GEORGETTE, MEU AMOR - E o amor se fez, desde adolescente quando a
vi na feira de Charleroi, ali me apaixonara e de repente, mas a guerra
brutalmente interrompeu nosso idílio. Maldita guerra irracional e a minha dor
maior quase década a fio e à flor da pele. Seis anos depois, quase a redenção
ao reencontrá-la no jardim de Bruxelas. Ah, Georgette, a bela de Schaerbeeck
tornou-se a minha Olympia, a minha Xerazade das minhas mil e uma paixões
atônitas em seu corpo o andaime perfeito para que eu possa singrar a
transcendência de tudo que existe e pulsa e atrai e vibra acima e abaixo do que
sou, como se não fosse possível e a verdade desvelada fosse mentira ou
escondesse o que deveras irreal e remoto dos inomináveis ocultos, dos anônimos
irreconhecíveis e dos apócrifos convencionados como autênticos e reais. Não há nada
em definitivo jamais se sou efêmero e ela ao piano surreal, o retrato três
quartos do rosto, entre as nuvens do céu azul, no medalhão cercado de pombas,
no copo e na bola, é nela, sim, em definitivo, que enlouqueço porque seus olhos
são os enigmas do universo e a absurda escuridão da infinitude na sala de
jantar eu via o pensamento, tudo imaginação: charadas de chapéus sem cabeça e o
realismo mágico do torso feminino, castelos, rochas, janelas, homens bizarros e
esquisitices terrenas, o insólito nos contrastes ilusionistas, paradoxalidades
do meu espírito travesso e a minha mãe
suicida: sempre tentando o impossível, a nova realidade. O sonho
é a expressão da liberdade e da loucura: o dia no piso não reflete a noite no
teto e tudo só tem razão de ser e estar porque ela é real na vida e à minha mão
exposta e ela nua ubíqua e única no presente da memória que virá sem que nada
se repita e torne diferente a cada vigília subterrânea nas propagações que sou
nela e ela é como se hoje em dia fosse apenas lembrança da impermanência, como
se identificasse o igual no diferente e ter a certidão apurada de que não é
nada disso, enquanto o que se previa de futuro não era nada mais que o instante
agora passado e deixasse de ser porque só existe na recordação, afora isso só o
suposto e ela ali, comigo e minha na traição das imagens: não sou eu e nem é
ela, o que somos, talvez. Eu também não sou isso ou aquilo, até nem sei e eu me
pergunto se afora o que dela emana e o que ela é algo poderia ser real e não
sei porque dela tudo me dispõe à criação, como se nela a premonição de tudo
para mim a profecia do que ignoro tornar-se factível diante do inefetivo: a
arte é a vida e o inútil que afaga para brincar de deus, porque assim nela me
fiz, acaso não fosse dela abraços portuários, ventre pro meu embarque, corpo
para minha sobrevivência, fonte inesgotável! Não há arte sem vida, Deus não é
santo. É nela todas as paisagens, é dela toda criação, é ela a minha vida e
arte para sempre, em Schaerbeek. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados.
Veja mais abaixo e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] O monge José
Maria possuía no seu arraial um grupo de caboclas para o serviço doméstico e
íntimo caudilho, inspirador semi-religioso dos sertanejos do Contestado. Morto
na luta de Irani, em 22 de outubro de 1912, em um encontro com a força militar
do Paraná, nenhum dos seus adeptos deixou de aguardar seu regresso do céu, para
guiar os fieis à vitória indiscutível. Esperava-se igualmente a ressurreição do
primeiro monge, o São João Maria, tão diverso do segundo, que se dizia seu
irmão. Na reorganização das tropas sertanejas rebeladas contra todos e contra
tudo, especialmente depois da adesão total de Eusébio Ferreira dos Santos,
reapareceu a guarda das virgens, não mais para o serviço doméstico, mas
constituindo uma classe de videntes, interpretes das vozes e ordens do finado
monge José Maria e às vezes do velho São João Maria. Os sertanejos obedeciam
cegamente às determinadas vindas dos chefes [...] portadores das mensagens dos monges, por intermédio da guarda das
virgens. Cada desses caudilhos tinha essas pitonisas encarregadas de por os
supremos mentores desaparecidos em contato com o seu povo em armas. [...]. Trechos
de Guarda das virgens, extraída da
obra Messianismo e conflito social: a
guerra sertaneja do Contestado, 1912-1916 (Ática, 1977), do jornalista,
sociólogo e professor, Mauricio Vinhas
de Queiroz (1921-1996), tratando sobre o monge José Maria, nome adotado
pelo desertor Miguel Lucena da Boaventura, da força militar do Paraná,
aventureiro afoito e valente, carregando a fama de ser irmão do monge João
Maria, que pretendia cumprir o que ele não pudera realizar. Cercado de devotos
entusiásticos, dominou extensa região do sertão do Paraná e Santa Catarina,
fazendo orações, cantando benditos e tratando os doentes com ervas e a poderosa
força sugestiva de suas pessoa inconfundível. Sobre o embate entre o monge e o
coronel do exército, João Gualberto Gomes de Sá, tem-se o relato de que: [...] Logo ao primeiro embate, a polícia perdia 12
homens e outros tantos os fanáticos. Dado o entrevero, o monge atacou, armado
de facão, o capitão Gualberto que, com dois tiros de revolver, o prostrou sem
vida. Mas, por sua vez, caía o intrépido comandante da polícia paranaense,
ferido de morte pelo golpe de facão que seu agressor lhe desfechara sobre a
cabeça [...]. Por conta disso, deu-se então a Campanha do Contestado, a
Guerra dos Sertanejos, obrigando os governos dos dois estados a sacrifícios
cruéis que terminam com uma intervenção federal. A Guarda das Virgens era elemento preponderante, assim como o clima
de entusiasmo fanático durante toda a ação, vez que o morto monge continuava a
influenciar seu povo e tudo se fazia segundo sua inspiração semi-divina. O tema
também se encontra registrado no Dicionário do folclore brasileiro (Global,
2001), de Luis da Câmara Cascudo.
