OS BITOS, SIBITOS & OUTROS REBITOS- Imagem: Arte da artista plástica suíça radicada no
Brasil, Mira Schendel (1919-1988) - Desdaventura párvula do Lobizonzo, a bruguelada
cresceu, mas nem tanto. Tirante Gordim, assumido doravante Elvisprei imberbe
com a frescurência das costeletas desenhadas com lápis de sombra, um tufo de
bombril no topete, a voz impostada – único jeito de falar grosso, mesmo – e o
proeminente bucho quebrado no cardan glúteo, e o Jequim que virou DuCoice
adolescido na safadeza de bater punheta e bombo numa tábua de passar roupa, mineirando
uai, sô pra lá e pra cá, deram quase pra varapau, enquanto o Maluquim, então estulto
Leorel de leseira potencializada na cheirada de chibiu e benzeção de pós e
outras ervas, e o Bichim agora Bito, oxe, só descaramento, pantim e pacutia,
ficaram batorés incruados. Tipo ponto de exclamação, lógico, o mais amostrado,
Elvisprei todo esnobe queria impressionar as meninas prum fã clube exclusivo,
espalhado com gaguejos versejados na melosa dor-de-corno e um cabo de vassoura
amarrado num radinho de pilha na cintura: ele cantava, tocava e solava tudo
pela boca – e a vassoura? Era só munganga. Como elas demoraram pra sacar a
cantada dele, Elvisprei convocou a patota: Vamos fundar uma banda! Aê, meu! Era
a grande chance deles no topo das paradas, avalie. Apadrinhados pelo
saudosíssimo Mané Preto, cada qual
inventou seus apetrechos instrumentais como podiam. Elvisprei, claro, o
liderartista da trupe; os outros só de soslaio, arrepara só. E o nome? Os
Bitus! Hem? Cada nome mais estrambólico que o outro, nada de pegar. Na hora do
anúncio: Os bitus sibitos & outros rebitos! No final virou só: Os sibitos.
Elvisprei quase teve um troço: Não é isso não, é Os Camaleões Fuderosos! E gritava,
e nada de ninguém levar a sério: E agora, com vocês, Os si-bi-tos!!! E nisso
ficaram. Toca porra! Cadê o microfone? É na caixa dos peitos, te vira! Elvisprei
esgoelou-se todo com afetação, edulcorado pela mania de cantor de chuveiro, e a
vaia foi comendo no centro. Leorel só no nhenhenhém: Tocaí, doido! Ducoice deu uma
patada numa lata e a batucar zinco, fuás e tranqueiras no meio de uma descosida
geral, de arriar a lenha na pauleira, acompanhado da esfregada do serrote nos
frascos do Bito, para liberarem a munição dos dislates no meio do maior
paroxismo. Pronto. Isso bastou para castigarem atrás nas onomatopeias, chacoalhando
as deformações desafinadas, com um arsenal de arranjos feitos por arrotos,
peidos e cafungadas – legítimo aprendizado com o mestre Mané Preto -, um zoadeiro da moléstia do povo sapecar: É a bixiga
lixa mesmo! Haja mangação. Foi aí que Elvisprei deu uma bundada – seu golpe
fatal - no amostramento do Bito, assumiu o posto no front e lascou lamúria de
roedeira. Nisso grita DuCoice: Isso é lubrificação de gaia, ora! Tome! E enfiou
um cotoco de pau na pudidícia do frosquete de Elvisprei, dele soltar um urro astronômico
de tão histérico e esganiçado, da coisa ficar mais feia de tanto pandemônio. Que
droga é nove, hem? É o pencó do sétimo livro, meu! A coisa ficou no mínimo insuportável.
