segunda-feira, julho 15, 2019

BOCCACCIO, NADINE GORDIMER, JULIA FISHER, VICTORIA MONTESINOS, ART-MAIL ARGENTINA, DIA DO HOMEM & CARTA DE JULHO


CARTA DE JULHO - Estou de volta sem nunca ter ido. Essa a sensação das canções e versos imaginários: nunca tomei conhecimento das minhas limitações, um tolo ousado à toa. No máximo, privei apenas da companhia dos meus anônimos abantesmas que saltam do inopinado para peiticarem, uns aos outros, e comigo, no estrelato das minhas invencionices entre paredes, páginas e escuridades. Riem como se gozassem da eternidade da minha criação. Ignoram que sucumbi ao ostracismo, beijado por engano, saldo estornado, de parecer um ciclope sem nariz ou horroroso asco, afinal tudo é tão patético, falso decepcionante, para quem é sempre tarde demais e a verdade leva ao desespero. Grosso modo, abrir mão das minhas doidices, nunca. Nem poderia ter sonhado tanto entre tragédias pessoais e turbulências históricas. Sou tal o meu país: tudo para ser bem-aventurado, na horagá, reduzido a flatulências, eructações, coprólitos, conspurcações. Posso ter ficado tantã por amargar o fracasso ao ser mal recebido depois da aventura dos sonhos, como se condenado ao esquecimento ainda em vida. Nem esperaram que eu morresse de mesmo, uma lembrança sequer. Entre os meus detratores, tudo é recusa e nem revelei o que sinto e já me estranham: a suspeita das minhas insanidades, minhas exóticas preferências aos olhos dos outros, o caráter incomum, repugnante, sei lá. Nunca tive receita para nada, nem me enquadrei direito no molde dos ditos civilizados. Minhas obsessões, nem mesmo saberia. Fiquei de boca aberta com os que se celebrizaram em reunir posses e fortunas, como se queimassem dolosamente álbuns de recordações em que juraram eterno estreitamento, ah, isso foi que não sabia, porque cultuam até hoje a banalidade de arrancar uma árvore assim do nada, acabar com a vida do semelhante por vingança ou prazer, maldizer de tudo: os do contra e, às vezes, até os a favor pregam tantas peças, os reconheço malditos pregadores furiosos da fé, que se benzem aos mínimos sinais de agouros, com suas fiéis nos céus que abominam minorias étnicas e sexuais dos seus infernos. Ah, nada demais se só acumulei perdas, a travar conversas com mortos ou distantes de décadas, não tenho a quem confiar pouquíssimas alegrias ou abissais tristezas. A vida prossegue apesar de mim. Sei, pus tudo a perder por amar demais, querer demais, escolhas que fiz na vida - mesmo ao acertar o alvo, não era, findava fora de órbita completamente errado, como quem roda o mundo sem sair do lugar, à procura o Homem de Java, quem sabe me diga algo de primordial, mesmo que eu não saiba javanês, zeros e uns traduzem agora tudo, qualquer código, vai que cola, a bronca a gente deixa para depois. Talvez aprenda o riscado: para se dar bem não precisa ser o máximo tampa nisso ou naquilo, hoje fazer de conta já basta, empurrar com a barriga, levar nas coxas, é o suficiente. Sempre me disseram: saber demais endoida. Nunca soube nada, precisava aprender, uma sombra movente sobre a Terra e o meu sangue pisado por me ver responsável por certas coisas e tais, as quais nem sei se mesmo da minha alçada, perplexo diante do amor degradado. E alguém me diz que sou ancião, nem havia me dado conta disso. É. © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais aqui.

