SOBREVIVENDO À NOSSA BARBÁRIE - Imagem: La condition
humaine, do pintor do Surrealismo belga René Magritte (1898-1967). - É com frequência aqui, ali ou acolá, alguém indagar
que tempo é este! Esse questionamento invariavelmente surge diante de situações
catastróficas, paradoxais ou de extrema violência. Há um amontoado de respostas
imediatas, preponderando o dito dos fervorosos religiosos com a afirmação simplista
de que é o fim do mundo! E o eco escatológico é reproduzido de forma alarmista
como que prevendo a nossa desgraça iminente. Não obstante, é palpável a
constatação de que algo está mesmo fora da ordem, como também é quase unânime a
grita protestando contra a tragédia, quando pouco ou quase nada se tem feito
para mudar esse quadro, encontrando-se até resistências irredutíveis que são
mantidas para que nada saia do controle e do previsível. Cada qual seu sectarismo,
contradições explícitas se avolumam. Há quem diga que seja a aguda ampliação do
fosso entre pouquíssimos privilegiados e a esmagadora maioria escanteada pela
exclusão, criando o descompasso que leva ao ápice do que Freud atribuiu ser o
conflito entre o princípio do prazer e o princípio de realidade. Bem, opiniões
à parte, é inegável que contemplando o passado, a condição de vida melhorou no
planeta, malgrado os problemas ambientais crescentes. Entretanto, se a
qualidade de vida melhorou, não quer dizer que o ser humano tenha evoluído, o que
há de gente ofendida e infeliz gratuitamente distribuindo maledicências nas
suas exasperadas expressões, quando não socos e pontapés para rechaçar o
oponente ou impor seu poder, não desdiz em nada o desequilíbrio. É flagrante a
cotidiana situação de sentimentos feridos, golpes duros do ódio e da
indiferença, a feroz competição, na qual a ignorância e emoções indisciplinadas
ditam o curso sob pisoteados, configurando o tanto de pequenez danosa e
mesquinharia dolorosa caracterizadas pela fúria do hedonismo descartável, do
consumo de simulacros, das ameaças e pontos de ruptura entre uns e outros. De um
simples aceno ou choque inadvertido, a geração de conflitos e rotas de colisão
que comprovam uma carga de negatividade sem precedentes. Aliás, desajustes são
visíveis desde que o ser humano começou a intervir na Natureza para o seu
sustento e prosperidade há milênios, quando então surgiram maniqueísmos que
simularam impérios, discórdias territoriais e religiosas, agressões, consensos
e dissensos conforme os interesses de uns em detrimento de muitos, senão todos;
imposições e totalitarismos atravessaram eras, a ponto de cada um se ver hoje
sob tensões que se revelam tanto por temores crônicos oriundos da insegurança,
do medo, da vulnerabilidade; como por terrores incontroláveis nascidos da
ambição do umbigocentrismo, do conluio por poder e da necessidade de supremacia
sobre o outro: a barbárie da pós-modernidade. Com isso, torna-se visível a
condição de sem saída, potencializando o pânico. Diante de situação grave, pungente
e funesta tal como a que se vive hoje em dia nas casas com seus altos muros e janelas
e portas gradeadas, da atenção redobrada nas saídas pros afazeres diários, da
desconfiança generalizada, pergunta-se o que se há de fazer a não ser levar a
vida como der ou puder. Pois é, ao centralizar tudo no umbigo, nada mais resta
que a solidão e o abandono: não há como firmar bases sólidas nas pressas dos
modismos, quando vai ver tudo passou, ficou só lixo pro terreno baldio ou pra
debaixo dos tapetes – o que dá no mesmo: o que se esconde, reaparece; o que
bota de lado, volta ao ponto de partida. A terra é redonda ou quase; tudo que
vai, volta. Pra mim, o que nos resta é enfrentar com discernimento e
compreensão, viver e ver as coisas lindas que estão visinvisíveis. E vamos
