Mostrando postagens com marcador Nadine Gordimer. Mostrar todas as postagens
Mostrando postagens com marcador Nadine Gordimer. Mostrar todas as postagens

segunda-feira, julho 13, 2020

JO DUNKLEY, MARIA HOMEM, TRINNY WOODALL, FORBES, JOSELY CARVALHO, CLODES JAGUARIBE, COCO DE ARCOVERDE & LITERÓTICA



DIÁRIO DE QUARENTENA – UMA: APESAR DOS CONTRAS, A GENTE PERSEVERA - Em que pese a plena vigência de duas tragédias agora, seja pela hecatombe da pandemia, seja pela maledicência, despudor e crueza do malsucedido desgoverno da morte com seus cacoetes mancos e sectários, nada banal para a indignação que a miopia quanto o antiintelectualismo, a gente persevera. Que o diga Nadine Gordimer: A arte desafia a derrota pela sua própria existência, representando a celebração da vida, apesar de todas as tentativas para degradá-la e destruí-la. Não podia ser de outro jeito, escapando para sobreviver.

DUAS: QUE ENROLEM ALÉM DA CONTA, A GENTE SABE! - A herança deixada pela festa do golpe tornou tudo insalubre pras nossas bandas. Há cinco anos que a insolência subestima nossa capacidade de raciocínio e entendimento, pensam que somos massa de manobra mesmo. Não há o menor pudor no disfarce para o engodo de um pacto que perde sua justificativa todo momento que legitima todas as forças retrogradas em detrimento dos anseios e desejos da população. Ah, como enganam. Ouço Wole Soyinka: Poder é dominação, controle e, portanto, uma forma muito seletiva de verdade, que é uma mentira. O homem morre em todos aqueles que se calam diante da tirania. Como tudo se dissipa, até o que em mim é feriado no que ensaio para encontrar um espaço para respirar meu país.

TRÊS: POETAR MESMO ASSIM – Mesmo que as máscaras desabem e outras sejam repostas no truque das intenções, valho-me do que fez Arnold Schönberg: Nunca vi rostos, porque olhei nos olhos das pessoas, apenas no olhar delas. E mesmo que a constatação contrarie e consterne como naquela frase duma canção da dupla João Bosco/Abel Silva: O amor quando acontece a gente logo esquece que sofreu um dia, há sempre o que ressuscitar com Pablo Neruda: A poesia tem comunicação secreta com os sofrimentos do homem. Os poetas odeiam o ódio e fazem guerra à guerra. A verdade é que não há verdade. Assim voo, até amanhã. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.

DITOS & DESDITOS: Estamos sendo duramente apresentados a uma das formas do incompleto das nossas vidas, na figura desse vírus avassalador. Estamos em perigo! Freud diferenciava - em um texto escrito há exatos 100 anos, Além do Princípio do Prazer - três formas distintas de reagir ao perigo: Angústia, Medo e Terror. Cito-o: "Angústia" designa um estado como de expectativa do perigo e preparação para ele, ainda que seja desconhecido; "Medo" requer um determinado objeto, ante o qual nos amedrontamos; "Terror" se denomina o estado em que ficamos ao correr um perigo sem estarmos para ele preparados, o terror enfatiza o fator surpresa. A atual pandemia nos aterroriza. É como se vivêssemos um combate de guerrilha. Nosso inimigo é pequenininho, sabemos da sua existência, mas não temos ideia de como, quando e aonde ele vai nos atacar. Ele nos surpreende dolorosamente. Não é correto diagnosticar os efeitos psíquicos dessa pandemia como uma histeria. Ela é um terror. As reações a esse terror é que podem assumir matizes variáveis, entre outros: histéricos, obsessivos, perversos, paranoicos, psicóticos. Em uma situação dessas, cada pessoa vai escarafunchar em seus sintomas de base e os expressa. O histérico pode dramatizar excessivamente esse momento, ou fazer o contrário, ficar indiferente (La belle indifférence). O obsessivo encontrará justificativa para suas manias de limpeza, de distância, de rituais, ou pode hipertrofiar a arrogância do 'comigo ninguém pode', do 'eu sou imbatível'. O perverso terá dificuldade em disfarçar seu prazer sádico. O paranoico consolidará suas teorias persecutórias. O psicótico se verá tomado de sentimentos desagregadores. Em ocasiões desestabilizadoras, como dito, a pessoa recua e hipertrofia seus sintomas mais habituais. É um mau tratamento do terror. O que podemos almejar? Um duplo movimento: de um lado, no que é passível de compreensão, ganhar terreno sobre o terror invasivo transformando-o em um medo racional e objetivo. É o trabalho que médicos e profissionais de saúde estão fazendo. Que ninguém pense que do terror virá uma grande alegria. Bobagem. Se vier o medo, já teremos um caminho mais trilhável. Por outro lado, uma vez que o incompleto e a surpresa não vão desaparecer, é de se esperar um aumento da solidariedade humana, no momento em que um vírus desmascara nossa fragilidade constitutiva comum. O 'eu preciso de você' é universal e não local. O que pode nos preocupar? Que esse momento de confiança no laço social seja abalado pelo desprezo de uma civilização que nos maltrata com suas respostas ruins, no limite, com a possibilidade da fome e da morte. Aí, se isso ocorrer, o terror se consolidará. Artigo Que terror! - não temos ideia de como, quando e aonde ele vai nos atacar (HSM, maio 2020), do do médico psiquiatra e psicanalista Jorge Forbes. Veja mais aqui.

