segunda-feira, outubro 07, 2019

ANDERSEN, CAMILA SOATO, MALLU MAGALHÃES & A FÁBULA DA PRINCESA INFELIZ


A FÁBULA DA PRINCESA INFELIZ - Tudo passa e era uma vez. Um menino pobre filho de viúva de sapateiro que se indispôs com o padrasto indiferente. Todos me queriam uma profissão útil como o arrependimento do meu pai. Ditavam-me marceneiro e eu vivia na cabeça com o elfo fêmea que dançava até matar suas vítimas de exaustão. Meus pés sonhadores perdiam contato com o chão e prestava atenção à vida que circundava o mundo de cada um: a roupa nova do imperador. Não desfiz meus sonhos e quebrei o mealheiro de barro, partir para a fortuna: acreditava em contos de fada e aprendia com as verdades de todos os dias. As amarguras eram histórias que saltavam da minha pena, a minha varinha de condão. Apenas com sete moedas de ouro e uma voz de soprano, dancei na frente de uma bailarina famosa, contei histórias para célebre dramaturgo, findei nas mãos de cruel professor. Os meus diários muitos e tantos, os dramas poéticos inventados para representar no teatro, apenas um desejo escondido na minha timidez estarrecedora, a minha carta de declaração amorosa, a minha perturbada existência de patinho feio que sonhava com a pequena sereia, suspirando em vão pelo amor de uma mulher. E era Riborg, o tesouro que deveria ser visto e não ouvido. Para ela escrevi poemas com um buquê dos tons de Grieg, o seu primeiro amor carregado de rubores, lágrimas e confusão. Tomei dela na tempestade, podia me tornar qualquer coisa, até a salvação eterna. E era Jenny! Ah, Rouxinol, Swedish Nightingale, linda até no sobrenome! A famosa de Der Freischütz de Weber, a Norma de Bellini e protegida de Mendelssohn, a cantante sonâmbula dos meus sonhos. E vieram as portas abertas da jovem Louise, o conto de fadas sem respostas. E veio a musa Sophie que me faria feliz e não guardou minha carta, a borboleta dinamarquesa que não conseguiu decidir sobre nenhuma das flores até que fosse tarde demais. Tudo era assim na pintura estática da minha vida de imaturo atrapalhado, repreendido pelo grego, pelo latim, a criança moribunda que nenhuma menina crescia para amar. Um garoto que se fez adulto e velho, pobre e feio da rosa, metido a poeta narigudo, neurastênico, olhos esbugalhados e pés de elefante. Quando apareceu a oferta de pedidos do rei, eu já ganhava alguma coisa, não precisava mais. Das mulheres impossíveis de serem conquistadas, sobravam motivos e inspiração para uma nova fábula: a da princesa infeliz que queria ser a Thumbelina, a rainha das fadas e não tinha um grão de ervilha sob o colchão. Era uma mimada filha única, bela e escatológica numa tarde azul para me impressionar e me encher de presentes e paparicado no seu castelo, de espalhafatosamente me enfeitiçar com seu encanto, a entrega de corpos estupefatos, a contação de suas histórias, a dissimulação possessiva dos ciúmes e quase se banhar em prantos e desgraça, acaso findasse e, ao menor estalo dos dedos, uma bruxa no coração, obtusa e sarcástica com sua gargalhada de viúva negra, a se alimentar de suas astucias e ardis para me deixar jogado vítima da paixão. Só me dei conta do seu sorriso com hálito de morte ao não ser correspondido. Se eu não era um princeso, me fizera de sapo asqueroso. Croc! Croc! Brek-kek-kek! Coaxava eu a coxear com a lembrança dos seus altivos olhos que escondiam seu negrume. Fiz apenas parte de sua trama diabólica: ela me convidou a dar risadas de tudo que vivemos. Ela não sabia o futuro, o mundo dava voltas e dará. Esta a fábula não está nos meus diários, ficará secreta e junto com a longa carta azul de Riborg: entre as mãos e sobre o peito. Resto-me só, ninguém para compartilhar a vida e o amor. Fiel a tudo que estava perdido, triunfo apenas no retorno à Odense e a minha melhor história era a minha própria vida. Sou meu abandono desesperado, um contador de histórias que ensaia a sua prece: Meu sangue quer amor, assim como meu coração. Tudo passou e era uma vez. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Não importa que se nasça num terreiro de patos, desde que se saia de um ovo de cisne. Hoje mergulho no meu próprio ser, encontro uma ideia para os adultos e narro-a como se fosse para crianças, mas sem me esquecer de que o papai e a mamãe estão ouvindo. A Deus e aos homens o meu agradecimento e o meu amor. Pensamento do escritor dinamarquês Hans Christian Andersen (1805-1875), que amou muitas mulheres e morreu solteirão. Entre as mulheres da sua paixão estão a soprano sueca Jenny Lind (1820-1887), a Rouxinol Sueca; a bela Riborg Voigt (1806-1883); e a bela dinamarquesa Sophie Ørsted (1782-1818), filha mais nova do seu benfeitor. Veja mais aqui e aqui.

A ARTE DE CAMILA SOATO
A arte da premiada artista Camila Soato. Veja mais aqui e aqui.

MÚSICA DE MALLU MAGALHÃES
Pode falar, não importa, o que eu tenho de torta, eu tenho de feliz. Nem vem tirar meu riso frouxo com algum conselho, que hoje eu passei batom vermelho. Eu tenho tido a alegria como dom, em cada canto eu vejo o lado bom! Os problemas da vida são do tamanho que a gente dá a eles. Eu não levo rancor de nada, mas carrego cicatrizes.
MALLU MAGALHÃES – A arte da cantora, compositora e instrumentista Mallu Magalhães, curtindo os seus álbuns de 2008, 2009 (Agência de Música), Pitanga (2011) e Vem (2017). Veja mais aqui.


CHRISTINA VASSILEVA, KATHERINE JOHNSON, MARTÍN-BARÓ, JOÃO CABRAL & MATA SUL INDÍGENA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som dos álbuns Mistérios do Rio Lento (The Voice of Lyrics, 1998), Santiago de Murcia: a portrait (Frame,...