DITOS & DESDITOS:
[...] Eles se apaixonaram no país dela. Encontraram-se lá. O táxi em que ele estava derrapou e bateu no carro dela. [...] Um bafafá por nada. – Disse isso como se fosse algo que ele e ela, em suas categorias de cliente de táxi e proprietária de carro, pudessem avaliar à vista do nível de indignação do paquistanês, ou qualquer que fosse a nacionalidade do motorista do táxi [...] Um estranho passo na vida, muito longe do que era esperado entre amigos e família. Entretanto, os poderosos países europeus estão acostumados a todo tipo de invasão, tanto beligerante quanto pacífica, e esse estrangeiro, que entrara legalmente, representava grandes negócios e era a prova individual de que o mundo aceitara o arrependimento alemão em relação ao passado [...] Sentia-se feliz de ver que estava entendendo tudo o que se dizia na língua dele, ainda que não pudesse usá-la com confiança suficiente para se fazer ouvir [...] Ao redor da esposa as referências vão e voltam, num jargão de grupo – toda roda tem isso, algo da experiência comum. Era a mesma coisa entre os amigos dela, em sua vida pregressa na Alemanha. Piadas que você não entende mesmo que conheça as palavras; que só entende se souber o que ou quem está na berlinda. Ela tampouco sabe as frases, as palavras afetuosas, condescendentes, que são o meio de expressão de gente que adapta e mistura línguas, exclamações, expressões idiomáticas numa espécie de inglês eu não é usado por gente instruída como eles [...] Eles usavam a palavra em várias formas diferentes; ela procurou no dicionário, mas á o significado era aquilo “que causa espanto, que causa medo, que assusta, que causa admiração por ser muito bom ou agradável” [...] Ela estava sozinha e riu – sem saber do quê. Continuava sentada ao lado da mulher e do marido abraçados, celebrando um ao outro, naquele jeito fácil dos que têm antigos laços de intimidade codificados em diálogos na língua materna, libertados pelo vinho e pelos bons momentos vividos por todos. Ela ria quando os outros riam. Depois sentava calada e ninguém reparava nela. É que ela não conhecia a língua [...].
Trechos da obra Beethoven era 1/16 negro e outros contos (Companhia das Letras, 2007), da escritora sul-africana e Prêmio Nobel de Literatura em 1991, Nadine Gordimer (1923-2014). Veja mais aqui.

A MÚSICA DE JULIA FISHER
Como violinista, tenho mais comunicação com a orquestra; afinal, tenho atrás de mim outros 20 colegas de arco e posso tocar os tutti sinfônicos com eles. Quando toco piano, penso de modo mais melódico do que os pianistas, por causa da minha formação como violinista. E quando toco violino, penso mais polifonicamente do que a maioria dos violinistas.
Curtindo os álbuns Poème (Deccca, 2011), Paganini (Decca, 2010) & Sarasate (Decca, 2014), da violinista e pianista alemã Julia Fisher, que é professora na Universidade de Música e Artes Cênicas de Munique, Alemanha. Veja mais aqui.

A ARTE DE VICTORIA MONTESINOS
Meu trabalho propõe um diálogo sobre uma mistura cultural baseada em experiências pessoais vividas e compartilhadas com pessoas e idiossincrasias diferentes. O objetivo é convidar o espectador a explorar e se comunicar com um universo de memórias e emoções onde, em todas as formas sensoriais e fusões de cores, há uma nova afirmação substancial.
A arte da artista visual mexicana Victoria Montesinos. Veja mais aqui.

A OBRA DE BOCCACIO
Os ignorantes julgam a interioridade a partir da exterioridade.
A obra do poeta e critico literário italiano Giovanni Boccaccio (1313-1375) aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
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ESTAMOS NA ARGENTINA
Participamos da Convocatória Internacional de Art-Mail que se encontra em exposição na secretária universitária da Universidad Nacional de San Martin (UNSAM), em Buenos Aires, Argentina. Veja mais aqui.
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O MELHOR DO DIA DO HOMEM É SABER QUE TODO DIA É DIA DA MULHER
Arte do artista visual indiano Afsar Chandroth
Confira aqui.


PATRICIA CHURCHLAND, VÉRONIQUE OVALDÉ, WIDAD BENMOUSSA & PERIFERIAS INDÍGENAS DE GIVA SILVA

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