


O CINEMA DE RUY GUERRA
Queria
ser poeta ou escritor para cantar a vida,
não a
falsa vida dos salões de baile, do luxo, da riqueza,
nem é a
da minha alma em sobressalto,
porque
uma vida, nem vida é, e a outra a mais ninguém interessa do que a mim.
Queria
cantar a vida dura dos que trabalham pelo pão de cada dia,
a vida
dos sem lar, dos sem pão, dos sem conforto, a vida da pobreza e da miséria.
Queria
cantar essa Vida.
Queria
que esse canto mostrasse aos que a fingem ignorar
os seus
trabalhos, lutas, anseios e tristeza,
fazer
sofrer pelo pensamento aos que não a querem ver, o que aos outros marca a carne
também,
que lado
heroico da dor, revolta, desespero, esperança,
mas eu
não sou poeta, nem escritor.
Não sei
gravar no papel virgem os sentimentos, por vezes fatalista, dessa gente;
não sei
se iria sentir talvez aquilo que eles sentem, oh, não sei não,
mas se
soubesse esse hino seria belo como nenhum outro,
mas não
seria meu, seria deles todos
As suas
vozes seguras espalhadas aos quatro ventos,
mas
unidas nesse canto de resgate, de vida a apodrecer em vida.
Eu tinha
sido um porta voz apenas,
mas
podia então viver que já vivia, pude então morrer que não morria,
era
poeta, escritor e mais ainda tinha liberto a Vida.
RUY GUERRA – Poema Ode, (Mocidade Portuguesa, 1947), do
cineasta, escritor, dramaturgo e professor moçambicano radicado no Brasil, Ruy Guerra, que entre outros filmes, dirigiu
o premiado Os deuses e os mortos (1970), contando a história sobre a batalha
entre um Homem, um aventureiro sem nome, que se intromete na luta entre dois
clás de grandes coronéis pela posse da terra do cacau, uma luta sem vencedores,
um banho de sangue que também lhe custa a vida; Erêndira (1983),
baseado em narrativa de Gabriel Garcia Marques, contando que ela vivia com sua
avó, quando um descuido da menina fez com que a casa pegasse fogo, resolvendo a
ansiar puni-la pelas perdas prostituindo-a; o drama Kuarup (1989), baseado
na obra Antonio Callado, contando a história de um padre missionário no Alto
Xingu e deixa o sacerdócio para se tornar indigenista na luta contra o golpe de
1964; e o musical Ópera do Malandro (1985), adaptado da peça teatral de Chico
Buarque, contando a história de um malandro nos anos 40, explora uma cantora de
cabaré e vive de pequenos truques enganadores, até surgir a filha do dono do
cabaré que pretende tirar proveito da guerra de contrabando. O cineasta em
crônica publicada em jornal de grande circulação nacional, em 1996, assinalou
que: Um brasileiro
alegre é um pleonasmo.
Em parceria com Chico Buarque, ele escreveu a pela teatral Calabar: o elogio da traição (Civilização
Brasileira, 1976). Veja mais aqui & aqui.
ARTE DE LUO LI RONG
A arte da artista e escultora chinesa Luo Li Rong. Veja
mais aqui.
A OBRA DE VIVALDI
Chegou a
primavera e os pássaros o cumprimentam com um canto alegre, enquanto as fontes,
com as respirações do zéfiro, correm com doce murmúrio...
Os sentimentos humanos são difíceis de prever. Não há palavras, apenas
música.
PS: Grande
parte da obra de Vivaldi é dedicada à musa amada, a mezzo soprano italiana Anna
Girò (Anna Giraud La Mantovana que também se assinava Anna Maddalena
Tessieri– 1710-1748), para quem ele escreveu vários papéis de ópera,
tornando-se a prima donna em
apresentações ao longo de sua carreira. Sobre essa relação foi publicada a obra
The Red
Priest's Annina: A Novel of Vivaldi and Anna Girò (Bel Canto Pree, 2009), da escritora e historiadora Sarah Bruce Kelly.