NESSES TEMPOS DE FALSO-MORALISMO, SÓ APERTO O PITOCO DO FODA-SE &
BABAU! – LÁ VAI UMA NA BASE DO ÓLEO DE PEROBA: Eita! Haja
gente dissimulada nesses tempos líquidos! Não sei como a fábrica de óleo de
peroba dá vencimento! O que há de camuflagem não dá para prever em nossa vã
hipocrisia. Rolou, tá rolado. Os caras colocam a culpa na provocação: É que ela
veio toda reboladeira, com quase tudo de fora, toda exibida e facilzinha, aí o
juízo encurtou e a doidice lambeu os beiços! Como é? Por causa disso usam da
licenciosidade e avançam no que acham que é moleza, assediam no maior chaveco e
blá blá blá de derrubar avião, para sair cantando de galo: Abriu a guarda,
mando ver; passo o rodo e como todas! Na horagá: a descompostura! Não é bem assim
não, maloqueiro. Ela fecha a cara, a polícia bate na porta e o lero rola na
defesa com ar de seriedade: Como é que é? Na caradura: assim e assado. Engaloba
delegado, juiz e toda macharia engravatada (se o Coisonário insinua libidinagem
com qualquer uma que lhe seja do contra, ora! Que é que se pode esperar?).
Pudera, neste tempo de neopentecostal fundamentalismo as coisas quando andam vão
para onde mesmo, hem? Pelo jeito, fica tudo pelo dito e não dito – só pra eles,
os coisominios, né? E ainda posam de puritanos. Lembrei do Mencken: Mostre-me um
puritano e eu lhe mostrarei um filho da puta! LÁ VÃO DUAS, APERTURAS: Moliére
mesmo passou por maus bocados! Para ter uma ideia, os atores da época eram mal
vistos pela opinião pública e excomungados pela igreja. Ele herdou do pai:
tapeceiro da corte; trocou o palácio pelo teatro: foi ator toda sua vida. Tentou
abrir um teatro, não deu; empepinou-se tanto que, por conta das dívidas, foi preso
duas vezes. Solto, não deixou de causar e tanto e à beça, que até a sua morte virou
uma lenda: morreu no palco representando o papel principal de sua última peça, Le
Malade imaginaire! Melhor dizendo: encarnava ele um doente imaginário em
cena, teve lá um troço e bateu as botas na ribalta, aí de verdade. Dois padres
recusaram-lhe a extrema unção e um terceiro chegou quando já era tarde demais.
Foi impedido de ser sepultado, porque era acusado pelo clero de representar o
falso e o imoral. Graças à esposa dele, Armande, o rei Luís XIV conseguiu que
ele fosse enterrado entre os nados-mortos, ou seja, os não batizados e, com um
detalhe, durante a noite. Assim foi. E ele: Morre-se
apenas uma vez, mas por tanto tempo! Eu prefiro viver dois dias na terra do que
mil anos na história. EITA, EXPLICANDO:
À BEÇA? Ah, a expressão deve-se a um teitei medonho de brabo! Seguinte: uma
treta que envolvia o Tratado de Petrópolis, entre o cabeçudo Ruy Barbosa e o maior
da lábia Barão do Rio Branco, fez o prosopopaico ministro demitir-se para
advogar a causa do Amazonas de incorporação do Acre, apresentando, inclusive,
projeto no senado. O Ruy era fodão mesmo, todo mundo sabe disso! Não perdia
uma. Aliás, perdeu uma sim. Foi que um advogado sergipano virado na trepeça, Gumercindo Bessa (1859-1913), sabedor
da barra mais que pesada, armou-se como pôde e apresentou argumentos
esmagadores tão numerosos e abundantes em favor dos acreanos, que ganhou a
causa na maior, tornando-se, por isso, figura respeitada nos meios forenses. O cara
desbancou o Ruy, gente! Virou máxima: Você tem argumentos à Bessa, hem?... com
o tempo, passou a ser à beça, demasiado, abundante, demasiado. E boco-moco,
