DOS IDOS & ACONTECIDOS - UMA: SERÁ QUE VAI CHOVER HOJE? - De manhãzinha,
DuCoice olhou pro céu ensolarado e
indagou sinal chuva. Boko-Moko que
tinha sempre uma ideia de tudo, ia passando, ouviu e disse: Eu não ouvi o Amana-manha
não! Quem? 1º de janeiro caiu pé-d’água? E eu sei, cara! 12 de fevereiro caiu
toró? Sei lá, doido! Se aguou novembro, é mau sinal! Vixe? A porta da casa do
João-de-barro tá pro nascente ou poente? Quem lá sabe, meu Deus! Tá um
calorzão, para garoar tem que contrariar o santo, senão vamos morrer tudo enturido!
Pronto, endoidou, o que tem a ver uma coisa com outra? Rapaz, o negócio tá
feio! Que foi? O pencó tá solto em Brasília! Como assim? Você tá aonde, hem,
meu filho, o Brasil todo está de pernas pro ar e você nem aí. Hem? O Brasil só
não, o Chile, o Equador, Líbano, Hong Kong, Haiti, Catalunha, Iraque... Hum!?
Só sei que para empiorar caiu um avião e periga chover meteoros! Santa Bárbara,
pelamordedeus! Só Jesuis na causa, meu! DOIS:
BOLO DO ANEL – Enquanto isso, as anjas da morte, Teté & Loló peiticavam para dar fim ao caritó. O que a gente
faz, mulher? Ninguém quer servir de enfeite para vassoura, né? Vamos fazer a
corrida do anel! Eita, é mesmo! E foi o maior puxa-encolha: chamaram a patota
das vitalinas, cada uma mais devota que a outra, com suas figas, galhos de
arruda, azeviche, escapulários, terços, pés-de-coelho, trevos, carântulas,
veneras, nôminas – isso escondido nas mãos apertadas, pendurados no pescoço,
costurado nos cós das saias, escondido no sutiã e por aí vai –, tudo para o
culto antonino. Treze dias, elas lá: orações de joelhos, preces devotadas, ao
pé da letra com as trezenas e a recitação do responso. Entre elas o maior
cochichado: Quem será a sortuda que achará o anel do bolo, hem? TRÊS, A SAIDEIRA: O PRINCESO DELA – No
ano passado a sortuda foi a Dinha! Quem? A Decildita,
mulher! Hum? Aquela irmã daquele que a casa caiu em cima! Ah, sim, que foi que
houve? Foi ela que no ano passado ganhou a corrida do anel e um princeso apareceu!
Ah, eu já sei, mas aquele traste é lá príncipe, mulher! Oxe, ele é todo
jeitosão! Meu marido mesmo disse que aquilo vivia comendo coração de anum
pensando nela e depois ficava atocaiando ela aparecer, pegava o bico da ave
comida e esfregava no chão por onde ela passasse. Anum? Sim, senhora. E o que
tem? É pra ela ficar doida de paixão por ele, é tiro e queda, minha filha! É
mesmo? É. E funciona? Você mesma disse que ela foi a sortuda e, na verdade, não
era, né? Por quê? Aquilo lá é um aru! Vôte, que é que é isso, hem? Um sapo peba
desses que vira gente arrumada só pra buscar a mãe da mandioca que mora nas
cabeceiras do rio, só para visitar roçado e mais nada, some para nunca mais. Danou-se!
Você tem visto o sujeito por aí? Coitada, anjo não tem costas mesmo! E vamos
aprumar a conversa, gente! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] À tarde elas saíam juntas, levavam a vida
das mulheres. Ah! Como aquela vida era incrível! Iam aos "chás",
comiam doces que escolhiam com delicadeza e certo ar de gula: bombas de
chocolate, bolinhos e tortas. O ambiente era como um viveiro barulhento,
caloroso, alegremente iluminado e decorado. Elas ficavam lá, sentadas,
apertadas em volta de suas mesinhas, e falavam. Havia, em volta delas, um clima
de excitação, de animação, uma leve inquietação cheia de felicidade, a
lembrança de uma escolha difícil, sobre a qual ainda tinham dúvidas (aquilo
combinaria com o tailleur azul e cinza?, mas claro, ficaria maravilhoso), a
perspectiva de uma metamorfose, de uma evidência súbita de suas personalidades,
de um brilho. Elas, elas, elas, elas, sempre elas, vorazes, barulhentas e
delicadas. O rosto delas parecia marcado por alguma tensão interior, seus olhos
indiferentes deslizavam sobre a aparência, sobre a máscara das coisas,
analisavam-na por um instante (aquilo era bonito ou feio?), depois deixavam-na
cair novamente. E os disfarces davam a elas um brilho duro, um frescor sem
vida. Elas iam aos chás. Ficavam lá, sentadas durante horas, enquanto tardes
inteiras desapareciam. [...] Sempre
disseram a elas coisas daquele tipo. Elas sempre ouviram falar de coisas assim,
elas sabiam: os sentimentos, o amor, a vida, eram essas suas especialidades.
Isso lhes pertencia. E elas falavam, incessantemente, repetindo e girando as
mesmas coisas, depois girando-as novamente, de um lado, depois do outro,
moldando-as, moldando-as, enrolando sem parar entre os dedos aquela matéria
ingrata e pobre que tinham extraído de suas vidas (aquilo que elas chamavam de
"vida", suas especialidades), moldando essa matéria, esticando-a,
enrolando-a, até que ela não passasse de um montinho entre seus dedos, uma
pequenina bola cinza. [...]. Trechos extraídos da obra Tropismos (Luna Parque, 2017), da escritora e advogada francesa Nathalie
Sarraute (Natacha Tcherniak -
1900-1999). Veja mais aqui.
O CINEMA DE NELSON PEREIRA DOS SANTOS
O cinema brasileiro, hoje, é tematicamente plural e expressa identidades
regionais diversas.
NELSON PEREIRA DOS SANTOS – Já publicado diversas vezes por aqui, a
trajetória do cineasta Nelson Pereira
dos Santos (1928-2018) compreende desde a sua incursão na área com o
curta-metragem de 1949, Juventude, até
os documentários A música segundo Tom
Jobim e A luz do Tom, ambos de
2012, passando por Mandacaru vermelho (1961), Boca de Ouro (1962), Vidas secas
(1963), Tenda dos milagres (1977), Memórias do cárcere (1984), Jubiabá (1987),
A terceira margem do rio (1994), Brasília 18% (2004), entre tantos outros. Ele
foi o primeiro cineasta a ocupar uma cadeira na Academia Brasileira de Letras e
foi homenageado in memoriam na cerimônia do Oscar 2019. Confira mais aqui, aqui
& aqui.
A ESCULTURA DE FRANCISCO DOS SANTOS
A arte do escultor e pintor português Francisco dos Santos (1878-1930). Veja
mais aqui.
A OBRA DE DORIS LESSING
Tudo o que você deve fazer, faça agora. As condições são sempre impossíveis.
&
PINTANDO NA PRAÇA