O TEMPO PASSA E A GENTE NA MESMA DESDE NUM SEI QUANDO – UMA: AGORA É
TARDE! ANTES DELA, OUTRA INÊS JÁ ERA MORTA – Todo mundo já ouviu:
agora é tarde, Inês é morta! Pois é, isso porque lá pelo século 14, o primeiro
D. Pedro estava enrolado com a dama de companhia Inês de Castro. Ele foi obrigado a casar com outra, a Constança, e
assim, tornaram-se amantes. Como sempre ocorre aqui, ali e acolá, deu o maior
escândalo. De repente, ela aparece degolada. Como? Quando? Onde? Quase como
ainda hoje em dia, soube-se logo quem mandou e quem executou. Ele vingou-se dos
assassinos, arrancando o coração deles com as mãos. Aí, só depois de morta, ela
tornou-se rainha. É isso. Antes dela, porém, uma outra Inês, a Inês Visconti, senhora de Mântua e
esposa do rei, teve sina semelhante. Foi assim: o pai dela era um déspota que
vivia em guerra contra o papado. Por conta disso, foi deposto, aprisionado e
morreu envenenado. Morreu, mas o prestígio ficou. Ela, aos 13 anos, casou-se
com outro menino de 12, que era filho dum rei. Aí, um belo dia, casamento
consumado, o marido armou uma trama: precisava romper a aliança com o pai dela
por outra mais vantajosa e, por conta disso, acusou-a de traí-lo com um certo
cavaleiro de nome Antonio da Scandiano. Pelo crime de adultério, os supostos
amantes adúlteros, foram executados no dia 7 de fevereiro de 1391 e enterrados
na Piazza Pallone. O impune se deu bem. Cá comigo: isso se repete todo dia até
hoje, hem? DUAS: OUTRA BRABA - Não
menos diferente foi o destino de Hypatia de Alexandria, lá pelos 4 séculos depois de Jesus. Isso porque, entre
outras e tantas coisas, ela costumava dizer: Defenda seu direito de pensar, porque pensar de maneira errada é melhor
do que não pensar. Foi o bastante para o cristianismo ceifar a vida dela. Ih,
os tempos atuais não são muito diferentes desse tempo não. TRÊS: SERÁ QUE A GENTE PODE INVENTAR UMA NOVA FORMA DE VIVER? – Sei
não, hem? Entre mentiras disfarçadas de verdades e verdades que se produzem
encapadas dum bocado de equívocos interpretativos, valho-me de Clarice Lispector: Não quero ter a terrível limitação de quem vive apenas do que é
passível de fazer sentido. Eu não: quero uma verdade inventada. E vamos
aprumar a conversa! © Luiz Alberto Machado. Direitos reservados. Veja
mais abaixo e aqui.
DITOS
& DESDITOS: [...] tão logo nascemos, principia o esforço de criar, de tramar, de fazer da
matéria vida: a cada instante nascemos. Por isso muitos proclamaram: O escopo
da vida efêmera é a imortalidade. Nos transitórios corpos vivos, lutam duas
correntes: uma, a ascendente, rumo à síntese, à vida, à imortalidade; segunda,
a descendente, rumo à dissolução, à matéria, à morte. [...] E as duas correntes se
originam no imo da substância primeva. De começo, a vida surpreende; parece uma
reação ilegítima, desnaturada e efêmera às trevas das fontes eternas; mas,
quando nos aprofundamos, percebemos que a Vida é o próprio curso, sem princípio
nem fim, do Universo. Se assim não fosse, de onde viria a força sobre-humana
que nos lança do incriado ao criado e nos impele - plantas, animais, homens - à
luta? As duas correntes antagônicas são pois sagradas. Cumpre-nos, então,
aceder a uma visão que articule e harmonize estes dois prodigiosos impulsos sem
princípio nem fim, e por ela regular o nosso pensamento e ação. [...] Entre todos os impulsos de Deus, qual o que
o homem pode perceber? Somente este distinguimos: uma linha rubra sobre a
terra, uma rubra linha de sangue que luta por ascender, da matéria inanimada às
plantas, das plantas aos animais, dos animais ao homem. Esse indestrutível
ritmo pré-humano é o único curso visível, sobre esta terra, do Invisível. Plantas,
animais e homens são os degraus que Deus criou para poder pisar e ascender. Árdua,
terrível, infinda ascensão. Nesse assalto, Deus vencerá ou será vencido? Existe
vitória? Existe prêmio? Nosso corpo se arruinará, voltará ao seio da terra, mas
