DAS COISAS DE HOJE EM DIA & OUTROS TERÉNS – UMA: INDIGNAÇÃO – As
praias paradisíacas do Nordeste brasileiro amanheceram, de repente, repletas de
manchas de óleo por toda parte. Eita! Que foi que houve? Línguas negras? Nada.
Ah, não bastam moradores e banhistas torná-las mijacagadores, tem que
emporcalhar ainda mais, é? O que motivou, de verdade, ninguém sabe (ou sabem e
não querem dizer, pior ainda). Deveras, o paraíso não é aqui, realmente. DOIS: BOTANDO BANCA – Assim como fez
Michelangelo diante de sua obra-prima, a estátua de Moisés, também o fez
Biritoaldo, no primeiro dia em que conseguiu juntar no mealheiro por anos a
fio, o tanto para aquisição de um seminovo não sei que ano, saindo para passear
e, repentinamente, empancar no meio de uma rodagem deserta. Ele virava a chave,
o bicho roncava, peidava e não pegava. Arretou-se e saiu furioso do carro, aos
gritos: Vai, fala, borreia do estopô calango! Fala, diz por que me deixa na
mão, justo aqui e agora, quando mais preciso, trepeça! Vai, fala, covarde! Eita
mandú desgraçado! E saiu chutando tudo! O automóvel era tão prejudicado que desabou
às suas pernadas e murros: caiu uma porta e a outra envergou; amassou lataria e
para-choques, empenou os para-lamas, trincaram os vidros todos, arrearam os
faróis, murcharam os pneus, uma bronca! Vai desmanchar é? E parecia mesmo.
Tanto que brigou, esperneou, esmurrou, só faltou tocar fogo. Isso é uma
lástima! E mais pelejou, não deu; voltou a pé, injuriado. TRÊS: SIMPLES ASSIM: Etelvidita telefona para o então namorado dela,
o Dalvinácio: Alô? Oi, amor! Precisamos conversar. Claro, meu amor, chego já
aí. Não, será agora. Fale. Não somos mais um casal. Como assim? Somos modernos,
não somos? Claro, amor. Amores líquidos, né? Hem? Seguinte: arrumei outro
namorado, lindo de morrer e, por causa disso, a gente será só amigos, pode ser?
Teibei. Vamos aprumar a conversa, gente! © Luiz Alberto Machado.
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DITOS & DESDITOS: DO PATRIOTISMO – Hoje
vou fazer aqui diferente: ao invés de um só, um bocado. Seguinte: Era eu menino
ainda e já mentia dizendo que sabia ler e escrever. Então, com quatro anos de
idade, me matricularam numa escola para que eu me tornasse gente e não uma
mentira. Não conseguiram. Um mês depois, eu ainda maravilhado com o ambiente
escolar, professora e coleguinhas, merenda e travessuras, veio o Golpe de 64. A
partir de então, comecei a ouvir palavras como patriotismo, moral & civismo
e outros que tais. E essas me perseguiram desde o primário pelo ginasial,
segundo grau, faculdades de Letras, Jornalismo e Direito e, até hoje, não sei o
que significam, principalmente patriotismo que é a palavra mais falada desde o
início deste ano. Como embrulharam minha cabeça a respeito do assunto, trago alguns
ilustres pensantes que trataram sobre o patriotismo. Por exemplo, para o filósofo
e matemático inglês Bertrand Russel (1872-1970), o patriotismo “é a disposição para matar e morrer por
razões triviais”. Já para o escritor e humorista estadunidense Mark Twain (1835 – 1910), o patriotismo “não
passa de uma grosseira cascata: é uma palavra que apenas comemora um roubo. Não
há um palmo de terra no mundo que não represente o entra-e-sai de sucessivos
proprietários”. Da mesma forma expressa o dramaturgo, escritor e jornalista
irlandês George Bernard Shaw (1856-1950): “O patriotismo é uma forma perniciosa e
psicopata de idiotia”. Não menos irônico expressa também o escritor e dramaturgo britânico Oscar Wilde (1854-1900), que “O
patriotismo é a virtude dos viciosos”. Resolvi ir mais além e encontrei o jornalista, ensaista, satirista e crítico cultural
estadunidense Henry Louis Mencken (1880-1956) dizendo que: “Quando se ouve um homem falar de seu amor por
seu país, podem saber que ele espera ser pago por isso”.
Também o escritor, filósofo,
dramaturgo, jornalista e crítico de arte inglês, Gilbert Keith Chesterton (1874–1936), atinou para o fato de que “Meu país, certo ou errado, é como dizer: minha mãe, bêbada ou sóbria”.
Já o filósofo, dramaturgo e escritor francês Jean-Paul Sartre
(1905-1986), acha que “A pátria, a honra,
a liberdade... Nada disso! O Universo gira em torno de um par de nádegas e isso
é tudo...”. Por sua vez, o filósofo romeno Emil Cioran (1911-1995)
diz que: “Um homem que se respeite não
tem pátria. Uma pátria é um visco”. Por fim, o escritor, lexicógrafo e
moralista inglês Samuel Johson
(1709-1784) arremata que o patriotismo é “O
último refugio dos canalhas”. Bem... Tomara que todo este levantamento
tenha sido tão esclarecedor para vocês, leitores, como foi para mim. E vamos
aprumar a conversa!
