NINA DE CALLIAS - Era Anne-Marie aquela canceriana
filha do advogado de Lyon e que era Gaillard antes do seu casamento com o conde
Callias do Le Figaro. Na verdade era Nina, conhecida por seu salão literário e artístico
de Paris, aquela mesma do caso de amor que inspirou o Le Coffret
de santal do Cross. Sim, era a Parisiena com um soneto decorado
pela paixão. Era a Dame aux
éventails de Manet deitada
preguiçosamente no sofá e eu um simples jovem que ao seu redor me embevecia com
o Parnassians, em seu apartamento da Chaptal. Tão sedutora ao piano,
eu me encantava com La Jalousie du jeune Dieu. Era a Odalisc de
Manet com o seu apaixonante dedilhado no Tristan & Iseult. Era
cortejada, celebrada aos versos, admirada nas festas. Mas a Guerra
Franco-Prussiana a fez fugir para Genebra adotando exilada o sobrenome materno Villard.
Ao retornar na primavera teve participação efetiva no Dixains Réalistes
e no The Hydropaths. E me embalou ao som da Fantaisie sur Rigoletto instalada
perto da barreira de Clichy. Desprezada por todos, sou a ela fiel e viajei por
seu Noturno, fui atento ao seu Romance e me esbaldei diante do Souvenir
de Vichy. O seu salão era tido por suspeito, desclassificado, marginal, mas
foi ali que testemunhei o Feuillets parisiens, vivi o La Duchesse
Diane, me encantei com La Jalousie du jeune Dieu. Era a poeta
pianista encantadora e talentosa, uma apaixonante mulher que vivia sua fantasia
independente e fora das regras sociais, despreocupada e mundana à loucura e à
morte. Insone e nervosa, alcoolizada e morta-viva. Eu quis dançar com ela para
sempre à sua Valse Brillante. O meu tributo para a compositora, pianista
e escritora francesa Anne-Marie Gaillard (1843-1884), a Nina que era de
Villard e de Callias. Veja mais aqui, aqui e aqui.
DITOS &
DESDITOS - As máquinas são o ópio das massas. Se todas as máquinas fossem lançadas
amanhã no Mar do Norte, estaríamos de volta ao Jardim do Éden. E o tempo
provavelmente melhoraria. A mãe e o pai dizem que devemos nos orgulhar das
conquistas. Dizem que é um erro inato subestimarem-se. Seu pecado favorito é o orgulho
que imita humildade... Você deve ter a coragem de suas convicções... A única
boa razão para nadar, até onde posso ver, é escapar de um afogamento. Nasci na
família errada. O senso de humor é considerado um sinal de saúde mental - além
dos trocadilhos excessivos, que é outra questão. Um véu de segredo deve ser
preservado... Pensamento da escritora inglesa Helen Cresswell (1934-2005).
ALGUÉM FALOU: Você ainda é
jovem, livre. Faça um favor a si mesmo. Antes que seja tarde demais, sem pensar
muito nisso primeiro, arrume um travesseiro e um cobertor e veja o máximo que
puder do mundo. Você não vai se arrepender. Um dia será tarde demais... Pensamento da
premiada escritora estadunidense de origem indiana. Jhumpa Lahiri, que
no livro Interpreter of Maladies (Mariner, 1999), expressou que: [...] Mesmo assim, há momentos em que fico perplexo com cada quilômetro que
viajei, cada refeição que comi, cada pessoa que conheci, cada quarto em que
dormi. Por mais comum
que tudo pareça, há momentos em que está além da minha imaginação. [...] Enquanto os astronautas, heróis para
sempre, passaram apenas algumas horas na Lua, eu permaneci neste novo mundo
durante quase trinta anos. Eu sei que
minha conquista é bastante comum. Não sou o
único homem a buscar fortuna longe de casa e certamente não sou o primeiro. Mesmo assim,
há momentos em que fico perplexo com cada quilômetro que percorri, cada
refeição que fiz, cada pessoa que conheci, cada quarto em que dormi. Por mais comum
que tudo pareça, há momentos em que está além da minha imaginação. [...]. No The Lowland (Vintage, 2014),
expressou que: [...] O isolamento oferecia
a sua própria forma de companheirismo: o silêncio confiável dos seus quartos, a
tranquilidade inabalável das noites. A promessa de
que encontraria as coisas onde as colocasse, de que não haveria interrupção,
nenhuma surpresa. Ele a
cumprimentava no final de cada dia e ficava quieto com ela à noite. [...]. Já no Unaccustomed
Earth (Vintage,
2009), expressou que: […] Ele possuía uma câmera
cara que exigia reflexão antes de apertar o obturador, e eu rapidamente me
tornei seu modelo favorito, rosto redondo, falta de dentes, minha franja grossa
precisando de um corte. Ainda são as
fotos minhas que mais gosto, pois transmitem aquela confiança de juventude que
não possuo mais, principalmente diante de uma câmera. [...]. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.