Em apuros por atrapalhar o trânsito e causar a revolta dos apressados que
desceram do cata-corno, ficaram entre os apupos duns lunáticos encolerizados
que queriam ver o circo dizimado de vez. Pega! Lincha! Capa! O anódino foi um
empurra-empurra entre dois biritados que disputavam no grito a acusação mútua de
corno, findando no maior quebra-pau! Agora deu. Coisa espalhafatosa de contar
com a participação da polícia, dos desavisados e curiosos, fuxiqueiros e língua-de-osso,
até a brechada dum disco voador homenageado pelo prefeito, que ofereceu um
prêmio vantajoso a quem capturasse o intruso. Do rebuliço só restou o canto
mais limpo pra desolação do Elvisprei sentado no chão e contando ideia, já
maquinava outra pra cima dos comparsas. Ninguém ia mais na dele, só de esguelha
e piscada de olho pra dar corda na mangação: Vamos pensar na turnê, qual o
próximo show? Ele só bufando de raiva, na maior torada de aço. E tome atochada!
Hehehehehehe! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
e aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Para mim não existe antes nem depois. Não me
preocupo mais com o problema “onde estar”. Sou feliz no lugar onde sou mais
útil e onde mais me querem. Onde estiver, luto pela liberdade. Meu mundo, hoje,
é o território do Deus universal, sem fronteiras, nem passaportes, sem
demônios. Acredito na sinceridade dos iludidos, nos que discutem com tanta
paixão e empenho a teoria dogmática e na juventude pobre que se manifesta
contra a guerra e a miséria. Penso que cada indivíduo é único e que todas as
pessoas têm talentos diferentes para compreender e aceitar a arte.
Hoje na Rádio
Tataritaritatá especial
com a música da cantora e atriz alemã Nina
Hagen:
Live in Rio, Band Live Rockpalast, Concert Live at Cité de La Musique Paris
& Die Leipzig Big Band Live & muito mais nos mais de 2
milhões & 600
mil acessos ao
blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para
conferir é só ligar o som e curtir. Veja mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Acreditamos
ser fiéis a uma imagem favorita, quando, na verdade, estamos sendo fiéis a um
sentimento humano primitivo, a uma realidade orgânica primordial, a um
temperamento onírico fundamental. [...] Trecho extraído da obra A água e os sonhos: ensaio
sobre a imaginação da matéria
(Martins Fontes, 1997), do filósofo, crítico literário e epistemólogo
francês Gaston Bachelard (1884-1962). Veja mais aqui.
O MAL-ESTAR DA MODERNIDADE - [...] A crise da cultura, enfim, vê o relativismo
ganhar todo o terreno da educação e da criação para colocar sobre o mesmo plano
todas as produções do homem. [...] Quando a crise
afeta, não os simples valores, como se diz por vezes, ainda que estes famosos
«valores» reenviem às suas “avaliações” e estas “avaliações” a “avaliadores” que,
eles mesmos, pretendem fundar-se sobre “valores” para tudo avaliar no seu
tamanho, o que fecha o círculo sobre si mesmo, quando a crise afeta assim os
princípios sobre os quais a existência deve fundar-se, então é o fim dela
mesma, enquanto doadora de sentido, que desaparece. Ela apenas deixa flutuar no
ar, incertos e perturbados, estes valores desprovidos de carne, à imagem do
sorriso sem gato de Chester em Alice no país das maravilhas. [...] Não nos espantaremos que um tal mundo seja
propício às diversas manifestações do relativismo que igualiza todas as formas
da cultura suprimindo a hierarquia das obras e que reduz a existência do homem
à estimação subjetiva, senão autista, de todas as convicções e de todas as
práticas [...]. Trecho da obra La crise de sens (Cécile Defaut, 2006), do filósofo francês Jean-François
Mattéi (1941-2014). Veja mais aqui e aqui.
A FALA DE TREPLEV - (Desfolha um a flor) Bem me quer, mal me quer,
bem me quer, mal me quer, bem me quer, mal me quer. (Ri) Evidentemente! Estás a
ver, a minha mãe não gosta de mim! É natural. Ela o que deseja é que a deixem
viver a vida, amar, usar blusas de cores vivas, e eu sempre aqui, com o s meus
vinte e cinco anos a lembrarem-lhe constantemente que já não é nenhuma jovem.
