SE NÃO FOR DE PERNAS PRO AR, ESTÁ DE CABEÇA PARA BAIXO OU TANTO FAZ – UMA:
COMO NASCEU O FABO? – Assim: era uma vez uma tribo, a dos Teaca
– que significava “mato verde do calango bom”. Isso para lá de mil e não sei
quanto, nem sei onde direito. Vivia por aí entre mata e rio, à beira de morros
e litoral. Um dia lá, avistou-se um troço que vinha lá longe, entre o céu e o
mar. Que droga é nove? Vem boiando no parati. Aboticou: não era só um, mas dois;
não, três, na verdade. Aquilo vinha, chegou e desceu um barbudo, catingoso,
cara pálida: o peró. Deu com o nativo: Ei! O aborígene caiu morto só com o bafo.
Ao segundo bugre que apareceu, deu-lhe a mão: o autóctone sucumbiu sem vida ao
mínimo contato. O terceiro selvagem, ah, uma índia nua, fogosa e aos risinhos.
Lindeza, pá! Ajeitou-se, tangeu, bandeou e regalou-se; e ela aguentou submissa
a catinga e o fungado no cangote. Ui, que negocinho bom! Emprenhou-la enquanto
preava. Nasceu o primeiro Fabo: o mameluco. O curumim crescia entre ouitê e cunhatãs,
ê – ê, e o estranho aos desmandos no cangote da indiada esmarrida e dizimada. Tempo
passava, o giracá da infância tornou-se um jovem uidadera que encarou o invasor
caraiué: Ovuei! O peró nem aí, fazia que não era com ele. Pai! Ô pai! Ah,
bastardo, você não é porque meus filhos estão na metrópole! E deu-lhe as
costas. E ele insistiu: Pai, o que faço? Curiboca, desgraçado, mate o índio! E
com fúria, o Fabo dizimou a todos. Serviço feito, encarou: Pai, matei o índio!
Não sou seu pai, já disse, e vá se foder para lá. Mas pai! Rejeitado, procurou parentes
e sobreviventes: todos mortos do seu sangue. Vagou sozinho mata adentro, até
encontrar outro mestiço, depois outro e uma outra, com ela e outros construíram
a civilização alagoinhandubense. DUAS: E
AS FABAS? O PAPO DELAS UM SÉCULO DEPOIS – Mulher, eu não te conto! O que
foi? Lembra daquela fulana assim assado cruz credo lalari larará, que a gente
viu na grota naquele dia da festa? Ah, sim, lembro. Num te conto! Conta logo,
vai! Ela viu passarinho verde! Meeeesmo! Verdíssimo! E quem é o varapau
bengaludo? Ah, praquela tem que ser disso pra lá! É sim, mas quem é o tal? Não
vi, não sei, só me disseram. E deu certo? Ah, me contaram que ela está pra cima
e pra baixo com epifá e simpatias para segurar o macho! Ih! Também um trubufu
daqueles, quer o quê? Seja quem for, certo ou não, desencalhou. Que coisa, né?
Sortuda, a bicha. É. Eu, hem? TRÊS: A
FARRA DOS FABOS – O DISPARATE DA MUNDIÇADA: Todos nós somos Fabos, táoquei,
porra! E não tem essa só de Papo de Fabo!
A gente é quem faz e manda, caga raio e deixa como está e bem quiser,
coisominion e chega de blábláblá! Não tem rem-rem-rem, rá-rá-rá nem como é que
é! Esse bregueço de filho de Caim é a mãe, porra! Afinal, água ruim, peixe
pior! A canalhada dos contra é que vão se ver, com a gente é naquela do que é
meu é meu, o que é teu é teu, Deus por cima e o resto por fora! E que se dane! O
que é, é; o que não é, nunca será. E com a gente é: Tudo certo, Fabo! E viva o Fecamepa! © Luiz Alberto Machado.
Direitos reservados. Veja mais aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] A paixão pelas
viagens, o tipo de obrigação religiosa que elas constituem para mim me levariam
a aproveitar a menor oportunidade de aventura exótica. [...] Quantas
viagens fiz através de mundos diferentes! E apesar disso, como sou parisiense,
pensei sorrindo... Um sorriso consternado, mais triste do que um soluço... [...]
Será que existe algo mais fascinante do
que duas vias férreas que se estendem até o horizonte! que uma estrada que vai,
que vai... [...] São meus sonhos de
menininha selvagem que vivo hoje... todas as belas imagens dos livros de Jules
Verne. [...]. Trechos extraídos da obra A lâmpada da sabedoria (Rocher, 2006), da
escritora e exploradora francesa Alexandra David-Néel
(1868-1969). Veja mais aqui.
O MAMULENGO DE HERALDO LINS
Eu queria muito trabalhar com teatro. Tentei
fazer teatro de palco com
gente, mas é complicado demais. As pessoas nem
sempre tem o compromisso, a responsabilidade com o
teatro e com a plateia. Me frustrei com o teatro de palco por isso. Desfiz a sociedade com o meu
amigo porque ele chegava
bêbado para trabalhar, esquecia o texto, sua voz ficava
prejudicada por causa da bebida. Isso comprometia a qualidade do show e eu queria fazer um
teatro de mamulengos profissional,
queria sair do amadorismo. Quando eu comecei a
trabalhar com os bonecos percebi que eles me obedeciam, eu tinha o controle da situação. Eu podia
ser o diretor de um teatro
cujos atores são bonecos que eu posso manipular. A qualidade do espetáculo depende de mim, o
compromisso com a plateia, o
cumprimento de horários e contratos também
são de minha responsabilidade. Trabalhando sozinho na apresentação fiquei livre do estresse de
ter que contar com o outro,
que nem sempre corresponde ao que eu espero dele, entende? [...] Quando comecei com
o teatro de bonecos, o show tinha uma
duração de uma hora e vinte minutos. [...] Dois anos depois, já com o afastamento do teatro, refiz os
bonecos e até hoje permaneço
fazendo shows. [...].
MAMULENGO DE HERALDO LINS – Trechos extraídos da obra Show de Mamulengos de
Heraldo Lins: construções e transformações de um espetáculo na cultura popular
(EdUFRN, 2014), da professora e antropóloga Zildalte Ramos de Macêdo, sobre a arte do mamulengueiro Heraldo Lins. Veja mais aqui.
A ARTE DE FERNANDO ROSA
A OBRA DE ELFRIEDE JELINEK
As regras da arte não existem, porque o que faz da arte
arte é o fato de ela não obedecer a nenhuma regra.
A obra da novelista e autora de peças teatrais austríaca e
Prêmio Nobel de Literatura de 2004, Elfriede Jelinek aqui.