pacas! Serviu para encher linguiça & vamos aprumar a conversa! © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS &
DESDITOS: [...] O apego à
matéria gera uma paixão contra a natureza. É então que nasce a perturbação em
todo o corpo; é por isso que eu vos digo: Estejais em harmonia… Se sois
desregrados, inspirai-vos em representações de vossa verdadeira natureza. Que
aquele que tem ouvidos para ouvir, ouça. Após ter dito aquilo, o Bem-aventurado
saudou-os a todos dizendo: Paz a vós – que minha Paz seja gerada e se complete
em vós! Velai para que ninguém vos engane dizendo: Ei-lo aqui. Ei-lo lá. Porque
é em vosso interior que está o Filho do Homem; ide a Ele: aquele que o procuram
o encontram. Em marcha! Anunciai o Evangelho do Reino. [...]. Trecho
extraído da obra O evangelho de Maria
Madalena (EME, 2018), de José Lázaro Boberg, reunindo o texto gnóstico encontrado
no Codex Akhmin e adquirido por Carl Rheinhardt, em 1896. Este evangelho foi
publicado em 1955, após o aparecimento da Biblioteca de Nag Hammadi. Trata-se
do evangelho de Madalena ou Maria de Madgala, um texto
encontrado no Egito do século IV, confrontando com o que sobreviveu em dois
fragmentos gregos do século IIII e numa tradução mais longa para o copta do
século V, por ser ela a figura feminina mais citada no Novo Testamento. Madalena
era um dos apóstolos que narra episódio de Jesus, e que se comunicava com ele
por meio de visões depois da ressurreição. Nesta obra, destaca-se ainda o trecho:
[...] Maria Madalena se calou, pois
até aqui o Salvador lhe tinha falado. Mas André respondeu e disse aos
irmãos:"Dizei o que tendes para dizer sobre o que ela falou. Eu, de minha
parte, não acredito que o Salvador tenha dito isso. Pois esses ensinamentos
carregam ideias estranhas". Pedro respondeu e falou sobre as mesmas
coisas. Ele os inquiriu sobre o Salvador:" Será que ele realmente
conversou em particular com uma mulher e não abertamente conosco? Devemos mudar
de opinião e ouvirmos ela? Ele a preferiu a nós?" Então Maria Madalena se
lamentou e disse a Pedro: "Pedro, meu irmão, o que estás pensando? Achas
que inventei tudo isso no mau coração ou que estou mentindo sobre o
Salvador?" Levi respondeu a Pedro: "Pedro, sempre fostes exaltado.
Agora te vejo competindo com uma mulher como adversário. Mas, se o Salvador a
fez merecedora, quem és tu para rejeitá-la? Certamente o Salvador a conhece
bem. Daí a ter amado mais do que a nós. É antes, o caso de nos envergonharmos e
assumirmos o homem perfeito e nos separaremos, como Ele nos mandou, e pregarmos
o Evangelho, não criando nenhuma regra ou lei, além das que o Salvador nos
legou." Depois que Levi disse essas palavras, eles começaram a sair para
anunciar e pregar.
[...]. Há uma outra obra Maria
Madalena - da Bíblia ao Código Da Vinci: companheira de Jesus, deusa, prostituta
e ícone feminista (Zahar, 2018), de Michael Haag, analisando a forma como
ela tem sido reinterpretada a cada época, desde a sua exaltação como esposa e
principal apóstolo de Jesus, tornando-se no Renascimento a deusa da beleza e do
amor, e na modernidade uma mulher forte e independente que se transformou em
ícone feminista. Por fim, a obra Maria
Madalena - O Evangelho Segundo Maria (Geração, 2018), de Armando Avena, um
romance em que ela é tratada por Jesus como sua discípula amada e que se nega a
casar com ele para salvá-lo da cruz. Imagem
do pintor francês Jules Joseph Lefebvre (1834-1912).