 

OUTROS DITOS

Eu gosto de acordar de manhã e pensar: ‘Quem eu quero ser hoje?’... Acho que só uma mulher entende o corpo de outra mulher... A ideia do que é uma feminista mudou tanto que precisa haver uma nova palavra para isso...

Pensamento da escritora e designer de moda inglesa, Trinny Woodall.

 

A ASTROFÍSICA DE JO DUNKLEY

[...] Cem anos atrás, se você fosse uma astrônoma, não usaria telescópios porque era considerado muito físico e talvez você se sujasse... [...] Eu não tinha a mínima ideia sobre astronomia, só achava que era uma maneira divertida de resolver problemas, e aí, na universidade, comecei a perceber o quão estranha e mágica a astrofísica podia ser... [...] Descobrir que algo estava errado e que precisávamos encontrar uma nova teoria... é como a emoção máxima. [...] Então, continuei, mas não tinha o grande sonho de ser astrônomo, nem mesmo professor. Não achei que acabaria no meio acadêmico. [...] Conhecemos muito bem o nosso próprio sistema solar, mas quando pensamos em todas essas estrelas com seus próprios planetas e em como eles podem ser... Alguns serão rochosos, alguns serão bolas de gás, alguns poderão ser habitáveis. Provavelmente, se você perguntasse à maioria dos astrônomos, a maioria deles pensaria que alguns desses planetas terão a chance de abrigar vida. [...].

Trechos da entrevista concedida ao The Saturday Paper (2020), pela professora e astrofísica britânica Jo Dunkley (Joanna Dunkley), que investiga as origens do universo aplicando radiação cósmica de fundo em micro-ondas e utilizando o Atacama Cosmology Telescope, o Simons Observatory e o Large Synoptic Survey Telescope (LSST).

 

EDUCAÇÃO PSÍQUICA MENTAL

A transformação é lenta, é dureza, é trabalho. Só você pode fazer... O que chamamos vida talvez seja uma coisa muito mais caótica do que gostaríamos. É uma sucessão contingencial de encontros, desencontros, eventos, erros e acertos; a eterna batalha entre o caos e a ordem. Buscamos ordenações, e isso é muito importante, mesmo que sejam ficcionais. O simbólico não é nem verdadeiro nem falso, mas uma ferramenta de ancoragem, de ordenação... A lógica do ideal é sempre estar longe do eu, mostrar que aquilo que você tem não dá a completude imaginada, sempre é sofrimento, é incompletude. O que te move é a cenourinha na frente do burrinho. Cadê a totalidade? Você não conseguiu aquilo que idealizou. É preciso mais um ano para reprojetar e ter gás para continuar o movimento...

