TRÍPTICO DGF – AQUELA DE... A FOGUEIRA
INFERNAL - Era uma vez o Coisonario (ou era Nerocoiso ou Coisonero, sei lá, um desse aí)
queria ser rei. Não era, mas por força das circunstâncias mais escusas e de uma
série de fatores que vão de “z” a “a”, pouco importa, virou majestade em Roma-Fecamepa. Foi um desgoverno! Não
poderia ser diferente: extravagâncias e tiranias permearam a ponto dele botar
em dia sua especialidade de matar e saiu dando peteleco letal na vida duns
desafetos. Acercou-se dum ministério todo de pateta pau-mandado E, um dia lá,
emborcou um estoque de barris da teibei
e findou por tascar fogo em todo império, não sobrou nada do Pantanal nem da
Amazônia, restando chão esturricado e toda espécie de fauna e flora devidamente
torrados. Verdade seja dita, ele queria mesmo mudar o nome do lugar,
instaurando o reino da Pirandria, aquele mesmo dos homens de fogo, do Supplément de l’Hisoire Véritable de Lucien,
organizado por um tal de Jean Jacobé de Frémont d’Ablancourt que, ao ser
recepcionado pela poderoso, foi tratado na base das farras e muita dinheirama. Como
os fogueteiros eram cruéis mercenários, mandaram ver direitinho nas labaredas.
Ele estava feliz e quase conseguiu o que queria: a imprensa fazia vistas
grossas aos seus desmandos, restando desinformação para a posteridade. Nem
mesmo as autoridades judiciárias e policiais estavam dispostas a incriminá-lo
tanto pelo fogaréu como pelas afanações e dilapidações. Abriu a porteira e bem
que pintou e bordou. Na verdade, só não tornou pleno seu intento por algumas categóricas razões: a primeira, a sua militância era formada exclusivamente por cabeças-de-fósforos (os Cafos de agora, sacou?) e bastava qualquer peidinho ou ventinho besta, logo surtavam, o que colocava tudo a perder; a segunda, essa de foro íntimo, por conta duma
pendenga inusitada: os seus quatro filhos, do 1 ao 4, todos antes acoloiados e
mamando nas tetas faustosas do reinado, resolveram promover uma verdadeira
titanomaquia, assim do tipo Cronos, Urano e Zeus, sabe, remexendo às
reviravoltas no Olimpo familiar. Foi osso: cada um e entre eles uma rebelião
sem precedentes que findou com o afundamento da dinastia. Foram golpes de
estado, deposições e impeachment
sucessivos e mútuos, afora decisões judiciais que favorecia um em detrimento dos outros e isso com surpreendentes recursos impetrados entre si, ou seja, os
envolvidos ora atuavam comissivos, ora omissivos, e se beneficiavam da
concessão de liminares que os prejudicavam pelo trânsito em julgado de sentença
condenatória, restando, enfim, os mesmos todos, pai e filhos, condenados à
morte. Cabum! O último a ser dizimado foi o pai que, na hora da execução,
soltou aos ares: Que artista falece
comigo, hem? Era, enfim, uma vez. Triste fim. A história se repete, como
sempre.
DUAS ALMAS VOAVAM NO PALCO – Imagem: arte da fotógrafa austríaca Dora Kalmmus – a Madame D’Ora
(1881-1963) - O cotidiano uma fornalha, havia de fugir disso. Um movimento suspeito
no prédio da esquina e invadi suas dependências por uma das portas entreabertas.
Ali presenciei uma encenação, ao que parece, do polidrama de Joshua Sobol. Logo fui convidado a
participar entre os atores, como coadjuvante de episódios sobre a vida de Alma. Quem? Não me responderam e lá
estava eu espectador de uma viagem encenada por Viena, Veneza e Lisboa, daí
para os Estados Unidos. Ao final, comes e bebes entre afetos de
confraternização. A bela protagonista aproximou-se de mim: Por vários dias e noites, venho tecendo música dentro de
mim. É tão intenso e penetrante que, quando falo, sinto sob as palavras, e à
noite não me deixa dormir. Curioso, o mesmo se deu comigo nos últimos dias. Ela,
então, olhou-me fundo nos olhos e disse: Não
é a coisa principal de onde vem a beleza da vida. Trata-se apenas de captá-lo,
senti-lo e transmiti-lo a alguém. Consegui perceber que não sou feliz, mas
também não sou infeliz. Venha! E me levou por corredores e salões e portas
que davam em varandas e quartos escuros, até chegar num tablado cênico em que
uma cama estava disposta com uma iluminação especial e, ao sentar-se ao leito,
mostrou-me o teto e era o céu carregado de estrelas. Ao vê-la já desnuda, beijou-me
e tudo era o voo no paraíso que me foi dado por ela.
TRÊS BEIJOS & A VIDA É FOGO ETERNO – Imagem: Calíope, do quadrinista, escritor e
roteirista britânico Neil Gaiman - Três
beijos e já era a majestosa Calíope,
coroada de louros e ornada de grinaldas. E me fez Ares para desbravar suas
entranhas e mistérios, e me fez Oeagrus para reinar sobre ela na Pimpleia e
todo Olimpo, e me levou para a Terra dos
Sonhos e lá ser o seu raptor e ela cativa em meus braços a mergulhar no meu
gozo para que me transforme em Oneiros e seu salvador viril no cativeiro da
paixão, até enlanguescer e me servir por noites e dias, e amanhecer ao meu lado
Annie Besant a me dizer: Nada duradouro é construído com paixão
violenta. A natureza cultiva suas plantas em silêncio e na escuridão, e só
quando elas se fortalecem é que colocam a cabeça sobre o solo. Levantou-se,
pegou um rolo de pergaminho e uma pena: escreva. Enquanto escrevia, ela cantava
magnetizando meu corpo e minha alma. E ao vê-la incandescente era a bela Bruna Guerin no curta de Helena Guerra e eu Gregório a me render
aos seus pés alados de musa para neles voar por toda eternidade. A vida é fogo
eterno. Até mais ver.
CENOGRAFIA E MAQUINARIA TEATRAL
Pensei em tudo, em você e em outras pessoas, porque era o meu trabalho que estava se realizando com a maior força de vontade...
Trecho extraído da obra Cenografia e Maquinaria Teatral (Coleção Malungo – FCCR, 1999), do
cenógrafo e autor teatral Antonio José
Alves de Almeida (Zezinho), tratando sobre os segredos da cenografia, com
ilustrações e memória fotográfica. Ele é autor de peças teatrais infantis e
adultas, contos e exposições de artes plásticas. Veja mais aqui e aqui.