TRÍPTICO DGF – AQUELA DE... VALUNA, UM RIO,
UMA MULHER - Ô de casa, dá licença!?! Nasci entre um rio e um sorriso de mulher!
Para sempre Carma no meu coração,
como as matas de não mais, só canaviais florados, pastos, loteamentos ou queimadas
nos matagais. Como o rio, quase não mais, não mais acari, nem carito, nem ambulantes de Deus. Ah, o poema de João Cabral: A um rio sempre espera / um mais vasto e
ancho mar. / Para a agente que desce / é que nem sempre existe esse mar, / pois
eles não encontram / na cidade que imaginavam mar / senão outro deserto / de
pântanos perto do mar. / Por entre esta cidade / ainda mais lenta é minha
pisada; / retardo enquanto posso / os últimos dias da jornada. / Não há talhas
que ver, / muito menos o que tombar: / há apenas esta gente/ e minha simpatia
calada. Para mim só as
visagens emolduradas na memória. Só com os detritos da invernada ou intermitência
das enchentes ameaçadoras é que presenciam e revivem, logo depois nem se lembram
de nada com varrições de ganância e egoísmo nos aterros, assolações, laivos e imundícies,
muito lixo invade minha casa e Mário Sérgio Cortela me diz: Se não quiser
uma cidade suja, não deposite lixo na urna. E Jody Williams reitera: Acredito que é meu
direito e minha responsabilidade trabalhar para criar um mundo que não
glorifique a violência e a guerra, mas que busquemos soluções diferentes para
nossos problemas comuns. Então,
invento e me reinvento: do meu peito a fonte a
escorrer do corpo pelas mãos à foz dos meus pés, a singrar o mar que tudo banha
no meu chão. Então brinco entre peixes e aguapés e algas que são aves e
gorjeiam nos galhos das almas feitas abusões risíveis e amedrontadoras,
enquanto faço a vida e sou Valuna, Bacuna, Diauna, Unadia, Rio Una.
DUAS HORAS: ONDE ESTOU QUE NÃO SEI... - Imagem: O luar (Dois Irmãos), do pintor Ismael Nery - Ah, assim tão só, sou indefinível. Afinal, fiz o melhor que pude e foi
pouco, nem me satisfiz. Encaro o perigo e não me enquadro em regra nenhuma, nem
uso chapéus ou máscaras, dou a cara nua à tapa. Nunca desisti e apesar de
subterrâneo sempre estive longe da positividade tóxica, porque sei que não há
pote de ouro algum no fim do arco-íris. Sou absurdo para todos os olhos, uns
tantos paradoxos a mais. Ouvi o psicólogo canadense Jordan Peterson: A
maneira apropriada de se consertar o mundo não é consertando o mundo; não há
razão para se presumir que você sequer seja capaz dessa tarefa. Mas, você pode
consertar a si mesmo; não causará nenhum mal a ninguém fazendo isso. E, nesse
caso, pelo menos, você fará do mundo um lugar melhor. Assim, coração peito
aberto, não sei onde estou: se perdido na Groenlândia ou tremendo de frio na
Terra do Fogo, ou onde quer que seja, apátrida ex-humano, qualquer coisa entre
seres vivos, voo para ser-me.
TRÊS MINUTOS & TODAS ELAS SÃO NELA... – Imagem: Art by Elza Barroso - Ah, é ela Calíope
voz melíflua aos ouvidos do meu coração; é Clio
proclamando a história do que foi e será, é Erato a versar a maior poesia; é Melpômene alisando minha pele para fechar as feridas cálidas do meu
corpo; é Polímnia nua no meu corpo
para iniciação de todos os mistérios da vida; é Tália em flor para a entrega perfumada do amor; é Terpsícore para dançar de Sol na minha
escuridão; é Urânia esplendorosa
para que eu seja o universo em seus domínios; é ela Euterpe para que eu cante Taiguara:
Teu sonho não acabou... / Lá onde estive o
sonho acabou / Cá onde eu te encontro só começou / Lá colhi uma estrela pra te
trazer... / Ah! Eu preciso, eu preciso muito... Ah, beijo os lábios dela e o seu sexo é Deus
irradiando vida no meu em festa cósmica de todos os renascimentos. E nela fervo
por todos os céus dos paraísos e todos os infernos do mundo e sou mais que dia ao
amanhecer. E ela luz&ar como se
nem fosse ou nunca foi. Até mais ver.
RAÇA & JUSTIÇA
[...] Há uma dimensão antagonística, um “conflito racial” que não é redutível a um fundamento único, jurídico ou não, ou seja, a condição da verdadeira emancipação racial, como movimento da opacidade à transparência, fluxo de justiça, é uma opacidade constitutiva que nenhum fundamento jurídico, político, moral ou epistemológico pode erradicar. A construção da justiça e da democracia, racial ou não, será sempre habitada por uma incompletude e provisoriedade inultrapassáveis, assim como as identidades que as instituem. [...].
Trecho
extraídos da obra Raça e Justiça: o mito da democracia racial e o racismo
institucional no fluxo de justiça (Massangana, 2009), do sociólogo e professor Ronaldo Laurentino de Sales Júnior.
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