LIVY, O DIÁRIO DE EVA – A cidade girava em torno do rio: era a vida
nos olhos vidrados. Mãos e pés inquietos, a placidez das margens: o pátio de
meus brinquedos e travessuras, aventuras de sobra para contar das correntezas,
jusantes, funduras, braçadas às margens - quem viveu entre perigos a pique, as
absurdas histórias, episódios inventados pela música das águas. Vivi por meus
próprios meios e nunca fui o modelo dos sonhos maternos. A vida troçava de mim
nas mais extravagantes situações. Eu sonhava de olhos abertos. Vi o retrato de Livy, a bela de Elmira: marque dois, meu nome. Dissimulava os
vestígios do prazer proibido: o rosto mais belo jamais visto na vida. Fui capaz
de adorá-la: os seus olhos negros vivos, suas feições finas, seus cabelos lisos.
Precisava vê-la e vi: a paixão instantânea. Cinco dias depois, revê-la: a única
visita e a leitura de Dickens, as cartas que escrevi. Avancei e fui recusado: Eu acredito que a jovem
potranca partiu meu coração. Isso só me deixa com uma opção: ela remendar. Ela não me queria. Não desisti. Amei, mais amava a
desconhecer os dias sufocantes sob Sol escaldante de verão. Era verdade que a
sinceridade tantas vezes causava mal resultado, falava demais sozinho, sonhador
sem espírito prático: o andar melancólico de acorrentado à vocação desconsolada
para o fracasso. Maníaco por invenções, quantos lugares insuportáveis e
aborrecidos. Era ela tudo o que precisava. A ela me dei: Tenho tanto orgulho no cérebro
dela quanto na sua beleza. Pude
então viver de verdade, persisti, perseverei. Ela era a minha vida. Mesmo
comigo, passei meses sem vê-la: o seu solitário esplendor e
problemas de saúde, as minhas palestras e vendas de livros. Frequentemente
infringi a regra: vê-la secretamente, trocar beijos e cartas de amor. Ah, meu
amor. A minha vida sem você: suas cinzas no meu coração, estou devastado, cabisbaixo.
Ouço o vento e leio as águas para me salvar dos apuros insolvíveis, a reclusão
eremítica pela ruína e escritos impetuosos e incansáveis. Estou farto de correr
o mundo, meu exaustivo labor, retiros, refúgios, a casa de Stormfield e o sonho
de findar o exílio ao vê-la partir: a única veneração de memória, o Diário de
Eva. O coração claudicante não foi poupado, depois dela, A morte de Jean e nada
mais, a triste perseguição para a mais preciosa das dádivas: nasci com o Halley,
com ele eu voo. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo
e aqui.
DITOS & DESDITOS: [...] Por mais algum tempo,
continuei a tropeçar naquele anel mágico de amor até que acordei do amor bêbado
que protegi da luz e dos vendavais. Seus olhos altivos
não me deixaram me livrar deles tão cedo. A cada momento,
ouvia sua voz cantar as árias populares e antigas de ópera, e constantemente
diante de meus olhos aquela mulher, que tinha a aparência das belas mulheres
renascentistas, que mulher é dada para viver a vida com toda a paixão que a
prevê próprio coração? Ele viveu
sem conhecer alguns obstáculos. Ele desprezava as
riquezas, mas as possuía e sabia como apreciá-las. Por
vontade própria, ele conseguiu apimentar cada minuto de sua vida com a
felicidade que inflamava e alimentava com prazeres e paixões que ele não
escondia e, além de tudo isso, possuía algo grandioso: sua arte. Então eu disse
adeus a ela, transformada há muito tempo em uma lembrança. [...] Ultimamente, eu frequentemente ouço essa
expressão incrível. No começo eu não entendi nada.
Até que alguém tenha esclarecido o que significa: está pronto,
pronto, acabou, mas quero confiar em você com outra coisa. [...].