Pensamento da psicóloga psicanalista, professora e escritora Maria Homem (Maria Lucia Stacchini Ferreira Homem), autora do livro No limiar do silêncio e da letra (Boitempo, 2012) e coautora dos livros Coisa de menina? (Papirus, 2019) e Lupa da alma (Todavia, 2020).

 

A MÚSICA DE MARIA CLODES JAGUARIBE
A arte da pianista Maria Clodes Jaguaribe (1928-2015) que foi uma das mais conceituadas mestras do departamento de piano na Escola de Música da Universidade Boston, nos Estados Unidos, e diretora das classes de verão para jovens pianistas do famoso Festival de Tanglewood, desde 1975 e, por isso, construindo um dos mais respeitados nomes entre os mestres de piano do terriotório estadunidense. Ela realizou a gravação integral da obra para piano do músico e compositor alemão Robert Schumann (1810-1856). Veja mais aqui.
&
A MÚSICA DE RENATA ROSA
É uma experiência enriquecedora. Cada plateia reage de uma forma diferente. Algumas músicas ganham sentidos diferentes para cada tipo público. Essa é a melhor parte, nós já fizemos shows em teatros, com todo mundo sentado, e também fizemos festivais ao ar livre. A influência disso acaba indo para o processo de composição também.
RENATA ROSA - A arte da premiada cantora, atriz, compositora, rabequeira, poeta e pesquisadora Renata Rosa, que estudou Letras e Fonoaudiologia na USP (1992-1998) e Música com habilitação em Canto na Universidade Livre de Música Tom Jobim (1995 - 2000) em São Paulo e integrou o Núcleo de Ação e Performance do Polo Sul Americano do Ator Contemporâneo (1998 – 2002) no Rio de Janeiro e em Cleveland (Ohio). Ela já gravou os álbuns Zunido da mata (2002), Manto dos sonhos (2008) e Encantações (2015), atuando no Cavalo-Marinho Boi Brasileiro, de Condado – PE, desde 1998, e se apresentando por palcos europeus e mundo afora. Veja mais aqui.

A ARTE DE JOSELY CARVALHO
Minha obra como artista tem sido sempre baseada em longas pesquisas onde a história se entrelaça e fortalece o momento atual. Houve também uma identificação com o emigrante já que vivi muitos anos fora do Brasil presenciando a realidade daquele que por várias razões sai do seu país e enfrenta as dificuldades de não pertencer.
JOSELY CARVALHO - A arte da premiada poeta, pintora, escultora, gravurista e artista de livros, vídeo e instalação, Josely Carvalho, que se tornou uma artista multidisciplinar por incorporar em sua obra diversas mídias e procura dar voz à memória, à identidade e à justiça social, enquanto desafia consistentemente as fronteiras entre artista e público, arte e política. Veja mais aqui.

PERNAMBUCULTURARTES
A arte musical do Samba de Coco Raízes de Arcoverde, fundado em 1992 pelo Mestre Lula Calixto (1952-1999), e incorpora elementos das culturas indígena e negra, apresentando-se por todo país e exterior, a exemplo da Alemanha, Bélgica, Itália Noruega e França com sua sonoridade percussiva, depois de lançar dois álbuns, o primeiro em 2000 com o nome do grupo e, o segundo, Godê pavão (2002), mantendo o mote: A caravana não morreu não morreu nem morrerá.
&
A música do arranjador, maestro, compositor e multi-instrumentista Moacir Santos (1926-2006) aqui.
Sem fraude nem favor: estudos sobre o amor romântico (Rocco, 1998), do psicanalista e professor Jurandir Freire Costa aqui.
A arte do poeta, compositor e intérprete Jessier Quirino aqui.
O protagonismo da mulher rural no contexto da dominação, da pesquisadora Isaura Rufino Fischer aqui.
Jerry Xemenexem aqui.
&
Ibirajuba aqui & aqui.

 

CRÔNICA DE AMOR POR ELA:

Quando ela é mar rompendo meus limites, sou mergulho voluntário pra me afogar nela.