aprumar a conversa. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
A BARBÁRIE HUMANA DE MAFFESOLI
As tribos pós-modernas
fazem parte, agora, nos dias atuais, da paisagem urbana. Isso, após terem sido
objeto de uma conspiração silenciosa das mais estritas – quanta tinta elas
fizeram correr! Tudo de uma vez, para relativizá-las, marginalizá-las,
invalidá-las depois de denegri-las. Coloquemos uma questão simples. Essas
tribos, não são elas a expressão da figura do bárbaro que, regularmente,
retorna a fim de fecundar um corpo social, um pouco debilitado? O que há de
certo é quando uma forma do laço social se satura e que uma outra (re)nasce –
isso se faz, sempre, com temor e vacilação. É o que faz com que certas boas
almas se choquem por essa renascença, porque ela desloca um pouco a moral
estabelecida. Do mesmo modo, certas belas almas podem se ofuscar, pois essas
tribos não fazem senão privilegiar a primazia do Político. [...] Da minha parte, de
diversas maneiras, analisei a centralidade subterrânea, a socialidade obscura e
outras metáforas, pontuando a retirada do povo sobre seu Aventino. Orfandade da
tradição mística, retornando, subrepticiamente, ao gosto do dia! Um tal tecido
repregueado é frequente nas histórias humanas. E ele é sempre o indicador de
uma demanda de reconhecimento. Contra o patriciado romano, o povo se refere a
seus direitos. Isso se dá igualmente em nossos dias. E a demanda implícita,
silenciosa, que tem dificuldade em se formular, necessita que se saiba fazer
uma espécie de geologia da vida social. E, na maneira de ser, uma pesquisa das
estruturas heterogêneas que a constituem. Mas fiquemos nesta ambivalência. Esta
bipolaridade entre isto que é retraído e o que se mostra. Ainda mais hermético
que em evidência. Salvemo-nos aqui do comentário que fez Lacan do conto de
Edgar Poe, “a carta roubada”. É porque ela está aqui, sob o manto da chaminé
que o comissário que está à sua procura não a vê. E como em eco, ouçamos o
conselho de Gaston Bachelard: “não há ciência fora do obscuro”. Dizendo com
clareza esse escondido nos arruína os olhos. E por pouco que se tome seriamente
a teatralidade dos fenômenos, este theatrum mundi, de antiga memória, se
saberá aí ver os novos modos de vida em gestação. Para além de nossas certezas
e convicções: políticas, filosóficas, religiosas, científicas, convém se por em
acordo simplesmente, humanamente, ao que se dá a ver. Procurar o essencial no
inaparente das aparências. Estas da vida cotidiana. Estas desses prazeres
miúdos e de pouca importância, constituindo o humano onde cresce o estar-junto.
Não será isso a cultura? “Os aspectos os mais importantes para nós estão escondidos
por causa de sua banalidade e de sua simplicidade” (Wittgenstein). Talvez a
partir de um tal principio de incerteza se será capaz de fazer um bom
prognóstico. Quer dizer, ter a intuição dos fenômenos, esta visão do interior,
fazendo tanta falta à paranóia tão frequente nas elites.
A partir do olhar penetrante nos será permitido ver o núcleo fatíco das coisas.
Fatídico, porque nos falta ser mestres. Isso vem de bem longe, e não se deixa
dominar pela pequena razão instrumental peculiar à modernidade. Núcleo
arquetípico, no qual é importante localizar a fecundidade.
Trechos do artigo A barbárie
em face do humano: as tribos pós-modernas (Z Cultural, 2015), do sociólogo
francês Michel Maffesoli. Veja mais aqui & aqui.
Veja
mais sobre:
Migrante
entre equívocos, Santuário de William Faulkner, Tragédia da
cultura de Georg Simmel, Cibercultura
de André Lemos, a música de Ivan Lins & Sá & Guarabira, o cinema
de e Tony Richardson & Lee Ann Remick, a pintura de James McNeill Whistler,
a arte de Yosuke Onishi & Lanoo, A Lei & a
Pizza aqui.