GAROTAS MORTAS
- [...] Você tenta separar aquele garoto da sua
vida. A cirurgia é
complicada, como algo cortado na selva sem anestesia. Você desconfia das suas preferências, dos
seus hábitos, dos seus habituais, se pergunta quais você adotou por causa dele. Quando você começou a preferir os
americanos aos cappuccinos? Quando você decidiu que cinquenta dólares era muito para pagar pelo jantar? Na fila de um supermercado, você vasculha
sua bolsa em busca do talão de cheques. Você já se perguntou se foi sugestão dele comprar orgânicos, pular o
corredor dos cereais e nunca comprar manteiga de amendoim ou laranja da Flórida. [...].
Trecho extraido da obra Dead Girls (Faber & Faber, 2004), da escritora
canadense nascida no País de Gales, Nancy Lee,
que na obra The Age (McClelland
& Stewart, 2014), expressou que: […] Urgentes, necessários e poderosos, estes
poemas expõem a hipocrisia de uma sociedade que exige a verdade e depois
destrói sistematicamente aqueles que ousam dizê-la. Com destreza lírica e visão
impressionante, Amber Dawn detalha a difícil trajetória de criar arte a partir
da vida enquanto navega em instituições mergulhadas na opressão estrutural. Não
há como exagerar o valor e a importância deste livro, uma tábua de salvação
para os sobreviventes, um ponto de viragem, um acerto de contas. [...].
DESCRIÇÃO - Eles colocam as mãos em torno de seu sexo
primeiro \ enquanto ele ainda está seminu.\ Seus olhos estão bem abertos e ele
não sente vergonha.\ Sua boca também está tão aberta que ele não consegue\ falar
ou talvez ninguém tenha tempo de ouvi-lo.\ Em segundo lugar, enquanto ele ainda
está deitado,\ limpam-lhe o corpo com uma esponja macia,\ apoiando-o nas costas
ou nos braços para que não se canse.\ Precisamos prepará-lo como um banquete.
Você não pode\ perder a festa\ quando ela estiver preparada.\ Não é hora de ter
vergonha de todas aquelas mulheres.\ Eles andam de um lado para o outro \ eles
andam para cima e para baixo\ na sala como abelhas em um jardim de inverno.\ Sua
voz se perde no zumbido. Eles procuram\ o melhor vestido\ os sapatos mais
pretos.\ O que ele deve estar pensando enquanto olha para o teto\ quase
surpreso... \ Em terceiro lugar, eu queria dizer,\ agora que estou vestido, não
posso falar\ com esse curativo na cabeça e não posso\ ver com minhas pálpebras
tão abaixadas.\ Eu olho para suas mãos acima do peito\ transversalmente.\ Um
morto não tem pulmões para respirar fundo: está todo\ concentrado na sua morte,\
não pensa no amanhã:\ amanhã \ não existe. Poema da escritora italiana Giovanna Frene
(pseudônimo de Sandra Bortolazzo), autora das obras Immagine di voci (Facchin, 1999); Mudança. Poema para a memória
(Lietocolle, 2000); Datità,
(Manni, 2001); Estado aparente
(Lietocolle, 2004); Sara ri
(D'If, 2007); O conhecido, o novo
(Transeuropa, 2011); e Técnica de
sobrevivência para o Ocidente que afunda (Arcipelago Itaca, 2015).
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