Veja mais Literótica aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.

  


segunda-feira, julho 15, 2019

BOCCACCIO, NADINE GORDIMER, JULIA FISHER, VICTORIA MONTESINOS, ART-MAIL ARGENTINA, DIA DO HOMEM & CARTA DE JULHO


CARTA DE JULHO - Estou de volta sem nunca ter ido. Essa a sensação das canções e versos imaginários: nunca tomei conhecimento das minhas limitações, um tolo ousado à toa. No máximo, privei apenas da companhia dos meus anônimos abantesmas que saltam do inopinado para peiticarem, uns aos outros, e comigo, no estrelato das minhas invencionices entre paredes, páginas e escuridades. Riem como se gozassem da eternidade da minha criação. Ignoram que sucumbi ao ostracismo, beijado por engano, saldo estornado, de parecer um ciclope sem nariz ou horroroso asco, afinal tudo é tão patético, falso decepcionante, para quem é sempre tarde demais e a verdade leva ao desespero. Grosso modo, abrir mão das minhas doidices, nunca. Nem poderia ter sonhado tanto entre tragédias pessoais e turbulências históricas. Sou tal o meu país: tudo para ser bem-aventurado, na horagá, reduzido a flatulências, eructações, coprólitos, conspurcações. Posso ter ficado tantã por amargar o fracasso ao ser mal recebido depois da aventura dos sonhos, como se condenado ao esquecimento ainda em vida. Nem esperaram que eu morresse de mesmo, uma lembrança sequer. Entre os meus detratores, tudo é recusa e nem revelei o que sinto e já me estranham: a suspeita das minhas insanidades, minhas exóticas preferências aos olhos dos outros, o caráter incomum, repugnante, sei lá. Nunca tive receita para nada, nem me enquadrei direito no molde dos ditos civilizados. Minhas obsessões, nem mesmo saberia. Fiquei de boca aberta com os que se celebrizaram em reunir posses e fortunas, como se queimassem dolosamente álbuns de recordações em que juraram eterno estreitamento, ah, isso foi que não sabia, porque cultuam até hoje a banalidade de arrancar uma árvore assim do nada, acabar com a vida do semelhante por vingança ou prazer, maldizer de tudo: os do contra e, às vezes, até os a favor pregam tantas peças, os reconheço malditos pregadores furiosos da fé, que se benzem aos mínimos sinais de agouros, com suas fiéis nos céus que abominam minorias étnicas e sexuais dos seus infernos. Ah, nada demais se só acumulei perdas, a travar conversas com mortos ou distantes de décadas, não tenho a quem confiar pouquíssimas alegrias ou abissais tristezas. A vida prossegue apesar de mim. Sei, pus tudo a perder por amar demais, querer demais, escolhas que fiz na vida - mesmo ao acertar o alvo, não era, findava fora de órbita completamente errado, como quem roda o mundo sem sair do lugar, à procura o Homem de Java, quem sabe me diga algo de primordial, mesmo que eu não saiba javanês, zeros e uns traduzem agora tudo, qualquer código, vai que cola, a bronca a gente deixa para depois. Talvez aprenda o riscado: para se dar bem não precisa ser o máximo tampa nisso ou naquilo, hoje fazer de conta já basta, empurrar com a barriga, levar nas coxas, é o suficiente. Sempre me disseram: saber demais endoida. Nunca soube nada, precisava aprender, uma sombra movente sobre a Terra e o meu sangue pisado por me ver responsável por certas coisas e tais, as quais nem sei se mesmo da minha alçada, perplexo diante do amor degradado. E alguém me diz que sou ancião, nem havia me dado conta disso. É. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Eles se apaixonaram no país dela. Encontraram-se lá. O táxi em que ele estava derrapou e bateu no carro dela. [...] Um bafafá por nada. – Disse isso como se fosse algo que ele e ela, em suas categorias de cliente de táxi e proprietária de carro, pudessem avaliar à vista do nível de indignação do paquistanês, ou qualquer que fosse a nacionalidade do motorista do táxi [...] Um estranho passo na vida, muito longe do que era esperado entre amigos e família. Entretanto, os poderosos países europeus estão acostumados a todo tipo de invasão, tanto beligerante quanto pacífica, e esse estrangeiro, que entrara legalmente, representava grandes negócios e era a prova individual de que o mundo aceitara o arrependimento alemão em relação ao passado [...] Sentia-se feliz de ver que estava entendendo tudo o que se dizia na língua dele, ainda que não pudesse usá-la com confiança suficiente para se fazer ouvir [...] Ao redor da esposa as referências vão e voltam, num jargão de grupo – toda roda tem isso, algo da experiência comum. Era a mesma coisa entre os amigos dela, em sua vida pregressa na Alemanha. Piadas que você não entende mesmo que conheça as palavras; que só entende se souber o que ou quem está na berlinda. Ela tampouco sabe as frases, as palavras afetuosas, condescendentes, que são o meio de expressão de gente que adapta e mistura línguas, exclamações, expressões idiomáticas numa espécie de inglês eu não é usado por gente instruída como eles [...] Eles usavam a palavra em várias formas diferentes; ela procurou no dicionário, mas á o significado era aquilo “que causa espanto, que causa medo, que assusta, que causa admiração por ser muito bom ou agradável” [...] Ela estava sozinha e riu – sem saber do quê. Continuava sentada ao lado da mulher e do marido abraçados, celebrando um ao outro, naquele jeito fácil dos que têm antigos laços de intimidade codificados em diálogos na língua materna, libertados pelo vinho e pelos bons momentos vividos por todos. Ela ria quando os outros riam. Depois sentava calada e ninguém reparava nela. É que ela não conhecia a língua [...].
Trechos da obra Beethoven era 1/16 negro e outros contos (Companhia das Letras, 2007), da escritora sul-africana e Prêmio Nobel de Literatura em 1991, Nadine Gordimer (1923-2014). Veja mais aqui.