E mais:
O lamentável expediente da guerra aqui.
Cordel Tataritaritatá, Globalização do conhecimento
e consciência de Milton Santos, À sombra das raparigas de Marcel
Proust, As nuvens de Aristófanes,
a música de Véronique Gens & Stark Naked Orchestra, Cleópatra
& Elizabeth Taylor, a poesia de Clevane Pessoa de Araújo Lopes, a pintura
de Camille Pissarro & Howard
Chandler Christy aqui.
No caminho de Swan de Marcel
Proust, Carmina Burana de Carl Orff, a pintura de Camille Pissarro, a arte do Mestre Vitalino
& a poesia de Rachel Levkovits aqui.
Se nada acontecesse, nada valeria, Saturação de Michel Maffesoli, O
escritor e seus fantasmas de Ernesto Sábato, a música de
Gilberto Gil, Hora sagrada de Isabel Câmara, a arte de Beatriz Segall, o
cinema de Eliane Caffé, a fotografia de Ludovic Florent,
a pintura de Edvard Munch & Howard Chandler aqui.
Ih, esqueci, Tutameia de João Guimarães Rosa, Sobre a natureza de Anaximandro
de Mileto, a poesia de Lelia Coelho Frota, a música de Ida Presti,
Geração Trianon de Anamaria Nunes, o cinema de Krzystof
Kieslowski & Irène Marie Jacob, a arte de Márcio Baraldi, a pintura
de Kurt Schwitters & Lavinia Fontana aqui.
Terra do
que sou, vida que me cabe, Elogio da
madrasta de Mario Vargas Llosa,
Vento Geral de Thiago de Mello, Galalaus &
batorés de Mário Souto Maior, a pintura de Natalia Goncharova & Taha Hassaballa Malasi, a arte de Shelley Bain, Rachel Mascarenhas & Ana Paula Pessoa, a fotografia de Yan Pierre & a música de Eduardo Ponti aqui.
Domingo
do que fui e não sou, Os segredos
da ficção de Raimundo Carrero, O erotismo de Georges Bataille, Cantos novos de Federico Garcia Lorca, a música de Laurie Anderson, a pintura de Marta
Nael & Cecily Brown, a xilogravura de Marcelo Alves Soares, a arte
de Benedict Olorunnisomo & Paula Valéria de
Andrade aqui.
Mamão,
novamente o estranho amor, Desobediencia
civil de Henry Thoreau, O Livro
das mil e uma noites, a pintura de Newton Mesquita & Thiago Hellinger, Fecamepa & a Temerança no Big Shit
Bôbras, a arte de Raimundo Rodriguez, a música de Dery Nascimento &
Planeta MPB aqui.
Faça seu TCC
sem Traumas: livro, curso & consultas aqui.
Livros Infantis do Nitolino aqui.
&
Agenda de Eventos aqui.
A CONDIÇÃO
HUMANA DE FLÁVIO LEANDRO
O curta metragem de animação A condição humana (2006), dirigido por Flávio
Leandro,
conta a história de um artista de rua entretendo transeuntes nas
praças publicas do centro do Rio de Janeiro, para levar o pão de cada dia para
a mulher e o casal de filhos. Em sua atuação de rua, o artista mambembe se
questiona se deve ou não continuar a fazer esse tipo de trabalho. No dia do
aniversário do casamento o destino lhe reserva uma surpresa.
RÁDIO
TATARITARITATÁ: RECITAL VIOLÃO & PIANO
Hoje é dia de especial com o
violonista Turíbio Santos Violão Sinfônico & Orquestra
de Violões, a pianista Magda Tagliaferro com recitais da obra de Heitor
Villa Lobos; o violonista Álvaro Henrique com a Suíte Candanga & Villa
Lobos; e a pianista Anna Stella Schic com prelúdios & infantis de
Villa Lobos. Para conferir é só ligar o som e curtir.
A ARTE