quinta-feira, outubro 24, 2019

ELFRIEDE JELINEK, ALEXANDRA DAVID-NÉEL, FERNANDO ROSA & MAMULENGOS DE HERALDO LINS


SE NÃO FOR DE PERNAS PRO AR, ESTÁ DE CABEÇA PARA BAIXO OU TANTO FAZ – UMA: COMO NASCEU O FABO? – Assim: era uma vez uma tribo, a dos Teaca – que significava “mato verde do calango bom”. Isso para lá de mil e não sei quanto, nem sei onde direito. Vivia por aí entre mata e rio, à beira de morros e litoral. Um dia lá, avistou-se um troço que vinha lá longe, entre o céu e o mar. Que droga é nove? Vem boiando no parati. Aboticou: não era só um, mas dois; não, três, na verdade. Aquilo vinha, chegou e desceu um barbudo, catingoso, cara pálida: o peró. Deu com o nativo: Ei! O aborígene caiu morto só com o bafo. Ao segundo bugre que apareceu, deu-lhe a mão: o autóctone sucumbiu sem vida ao mínimo contato. O terceiro selvagem, ah, uma índia nua, fogosa e aos risinhos. Lindeza, pá! Ajeitou-se, tangeu, bandeou e regalou-se; e ela aguentou submissa a catinga e o fungado no cangote. Ui, que negocinho bom! Emprenhou-la enquanto preava. Nasceu o primeiro Fabo: o mameluco. O curumim crescia entre ouitê e cunhatãs, ê – ê, e o estranho aos desmandos no cangote da indiada esmarrida e dizimada. Tempo passava, o giracá da infância tornou-se um jovem uidadera que encarou o invasor caraiué: Ovuei! O peró nem aí, fazia que não era com ele. Pai! Ô pai! Ah, bastardo, você não é porque meus filhos estão na metrópole! E deu-lhe as costas. E ele insistiu: Pai, o que faço? Curiboca, desgraçado, mate o índio! E com fúria, o Fabo dizimou a todos. Serviço feito, encarou: Pai, matei o índio! Não sou seu pai, já disse, e vá se foder para lá. Mas pai! Rejeitado, procurou parentes e sobreviventes: todos mortos do seu sangue. Vagou sozinho mata adentro, até encontrar outro mestiço, depois outro e uma outra, com ela e outros construíram a civilização alagoinhandubense. DUAS: E AS FABAS? O PAPO DELAS UM SÉCULO DEPOIS – Mulher, eu não te conto! O que foi? Lembra daquela fulana assim assado cruz credo lalari larará, que a gente viu na grota naquele dia da festa? Ah, sim, lembro. Num te conto! Conta logo, vai! Ela viu passarinho verde! Meeeesmo! Verdíssimo! E quem é o varapau bengaludo? Ah, praquela tem que ser disso pra lá! É sim, mas quem é o tal? Não vi, não sei, só me disseram. E deu certo? Ah, me contaram que ela está pra cima e pra baixo com epifá e simpatias para segurar o macho! Ih! Também um trubufu daqueles, quer o quê? Seja quem for, certo ou não, desencalhou. Que coisa, né? Sortuda, a bicha. É. Eu, hem? TRÊS: A FARRA DOS FABOS – O DISPARATE DA MUNDIÇADA: Todos nós somos Fabos, táoquei, porra! E não tem essa só de Papo de Fabo! A gente é quem faz e manda, caga raio e deixa como está e bem quiser, coisominion e chega de blábláblá! Não tem rem-rem-rem, rá-rá-rá nem como é que é! Esse bregueço de filho de Caim é a mãe, porra! Afinal, água ruim, peixe pior! A canalhada dos contra é que vão se ver, com a gente é naquela do que é meu é meu, o que é teu é teu, Deus por cima e o resto por fora! E que se dane! O que é, é; o que não é, nunca será. E com a gente é: Tudo certo, Fabo! E viva o Fecamepa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS: [...] A paixão pelas viagens, o tipo de obrigação religiosa que elas constituem para mim me levariam a aproveitar a menor oportunidade de aventura exótica. [...] Quantas viagens fiz através de mundos diferentes! E apesar disso, como sou parisiense, pensei sorrindo... Um sorriso consternado, mais triste do que um soluço... [...] Será que existe algo mais fascinante do que duas vias férreas que se estendem até o horizonte! que uma estrada que vai, que vai... [...] São meus sonhos de menininha selvagem que vivo hoje... todas as belas imagens dos livros de Jules Verne. [...]. Trechos extraídos da obra A lâmpada da sabedoria (Rocher, 2006), da escritora e exploradora francesa Alexandra David-Néel (1868-1969). Veja mais aqui.

O MAMULENGO DE HERALDO LINS
Eu queria muito trabalhar com teatro. Tentei fazer teatro de palco com gente, mas é complicado demais. As pessoas nem sempre tem o compromisso, a responsabilidade com o teatro e com a plateia. Me frustrei com o teatro de palco por isso. Desfiz a sociedade com o meu amigo porque ele chegava bêbado para trabalhar, esquecia o texto, sua voz ficava prejudicada por causa da bebida. Isso comprometia a qualidade do show e eu queria fazer um teatro de mamulengos profissional, queria sair do amadorismo. Quando eu comecei a trabalhar com os bonecos percebi que eles me obedeciam, eu tinha o controle da situação. Eu podia ser o diretor de um teatro cujos atores são bonecos que eu posso manipular. A qualidade do espetáculo depende de mim, o compromisso com a plateia, o cumprimento de horários e contratos também são de minha responsabilidade. Trabalhando sozinho na apresentação fiquei livre do estresse de ter que contar com o outro, que nem sempre corresponde ao que eu espero dele, entende? [...] Quando comecei com o teatro de bonecos, o show tinha uma duração de uma hora e vinte minutos. [...] Dois anos depois, já com o afastamento do teatro, refiz os bonecos e até hoje permaneço fazendo shows. [...].
MAMULENGO DE HERALDO LINS – Trechos extraídos da obra Show de Mamulengos de Heraldo Lins: construções e transformações de um espetáculo na cultura popular (EdUFRN, 2014), da professora e antropóloga Zildalte Ramos de Macêdo, sobre a arte do mamulengueiro Heraldo Lins. Veja mais aqui.

A ARTE DE FERNANDO ROSA
A arte do artista visual e fotógrafo Fernando Rosa. Veja mais aqui, aqui & aqui.

A OBRA DE ELFRIEDE JELINEK
As regras da arte não existem, porque o que faz da arte arte é o fato de ela não obedecer a nenhuma regra.
A obra da novelista e autora de peças teatrais austríaca e Prêmio Nobel de Literatura de 2004, Elfriede Jelinek aqui.