A MÚSICA DE JULIA FISHER
Como violinista, tenho mais comunicação com a orquestra; afinal, tenho atrás de mim outros 20 colegas de arco e posso tocar os tutti sinfônicos com eles. Quando toco piano, penso de modo mais melódico do que os pianistas, por causa da minha formação como violinista. E quando toco violino, penso mais polifonicamente do que a maioria dos violinistas.
Curtindo os álbuns Poème (Deccca, 2011), Paganini (Decca, 2010) & Sarasate (Decca, 2014), da violinista e pianista alemã Julia Fisher, que é professora na Universidade de Música e Artes Cênicas de Munique, Alemanha. Veja mais aqui.

A ARTE DE VICTORIA MONTESINOS
Meu trabalho propõe um diálogo sobre uma mistura cultural baseada em experiências pessoais vividas e compartilhadas com pessoas e idiossincrasias diferentes. O objetivo é convidar o espectador a explorar e se comunicar com um universo de memórias e emoções onde, em todas as formas sensoriais e fusões de cores, há uma nova afirmação substancial.
A arte da artista visual mexicana Victoria Montesinos. Veja mais aqui.

A OBRA DE BOCCACIO
Os ignorantes julgam a interioridade a partir da exterioridade.
A obra do poeta e critico literário italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375) aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aqui, aquiaqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
&
ESTAMOS NA ARGENTINA
Participamos da Convocatória Internacional de Art-Mail que se encontra em exposição na secretária universitária da Universidad Nacional de San Martin (UNSAM), em Buenos Aires, Argentina. Veja mais aqui.
&
O MELHOR DO DIA DO HOMEM É SABER QUE TODO DIA É DIA DA MULHER
Arte do artista visual indiano Afsar Chandroth
Confira aqui.


