A FESTA DO CUMPADE: AMO JAMPA – Ao
desembarcar em João Pessoa, Joaquim já me aguardava com seus oitenta e tantos
anos de conversador presepeiro. Uns vinte anos separavam a minha última estada
ali. Perguntei: E agora, como é que é? O de sempre: quatro prédios, uma lagoa e
saída pra Recife. Rimos, nada disso, só conversa solta daqueles do tipo bebedores
de água de chocalho, aprumando a conversa ao volante na velocidade máxima dos
trinta quilômetros no trânsito, soltando uma e outra, desde suas peripécias de vendedor
de antanho, como das coisas boas e históricas do local, incluindo-se sua verve
de piadista. Recepção melhor jamais haveria. No primeiro semáforo, ele: Eita,
música danada de boa! Fiquei ligado no refrão: “Tive esse desejo louco de beijar tua boca, morder tua língua, furar
teus olhos, arrancar teus cabelos e te acorrentar”. Vixe! Ele ria e eu com
a cara de sei lá. Mais adiante, ele de novo: Está vendo aquele ali, é Tiberonildo,
prefeito de não sei onde. E aquela dos duzentos quilos, nem sabe quem ele é,
quer ver? Ela chamava um terceiro aos berros: Tiberonildo, ô Tiberonildo. Daí a
pouco chegou um rapazote franzino e ela mandou aos esporros fazer algo. Então,
o tal famigerado todo orgulhoso: Nome bonito esse do seu filho. E ela: Nada, eu
chamava essa lástima de “coisinha”, mas passou a roubar por aí, resolvi chamar
o traste de Tiberonildo, tem jeito não, imprestável mesmo. Clima de saia justa
e riso amarelo. Seguimos pro restaurante, conversamos, revi a agenda de
compromissos e seguimos pruma festa organizada pelo Marco Antônio e Mércia, em
homenagem ao Marcelo Coutinho. Praticamente eu não conhecia ninguém. Com o pé
atrás fiquei na minha, desconfiômetro ligado. Não demorou muito para constatar não
ser daquelas festas estranhas com gente esquisita. Reinava a ginocracia com a
palavra de ordem: Lula livre! Elas cantaram, dançaram, pintaram, bordaram e
mandaram ver. Logo vi que estava em casa com a chegada do aniversariante e o
irmão me apresentou um a um dos parentes e amigos. O som rolava solto,
pernambucanamente. Ôxe, disse pra mim mesmo: ora tô em casa, meu! Violão versátil,
percussão experiente, gaita arretada, cantoria de afinação insuspeita – afinal era
festa, né -, altos papos e goles. Ousei com o Cumpade vocálises performáticas entrando
de vez na onda. Logo o cineasta Marcos Vilar se achegou com o projeto dele e do
Cacá Teixeira a respeito de um documentário sobre Jackson do Pandeiro. Também circulou
uma edição especial do Papa-Figo – fanzine do Bione e Teles, que rodava nos
anos 1980, em Recife, coisa do meu tempo de Pirata e Bagaço -, mais infindáveis
papos que iam de concertos de Chopin & dedilhadas de rock progressivo, artes
visuais, doidices eruditíssimas e conversa fiada. Lá pras tantas a constatação:
na verdade, o presente não foi pro aniversariante, foi pros convidados. Mas Joaquim
me prometera um espetáculo maior: onde o Sol nasce primeiro. E tinha que ser de
madrugada, pelas quatro horas, pra ver como é que ele surge menino e vira
adulto assim num instante. Não sei bem como fui arrastado da festa pra cama. Só
sei ao acordar, Joaquim com a cara mais engraçada do mundo: Você perdeu de ver
o primeiro nascimento do Sol. Não deu. Mas ele não perdeu a viagem e me deu de
presente um bocado de façanhas para registrar aqui. Fica de certo uma coisa: Ô
Jampa boa danada, saudades no coração. © Luiz Alberto Machado. Direitos
reservados. Veja mais abaixo e aqui.
RÁDIO TATARITARITATÁ:
Hoje na Rádio Tataritaritatá especial com a música da cantora e compositora Cátia de França: Vinte palavras ao redor do Sol, Estilhaços, Feliz demais
& Kukukaya com a Orquestra Sinfônica da Paraíba & muito mais nos mais
de 2 milhões &
500 mil acessos ao blog & nos 35 Anos de Arte Cidadã. Para conferir é só ligar o som e curtir. Veja
mais aqui.