Trechos extraídos da obra SeifertToda la belleza del mundo: historias y recuerdos (Askelin &
Haggelund Fórlag, 1981), do escritor e jornalista tcheco Jaroslav
Seifert (1901-1986), Nobel de Literatura de 1984. Veja mais aqui.
ALGUÉM FALOU: [...] Leitor, suponha que você seja um idiota. Aliás,
suponha que você seja um membro do Congresso. Bolas, estou me repetindo. Se Jesus
vivesse hoje, há uma coisa que ele não seria: um cristão. Se o homem tivesse
criado o homem, teria vergonha de sua obra. O que me incomoda na Bíblia não são
os trechos que não compreendo. São justamente os que compreendo. Primeiro,
apure os fatos. Depois, pode distorcê-los à vontade. Comer é humano, digerir é
divino. Sempre fiz questão de nunca fumar dormindo. Os radicais inventam as
ideias. Quando já as esgotaram de tanto uso, os conservadores adotam. Em questões
de Estado, cuide das formalidades e pode esquecer as moralidades. Nada precisa
de tantas reformas quanto os hábitos dos outros. A familiaridade gera o
desprezo – e filhos. Se o desejo de matar e a oportunidade de matar viessem
sempre juntos, ninguém escaparia ao enforcamento. Em certas circunstancias, um
palavrão provoca um alivio inatingível até pela oração. Há duas questões na
vida em que uma pessoa não deve jogar: quando não tiver posses para isso – e quando
não tiver. Não fui ao enterro dele, mas mandei um bilhete simpático dizendo que
deve ter sido um sucesso. As notícias a respeito de minha morte têm sido
bastante exageradas. Pensamento do escritor e humorista estadunidense Mark
Twain (1835 – 1910), extraído da obra O melhor do mau humor: uma antologia
de citação venenosas (Companhia das Letras, 1989), do jornalista Ruy Castro. PS: O grande amor da vida de Twain foi
Livi, Olivia Langdon Clemens (1845- 1904). Esse amor foi
registrado em diversas obras, tais como: Mark and Livy: The Love Story of
Mark Twain and the Woman Who Almost Tamed Him (Atheneum, 1992), de Resa Willis; A Family Sketch and Other Private Writings
by Mark Twain, editado por Benjamin Griffin; e Dear, Dear Livy: The Story of Mark Twain's Wife Hardcover (Charles Scribner's Sons , 1963), de Adrien
Stoutenburg. Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui e aqui.
A MÚSICA DE ROSA
PASSOS
Lá fora eu já tenho um trabalho consagrado, e
aqui eu sinto que o resultado está começando a acontecer. Tanto é que as minhas
coisas começaram a acontecer no Brasil de fora para dentro. Quando eu comecei a
despontar, quando meu trabalho começou a ficar extremamente conhecido e
respeitado, principalmente no mercado americano – que hoje todo mundo deseja
alcançar –, foi que as coisas começaram a respingar aqui no Brasil, e então
começaram a surgir os convites. Eu comecei a fazer shows aqui, inclusive nos
pequenos festivais de jazz que existem no país, e aí as coisas foram crescendo.
ROSA PASSOS – Curtindo a arte a cantora,
compositora e violonista Rosa Passos, destacando os álbuns Amorosa (2004), Rosa
(2006), Samba dobrado (2013) e Rosa Passos ao vivo (2016), entre outros. Veja
mais aqui e aqui.
A ARTE DE ALBENA VATCHEVA
A arte
da artista francesa de origem búlgara Albena Vatcheva, que usa diferentes fontes orientais, criando
um mundo de fadas perturbadoras, com momentos tensos, amorosos, poéticos, ou
seja, universo paralelo de contos, de grandes lendas universais, de infância
invencível e de uma sensibilidade extraordinária, expressada com facilidade e elegância
que permitem expressar uma ampla gama de sentimentos espirituais e sensuais.
Veja mais aqui.