segunda-feira, setembro 19, 2016

NIETZSCHE, GORDIMER, DULCE PONTES, D 'ASSUNÇÃO BARROS, JEJU LOVELAND, GIOVANNA CASOTTO & KHARLOS CESAR


POESIA NÃO DEU, SÓ NOUTRA - No começo da adolescência, Bestinha engraçou-se pelos dotes juvenis da Varnilza. Fez de tudo para conquistá-la – principalmente pra se livrar do prazer descoberto de amolegar e morrer na mão. Aproximou-se dela encostada à sombra do cajueiro: - Oi, tais fazendo o que? Livro - o que pra ele era obrigação da escola e incluso no rol das coisas antipáticas. Poesias? Danou-se! Duas coisas, a seu ver, mais chatas do mundo. Soubesse quem inventou, mandava matar. E ela: coisas que embalam o coração, satisfação da alma. Agora deu, destá! Queria namorico com ela de qualquer jeito, virou-se pro sacrifício. Foi na biblioteca – um peixe fora d’água, nada mais embaraçoso -, exigindo o melhor de todos: deram-lhe Olavo Bilac. Pregou os olhos, páginas, volumes, não entendeu patavina. Reclamou: que coisa!?! Abusou-se e saiu revoltado. Ao passar pelo Clube Literário, parou pra ouvir o que os posudos falavam: Augusto dos Anjos. No outro dia voltou pra biblioteca e saiu folheando leitura atenta dos clássicos e parnasianos – parecia grego, complicadíssimo ao seu entendimento. Armou-se de dicionários e enciclopédias – doravante seus companheiros inseparáveis na empreitada -, tentando compreender tudo para impressioná-la. Quase desistia, não fosse um grupo de poetas locais e um deles sapecar completamente embriagado: Lá vem a lua saindo, redonda como um tijolo, não é lua, não é nada, viva Dom Pedro I! Oxe, disse ele de si pra si, isso eu também faço! Poetas-de-água-doce. Teve um estalo e foi pras providências, catando polissílabos proparoxítonos – as lindas de morrer, pra ele – e caprichava na entonação de quase dar um nó na língua ou morrer engasgado com a pronúncia – tinha de ser, quanto mais difícil, melhor. E ouviu um rábula com versos em juridiquês, o contador proseando economês, o boticário com léxicos de ciência estrambólica e, quanto mais ouvia, mais se pavoneava com verborragia carregada e catada a dedo. Imitava o jeito afetado, copiava a performance, talqualzinho. Quando conseguiu juntar a garatuja toda no primeiro esboço rascunhado, correu pra ela. Inchou o peito e não teve coragem, deu branco e não conseguia articular palavra alguma. Nossa! Arreado de decepção, resolveu reescrever tudo e treinar noite madrugada adentro, dias seguidos. Procurou por ela e não achou, havia reunião do Grêmio Estudantil e todos estavam no meio de um recital aplaudido pelos professores. Ah, chegaria o dia da vez dele. Ela lá na maior euforia, ele encantado, ficou na sua. Reviu tudo, dez laudas enroladas ao bolso e foi ter de novo com ela, pra valer. Chegando, impostou a voz, pigarreou pra entonação melhorar e mandou ver na sua cria. Um desastre: deu-lhe uma gagueira da peste, atropelando tudo de se engasgar e não conseguir mencionar nem duas linhas. Fracasso total. Escabreado, tomou fé e refez tudo. Agora vai! Semanas depois caprichou na investida, chegou perto dela, respirou fundo, tomou coragem e mandou bala. Ela, hipnotizada; ele empolgado, abafando, quase dos dentes pularem fora no repuxo. Quando terminou o imbróglio, olhou pra ela, ainda paralisada, ousou perguntar: e aí? Demorou um pouco, restabelecida do trampo ela conseguiu balbuciar: que porra é essa? Como? Nunca ouvi nada tão horroroso! E ousou mais: você está com febre, endoidou ou o quê? Vixe! O mundo desabou sobre Bestinha: queria um buraco aberto pra sumir dentro! Era uma vez, nunca mais. Tentou até ainda algumas duas vezes, aprumando nos sentimentos e dor de cotovelo, desgostou de tudo, abandonando definitivamente de se meter com poesia. E saiu reclamando: vá entender as mulheres, vá! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui e aqui.

UMA MÚSICA
Curtindo o álbum duplo ao vivo O coração tem três portas (Zona Música, 2006), da premiada cantora portuguesa Dulce Pontes.