PENSAMENTO DO DIA – [...] Em
qualquer setor, forma-se um código, com leis sobre o que pode e o que não pode
ser feito. É nosso dever ultrapassar o código e buscar a verdade que está no
fundo mesmo de uma vida, seja uma atividade, seja um caminho ou uma realização
pessoal [...] o ápice que o homem
pode atingir quando se entrega à tarefa de explicar a vida e de, com isso,
ajudar os que nela estão. [...]. Trecho do prefácio do escritor Antônio Olinto (1919-2009), na obra Conversações: entrevistas essenciais para
entender o mundo (Cultura, 2008), de João Lins de Albuquerque. Veja mais
aqui.
IMAGINAÇÃO - [...] A
imaginação é a faculdade que nos permite pensar em nós mesmos de forma
diferente do que somos e, portanto, propor uma finalidade além da situação
presente. Sem imaginação pode haver cálculo, mas não projeto. [...] A imaginação ética e politicamente
intencionada é a ideologia, e não pode haver projeto sem ideologia. A imaginação
é diferente da lógica e da ciência porque não tem por finalidade o conhecimento
abstrato, mas um conhecimento indissociavelmente ligado ao fazer e, portanto, à
técnica. Em toda a sua história, a arte não foi mais do que imaginação dinâmica,
ativa, produtiva. É compreensível a crise da arte, e a crise da cidade como
criação história e instituição política. [...]. Trecho extraído da História da arte como história da cidade
(Martins Fontes, 2005), do historiador e teórico italiano Giulio Carlo Argan (1909-1992).
LADY MACHBETH – [...] Era
de tudo isso que Catierina Lvovna brincava e folgava com o jovem capataz do
marido, banhando-se ao luar e rolando no tapete macio. As flores brancas e
frescas da frondosa macieira, espargiam-se sem cessar sobre eles, mas por fim o
espargimento cessou. Enquanto isso a breve noite estival ia passando, a lua se
escondia atrás dos telhados proeminentes dos altos celeiros e olhava de esguelha para a terra a
cada instante mais e mais opaca; do telhado da cozinha partiu um estridente
dueto de gatos; ouviu-se depois um escarro, um bufado raivoso e em seguida dois
ou três gatos caíram e rolaram ruidosamente por cima de um feixe de ripas encostados
no telhado. – Vamos dormir – disse Catierina Lovdva com lentidão e aparência
debilitada, levantando-se do tapete, e do jeito que estava saiu pelo pátio mergulhado
em silêncio, em silêncio sepulcral, seguida por Serguiei, que levava o tapete e
a blusa que ela largara por travessura. [...]. Trecho extraído da obra Lady Macbeth do Distrito de Mtzensk (34,
2009), do escritor russo Nikolai Leskov
(1831-1895). Veja mais aqui e aqui.
CATAPLAFT - com seus tacapes digitais / e tangas pierre cardin / os cariris
contemporâneos / invadem o shopping / e jantam champignons / com xerém / no
self-service / ajustando as penas / desajustam os cocares / da cultura pagã / cultuam
o corpo / em academias / e investem fortunas / da floresta tropical / nas
delícias / da nova moda verão / já sem matas / matam-se nas guerras / da
pós-modernidade / disputas sangrentas / por hectares de asfalto / ou pontos de
venda / de coca / (ou pepsi) / e dançam o rap / da globalização / com as mãos
enfiadas / nas algemas ideológicas /do terceiro milênio. Poema do
poeta Lau Siqueira. Veja mais aqui e
aqui.
O CADERNO DE ROUPAS, MEMÓRIAS E CROQUIS DE
RONALDO FRAGA
[...] resolveu
juntar um pouco que tinha e para outros lugares voar [...] Ironia e autoironia em uma novela que conta
a história de uma galinha que muda do interior para a cidade grande. [...].
Eu amo coração
de galinha, extraído da obra Caderno de roupas, memórias e croquis (Cobogó,
2013), do estilista e designer Ronaldo
Fraga.
AGENDA
O documentário Jackson
na batida do pandeiro, dos cineastas Marcus Vilar & Cacá Teixeira, com
lançamento em breve no circuito nacional & muito mais na Agenda aqui.
&
O poeta,
professor e artista visual Marcelo Coutinho, Drª Mércia Parente &
Papa-Figo. Veja mais aqui e aqui.
&
Desmantelos sem remissão, a poesia de Joaquim Cardozo, a literatura de Eduardo Galeano, o pensamento de Carl
Rogers & Gerd Bornheim, a arte
de Farnese de Andrade, Crise
& Educação Ambiental aqui.