A POESIA DE OLALLA COCIÑA
ESCAVAÇÃO - Se eu dormir, os tecidos são reconstruídos / e a semana passa / a
vida é apagada mais do que parece. / Eu sou caroços / esporos de calor simples /
sem conteúdo, sem alfabeto / mas às segundas-feiras eu perco tudo de novo / e
eu me aproximo daquela velha escavação / onde encontramos algo diferente / para
o que foi procurado. / Eu peso esse desapego / que arruinou o trabalho / e não
consigo lavar o pobre pano / o que nós colocamos / para cobrir um cocar sagrado
e não corrompido / não a terra escura / colado na última polpa das unhas.
ESCAVAÇÃO - Foi difícil se reconstruir / e acontece uma semana / apagar a vida
mais do que parece. / Eu são borborotos / esporos de calor simples / conteúdo
sen, alfabeto sen / mas vou perder tudo de novo / e chegar a essa velha
escavação / onde pegamos algo diferente / o que foi procurado.
CONDOLÊNCIAS - Eu estava te seguindo / e não dou lavagem ou pano ruim / que
nós podemos / para cobrir unha touca sagrado, incorruptível / em uma terra
moura / apegadiña a última carne que você lhes der. / Uma pequena pepita
estava faltando / na boca / procurando / terra fértil. / Uma pepita espancada /
Em uma pequena parte de você. / Mas existem placas de gelo / debaixo da sua
língua / que você não deixa ir / que você não sai / Unha pebida tiny / se perder / na boca / Procurando por terra
fértil. / Unha pebida que bate / Nenhuma pequena parte de você. / Mas existem
placas xeo / debaixo da língua / que você não deve deixar de lado, / O que você
diz.
OLALLA COCIÑA – Poemas extraídos da obra Vestir la noche (XIV Prêmio de Fundação de Poesia 2016, Centro PEN Galicia,
2017), da premiada poeta e jornalista galega Olalla Cociña Lozano.
Veja mais aqui.
&
DE ONDE VENHO, DE MARQUINHOS CABRAL
Quer
saber de onde venho? / Sente aqui pra escutar / Venho da terra das Palmeiras / Do
mais bonito lugar. / Venho dos rios Una e Pirangi / Venho dos versos dos poetas
gigantes / Venho das vozes dos cantores / No serviço de alto-falantes. / Venho
lá dos canaviais / Venho do meio dos montes / Venho de dentro das matas / Venho
dos becos, ruas e pontes. / Venho do rei Zumbi, / De Dandara e Ganga Zumba / Venho
dos terreiros dos caboclos, / Venho das guerras e das quizumbas. / Venho das
noites de festa / Em frente da catedral / Venho das novenas nos bairros / Venho
das noites de natal. / Venho do forró lá no pátio / Venho da folia da estação /
Venho dos desfiles do 7 de setembro / Venho das noites de São João. / Venho do
cine teatro Apollo / Venho de todos esses lugares / Quer mesmo saber de onde
venho? EU VENHO DA MINHA QUERIDA
PALMARES.
A ARTE DE BERNA REALE
Ser artista e mulher ao mesmo tempo, aí já são dois deméritos. Meu
trabalho é sobre como a violência se torna uma coisa aceitável, compartilhada,
naturalizada. As pessoas têm um prazer mórbido com uma notícia desagradável,
elas compartilham, querem ver. Passei oito meses dentro do departamento de
necrópsia da polícia, fotografando vísceras humanas e cadáveres. Eles eram submetidos a alguns exercícios
exaustivos de polichinelo ou agachamento, onde todos ficavam ao redor,
presenciando. Aquela cena humilhante me chamou muito a atenção como artista. Mas
no mundo da segurança pública, da polícia, tu lidas com a crueza da vida. E é
impossível não se sensibilizar com aquilo. Não sou de museu, gosto da rua.
Precisava ganhar mais dinheiro. As pessoas entravam e ficavam dançando, até
perceber que o som era de violência.
BERNA REALE - A arte
da artista visual e perita criminal Berna Reale, que meio do uso de seu
corpo em performances e instalações, propõe reflexão sobre o momento
sociopolítico contemporâneo com especial ênfase na temática da violência. Ela estudou
arte na Universidade Federal do Pará (UFPA) e participou de diferentes
exposições (individuais e coletivas) no Brasil e no exterior. Veja mais aqui.
A OBRA DE KAZUO ISHIGURO
Cabe a cada um de nós fazer o máximo da própria vida.
A obra do
escritor japonês Kazuo Ishiguro aqui.
&
FESTIVAL DE ARTES DO ENGENHO PAUL – FEARP - O Festival
de Artes do Engenho Paul (FEARP), em sua segunda edição, acontecerá entre os
dias 24 a 27 de outubro, no Engenho Paul, em Palmares – Pernambuco, envolvendo
atividades artísticas, com artesanato, pintura, literatura, música, poesia,
teatro, oficinas, histórias e manifestações culturais. Veja detalhes da
programação aqui.