto de Herzog
pendurado pelo pescoço e o dia D pra sindemia de fogo nas Amazônias e Pantanais,
um dia e tantos os mesmos como os que doíam nas Filhas da Dor – e uma
delas a heroina de Maureen Murdoc: O segredo do seu futuro
está escondido na sua rotina diária... Então embarcava na aventura e me jogava de olhos fechados; ao despertar era
como se nada houvesse, nada acontecido – pior: parecia mesmo a porta dos
infernos aberta e estragasse tudo, porque Andie MacDowell apontava
para a procissão da idiocracia – a pandemia de idiotas cheios de razões
folgazãs. Era ela Doris Lessing: Aprendizado
é isso: de repente, você compreende alguma coisa que sempre entendeu, mas de
uma nova maneira... Não é a inteligência que escasseia, mas a constância... Eram outros fevereiros, nada que
desse vontade de frevar ou cair na gandaia, muito menos recorrentes dezembros
que me causavam asco de tanta hipocrisia. Louise Gluck ali me avisava: Olhamos para o mundo uma vez, na infância. O
resto é memória... Eu te aviso como nunca fui avisada, você nunca vai desistir,
você nunca ficará saciado...
Resolvi então voltar pra casa... Tudo por
consertar, tudo, já sabia. Pode ser tarde, mas agirei, tentarei pelo menos. Era
como buscasse onde está você que sou eu e restava o mesmo dia e uma charge de Bob Mankoff: Tudo bem, a vida é sórdida, brutal e curta, mas você sabia
disso quando se tornou um homem das cavernas... Caminhei sozinho e senti o
pulso de Deus: não espero que ninguém me dê a mão, dou as minhas... Não espero
que ninguém me dê abrigo, oferto o meu... Do nada nem nenhuma, renascinzas, o amor assim... Até mais
ver.
UM POEMA...
TRÊS...
Imagem: Acervo ArtLAM.
I – segurando os seios; \ entre as mãos,
silenciosamente, \ ele remove o véu do mistério: \ aqui estão flores \ de uma
cor escarlate intensa!
II –
Seu senso de pecado, \ Este é você compassivo; \ Tudo o que estou dizendo é, \
Isso vai me deixar louca, \ Sua criança inocente.
III –
A primavera encurta, \ E para a vida imortal! \ Há poder, para tocar, \ Há
sangue em meus seios, \ Um bom lugar para a mão dele.
Poemas
da poeta, feminista, pacifista e educadora japonesa Akiko Yosano (Yosano Shiyo –
1878-1942).
TIRANDO SANGUE - [...] Os radicais
muitas vezes suspeitam da beleza da corrupção. Embora às vezes sejam filhos da puta
tensos, eles estão certos em uma coisa: a arte por si só não pode mudar o
mundo. As canetas não
podem enfrentar espadas, muito menos drones Predadores. Mas à medida que a decepção e a violência
se espalham, o antídoto é uma generosidade que a melhor arte ainda pode
inspirar. [...] O talento é essencial, mas o dinheiro compra a oportunidade de descobrir
esse talento. Fingir o contrário é cuspir na cara de todo gênio falido. [...] Para fazer alguém amar
você, veja-o como a pessoa que ele deseja ser. [...] Sob lâmpadas nuas, os
artistas pintaram fantasmagorias poderosas o suficiente para ameaçar exércitos.[...] A arte é esperança
contra o cinismo, criação contra a entropia. Fazer arte é um ato de amor e desafio. [...] Garotas como eu usavam
a Web de todas as maneiras que nossos pais temiam. Lemos manifestos anarquistas e trocamos
pornografia chocante com homens adultos. Estragamos garrafas de vodca perfeitamente boas tentando fazer absinto com
receitas que aprendemos na gótica Martha Stewart. [...] O globalismo dá menos
margem de manobra aos filhos brilhantes de um país pobre. [...] Quando pensei em cada
proposta ou ameaça que recebi andando pela rua com meu corpo de menina, decidi
que poderia muito bem ser pago pelo problema [...].
Trechos extraídos da obra Drawing
Blood (Harper, 2017), da escritora e artista estadunidense Molly
Crabapple. Veja mais aqui.
