QUAL É A TUA, ZÉ BRASIL? - Zé Brasil vive às topadas e tombos,
assanhando o tuim e ajeitando o penteado como pode. Aos empurrões segue adiante
ou não sai do lugar. Tem horas que pega na embalada e, quando vai ver, está lá
no meio da boiada desenfreada aos pinotes e gritaria. Sua vida pra lá de
destrambelhada foi muito além dos subterrâneos infernos adentro aos voos de se
estrepar ribanceira abaixo. Pudera, o pai um peró sifilítico, fugitivo de zis credores
e que aportou fedorento depois de pular dum bigu de navio cargueiro, bimba na
mão da secura pra descabaçar a primeira índia fogosa e emprenhá-la antes de
arribar atrás do ouro perdido de Serra Pelada. A mãe bastou rebentar, largou o
bebê na calçada e pulou da ponte embaixo pra morrer chorando a sina de perder o
grande amor da tribo prum desalmado que lhe roubara a vergonha e a vida. Foi
criado por uma mãe preta catimbozeira que se dizia sua avó e tida pelas más
línguas por mula sem cabeça que aparecia todas as sextas, amasiada com um
filantropo pároco italiano que lhe virou as costas depois de sacar que não tinha
mais jeito. Cresceu como uma anomalia, varapau mameluco que não sabia pronde
aprumava a venta, se pras bandas portuguesas, espanholas ou holandesas, quem
desse mais, ora. Na escola aprendeu a folhear a Arte de Furtar do Padre Vieira
pra ser um bom ladrão. Por esse expediente tapeou Deus e o diabo, apaixonando-se
por todas as atrizes da tevê, idealizando ser um artista capa de revista. No
ginasial, foi aluno dum professor que não sabia pronunciar o nome e lhe meteu
na cabeça o Mein Kampfe – livro
grosso e complicado pra ele, melhor seria se fosse um gibi e aprenderia pelas
figuras -, mas bebeu cada palavra do mestre e levou ao pé da letra pra virar
nazista da noite pro dia, odiando preto, viado e quem fosse do contra, vez que
não sabia onde estavam os judeus pra sua fúria. Na 8ª série apaixonou-se por
uma americanômana, de querer fugir com ela pros USA e se enturmar na Klu Klux
Klan ou virar cucaracha. Quando procurou por ela, já era, estava agarrada nos
beiços dum branquelo doutra turma, dele findar abatumado numa ficha de
inscrição do Big Shit Bôbras. Foi aí que ficou mudo e foi à merda depois da era
triunfal de Schumacher, da lavagem de 7 da seleção na tragédia do Mineirão, do
irmão alemão do Chico e de vender a alma ao diabo, virando piada como coadjuvante
feito Barrichello e Massa – eles estão rico e tu? F-o-fo-d-i-di-d-o-do: fodido!
Se ele já era traumatizado com o 1x0 pro Uruguai no Maracanã de 50, imagine
depois da desmoralização geral. Soube, então, que pra filosofar tinha que
aprender a língua e saber da linha direta entre arianos e germanos. Pronunciou
com tanta força gutural de ficar rouco e perder a voz. Daí, então, nunca mais
se emendou, Maria-vai-com-as-outras, pronde vão todos, lá está ele no meio, nunca
se sabe, entre procissões católicas e cultos protestantes, mesa espírita e
bombo de xangô, comícios, protestos, catando pés de coelho, trevos de cinco
pontas, ferradura, apostando e jogando de porrinha aos pules de bicho e
loterias, entre falsas farturas e carestias, sem saber nem quem foi ou será,
até cair nas mãos do juiz Teje-Preso, que foi com a sua cara porque não falava
pra encher o saco, só balançava a cabeça, a ponto de, doravante, tornar-se Oficial
de Justiça ad hoc na Comarca de
Alagoinhanduba, nunca mais dando as caras e vivendo em diligências com
trocentos mandados de prisão e outros tantos alvarás de soltura, volume
dependente da veneta do magistrado, prendendo quem estava solto e soltando quem
estivesse preso, e vice-versa, pau mandado juiz. Apesar de tudo, vive sem dizer
uma monossilábica palavra que seja, sem pensar em nada, em seguir a vida, fazer
a sua parte como puder e viver à própria sorte, esperando a morte chegar. Não
há quem não pergunte na lata dele: - Qual é a tua, Zé Brasil? © Luiz Alberto
Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.