Quando eu não ando por perto, ela só tem trinta e dois anos. Mas se estou ao pé
dela, tem mais dez, e é por isso que me odeia. Mais, ela sabe que eu me recuso
a aceitar o teatro. Ela ama o teatro. Ela vê-se a si própria ao serviço da
humanidade e da causa sagrada da Arte. Ora, na minha opinião, o teatro é uma
perfeita rotina imbuída de puro convencionalismo. Quando a cortina sobe, deixa
à nossa vista um espaço delimitado por três paredes, iluminado por uma luz artificial,
e vemos todos esses artistas sublimes, sacerdotes e sacerdotisas de uma arte sagrada,
a imitarem como é que se come, como é que se bebe, se namora, passeia e veste o
casaco. Com cenas vulgaríssimas e com frases ocas, põem-se a cozinhar uma moral
de uso doméstico, bem ajeitadinha, pequenina, fácil de entender. Afinal
servem-nos sempre o mesmo prato de mil e uma maneiras, e eu, por mim, fujo a
sete pés, como o Maupassant, espavorido com a vulgaridade da Torre Eiffel, que
lhe atrofiava os miolos. [...] Mas são precisas novas formas. Temos de as conseguir.
Se não arranjarmos formas novas, então o melhor é não termos nada. (Vê as horas)
Gosto muito da minha mãe, muitíssimo, mas fuma, vive às claras com aquele
escritor e anda sempre com o nome estampado nos jornais - satura- me, tudo
isso. Às vezes, quando muito naturalmente me sinto tão egoísta como qualquer
outro ser humano, lamento que a minha mãe seja uma atriz famosa, e antes queria
que ela fosse apenas uma mulher vulgar, o que me faria muito mais feliz. Imagina
a situação mais absurda e aflitiva do que esta: ela recebia em casa todas as
celebridades, atores, escritores - e eu ali, no meio dessa gente, uma nulidade
- eles, a tolerarem-me apenas por eu ser filho dela. Afinal quem sou eu? Sou o quê?
Larguei a Universidade, no terceiro ano, “devido a circunstâncias”, para falar
em linguagem de artigo de fundo, «que não dependem da nossa vontade»; talento,
não tenho, e dinheiro, tão pouco; pelo que está no meu passaporte, sou um
pequeno burguês de Kiev. Como sabes, o meu pai, um ator conhecido, provinha da
pequena burguesia de Kiev. E aí tens. Quando todos aqueles atores e escritores,
que lhe enchiam a sala, me concediam algum vislumbre de benévola atenção, o que
eu sentia era que estavam simplesmente a avaliar qual o grau da minha
insignificância - imaginava o que estariam a pensar -, e invadia-me uma
humilhação profunda. [...]. Trecho
da peça teatral A gaivota (Presença,
1963), do dramaturgo e escritor russo Anton Tchékov (1860-1904). Veja
mais aqui.
DOIS POEMAS - MULHER DA VIDA - Mulher da Vida, / Minha
irmã. / De todos os tempos. / De todos os povos. / De todas as latitudes. / Ela
vem do fundo imemorial das idades / e carrega a carga pesada / dos mais torpes
sinônimos, / apelidos e ápodos: / Mulher da zona, / Mulher da rua, / Mulher
perdida, / Mulher à toa. / Mulher da vida, / Minha irmã. ASSIM EU VEJO A VIDA - A vida tem duas
faces: / Positiva e negativa / O passado foi duro / mas deixou o seu legado / Saber
viver é a grande sabedoria / Que eu possa dignificar / Minha condição de
mulher, / Aceitar suas limitações / E me fazer pedra de segurança / dos valores
que vão desmoronando. / Nasci em tempos rudes / Aceitei contradições / lutas e
pedras / como lições de vida / e delas me sirvo / Aprendi a viver. Poemas
da poeta Cora Coralina (1889-1985).
Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
A ARTE DE MIRA SCHENDEL
Arte da
artista plástica suíça radicada no Brasil, Mira
Schendel (1919-1988). Veja mais aqui.
AGENDA
&
&
A trupe
do Lobisomem Zonzo aqui.
&
A banda
de Mané Preto aqui
&
Crônicas
Palmarenses aqui