PESQUISA: GAIA CIÊNCIA - Separação e hierogamia: o passo inicial para a criação não se dá com a união dos elementos, mas exatamente através do processo inverso. Tal ocorre quando se rompe o caos para que a Luz (Aithér), sucedendo à Noite (Nýks), ilumine o espaço entre Gaia ou Gê (Terra) e Ouranós (Céu), e o mundo emerja com a aparição de Póntos (Mar), oriundo da própria Terra. Todos esses nascimentos, segundo a compilação de Hesíodo (Teogonia, 132), produzem-se sem intervenção de Eros (Amor), força dinâmica do processo criador que une os opostos. [...] Na Grécia, do mesmo modo, a partir de um rico substrato religioso pré-helênico (cretomicênico), concebia-se Urano (Céu) e Gaia (Terra) como geradores dos Titãs, que, à exceção de Mnemósine e Têmis, se uniram todos entre si: Oceano e Tétis, Hipérion e Téia, Ceo e Febe, Crono e Réia. Só Jápeto e Crio tomaram consortes fora de sua própria linhagem. [...] A Terra (Gaia) continuava encarada como o fator de estabilidade e Mãe do Universo, dando orientação ao espaço desorganizado do Caos, que representava uma realidade permanente e sempre ameaçadora. A exemplo de outras concepções mitológicas, a greco-romana fixa o estabelecimento da ordem sob o reino de Zeus (Júpiter) como resultado da sequência de gerações e lutas divinas. Mas o demônio ctônico Píton, personificando o Caos em forma de serpente (a Apep dos egípcios), era tido como ameaça constante de retorno ao estado primitivo., pois se emergisse destruiria o Sol, confundiria todas as direções do espaço e reuniria Terra e Céu. (Enciclopédia Mirador Internacional, vol. 14). Gaia já foi o nome da deusa que, na mitologia dos antigos povos romanos, representava a Terra e se ligava à fertilidade, portanto, à vida. A palavra, transformada em adjetivo e no decorrer da história das sociedades medievais, passaria a ter significados como "mundano" (no sentido de inserido no mundo), mas também "alegre", "intensamente vivo", "plenamente livre". Um pouco de cada um desses sentidos aparece na incorporação do adjetivo "gaia" à palavra "ciência", para designar a arte poética dos trovadores europeus da Idade Média Central (séculos XII a XIV). A Gaia Ciência, portanto, é aqui entendida como a "alegre ciência" ou o "alegre saber" dos trovadores medievais, que é um saber inteiramente dedicado à capacidade de viver intensamente, ao envolvimento amoroso, à exaltação da natureza, à experiência da verdadeira liberdade e, sobretudo, à fina arte de tecer versos e fazer da própria vida individual, ela mesma, uma obra de arte. [...] Trecho extraído do artigo acadêmico A gaia ciência dos trovadores medievais (Revista de Ciências Humanas - EDUFSC, abr-out, 2007), do historiador e musicólogo José D 'Assunção Barros. Veja mais aqui, aqui, aqui e aqui.

UM LIVRO, UMA LEITURA: 
[...] Nessa noite, fez amor com ela com a ternura recíproca [...] contra a qual se guardara – com uns poucos lapsos -, não podia se dar ao luxo de um compromisso naquela situação, precisava estar apto a pegar aquilo que o próximo apoio tivesse a oferecer, fosse o que fosse. Nessa noite, fizeram amor, o tipo de amor que é um outro país, um país em si mesmo, nem seu nem meu. [...]
Trecho extraído do romance O engate (Texto, 2005), da escritora sul-africana e Prêmio Nobel de Literatura em 1991, Nadine Gordimer (1923-2014), contando a história de um relacionamento arrebatador entre uma bem-sucedida mulher branca e um mecânico de pele escura no pós-apartheid.