A TÉCNICA – [...] o Jogo, sem que exista, perpassa toda e qualquer técnica e a
técnica mundial em geral em sua totalidade fragmentária e fragmentada. A
técnica procura tomar posse do tempo. O Tempo – o jogo do Tempo – é que supera a
técnica por inteiro. O futuro da técnica destinado a reger o tempo por vir é ultrapassado
pelo Jogo do Tempo que esmaga igualmente a técnica. Se o que está em jogo na
técnica é o mundo, a própria técnica constitui uma constelação figurativa e não
figurativa do que se joga sob o horizonte do Mundo. Ela é o andaime planetário,
a última figura – até agora – do Mundo. Depois da Natureza, Deus e o Homem, é
ao Andaime técnico a quem cabe tentar jogar o destino do mundo. Mas o Mundo
permanece aberto. [...] Não é a reflexão – ainda que fosse
técnico-científica – que pode situar-nos em relação à Abertura do Mundo; é o
pensamento. Com a ironia mais penetrante, não se trata somente de apreender as
obras visíveis da técnica, mas de encontrar um certo acesso ao Invisível
[...]. Trechos extraídos da obra O futuro da técnica - Signos da técnica
(Tempo Brasileiro, 1981), do filósofo grego Kostas Axelos (1924-2010),
que na obra Horizontes do mundo (Tempo Brasileiro\EdUFC, 1983), expressou que: [...]
a luz de cada escrito vem de outros escritos [...] Desde certo tempo,
os homens - como indivíduos, como membros da sociedade, como fragmentos da
História do mundo - procuram viver e amar, falar e pensar. Eles trabalham,
lutam, morrem. Pelo quê? Pelo prazer problemático e pelo bem-estar a ser instalado
- para o qual, cada vez mais, tudo se torna muito pouco - pelo reconhecimento -
que se faz, de maneira crescente, perspectivista - pela realização da liberdade
na terra e pela condição mediada de todos? O que os move e para onde se movem?
E para que? O que há com as razões lógicas e mitológicas, com as forças do
processo histórico, com os fins humanos? Articulam-se em oscilações ou oscilam
articulando-se? Consolidam-se e dissolvem-se na história já jogada, repetem-se
continuamente e são constantemente superarticulados. Será que só nos resta - sem
saudosismo retroativo, sem desvalorização simplória do presente e sem utopia
escaltológica - continuar, aprofundar e alargar o jogo? [...] as
perspectivas do pensamento inscrevem nos horizontes do mundo, no horizonte do
tempo – com horizontes sempre unitariamente tridimensionais –, porque os
horizontes do jogo do Mundo são ao mesmo tempo horizontes do jogo do Tempo. O
mundo, o tempo e o Jogo deles obedecem ao mesmo ritmo [...] cada um dos
diferentes mundos do Mundo tem seu horizonte específico e só os horizontes do
‘próprio’ Mundo são ilimitados, a saber, podem ultrapassar seus limites. [...].
Já na entrevista Mondialisation without the world (Radical Philosophy, 2005),
ele assinalou que: [...] A
globalização nomeia um processo que universaliza a tecnologia, economia,
política e até civilização e cultura. Mas permanece um pouco
vazio. Falta o mundo como abertura. O
mundo não é o físico e totalidade histórica, não é o conjunto mais ou menos
empírico de conjuntos teóricos e práticos. Ele se implanta. A
coisa que é chamada a globalização é uma espécie de mundialização sem mundo [...]. A ele são atribuidos os pensamentos: Perdemos o sagrado da saúde sem termos descoberto o da loucura... Não conheço ninguém que
saiba falar do corpo. Apenas se balbuciam banalidades ou coisas enfadonhas.
PALMARES & O CORAÇÃO
Ficou o convite, que me lavou o peito, porque
afinal de contas neste meu coração despedaçado estão os restos das noitadas no
Alto Lenhador, das fritadas de Doroteu, das cachaças de Guará, dos amores de
Quiterinha, das fomes periódicas, das humilhações constantes, das revoltas
sufocadas, das noites de lua, das líricas namoradas, dos sonhos, das leituras
até alta madrugada à luz de candeeiro, das mortes, do que escrevi, do que
menti, do que amei, do que me mentiram, que tudo foi Palmares e que Palmares é,
na minha obra, mito e realidade...
Trecho extraído da obra Palmares e o coração
(FCCHBF, 1997), do advogado, escritor, crítico literário, jornalista,
dramaturgo, diretor, teatrólogo e tradutor Hermilo Borba Filho
(1917-1976). Veja mais aqui, aqui, aqui & aqui.
&
FEIRA DE LITERATURA & ARTES DOS PALMARES (FLIARP)
Acontecerá entre os dias 19 e 21 de outubro, em
Palmares – PE, com a participação de Murilo Gun & Admmauro Gommes
lançando diversos livros do poeta e escritor Vital Corrêa de Araújo.
Veja mais aqui.