QUATRO POEMAS DE
VALMIR JORDÃO
MATER EDUCAÇÃO
- Oh! Mãe Educação, irmã da Filosofia / Fêmea belíssima e fértil que ao / Parir
a sabedoria, o conhecimento, as profissões, / A cidade e as revoluções, / És
maltratada e punida por misóginos e mesquinhos políticos, / A serviço dos
interesses obscuros e estúpidos que / Escravizam e violentam os teus princípios
de / Desenvolvimento e liberdade. / Querem extirpar dos teus seios, o inefável
leite do discernimento, das ciências e das artes. / Oh! Mãe educação,
companheira da razão / Guia-nos pelas veredas da perseverança, do empenho, da
firmeza e da resistência. / Que não deixemos jamais a barbárie retornar, sob
pretexto nenhum, até a vitória...
AH, RECIFE - Dizem os bardos que uma cidade /
é feita / de homens, / com várias mãos / e / o sentimento do mundo. / Assim
Recife nasceu no cais / de um azul marinho e celestial, / onde suas artérias
evocam: / Aurora, Saudade, Concórdia, / Soledade, / União, Prazeres, Alegria e
Glória. / Mas nos deixa no chão, / atolados na lama / de sua indiferença
aluviônica: / a ver navios com suas hordas / invasoras / e o Atlântico / como
possibilidade / de saída...
DO DESCARTE -
penso, / logo / desisto.
POEMURO – mundo
/ novo mundo/ mundo. / sub mundo / mundo, / in mundo!
VALMIR JORDÃO –
Poemas do poeta, compositor, performer e oficineiro, Valmir Jordão, autor do recém lançado livro Poemas Recifenses
(Escalafobética, 2019), além de Sobre Vivência (Pirata, 1982), Antípoda
(Escalafobétoca, 1990), entre outros. Participou de diversos movimentos
literários recifenses desde 1979, colaborou com fanzines como Balaio de Gato,
Caos, Lítero Pessimista, Folha ao Vento, Proezicanteatroz, De Cara com A
Poesia, Poesia Descalça, Samsara, OVNI, entre outros. Veja mais aqui.
A ARTE DE ELIZABETH PEYTON
Num certo
sentido, pode ter-se muito maior intimidade com uma pessoa que não se conhece.
ELIZABETH PEYTON – A arte da artista visual estadunidense Elizabeth Peyton, que tem como foco o retrato
em pequena escala, utilizando-se de tinta a óleo com esmaltes lavados,
aquarelas, lápis, gravuras, litografias, monotipos, xilogravuras e fotografias. Veja mais aqui.
A OBRA DE MAGRITTE
A vida
me obriga a fazer algo, então eu pinto.
A obra
do pintor belga Rene Magritte (1898-1967) que teve a sua grande paixão
na musa e modelo Georgette Berger (1901-1986). O
amor entre ambos foi tema da música René e Georgette Magritte com seu cão depois
da guerra, do compositor
Paul Simon, no álbum Hearts and Bones (1983) e em diversos álbuns e coletâneas do
autor. Veja aqui, aqui & aqui.
AMIGOS DA BIBLIOTECA
Realizou-se
nesta quinta, reunião dos Amigos da Biblioteca, definindo-se sua comissão
provisória: na presidência Luiz Alberto Machado; vice-presidência: Janilson
Sales; Secretaria: Iolanda Dayo & Basílio Palmares; Tesouraria: Zé Ripe e professor
Alexandre; Núcleo de Pesquisa: Rute Costa & Silvana Neves; Núcleo de
Leitura: João Paulo Araújo; Núcleo de Reforço: Carlos Calheiros; Relações Públicas:
Ricardo Cordel. Na ocasião definiu-se a realização de uma reunião vindoura para
debates acerca da minuta estatutária. Veja mais aqui.