PENSAMENTO DO DIA: A GAIA CIÊNCIA PARA ALÉM DO BEM E DO MAL - Supondo-se que a verdade seja feminina — e não é fundada a suspeita de que todos os filósofos, enquanto dogmáticos, entendem pouco de mulheres? Que a espantosa seriedade, a indiscrição delicada com que até agora estavam acostumados a afrontar a verdade não eram meios pouco adequados para cativar uma mulher? O que há de certo é que essa não se deixou cativar — e os dogmáticos de toda a espécie voltaram-se tristemente frente a nós e desencorajaram-se. [...] O que nos incita a olhar todos os filósofos de uma só vez, com desconfiança e troça, não é porque percebemos quão inocentes são, nem com que facilidade se enganam repetidamente. Em outras palavras, não é frívolo nem infantil indicar a falta de sinceridade com que elevam um coro unânime de virtuosos e lastimosos protestos quando se toca, ainda que superficialmente, o problema de sua sinceridade. Reagem com uma atitude de conquista de suas opiniões através do exercício espontâneo de uma dialética pura, fria e impassível, quando a realidade demonstra que a maioria das vezes apenas se trata de uma afirmação arbitrária, de um capricho, de uma intuição ou de um desejo intimo e abstrato que defendem com razões rebuscadas durante muito tempo e, de certo modo, bastante empíricas. Ainda que o neguem, são advogados e frequentemente astutos defensores de seus preconceitos, que eles chamam "verdades" [...] o amor como paixão — que é a nossa especialidade européia — foi inventado pelos poetas-cavaleiros provençais, esses seres humanos magníficos e inventivos do ‘gai saber’ a quem a Europa deve tantas coisas e a quem quase inteiramente se deve ela própria [...]. Trechos extraídos da obra Para além do bem e do mal ou prelúdio de uma filosofia do futuro (Companhia das Letras, 1997), do filósofo alemão Friedrich Nietzsche (1844-1900), composta por nove partes com 296 seções numeradas e um “epode” - poema intitulado Das montanhas altas -, que tratam de diversos assuntos como a influência dos preconceitos populares no trabalho do erudito e do filósofo; a conceituação nietzscheana de liberdade e espírito livre e sua expectativa sobre a filosofia do futuro; a essência do homini religiosi, suas diversas facetas e seu comportamento frente à ciência; análises acerca da moral corrente, da filosofia, da ciência e da mente do erudito europeu; um ensaio sobre a condição política da Europa, a "moral aristocrática" e a moral cristã, entre outros assuntos. Veja mais aqui e aqui.

UMA IMAGEM
 A arte do fotógrafo angolano Kharlos Cesar.

Veja mais sobre Nascente – Publicação Lítero Cultural, Bertolt Brecht, Steven Pinker, Luiz Ruffato, Rocio Jurado, Gilvan Pereira, Greta Garbo, Literatura Infantil, Teatro Infantil, Albert Marquet, Neila Tavares & Bruno Gaudêncio aqui.

E mais:
Paulo Freire, William Blake, José Louzeiro, Cesar Camargo Mariano, Joaquin Oristrell, Mitodrama, Olivia Molina, Literatura Infantil, Gilberto Geraldo & Infância, imagem e Literatura aqui.
As trelas do Doro aqui.
Vera indignada aqui.
Estopô calango aqui.
A Filosofia de Ascenso Ferreira aqui.
Fecamepa: o Brasil do século XVI aqui.

DESTAQUE: 
Jeju Loveland é um parque temático com 140 esculturas e exposições interativas com temáticas eróticas, voltadas para educação sexual, na ilha de Jeju, na Coreia do Sul. Veja mais aqui.

CRÔNICA DE AMOR POR ELA

A arte da escritora e ilustradora de quadrinhos italiana Giovanna Casotto.
Veja aqui e aqui.

CANTARAU: VAMOS APRUMAR A CONVERSA
Paz na Terra:
Recital Musical Tataritaritatá - Fanpage.
Veja  aqui e aqui.
 

ANNE CARSON, MEL ROBBINS, COLLEEN HOUCK & LEITURA NA ESCOLA

    Imagem: Acervo ArtLAM . Ao som do álbum Territórios (Rocinante, 2024), da premiada violonista Gabriele Leite , que possui mestrado em...