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AS
MÁXIMAS DE MOLIÉRE - A
virtude é o primeiro título de nobreza; eu não presto tanta atenção ao nome
desta ou daquela pessoa, mas antes aos seus atos. A virtude neste mundo é
sempre maltratada; os invejosos morrerão, mas a inveja é poupada. Todos os
vícios, quando estão na moda, passam por virtudes. Quase nos inspiram o desejo
de pecar, os mil e um cuidados para o evitar. Prefiro um vício cômodo a uma virtude
que fatigue. O escândalo do mundo é o que faz a ofensa, e pecar em silêncio não
é pecar totalmente. Viver sem amor significa realmente não viver. Convém em
certas ocasiões ocultar o que se traz no coração. Pensamento do dramaturgo,
ator e encenador francês Molière (Jean-Baptiste Poquelin – 1622-1673).
Veja mais aqui, aqui, aqui, aqui, aqui & aqui.
PSICOSE 4: 48, O TEATRO DE SARAH KANE
[...] Estou triste. Sinto que não há esperança no
futuro e que as coisas não podem melhorar. Estou farta e insatisfeita com tudo.
Sou um fracasso completo como pessoa. Sou culpada, estou a ser castigada. Gostaria
de me matar. Sabia chorar mas agora estou para além das lágrimas. Perdi o
interesse nas outras pessoas. Não consigo tomar decisões. Não consigo comer. Não
consigo dormir. Não consigo pensar. Não consigo ultrapassar a minha solidão, o
meu medo, o meu desgosto. Sou gorda. Não consigo escrever. Não consigo amar. O
meu irmão a morrer, o meu amante a morrer, estou a matá-los aos dois. Invisto
na direção da minha morte. Estou aterrorizada com a medicação. Não consigo
fazer amor. Não consigo foder. Não consigo estar sozinha. Não consigo estar com
os outros. As minhas ancas são grandes de mais. Não gosto dos meus órgãos
genitais. Às 4:48, quando o desespero me visitar, enforco-me, ao som da
respiração do meu amante. [...]
SARAH KANE - Trecho
da peça teatral Psicose
4:48 – Teatro completo (Campo das Letras, 2001), da dramaturga
inglesa Sarah Kane (1971-1999). Trata-se
da última peça da autora que marca sua investigação da forma e nela as
convenções usuais do teatro são fragilizadas, pois faz referência ao horário do
dia em que “a vontade de se matar é mais intensa”, em que a relação entre corpo
e mente é rompida entre espaçamentos, a falta de pontuação, a não-definição de
onde falam as vozes e até mesmo a não-identificação de determinados trechos da
peça. Em sua curta existência, escreveu apenas cinco peças de teatro, das quais
a mais conhecida é, sem dúvida, Psicose 4.48, a derradeira delas, visto que,
pouco tempo depois de finalizá-la, ela acabou se matando, enforcando-se no
banheiro de um hospital de Londres, onde estava internada por causa de
problemas psiquiátricos. Dela, alguns pensamentos recolhidos: Sou um plágio emocional, roubando a dor de outras pessoas,
incorporando-a à minha, até não me lembrar mais de quem é. O que às vezes
confundo com êxtase é simplesmente a ausência de pesar. Depois de perceber que
a vida é muito cruel, a única resposta é viver com o máximo de humanidade,
humor e liberdade possível. Abrace belas mentiras - a insanidade crônica dos
sãos. Eu sou a fera no fim da corda. Veja mais aqui, aqui
& aqui.
A FOTOGRAFIA DE JEAN-MARIE AURADON
A arte
do fotógrafo francês Jean-Marie Auradon
(1887-1958). Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A arte da atriz Geninha
da Rosa Borges que participou de 63 peças teatrais, 10 gilmes e dirigiu 21
espetáculos aqui.
Fome: um
tema proibido (CEPE, 1996), do médico, professor catedrático,
pensador, ativista político e embaixador do Brasil na ONU, Josué de Castro
(1908-1973) aqui.
A poesia de Rita Isadora Pessoa aqui.
A arte de Flaira Ferro aqui
Retratos de chumbo aqui
O Pastoril do Rabeca aqui
&
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