Àquele que por um instante o atravessou, que acontecerá? [...] Não me importa que rosto deram outras épocas
e outros povos à prodigiosa essência sem rosto. Encheram-na de virtudes
humanas, de recompensas e punições, de certezas. Deram um rosto às suas
próprias esperanças e temores, impuseram um ritmo à sua própria anarquia, encontraram
uma justificação superior para viver e labutar. Cumpriram seu dever. [...] É, pelo contrário, homem e mulher a um só
tempo, mortal e imortal, excremento e espírito. Concebe, fecunda e mata; amor e
morte, conjuntamente, torna a conceber e matar - e em largos passos de dança
vai além dos limites da lógica, onde não há lugar para antinomias. Meu Deus não
é onipotente. Peleja, enfrenta o perigo a todo momento, treme, tropeça em cada
ser vivo, grita. É incessantemente vencido, mas torna a erguer-se, sujo de
sangue e terra, e recomeça a luta. [...] Meu Deus não é todo bondade. Está cheio de aspereza, de selvagem
retidão, e é sem piedade alguma que escolhe sempre o melhor. Não se compadece,
não se importa nem com seres humanos nem com animais, muito menos com virtudes
ou ideias. Ama-os por um instante, esmaga-os para sempre e segue adiante.
[...] Meu Deus não é onisciente. Seu
cérebro é um novelo de luz e trevas que ele forceja por desembaraçar dentro do
labirinto da carne. [...] Havia uma
prisão; a prisão se rompeu, foram libertadas as forças terríveis ali encerradas
e o ponto não existe mais! Esse grau último da ascese se chama Silêncio. Não
porque seu conteúdo seja o supremo, inexprimível desespero ou a suprema,
inexprimível alegria e esperança. Nem porque seja o supremo conhecimento que
não se digna a falar, ou a suprema ignorância que não consegue falar. Silêncio
quer dizer: Cada qual, após cumprir seu tempo de serviço como combatente, chega
ao mais alto cimo do esforço - passados os combates, não luta mais, não grita
mais: amadurece por inteiro, silenciosamente, indissoluvelmente, eternamente,
com o Universo. [...] não existe
doutrina, não existe Redentor para abrir caminho. Não existe tampouco caminho a
ser aberto [...]. Trechos extraídos da obra Ascese: Os Salvadores de
Deus. (Ática, 1997). do escritor e pensador grego
Níkos Kazantzákis (1883-1957). Veja mais aqui & aqui.
NO AVIÃO – Aqueles sentados perto /
a saída de emergência / deveria abandonar tudo / mas esperança. / Sem dúvida
sem dúvida / bolsas e maletas / impedirá uma queda de cabeça / do forro que
cai. / Envoltórios, mantas ou mantos / também não são necessários, / espíritos
interespaciais famintos / pode ficar enredado neles. / As barbas dos poetas /
são menos do que desejáveis, / o diabo os agarra / em primeiro lugar. / É
aconselhável fazer a barba / até pêlos nas pernas, / quando eretos eles se
tornam afiados / e pode rasgar as nuvens. / É necessário / tire todas as roupas
/ estar nu como recém-nascidos, / amantes ou cadáveres. / A nudez é inevitável
/ em momentos cruciais / como no Paraíso e no Inferno da Bosch / ou no Juízo
Final de Memling. / Todo mundo caiu uma vez / já está fervilhando / com
sorrisos cruéis / entre as asas da hélice. Poema da
escritora, pintora e fotógrafa lituana Jurga Ivanauskaitė (1961-2007).
SOM AO REDOR
O premiado longa-metragem Som ao redor (2013),
dirigido por Kléber Mendonça Filho, conta
a história da chegada de uma milícia de rua no bairro de Boa Viagem, zona sul
do Recife e a reação dos moradores com a sua atuação na segurança local. Na verdade,
a vida dos residentes de uma rua de classe média de Recife toma um rumo
inesperado quando uma empresa de segurança particular é contratada para trazer
paz aos moradores. Para alguns deles, a presença dos guardas cria mais tensão
do que alívio. Veja mais aqui.
A ARTE DE MAX
KLINGER
A ARTE PERNAMBUCANA
Educação como prática da liberdade de Paulo Freire
(1921-1997) aqui.
A arte de Maurício Silva aqui.
A sedutora da noite aqui.
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