CARTA DE OUTROUBRO - Tempo doido este. Tempo de maluquice para
desendoidecer de tudo e tornar a se enlouquecer com o mundo. Quanta gente
pirada! Há quem viva o futuro ontem. Também, pleno século trinta nas mãos e, na
cabeça, antes do século quinze. Outros mais avexados, perdem a hora e o bonde. Muitos
aturdidos com a privação dos sentidos, despencaram sobre espatifados e tantos encurralados
que caçam e, ao mesmo tempo, são massacrados pelo poder de alcance das
intrigas. Em verdade a fúria das adversidades danadas e nenhuma compunção. Um
tempo assim de deixar na cara a interrogação do qual é. Tudo no maior não sei,
até o amor um negócio, toma lá, dá cá, passar recibo, dar trocos, revides,
cuspes, e salve-se quem puder. Estalam o dedo e tudo liquidifica: o amor
segundo a hora. Amores de algibeira, ou para tirar retrato, pagar as contas,
divertimento, para colecionar figurinhas, só para não ficar só, todo tipo, no
atacado ou no varejo, ao gosto do freguês. Eu mesmo, nem sei. Todo mundo nasce
médico, poeta e louco. E como Deus protege as crianças, os bêbados e os doidos,
estou dentro. E vou pela indiferença com seus blocos de gelo, com a sensação de
que sou um lixo radioativo na vida suspensa e tudo a morrer mais rapidamente,
quando não fossilizado antecipadamente. Não tenho nenhuma tarimba para
flutuação, embora já bem escaldado desse tiroteio de disparates hebdomadários,
quando não cotidiano! Se bobear, a cada instante. Tudo pelo sim, pelo não, para
o bem ou para o mal, numa só tacada, todas as novidades, zás, não existem mais,
um monte de pregadores no ermo e a dissimulação do preconceito, riso de sem
ressentimentos, vai ver, cara amarrada com uma dedada pelas costas, o sangue
rubro na ladeira e a vigília dos fantasmas cavilosos. Tronco solitário no campo
aberto e em volta dele o segredo de contar os corpos enterrados mais de uma
vez, duas ou três vezes, matanças como brincadeiras e há quem pense viver para
sempre, como quem se safou com a lua minguante dentro do quarto de dormir, no
asilo das águas do dia que jamais findará. No deserto da solidão resta levantar
e partir pelas imundícies do fim dos dias de lenocínio. Não posso deixar de
pensar nos que caíram, o mundo desfeito e vasto, os punhos fechados, as
fraudulentas coisas perecíveis que meus olhos viram para meu canto informe, voz
deformada e dissolvida pelo futuro, dias idos, todos passarão. Sou o próprio
inferno a devorar meus versos da criança que morreu dentro de mim e me arrisco
até as últimas consequências pelos amplexos da falsidade. Moro aos ventos e me
tenho triste às vezes, desgarrado. Ouço estampidos, estalidos eviscerados, tudo
muito precário. Mais de uma vez, muitas, enfraqueci estremecido a tropeçar na
trilha que escolhi há mais de dez mil anos no chão noturno, imolado em maio,
adivinhando a dor de junho e o caminho violado para meus passos taciturnos por
tantas sujidades e bendizer o dorso esperançoso de nada ser esquecido, a compartilhar
pesadelos fora da moldura das cicatrizes, como se esmagado da cabeça aos pés. Que
culpa tenho eu de regressos e sobrossos, o capítulo sumiu, páginas em branco, a
esperança no mirante. Se padeço ou se sorrio, faço de tudo para os maus gênios
de mim não se apoderarem, a salvo do perigo, abismos no peito. Algo ainda por
dizer, caminhante de alma azul fiel às marés e estações, a minha palavra em
língua sofrida, cada sílaba é um açoite na garganta, vogais que são ecos do
silêncio, consoantes que se repetem no tórax perfurado pelos poros, o esboço
que sou do poema que não fiz no ossário das lembranças. Escrevo esta carta,
outroubro, não sei para quem, intacta ternura, a ária destruída e o desencanto.
