CARTA PARA PAULINE - Pouco importa o que disseram ou dizem
unânimes, ninguém escapa aos invejosos e despeitados. Sei tudo da menina de
Ajaccio e pouco importa ter sido duas vezes princesa: a reinante de Gustalla e
a consorte de Sulmona e Rossano. Pouco importa, porque somente eu a amei desconhecendo
todos os apanágios, posses e hierarquias. Fui eu quem a amou para salvá-la do
Haiti, escandalosa viúva Leclerc, do levante de ex-escravos, para eclodirem
rumores na França e Itália do que éramos na loucura das noites eternas. Fui eu
quem sempre a amou, despida pela venda do ducado para sua quase derrocada, e me
mantive escravo da sua sedução de primeira dama da corte de opereta, nua à
beira d’água para nosso deleite e paixão. Fui eu quem a amou e recebeu de
braços abertos na ilha das canções de maio, o seu porto franco, para velejarmos
e cavalgarmos na ribalta da notoriedade, ignorando a porta giratória dos
amantes, com a ternura à prova de infortúnios. Fui eu quem a fiz sultana perpétua
no apogeu da sua beleza que amava o fausto, a dissipação e as homenagens,
refestelada por meus beijos e carícias, para tornar-se a sensual encantada Vênus
Victrix, Afrodite em seu récamier, para
que eu Canova tateasse os contornos do seu corpo nu a me dar a maçã de ouro de
sua sensualidade transbordante. E se fez tal Galateia para que eu Devouges pudesse
desnudá-la usufruindo de sua esplêndida montaria de quem nunca teve paz nem
pudor. E me fez Lefèvre na suntuosa sala, elegantemente vestida, para logo
desvelar-se nua como se todo dia fosse a sua festa das quartas-feiras, e toda
romana, da cabeça aos pés, me dava a face delicada para se livrar dos seus
trajes de bacante. Fui eu quem amou e saciou seus furores uterinos de rainha
dos colifichets e frioleiras, uma criança divertida que esquecera crescer com a
idade, como se perdesse a reputação nos excessos dos trópicos, até nos
recolhermos ao nosso principado do prazer na Villa Paolina para nunca mais. © Luiz
Alberto Machado. Direitos reservados. Veja mais abaixo e aqui.
DITOS
& DESDITOS: [...] Essas mulheres sofreram e venceram a “descontinuidade cultural no
condicionamento ao seu papel”, a “crise de situação” e a crise de identidade.
Enfrentaram problemas e bem sérios, jogando com a gravidez, procurando babás e
governantas, desistindo de boas situações quando o marido era transferido.
Tiveram também que aguentar muita hostilidade das outras mulheres e inúmeras
suportaram o ressentimento ativo do marido. [...] à diferença das donas de casa prisioneiras,
cujos problemas se multiplicam com o passar dos anos, resolveram suas crises e
prosseguiram caminho, resistindo às persuasões e às pressões, sem renunciar aos
seus valores, muitas vezes dolorosos, pelos consolos da conformidade. Não se
recolheram às suas conchas — enfrentaram os desafios do mundo. E hoje em dia
sabem muito bem quem são. Realizaram, talvez sem o perceber, o que todo homem
ou mulher deve fazer para se manter a par com o ritmo acelerado da história e
encontrar ou conservar a sua individualidade em nossa sociedade niveladora. As
crises de personalidade de homens e mulheres não podem ser resolvidas de uma
geração para a outra; em nossa sociedade em rápida mutação precisam ser
continuamente enfrentadas e resolvidas, para serem novamente enfrentadas e
solucionadas no período de uma só existência. O plano de vida deve estar aberto
a mudanças, à medida que novas possibilidades se apresentem, na sociedade e no
íntimo de cada um. [...] Quando mães
realizadas as conduzirem à segurança de sua condição de mulher não será
necessário esforçar-se por ser feminina. Poderão evoluir à vontade, até que por
seus próprios esforços encontrem sua personalidade. Não precisarão da atenção
de um rapaz ou de um homem para se sentirem vivas. E quando não mais precisarem
viver através do marido e dos filhos, os homens não temerão o amor e a força da
mulher, nem precisarão das suas fraquezas para provar a própria masculinidade.
E finalmente homem e mulher verão um ao outro como de fato são, o que talvez
venha a ser um passo adiante na evolução humana. [...] Mal foi iniciada a busca da
mulher pela própria identidade. Mas está próximo o tempo em que as vozes da
mística feminina não poderão abafar a voz íntima que a impele ao seu pleno desabrochar. Trechos extraídos da obra A mística
feminina (Vozes, 1971), da escritora e ativista feminista
estadunidense Betty Friedan
(1921-2006).
PAULINA BORGHESE – A duas vezes princesa Maria Paola Buonaparte, mais
conhecida como Pauline ou Paulina Bonaparte (1780-1825), era irmã
de Napoleão Bonaparte e posou para a famosíssima escultura Venus Victrix, do escultor italiano Antonio Canova, e para outros pintores. Sobre sua vida diversas
publicações: Venus
of Empire: The Life of Pauline Bonaparte (NIPPOD, 2013), de
Flora Fraser; Pauline Bonaparte ; princesse d'amour (Campanile, 2019), de
Richard Pogliano; Pauline
Borghese: soeur fidele (Pierre Amiot, 1958), de Marcel
Gobineau; Pauline
Borghese (Abbildungen, 1980),
de Angelika Jordan; Imperial Venus: the story of Pauline Bonaparte-Borghese (Stein and Day, 1974), de Len Ortzen, entre outros;
e o filme Imperial Venus (1962),
dirigido por Jean Delannoy e estrelado por Gina Lollobrigida. Veja mais aqui.
A ATRIZ RINA DE LIGUORO
A arte da atriz italiana Rina De Liguoro (1892-1966), nascida Elena Caterina Catardi, que
atuou em diversos épicos, tais como Messalina (1924), Quo Vadis (1924), The
Last Days of Pompeii (1926), Anita (1927), The loves of Casanova (1927), Madame
Satan (1930) e o The Leopard (1963), de Luchino Visconti, entre outros. Veja
mais aqui.
A ESCULTURA DE TERESA FEODEROVNA RIES
A arte da escultora e
pintora russa Teresa Feoderovna Ries
(1874–1950), que frequentou a Escola de Pintura, Escultura e Arquitetura de Moscou,
fois expulsa por demonstrar desrespeito a um professor em uma de suas aulas e,
por consequência, se mudou para Viena aos 21 anos, onde sua primeira exposição
no Künstlerhaus de Viena, onde expôs uma escultura de uma mulher nua cortando
as unhas dos pés. Por essa obra se tornou altamente celebrada em toda Viena. Trabalhando
em pedra, mármore, gesso e bronze, ela produziu obras públicas e privadas
durante sua carreira. Ela continuou trabalhando em Viena até 1942 e depois
imigrou para Lugano, na Suíça. Veja mais aqui.
A ARTE PERNAMBUCANA
A Terra pernambucana do
professor, jornalista e escritor Mario Sette (1886-1950) aqui.
A poesia de Dione Barreto aqui.
A arte de Christina Machado aqui.
O Alvará de soltura
de Bóris Trindade aqui.
A xilogravura de Amada Duarte aqui.
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