DITOS
& DESDITOS: [...] tão logo nascemos, principia o esforço de criar, de tramar, de fazer da
matéria vida: a cada instante nascemos. Por isso muitos proclamaram: O escopo
da vida efêmera é a imortalidade. Nos transitórios corpos vivos, lutam duas
correntes: uma, a ascendente, rumo à síntese, à vida, à imortalidade; segunda,
a descendente, rumo à dissolução, à matéria, à morte. [...] E as duas correntes se
originam no imo da substância primeva. De começo, a vida surpreende; parece uma
reação ilegítima, desnaturada e efêmera às trevas das fontes eternas; mas,
quando nos aprofundamos, percebemos que a Vida é o próprio curso, sem princípio
nem fim, do Universo. Se assim não fosse, de onde viria a força sobre-humana
que nos lança do incriado ao criado e nos impele - plantas, animais, homens - à
luta? As duas correntes antagônicas são pois sagradas. Cumpre-nos, então,
aceder a uma visão que articule e harmonize estes dois prodigiosos impulsos sem
princípio nem fim, e por ela regular o nosso pensamento e ação. [...] Entre todos os impulsos de Deus, qual o que
o homem pode perceber? Somente este distinguimos: uma linha rubra sobre a
terra, uma rubra linha de sangue que luta por ascender, da matéria inanimada às
plantas, das plantas aos animais, dos animais ao homem. Esse indestrutível
ritmo pré-humano é o único curso visível, sobre esta terra, do Invisível. Plantas,
animais e homens são os degraus que Deus criou para poder pisar e ascender. Árdua,
terrível, infinda ascensão. Nesse assalto, Deus vencerá ou será vencido? Existe
vitória? Existe prêmio? Nosso corpo se arruinará, voltará ao seio da terra, mas
Àquele que por um instante o atravessou, que acontecerá? [...] Não me importa que rosto deram outras épocas
e outros povos à prodigiosa essência sem rosto. Encheram-na de virtudes
humanas, de recompensas e punições, de certezas. Deram um rosto às suas
próprias esperanças e temores, impuseram um ritmo à sua própria anarquia, encontraram
uma justificação superior para viver e labutar. Cumpriram seu dever. [...] É, pelo contrário, homem e mulher a um só
tempo, mortal e imortal, excremento e espírito. Concebe, fecunda e mata; amor e
morte, conjuntamente, torna a conceber e matar - e em largos passos de dança
vai além dos limites da lógica, onde não há lugar para antinomias. Meu Deus não
é onipotente. Peleja, enfrenta o perigo a todo momento, treme, tropeça em cada
ser vivo, grita. É incessantemente vencido, mas torna a erguer-se, sujo de
sangue e terra, e recomeça a luta. [...] Meu Deus não é todo bondade. Está cheio de aspereza, de selvagem
retidão, e é sem piedade alguma que escolhe sempre o melhor. Não se compadece,
não se importa nem com seres humanos nem com animais, muito menos com virtudes
ou ideias. Ama-os por um instante, esmaga-os para sempre e segue adiante.
[...] Meu Deus não é onisciente. Seu
cérebro é um novelo de luz e trevas que ele forceja por desembaraçar dentro do
labirinto da carne. [...] Havia uma
prisão; a prisão se rompeu, foram libertadas as forças terríveis ali encerradas
e o ponto não existe mais! Esse grau último da ascese se chama Silêncio. Não
porque seu conteúdo seja o supremo, inexprimível desespero ou a suprema,
inexprimível alegria e esperança. Nem porque seja o supremo conhecimento que
não se digna a falar, ou a suprema ignorância que não consegue falar. Silêncio
quer dizer: Cada qual, após cumprir seu tempo de serviço como combatente, chega
ao mais alto cimo do esforço - passados os combates, não luta mais, não grita
mais: amadurece por inteiro, silenciosamente, indissoluvelmente, eternamente,
com o Universo. [...] não existe
doutrina, não existe Redentor para abrir caminho. Não existe tampouco caminho a
ser aberto [...]. Trechos extraídos da obra Ascese: Os Salvadores de
Deus. (Ática, 1997). do escritor e pensador grego
Níkos Kazantzákis (1883-1957). Veja mais aqui & aqui.
NO AVIÃO – Aqueles sentados perto /
a saída de emergência / deveria abandonar tudo / mas esperança. / Sem dúvida
sem dúvida / bolsas e maletas / impedirá uma queda de cabeça / do forro que
cai. / Envoltórios, mantas ou mantos / também não são necessários, / espíritos
interespaciais famintos / pode ficar enredado neles. / As barbas dos poetas /
são menos do que desejáveis, / o diabo os agarra / em primeiro lugar. / É
aconselhável fazer a barba / até pêlos nas pernas, / quando eretos eles se
tornam afiados / e pode rasgar as nuvens. / É necessário / tire todas as roupas
/ estar nu como recém-nascidos, / amantes ou cadáveres. / A nudez é inevitável
/ em momentos cruciais / como no Paraíso e no Inferno da Bosch / ou no Juízo
Final de Memling. / Todo mundo caiu uma vez / já está fervilhando / com
sorrisos cruéis / entre as asas da hélice. Poema da
escritora, pintora e fotógrafa lituana Jurga Ivanauskaitė (1961-2007).
SOM AO REDOR
O premiado longa-metragem Som ao redor(2013),
dirigido por Kléber Mendonça Filho, conta
a história da chegada de uma milícia de rua no bairro de Boa Viagem, zona sul
do Recife e a reação dos moradores com a sua atuação na segurança local. Na verdade,
a vida dos residentes de uma rua de classe média de Recife toma um rumo
inesperado quando uma empresa de segurança particular é contratada para trazer
paz aos moradores. Para alguns deles, a presença dos guardas cria mais tensão
do que alívio. Veja mais aqui.
A ARTE DE MAX
KLINGER
A arte
do escultor, pintor e artista gráfico alemão Max
Klinger (1857-1920). Veja mais aqui & aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A música do pianista, maestro e
compositor Marlos Nobre aqui, aqui e
aqui.
Educação como prática da liberdade de Paulo Freire
(1921-1997) aqui.