Só porque estou regorgitando o Auto do Coisonário, com seus cadafalsos modernos
edulcorados e a postos, com suas chaminés ilícitas, fumaça de ilações e
libelos, esgares de morcegos apócrifos, silhuetas de terror e noticiário de
ódio e morte, finando envenenado pelo próprio verbo desintegrado e a exortar
quem ressurgiu dentre os mortos. Eu, hem! © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Penso que uma moral sã e verdadeira decorre
logicamente da crença em um Deus bom, justo, criador e guia de sua criação com
ordem, sabedoria e providência. A moral a ensinar às crianças consistirá em
fazê-las compreender a existência de um Deus bom e a ação sempre providencial
por Ele exercida sobre toda sua criação. A criança educada desde os seis anos
neste credo estará protegida de superstições ridículas, de terrores absurdos e
de preconceitos estúpidos, que em geral são compartilhados nas classes
populares. Em seguida, nós a faremos compreender que a lei da humanidade é o
progresso contínuo; sua condição, a perfeição. É preciso, por meio de todas as
demonstrações possíveis, que a criança compreenda que nosso planeta é um grande
corpo humanitário e que as diversas nações representam as vísceras, os membros
e os principais órgãos; e os indivíduos representam as artérias, as veias, os
nervos, os músculos e até as mais tênues fibras; e que todas as partes deste
grande corpo estão também estreitamente ligadas entre elas como as diversas
partes do corpo humano, todos se ajudam mutuamente e buscam a vida na mesma
fonte...; que um nervo, um músculo, um vaso sanguíneo, uma fibra não podem
sofrer sem que o corpo todo não sinta seu sofrimento. Da mesma forma que quando
um pé, um braço, um dedo dói todo nosso corpo está doente. Nada mais fácil do
que fazer uma criança compreender esta indivisibilidade do grande corpo
humanitário e esta solidariedade das nações e dos indivíduos. Se até o momento
esta imagem não foi introduzida no ensino, a culpa é das opiniões religiosas e
políticas que dividiram as nações e os indivíduos. Por meio desta imagem,
reproduzida sob todas as formas segundo o espírito do aluno, as crianças
terminarão compreendendo perfeitamente que amando e servindo seus irmãos em
humanidade, é em definitivo a eles próprios que estarão amando e servindo, e
que odiando e fazendo o mal a seus irmãos em humanidade, é em definitivo a eles
próprios que estarão odiando e fazendo mal. Que não venham dizer que semelhante
moral só seria a legitimação do egoísmo. Aqueles que assim o julgam são
espíritos pequenos de curta visão. Amar e servir a si mesmo na humanidade é
amar e servir a criatura de Deus. [...]. Trecho extraído da obra União operária (Perseu Abramo, 2015), da
escritora e ativista franco-peruana Flora
Tristan (1803-1844).
A MÚSICA DE LIA SOPHIA
O carimbó traz em si a identidade do povo paraense. Conta a história de
um povo múltiplo que se reconhece enquanto mestiço imerso em uma pluralidade
cultural, mas que dentro de tal “caldeirão” se registra e se identifica, e se
mostra através de uma invenção lúdica, única e inigualável : o carimbó. Eu sou
uma representante do carimbó pop ou moderno, assim como o Pinduca. Ele é
responsável por eletrificar o carimbó na década 1970. Somando as maracas e o
curimbó (tambor percussivo), a guitarra, o contrabaixo e a bateria. Na forma
tradicional, o carimbó é chamado de pau e corda, tocado apenas com o curimbó,
as maracas e o banjo. Os grandes nomes do carimbó raiz são o Mestre Verequete,
Mestre Lucindo e Mestre Cupijó.
LIA SOPHIA – Curtindo os álbuns Livre (2005), Castelo de Luz (2009),
Amor amor (2010), Lia Sophia (2014) e Não me provoca (2017), da cantora,
compositora e instrumentista Lia Sophia.
Veja mais aqui.
A ARTE DE ANNIKA LOCHTMAN
A arte
da artista visual holandesa Annika
Lochtman que expressa seu mundo de visual poético. Ao lado de Toussaint
Essers, ela tem realizado diversas exposições. Veja mais aqui.
AMIGOS DA BIBLIOTECA
Realizou-se
na última sexta, 11 de outubro, a reunião de apresentação e debate da minuta
estatutária dos Amigos da Biblioteca,
comparecendo a comissão provisória, integrada pelo bibliotecário João Paulo
Araújo, o escritor e compositor Zé Ripe, a educadora Sil Neves, Ricardo Cordel
e os professores Janilson Sales e Fernando Sebastião da Silva. Veja mais aqui e
aqui.