MEMBRANAS E INTERFACES DE FERNANDA BRUNO
[...] o homem que “abandona” o seu corpo é o homem
que faz técnica, que se desprende do aqui e agora das circunstâncias, das
imposições do meio ou das urgências vitais e produz, projeta o que não estava
aí. É aquele, portanto, que estabelece com a natureza – com o seu corpo e com o
seu meio – não uma simples relação de acomodação ou adaptação, mas de
transformação. Deste modo, não é o corpo nu ou natural que estabelece a
mediação ou a fronteira entre o homem e o mundo, mas um corpo atravessado,
modulado pela técnica – não é por acaso que esta também se define como
mediação. Mas isto não deve conduzir à suposição de que a técnica seja um mero
prolongamento das funções do corpo – aí compreendidas as cognitivas -, pois, ao
disseminar suas funções no espaço externo, nem o corpo, nem o mundo permanecem
os mesmos – o interior e o exterior, bem como a mediação entre eles, ganham
novos contornos. [...].
Trecho de
Membranas e interfaces (Mauad, 1999),
da doutora em Comunicação e Cultura pela UFRJ e professora pesquisadora, Fernanda Bruno. Veja mais aqui.
Veja
mais sobre:
Quando
tudo é manhã do dia pra noite, Agonia da noite de Jorge Amado, Posthuman
bodies de Halbertam & Livingstone, a música de Bizet & Adriana Damato, Folclore musical de Wagner Ribeiro, a pintura
de Aleksandr Fayvisovich & Bryan Thompson, a fotografia
de Christian Coigny, a arte de Mirai Mizue & Luciah Lopez aqui.
E mais:
Preconceito, ó! Xô pra lá, Diários de viagem de Franz Kafka, Cantos de Giacomo
Leopardi, A revolta de Atlas de Ayn Rand, a música de Leoš Janáček & Cheryl Barker, o cinema de Alessandro
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O folclore no Brasil de Basílio de Magalhães, Chão
de mínimos amantes de Moacir da Costa Lopes, Culturas e artes do
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A lenda
do açúcar e do álcool, Educação
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de Yasushi Akutagawa, Não há estrelas
no céu de João Clímaco Bezerra, Cumade Fulôsinha de Menelau Júnior,
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os mandacarus de fogo, Concepção dialética da história de Antonio Gramsci, O
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Sabença aqui.
O
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sobre teatro de Bertolt Brecht, Sociolinguistica
de Dino Preti, a música de Adriana
Hölszky, Nunca houve guerrilha em Palmares de Luiz Berto, a pintura de Dimitra Milan & Vera Donskaya-Khilko, a
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O
feitiço da naja: a tocaia & o bote, Sistemas de comunicação
popular de Joseph Luyten, Palmares & o coração de Hermilo
Borba Filho, Porta giratória de Mário Quintana, a música de Vanessa Lann, o teatro de Liz
Duffy Adams, a pintura de Joerg Warda & a arte de
Luciah Lopez aqui.
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KIDS DE
LARRY CLARK
O drama Kids (1995),
escrito pelo cineasta e roteirista Harmony Korine e dirigido pelo ator, diretor
e fotógrafo Larry Clark, foca em um
dia meados de 1990, a vida de um grupo de jovens sexualmente ativos e o seu
comportamento diante do sexo e das drogas durante a era do HIV, que não sabem
qual direção seguir em suas vidas e que pouco se interessam por isso, existindo
apenas para o consumo e o hedonismo. Trata-se de um retrato trágico sem
qualquer concessão aos modelos hollywoodianos. Destaque pra atriz e designer
estadunidense Chloë Sevigny.
RÁDIO
TATARITARITATÁ: RICK WAKEMAN
Nesta segunda, 03/07, especial
com a música do pianista e tecladista de rock progressivo britânico, Rick
Wakeman,
e seus principais álbuns 1984 (1981), Journey to the centre
of the earth (1974), The six wives of Henry VIIII (1973), Criminal Records
(1977), Myths and legends of King Arthur and the knights of the round table (1975),
Return to the center of the earth (1999), entre outros shows ao vivo com Jon
Anderson (2010). Veja mais aqui, aqui e aqui.
A ARTE JANA BRIKE
A arte da artista letã Jana Brike.